Um encontro diferente ♡ Capítulo 20
Pássaros cantando avisam que o dia raiou. Jogado na cama, sinto preguiça de abrir os olhos. Por causa da minha dificuldade para dormir, quando finalmente consigo, é sempre com intensidade. A tela do celular marca oito e seis da manhã. Passo a mão no outro lado da cama e a moça de olhos cor do mar não está mais lá.
O barulho do aspirador de pó me indica que Mary está de volta após alguns dias fora. Sinto-me aliviado por ter alguém para me ajudar com a mala.
Apoiado no travesseiro ao meu lado, encontro um bilhete escrito em um post-it amarelo. Sento-me na cama e pego o bilhete em minhas mãos.
"Caro Baker, acordei cedo... precisei ir para casa antes do meu pai levantar e não quis te acordar. Tenho minha mala pra arrumar, por favor, me passe o horário da nossa saída amanhã. Ou melhor, me informe todos os detalhes."
Um sorriso se formou em meus lábios. Fazia tempo que não dormia tão bem. Acordei de madrugada e ela estava ao meu lado, dormindo tranquilamente. Era como se seu lugar fosse aqui. Uma batida leve na porta faz meus pensamentos se dissiparem.
— Posso entrar? — Mary sussurra do outro lado da porta. — Estou entrando.
— Pode, Mary.
Mary entra no quarto arrastando seu aspirador de pó. Como sempre, abre todas as cortinas de uma vez, sem deixar que os raios de sol batam em meu rosto. Ela coloca na minha cama um pequeno saco de papel, provavelmente com meus remédios para dormir que são manipulados.
— Tudo certo para a viagem, amor? Estou tão feliz por vocês. Está tudo dando certo? — A doce senhora se senta na minha cama, soltando um suspiro.
— Tudo certo. Meu pai liberou o jatinho... Só preciso de ajuda com a mala, não suporto mais aquela mala idiota que não fecha. — Aponto para a mala vermelha jogada ao chão.
Mary me olha orgulhosa por ter pedido sua ajuda e me dá uma leve tapa no ombro, que é seu jeito de confirmar algum pedido meu. Abro o pequeno saco e retiro três frascos laranja etiquetados com meu nome.
Ela me contou sobre a conversa com meu pai, aproveitando o tempo a sós com ele na estrada, dias atrás. Minha relação com ele melhorou, talvez porque, para ajudar, ele se tornou o maior apoiador da minha relação com Joanne. Para minha surpresa, ele tirou um tempo para algo que não fosse ele mesmo e organizou toda a burocracia da viagem, enviando funcionários para nossa casa na cidade.
— Eu encontrei a senhorita Anne pela manhã, ela tomou café da manhã e pedi ao motorista para levá-la. Ela é uma menina muito gentil, estou orgulhosa por você a tratar tão bem. Lembre-se de se protegerem, ainda são jovens demais para isso.
Sinto meu rosto queimar de vergonha e me jogo na cama novamente. Mary está pensando demais. Mando-a uma cara emburrada e, sem se importar, ela dá de ombros e começa a arrumar a cama.
— Minha senhora, não pense bobagens. Ainda não ultrapassamos essas barreiras, é nosso primeiro encontro nessa viagem. Ela é diferente, tudo no seu tempo. — Expliquei e Mary sorri ao perceber que fiquei sem jeito com sua suposição e puxa meu edredom com toda força.
— Você está certo, levanta agora. Pega sua mala do chão e vou te ajudar. É agora ou nunca.
Pulo da cama e a abraço. Faz muito tempo que não me sinto animado para algo como estou para essa viagem. Tenho certeza de que ela vai amar o lugar.
《♡》
Na voz de Joanne:
— Então vocês são tipo um casal? — Falei em êxtase.
Alice e Alex vieram passar a tarde na minha casa ajudando a arrumar minha mala. Alice contou animada que eles vão ao primeiro encontro nesse final de semana também. Alex comentou que eles se deram uma chance para tentar algo aos poucos. Mesmo sendo uma explicação vaga, minha felicidade é pura e genuína por eles.
— Calma, estamos caminhando devagar, temos missões. — Alex sussurrou, jogando um travesseiro em mim, e Alice se diverte ao vê-lo com vergonha. — Ainda não somos um casal, mas estamos nos conhecendo. — Ele completou e Alice concordou.
Minha mala estava aberta na cama e mil itens jogados ao chão; sem saber para onde vou, é muito difícil arrumar uma mala. Em uma mala menor, coloquei tudo da câmera, eletrônicos e higiene pessoal. Porém, a parte das roupas está complicada. Nosso país é muito diversificado de climas, então, além de roupa, preciso levar dinheiro.
— Anne, vocês estão juntos? — pergunta Alice, atirando um casaco na minha mala.
Vasculhando meu armário, procurava meu biquíni, realmente sem ideia de para onde vou.
— Nós nos encontramos, nos conhecemos, nos beijamos... Ele já dormiu aqui e eu na casa dele ontem... — Alex entra em uma crise de tosse instantânea por minha explicação.
Expliquei de uma forma ruim, acabei assustando o garoto na minha cama, com certeza agora ele pensa que nós... — Aperto os olhos ao pensar bobagem.
— Vocês já estão visitando a cama um do outro... Estou assustado, essa relação está correndo mais rápido do que temia. — Alex declarou, coçando a cabeça rapidamente. — Calma, apenas vá com calma!
— Calma você, nada está acontecendo. Estamos nos conhecendo e, às vezes, as coisas acontecem, são acasos. — Expliquei, jogando meu corpo por cima da mala.
Exagerei nas roupas ou minha mala é tão pequena que nunca percebi.
— Então, você e o Gustavo são basicamente acasos do coração? — sussurra Alice.
Seu tom de provocação me faz rir.
Talvez o que a Moore citou tenha um fundo de verdade. Tudo entre nós foi acontecendo sem planejar e sem freios. Acasos que nos aproximaram, acasos nos juntaram, e nunca saberemos o porquê. Nunca imaginei nada do que vem acontecendo na minha vida, muito menos com o Gustavo ao meu lado.
Com receio ou não, comecei a viver coisas que só vi em filmes e jamais imaginaria viver, ou pelo menos não era algo que estava na minha lista do que fazer antes dos trinta.
— Do coração ainda não sei, mas são acasos. — Expliquei, puxando o zíper da mala cheia.
Depois de horas tentando arrumar as malas, meus amigos ajudaram colocando roupas de frio por estarmos no inverno e algumas roupas de verão por não saber o destino. Alice me forçou a levar pijamas com detalhes mais adultos; segundo ela, meus pijamas são infantis demais para um encontro de três dias no meio do mundo.
Nossa tarde se resumiu em falar das pessoas, comer e eu segurar vela e entre os ponteiros do relógio Alex me mostrava sorrisos sincero, sinto sua felicidade apenas lendo seus olhos.
— Anne, quando voltar, vamos a uma pizzaria nova que abriu no fim da cidade? — diz Alex, pulando de felicidade ao falar de comida. — Tem boliche de graça!
— Vamos sim, nós precisamos sair mais. A vida corrida e a cidade sem graça dificultam. — Falei, amimada.
《♡》
Após o jantar, ajudei minha mãe a arrumar a cozinha e, com agilidade, guardei a louça já seca. Meu pai, apoiado na ilha da cozinha com seu notebook, parecia entretido assistindo a vídeos de receitas orientais.
— Anne, tudo certo para essa viagem? O Nicholas me ligou avisando que eu não precisaria me preocupar com nada, mesmo assim levará um cartão. — sussurrou meu pai, após um gole em seu café.
Engulo seco ao lembrar que, em poucas horas, estarei indo a algum lugar com o Gustavo. Meus pais parecem tranquilos e isso me deixa aliviada, e o Sr. Nicholas é bastante prestativo.
— Ele falou para onde iríamos? — sussurrei, fazendo meu pai me olhar por cima da tela com seus óculos apoiados na cabeça. — Não me diga que não sabe, Albert.
O senhor grisalho deu de ombros, ele não pretendia me contar.
— Para você, me chamo pai, e claro que sei. Acha que iria deixar minha filha viajar com um menino de um metro e oitenta, com vestígio de barba, se eu não soubesse para onde iriam? — Meu pai sorriu, fazendo-me arquear as sobrancelhas.
Ele não falou nada sobre meu paradeiro, parece ter jurado segredo. Uma parte de mim está contente e a outra preocupada, sei que o ritmo da padaria não é barato para pagar um substituto, afinal, é confeitaria.
— Esperamos que se divirta, nunca mais viajou e viagem sempre aliviam a mente! — minha mãe apertou meus ombros, me fazendo franzir as sobrancelhas por sua força.
— Deixando claro que permiti isso por ser amigo há muitos anos do Nicholas, se comportem. Espero não me arrepender, eu espero muito mesmo. — meu pai resmungou, coçando a cabeça. — Onde estou com a cabeça?
— No pescoço — Respondi e sorri, ele logo apertou os olhos em minha direção. — Boa noite, amanhã de manhã espero vocês de pé para me desejarem boa viagem. Preciso dormir agora! — saltei, correndo pelas escadas.
《♡》
Com dificuldade, arrasto a mala grande até o corredor e coloco a menor em cima. Meu quarto, todo organizado graças à Alice, me deixou aliviada e pude me jogar na cama sem preocupações. Sinto o sono chegar; hoje acordei cedo na casa dos Baker e voltei para casa após um quase sequestro.
Minha tentativa de sair escondida falhou ao cruzar com Mary na escada. Ela foi muito gentil e me fez um café da manhã farto, e assim como uma mãe faz, ela me submeteu a um questionário sobre minha noite no quarto do ursinho. Logo mais, em casa, minha mãe havia me acobertado para que meu pai jamais soubesse disso, porém me fez escutar muita coisa sobre responsabilidade com minha vida. Mesmo confiando em mim, ela não se mostrou muito contente com minha fuga na madrugada passada.
Meu celular vibrou, mostrando a caixa de mensagens cheia, me obrigando a sair do jogo quando estava quase batendo o recorde.
Gata, arrumou tudo?
Antes de um oi ou boa noite, Gustavo se mostrava ansioso.
Sim, leu o bilhete?
Claro que eu li, mas deveria ter me acordado, nunca acordamos juntos.
Gustavo é o rei do drama, sempre que pode ele se faz de vítima. Em partes, ele tem razão sobre nunca acordarmos juntos, mas ainda assim me sinto confortável em dormir com ele por algum motivo desconhecido. Quando ele deitou em minha cama semanas atrás, me senti estranha. Ontem, já não foi tão estranho.
Eu estaria me acostumando a dormir ao lado da pessoa que puxa toda a coberta pra si?
Durma, Baker, não arrumei a mala em vão. Esteja aqui amanhã!
Estou ansioso, não consigo dormir! Mas você durma, já!
Sinto minhas pálpebras pesando após ler a sua mensagem em um tom mandão, o sono estava me vencendo. Como posso estar caminhando tão rápido? Isso não está errado?
《♡》
—Joanne está pronta? O Gustavo está na sala te esperando, ele chegou meia hora mais cedo. —Minha mãe sussurrou abrindo um pedaço da porta.
Se meu palpite está certo, ele não dormiu nada. Meia hora mais cedo é uma ansiedade enorme que o deu uma bela insônia.
— Estou quase, falta meu cabelo. Mas as malas estão na porta, quem mandou ele se apressar? — sorri, encarando minha face um pouco inchada no espelho.
O despertador tocou às seis horas em ponto, meu sonho estava tão leve que acordei de imediato. Coloquei uma calça jeans, uma blusa de manga comprida com algumas flores em volta e um blazer branco. Sabe-se Deus para onde irei, melhor ir arrumada, segundo minha mãe.
Olhei-me no espelho do corredor, e pareceu estar tudo certo. Sentia-me mais ansiosa que o normal agora que estamos mais perto de irmos. Desci as escadas devagar, e chegando embaixo, meus olhos apontam para Gustavo, seu pai e meus pais sentados à mesa.
Gustavo e seu pai levantaram-se da mesa após Nicholas apertar a mão do meu pai, e minha mãe abraçar Gustavo, provavelmente se sentindo íntima.
— Vamos? — sussurrei olhando para Gustavo, que me olha fixamente. — Bom dia, Sr. Nicholas.
O senhor quase careca parecia animado, visto seu sorriso largo.
— Bom dia, querida. Acabamos de conversar rapidamente a fim de deixar seus pais tranquilos — o senhor engravatado se aproxima me cumprimentando...
— Está bonita — Gustavo sussurrou, se aproximando ao olhar do meu pai.
Meu pai me entregou um cartão de crédito e me abraçou. Com seu jeito carinhoso, deixava claro que não estava pronto para me ter longe por muito tempo.
— Cuide da minha filha, mantenham o celular ligado. Notícias é tudo que peço, mensagens ao menos... — meu pai explica e cumprimenta Gustavo com um tapa leve no ombro.
— Não se preocupe, serão apenas três dias e meu pai sabe exatamente nossa localização. Não se preocupem tanto, mandaremos mensagens! — declarou Gustavo, levando minha mala até a porta.
— Beijos, amor, me liguem! — minha mãe me abraçou de novo, dificultando minha ida ao carro. — Parece uma lua de mel — ela cochicha em meu ouvido, me fazendo rir.
— Não, mãe, não enlouquece, se o meu pai ouvir isso eu não irei — cochichei de volta.
Ao entrarmos no carro, ambos no banco de trás, Gustavo me olhava e me mandava seu sorriso branco. Seus cabelos arrumados e sua roupa social o deixavam mais sério, hoje ele estava ainda mais bonito. Seu pai dirigia o carro lentamente por entre as ruas e passava orientações ao Gustavo em relação à bebida e o dia certo de voltar. Segundo minha pouca curiosidade sobre Gustavo na escola, ele sempre bebeu muito mesmo sem ter a idade para isso perante a lei.
O caminho se estendia, e mesmo perguntando para onde iríamos, ele se negava a responder. Percorremos rapidamente para o lado oposto da cidade, o que não fazia sentido em sair dela. A saída estava contrária a nós, ficaríamos na cidade então?
— Por que está me olhando tanto, Baker? — sussurrei, o fazendo me olhar de canto. — Me deixa agoniada.
Seu pai soltou uma risada seca de longe, o que me fez sorrir.
— Porque te olhar é de graça e faz me faz bem! — Gustavo me olhou mais uma vez, me fazendo revirar os olhos. —Você reclama mais do que um idoso...
Sua declaração me fez sorrir, ele sabe como me deixar calada em segundos. E sabe que não sei reagir a supostos elogios. O carro entrou rapidamente no pequeno aeroporto da cidade, ele era basicamente para aviões pequenos. Vamos de avião? Olho pela janela, e sim, vamos de avião.
O motorista que nos esperava no aeroporto tirou nossas malas do carro e nos despedimos do pai de Gustavo. O motorista andou rapidamente à nossa frente e observo o aeroporto lotado, mesmo sendo um local pequeno, muitas pessoas faziam uso de aeronaves pequenas e helicópteros.
Gustavo segurava minha mãe e se mantinha calado por todo o trajeto, nós até entramos em uma sala grande, com comidas e geladas, por trás de uma parede de vidro avistei um avião marrom claro com detalhes dourados, menor que os normais, com uma letra B enorme colada. Encarando a máquina em nossa frente, Gustavo para ao meu lado.
— Isso é um jatinho? — falo boquiaberta, e ele pega minha mão, percorrendo o caminho ao ar livre até o avião. —Esse jatinho é seu?
O dia estava claro, com poucas nuvens e o sol brilhando., vento bagunçava meus cabelos, e sentia um vasto frio na barriga ao ver a escada posicionada para subirmos.
— É um jatinho mas não é meu, ele é da fábrica. Peguei emprestado por alguns dias! — seu tom calmo me fez ficar ainda mais nervosa.
—Então o jatinho é seu... — Falei baixo e ele sorriu.
Quando Alice me contou do império do café, eu acreditei, mas agora estou acreditando um pouco mais. Subimos a escada do jatinho e o piloto nos cumprimentou com um largo sorriso, não pude me conter ao ficar boquiaberta, o espaço dentro era maior do que eu imaginava: algumas poltronas enormes com uma letra B em cada, um ambiente aos fundos que parecia ser o banheiro e uma mini copa. Os detalhes em dourado passam uma sensação de riqueza à qual eu não estava acostumada.
Segui Gustavo até duas poltronas unidas e grandes e observei um carrinho com taças de champanhe, água e outras bebidas ao nosso lado.
— Quer ir ao lado da janela? — Gustavo aponta, me fazendo aceitar de primeira. — A vista sempre é incrível.
Sento-me e encaro a longa pista de decolagem.
— Isso é incrível, o que você está fazendo? Eu aceitei um encontro e você me traz pra viajar de jatinho? Um encontro normal seria ir no Bell's tomar sorvete! — falei, cutucando seu ombro, e escutei sua risada seca.
Gustavo colocou meu cinto e logo após colocou o seu. Ele realmente planejou tudo em poucos dias.
— Sim, é um encontro. Mas não é um encontro normal, precisa ser algo incrível! Você vai saber assim que chegarmos, posso te falar que esse voo vai até a cidade de Denver. Após isso, o jatinho fica aguardado lá e iremos sozinhos até nosso destino, de carro! — Gustavo beijou o dorso da minha mão e apoiou a cabeça na poltrona, fechando os olhos.
Não consigo imaginar o que ele está planejando. Nosso primeiro destino é Denver, ou seja, mais ou menos três horas até lá.
— Ei, Baker... — sussurro, apertando sua mão. Sem resposta, o menino ao meu lado estava dormindo tranquilamente, o que me faz pensar que ele não dormiu bem a noite passada.
Com o avião em pleno ar, observo as nuvens embaixo de nós. O céu tranquilo e claro me deixa perceber uma vegetação verde de muito longe. Com meu celular descarregado, pego o do Gustavo sem que ele perceba, mesmo sendo invasão de privacidade, ele me sequestrou ontem então eu posso pegar seu celular. Toco em seu celular preto e grande, com um pequeno trinco na tela, e tento desbloqueá-lo, logo tenho sucesso. Quem usa celular sem senha?
Tiro fotos da paisagem, de todos os ângulos que minha imaginação permite. Consigo capturar as nuvens alinhadas ao sol brilhando forte e uma parte de alguma possível cidade embaixo de nós. Em um momento de brincadeira, tiro uma selfie com o garoto adormecido e algumas dele sozinho. Mesmo depois de muitos minutos, as horas se passavam devagar, e acabei fechando os olhos também.
S2
Por entre as estradas rodeadas de montanhas, seguíamos viagem apenas nós dois rumo a algum lugar muito bonito, segundo Gustavo. O clima mais frio do que eu estou acostumada me fez colocar um casaco enorme. Após chegarmos ao aeroporto, Gustavo alugou um carro lá mesmo e viemos direto para a estrada. Segundo ele, precisávamos aproveitar o clima estável para uma viagem segura. Ainda mais curiosa que antes, ele me deu algumas dicas sobre o lugar para onde iríamos. Segundo ele, eu iria pular de alegria — é um lugar legal e romântico, um lugar para relaxar a mente.
Com sacos de comida por todo o meu colo, comíamos e conversávamos sobre fazer uma faculdade longe de casa. Com pouco remorso, ele fala em deixar o pai, eu sempre soube que a relação deles não é das mais amigáveis e próximas. Em poucos momentos, Mary deixou escapar o antigo relacionamento conturbado entre pai e filho.
— O que vai fazer se não conseguir a bolsa? Eu sei que é bem difícil de nativos receberem bolsas de estudos... Acontece mais quando fazem esportes! — Gustavo me interroga, com o olhar fixo na estrada úmida.
Essa é uma pergunta que me faço todos os dias.
— Não sei, se eu entrar em Harvard não sei como irei pagar... Caso eu não consiga, irei trabalhar e tentar outra coisa. — respondo, encarando as montanhas e as árvores ao nosso redor.
— Eu não duvido que irá receber sua carta de aceitação, e de quebra uma bolsa de estudos, sempre foi uma boa aluna — Gustavo empurra meu ombro, me fazendo encará-lo.
— Como sabe que eu era boa aluna? — Reviro os olhos e escuto sua risada sarcástica.
Então eu tinha um stalker.
— Reparo em você desde o segundo ano. Sei que nunca foi para detenção, que fugia dos esportes e que assistia aos jogos de basquete na última cadeira da última arquibancada toda semana por que fugia da educação física.
Sua declaração me deixou surpresa; sempre pensei que ele mentia ao falar que me observava, e eu só ouvia sua fama péssima e seu talento absurdo no basquete. Gustavo parou o carro no acostamento e se inclinou até o porta-luvas do carro. Com algo em suas mãos, ele vira para o meu lado e me olha fixamente, erguendo as sobrancelhas de modo engraçado. Ao levantar um dos braços, uma fita de tecido preta cai, me fazendo tampar o rosto com as mãos, rindo.
— O quê? — Ele perguntou e sua risada junto à minha é algo bom de ouvir. — Preciso que coloque isso, já estamos chegando ao nosso destino, e não quero que leia as placas. — Gustavo tira minhas mãos do rosto, e sinto-me corar.
Com calma, ele passa a fita ao redor da minha cabeça, cobrindo meus olhos, e com rapidez faz um laço firme. O sinto beijar minha testa, e rapidamente seguro seu rosto com as mãos. Parados na estrada no começo de tarde fria, senti a brisa entrar pela janela do carro e usando meu péssimo tato, encontro sua boca e toco seus lábios com meus dedos gelados, o fazendo rir baixinho.
— Estou cega, mas achei algo! — digo, segurando suas bochechas geladas e beijando seus lábios carnudos e recém umedecidos. Suas mãos acariciam meus cabelos e, entre o beijo, o senti sorrir largo.
Seu cheiro forte me faz sentir bem.
— Você me surpreende, agora acalme seu coração e vamos ao destino do nosso primeiro encontro oficial! — Baker distribui beijos leves em meus lábios e liga o carro com agilidade.
— Queria ver a paisagem... — resmunguei, o fazendo negar.
Lembro-me de como eu era contra romantizar qualquer relação, de como tinha medo de ser magoada. Ainda sinto esse medo no fundo; às vezes me pego pensando se não seria mais fácil simplesmente não gostar de ninguém. Até que me dou conta de que estou pensando nesse ser que dirige ao meu lado, e seria injusto não dizer que me sinto feliz ao seu lado, mesmo com medo de ter meu coração partido.
O carro derrapa com lentidão por uma superfície que lembra areia ou algo do tipo.
— Estamos em uma fazenda? — sussurro assim que o carro para, ou estaciona. Mesmo com os vidros fechados, sinto meu nariz gelar. — Vai me mostrar as plantações de café? Mas as plantações são na américa do sul... — sussurro.
— Calma, vou te ajudar a sair do carro, fica aqui! — Gustavo abre a porta e ela se fecha com força, sinto meu estômago embrulhar. — Venha, baby, desça devagar e fique em pé bem aqui.
Gustavo me ajuda a descer do carro, e ouço a porta fechar. O barulho de pessoas conversando e risadas ao fundo me deixavam cada vez mais curiosa. Ele me abraça por trás e sinto sua cabeça apoiada sobre meu ombro, logo ele me manda tirar a fita dos olhos, e assim faço.
De imediato, tiro a fita e à minha frente vejo uma enorme montanha de neve.
— Eu não acredito nisso, Baker...—Encarei tudo ao meu redor e sorri o mais largo que pude. —NÃO ACREDITO QUE ME TROUXE AQUI! — Gritei entre risadas, meus olhos encheram de lágrimas e o abracei com toda força que pude.
Sinto meu corpo tremer, e ainda nos braços de Gustavo escuto sua risada de orgulho. Não é possível expressar o quão estava feliz, minhas botas escorregadias na fina camada de neve o fazem me segurar com mais firmeza, visto minha empolgação.
— Bem-vinda a Aspen, a cidade do esqui e das montanhas cobertas de neve. Vamos aproveitar os três dias no nosso encontro especial fazendo o que você tem vontade há anos... — Gustavo aponta para as montanhas brancas ao nosso redor, e pular de alegria foi minha única reação.
Ele sorria em pausas ao me ver sorrindo.
— NEVE, NEVE, NEVE! — Vibrei, olhando a pequena cidade à nossa volta. — Há quanto tempo eu não via a neve, sério, Baker, foi o melhor primeiro encontro que eu poderia ter! — Pego um pouco de neve nas mãos e jogo para o alto, fazendo-nos sujar, sentindo-me uma criança.
— Calma, você está sem luvas. Meu pai tem uma casa ali no alto da montanha. É um local reservado e tranquilo, podemos aproveitar o dia fazendo coisas como pilotar aquelas motos especiais para neve... — Ele aponta para uma passando ao nosso lado. — Podemos aproveitar a linda vista panorâmica das gôndolas, conhecer a região em trenó puxado por cães, esquiar, passear por essa cidade iluminada e comer coisas quentes. O que acha?
Olhando toda aquela cidade entre as montanhas, vejo pessoas brincando na neve e pequenas luzes enfeitando o lugar... Ele realmente pensou em tudo de verdade, soube de alguma forma minha paixão pela neve e cachorros fofos. Ele se esforçou para me ver feliz.
— Eu amei tudo isso! Todo o seu esforço para saber o que eu gosto e a missão de me fazer surpresa. Incrível, obrigada. — O abraço, e ele resmunga por falta de ar.
Em meio às pessoas indo e vindo a todo vapor, não me importei em expressar minha felicidade. Meu começo de vida foi em um lugar onde todos os invernos nevavam muito. Wisconsin sempre terá uma parte do meu coração, mas, devido a minha família ser desunida, não vou para lá há muitos anos.
— Eu sei que você gosta de coisas simples e legais, sei que um jatinho não é simples e uma casa na montanha também não... Mas nossa cidade não tem nada que pudesse fazer desse encontro algo especial como ele é para mim. — O garoto, ainda mais branco pelo frio, respira fundo e sorri.
Com minhas mãos em seu rosto pálido, fixo seus olhos nos meus, colando nossos narizes.
— O que faz de um momento lindo é a forma com que ele é feito. Você armou todo esse plano para me ver sorrir, isso foi genuíno. Sei que não foi para se exibir, até porque eu sei que dinheiro não te falta. — Ainda com meu nariz colado ao seu, ele sorriu logo negando. — Esse é meu primeiro encontro na vida, e acho difícil algum outro superar. — Gustavo revirou os olhos, bufando.
— Fico feliz que tenha gostado, busquei informações com o Alex e com seus pais de algo que você mais quisesse fazer. E não vai ter outro encontro....
Mal me trouxe já quer me da um fora?
— Como assim não vai ter? É o primeiro e último? — Afasto nossos rostos e cruzo os braços à sua frente.
Gustavo negou, e me beijou rapidamente.
— Não vai ter mais primeiro encontro com ninguém, comigo vai ter milhões. — Ainda com os braços cruzados, não contenho meu sorriso, e ele me puxa para outro abraço.
— Tudo bem, então. —Sussurrei sem jeito e ele sorriu.
O beijei com toda a minha vontade e abraçados em meio a uma rua lotada, não nos importamos com os olhares em nossa direção. Sinto que esse final de semana será inesquecível!
s2
Pessoas lindas, com um dia de atraso aqui está o começo dessa viagem incrível s2
Deixem a estrelinha ☆
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