Sejam bem vindos S2 Capítulo 66
Somos mutáveis, isso venho percebendo com ainda mais fervor. Muitas faces minhas estavam mudando sem que eu ao menos planejasse, uma dessas mudanças foi o medo profundo de ser pai. Sempre tive esse receio, e foi difícil para mim abrir isso para Joanne, especialmente ao ver seu amor por crianças... No entanto, quando expus meu medo e ela me tranquilizou, pude ser mais sincero sobre isso.
Minha infância foi marcada por pais ausentes, e nunca quis esse tipo de ausência para um filho meu e a profissão pela qual estou lutando é uma das mais difíceis de conciliar com a vida em casa. Entretanto quando quase perdi minha namorada, meu coração se tornou ainda mais certo do quão eu quero construir uma vida com ela, uma família feliz.
Com tudo isso que aconteceu, também percebi o quão importante é estar perto das pessoas que amo, e agora com meu pai presente e uma nova família ao redor, sinto-me completo.
O relógio marcava sete da manhã, e o sono se foi antes do despertador tocar, após uma das funcionárias trazer as correspondências em meu nome, a pilha estava à minha frente em cima do notebook, mas me faltava coragem para abrir. Passei anos pensando em como seria meu futuro, para onde iria e se meu pai realmente aceitaria minhas escolhas.
Levantei-me e fui até a pilha de papéis. Lá estava o cartão postal da minha avó materna, papéis do seguro do carro, propagandas, jornal, uma revista automobilística, e, finalmente, dois envelopes de resposta: um branco e um amadeirado, logo peguei-os com nervosismo. O envelope branco com detalhes vermelhos era de Harvard, lacrado e leve. O outro, com detalhes verdes, trazia o nome da faculdade mais concorrida do nosso estado: Tulane.
—As duas respostas... —murmurei para mim mesmo, antes de rasgar os envelopes com um misto de ansiedade e empolgação.
Ali estavam as respostas que podiam mudar tudo: uma da universidade que sempre tive uma vontade imensa de estar porém distante de tudo que eu tinha agora, outra que me permitiria ficar perto da minha família.
Com os envelopes abertos, fechei os olhos e abrir os papeis, logo abrindo meus olhos de uma vez.
"Bem vindo a Tulane..."
"Bem vindo a Harvard..."
Sorrindo largo, senti uma onda de realização ao encarar os envelopes abertos. Eu realmente havia conseguido — e agora precisava fazer uma escolha.
Olhei para a faixa de Harvard na parede, uma lembrança dos meus planos de sempre querer ir além do meu estado, em busca de algo maior. Nunca imaginei que poderia ser feliz aqui, e agora tinha a liberdade de decidir meu caminho.
Pensei nos momentos com meu pai, em como ele mudou tanto para melhor. Pensei em Mary, em Joanne... Queria seguir ao lado dela, onde quer que fosse, mas tinha medo de que a vida pudesse nos separar. Com a mão no peito, buscava respostas dentro de mim, tentando entender o que realmente queria.
De repente, batidas leves na porta me fizeram saltar. Guardei rapidamente os papéis sob o travesseiro e me preparei para disfarçar o nervosismo.
— Pode entrar, Mary — falei, tentando soar natural e ela entrou com um sorriso acolhedor.
Eu reconhecia aquele toque leve, Mary sempre batia duas vezes e esperava um momento antes de uma terceira batida, respeitando minha privacidade desde a infância. Mas desde que Joanne começara a passar as noites aqui, Mary passou a ter mais cuidado, evitando entrar sem resposta — talvez por receio de presenciar algo que preferiria não ver.
— Essa semana a senhorita Clark dormiu pouco aqui. Que quarto bagunçado, e por que tantos papéis no chão? — Ela se aproximou, e eu juntei os papéis antes que ela pudesse pegar algum.
Ela era curiosa, e eu ainda não estava pronto para dividir o que não tinha processado totalmente.
— Ela dormiu aqui vários dias, Mary. Aguente de saudade... — Mary olhou para o chão, e virei seu rosto em minha direção. — Mas hoje vou à casa dela. Fizemos mais um mês de namoro esses dias, mando um beijo seu para ela. — Sorri.
Joanne sempre pensava em programas legais para nossos "mesversários": saíamos para comer, íamos ao shopping, ao paintball ou patinávamos. Mas hoje seria diferente, ela queria fazer uma sessão de fotos nossa, então eu precisava me arrumar.
— Escolhas são difíceis? — Mary fez meus lábios secarem, e eu sorri de nervoso. — Vi as correspondências. — Ela sorriu e me abraçou pelos ombros.
— Por que é tão curiosa? — Resmunguei, encarando a parede à nossa frente. — Meu coração sabe o que quer, mas está com medo.
Eu me sentia angustiado e feliz ao mesmo tempo; eram sentimentos mistos e confusos. Mary percebia todas as minhas expressões e não veio apenas me dar bom dia; ela sente o que sinto, talvez por isso eu não consiga esconder tão bem as coisas dos olhos atentos dela.
— Não precisa ter medo, apenas siga seu coração. As pessoas que te amam vão continuar te amando mesmo que você esteja longe, mesmo que não possa vê-las sempre. Sei que você lutou muito por isso, mas acho que já sei o que você quer. — Apertei as mãos e suspirei.
A característica que mais me conectava a Joanne era o hábito de planejar tudo, planejávamos tudo com antecedência e ficávamos irritados quando a vida mudava de rumo. Sei que ela também recebeu alguma resposta hoje — ou talvez nenhuma, ou talvez varias, não sabia para onde ela ia, mas queria segui-la, queria que nossas vidas seguissem o mesmo caminho.
— Mary, onde quer que eu esteja e ela não esteja comigo... não estarei completo. É uma certeza que tenho. — Sussurrei, enquanto meu celular vibrava. — Eu sei que ela quer algo maior, assim como eu queria. Porém, algo em mim mudou, quero estar perto de vocês, mesmo Harvard sendo meu sonho. E acho que, depois de tudo que aconteceu, nossas vontades percorreram caminhos diferentes. — Senti meu celular vibrar novamente e fechei os olhos por um instante.
O nome dela apareceu na tela em uma ligação, e meu coração vibrou junto. Esperei até que a chamada caísse na caixa postal.
— Como sabe disso? — Mary sorriu e me observou. — Acho que nenhum coração está mais do mesmo jeito que meses atrás.
— Mary, ela sempre deixou claro que o sonho dela era Harvard e colocou Tulane como plano B. — Passei as mãos na cabeça e me joguei na cama. — Quero que ela seja feliz onde quer que esteja, mas quero que ela fique comigo. Me sinto egoísta... — Bufei.
Mary notou outra chamada indo para a caixa postal e sorriu.
— Então acha que o amor é egoísta? — Ela sussurrou, sem dar conselhos sobre minha declaração, apenas acrescentando mais uma dúvida.
— Meu amor por ela não é egoísta, Mary, é livre e puro. Não quero ser egoísta, pensando só em mim ou querendo ela só para mim. O que eu faço... — Choraminguei, e Mary se levantou.
— Conversem, não vou me meter nisso. Você sabe que precisa seguir o coração, eu te ensinei isso!— Ela sorriu e acenou. — Mande meu beijo para ela!
Meu celular voltou a tocar, e eu atendi, tentando manter a voz firme. Caminhei até a janela, olhando para a estufa.
— Gustavo, que demora! Preciso de você! — Sua voz trêmula entre risadas abafadas me fez entrar em taquicardia. — Eu recebi, Baker. Meu corpo está tremendo e estou tão feliz! — Voltei a sentar na cama e segurei os papéis.
Sua risada, seu corpo trêmulo e sua felicidade significavam uma coisa: Harvard.
— Eu também recebi, Anne. — Sorri, tentando mostrar felicidade, e ela começou a falar rápido.
— Estou nervosa, vem aqui! Pela sua risada, você vai para Harvard, não é? — O silêncio pairou na ligação, e eu bufei. — Baker...
— Em alguns minutos estou aí. Fique calma, estou indo!— Sorri, e ela concordou.
Me joguei na cama e joguei as cartas para o alto. Pela felicidade dela, havia sido aceito em Harvard assim como eu. Mas por que meu coração não estava feliz com isso?
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Na voz de Joanne:
A vida às vezes nos dá o que queremos e outras vezes nos dá o que precisamos, mas e quando percebemos que o que precisamos era, na verdade, o que passamos a querer? As cartas de resposta para a faculdade chegam sem aviso prévio, frequentemente apertadas em nossa caixa de correio ou jogadas embaixo da porta. Como meu pai se cansou de ter cartas molhadas na caixa, todas eram deixadas embaixo da nossa porta.
Acordei cedo para tomar vários remédios e avistei muitos papéis espalhados pelo chão, incluindo um envelope grande. Tudo podia estar ali, mas meu coração estava cheio de medo afinal meus sonhos mudaram de rumo quando percebi que minha ambição não era mais estar longe de todas as pessoas que me completavam. Meu coração estava feliz por estar ao lado dos meus pais, da família que estava prestes a crescer e mesmo sabendo que meus amigos iriam para faculdades diferentes, ainda assim, não ficariam longe de mim. Mas meu coração doía ao saber que o sonho do meu namorado não era Tulane...
Me agachei, pegando as cartas do chão. Sentei à mesa com os papéis, e meus pais me encararam, após eu deixar transparecer o nervosismo no olhar.
-Acho que a carta chegou. -Sussurrei e meu pai correu. -Vou abrir. -Respirei fundo e com o envelope de cabeça para baixo abri, me recusava a ver o slogan da instituição.
Abri o envelope e minha mãe se sentou ao meu lado com dificuldade. Ela estava acordada desde a madrugada, sofrendo com muitas dores, mas ainda não havia chegado a data marcada. Meu pai passou a noite massageando suas costas, e o médico disse que as dores eram normais por conta dos dois bebês. Segundo ela, quanto mais os dias passavam, mais ela queria parir logo, pois seu corpo estava dolorido e pesado.
Retirei o papel branco do envelope e, ao ver o slogan, meus olhos se encheram de lágrimas. Meus pais me olharam, e eu soltei uma risada nervosa. Estava tudo misturado dentro de mim — medo e felicidade, realização e ansiedade.
"Cara senhorita Clark, parabéns.
Em nome da comunidade de Tulane, temos o prazer de anunciar sua admissão no programa de bolsas integrais no próximo outono. Estamos entusiasmados em recebe-la em New orleans, nossa família está confiante de que sua participação ao longo do curso será estimável para seus colegas. As realizações pessoais e acadêmicas em sua escola e comunidade refletem em tudo que valorizamos, respeitamos e esperamos em nossos alunos. Ambição, compaixão e intelecto são o coração da universidade de Tulane, e estamos ansiosos para tê-la conosco. Segue as datas pra documentação e lista de espera para alojamento caso precise.
Nos veremos no próximo outono, Bem vinda a Tulane."
Meu coração estava pegando fogo. Meu plano B tinha se tornado meu plano A meses atrás, quando percebi que meu coração estava aqui. Foi então que entendi como a vida muda. Depois de tanto tempo pensando apenas em mim e nas minhas metas, percebi que não era assim que deveria ser, especialmente depois de quase perder todos ao meu redor. Era isso o que eu queria para a minha vida, era isso que desejava ao lado de Gustavo. Mas, ao mesmo tempo, sabia que talvez não fosse isso que ele quisesse.
Essa semana comemoramos mais um mês de namoro, e semanas atrás, comprei um presente para ele. Eu sabia que logo as cartas chegariam, mas não sabia se nossos destinos iriam seguir pelo mesmo caminho, afinal, a vida muda rápido. Mas meu coração sabia que, não importa onde estivéssemos, sempre estaríamos juntos.
— Consegui, pai, mãe. Entrei para Tulane e com uma bolsa de estudos! — Mostrei o papel e as lágrimas começaram a cair. — Pai, vou para New Orleans. — Vibrei, pegando meu celular imediatamente.
Meus pais se olharam sem entender e eu sorri, mesmo sabendo o porquê da confusão. Por anos, me ouviram falar sobre Harvard, e apesar de saberem que seria difícil, nunca deixaram de me apoiar.
— Filha, você não está triste? — Meu pai pegou o papel e leu junto com minha mãe. — Passou a vida toda falando sobre Harvard, Anne. Está tudo bem?
Comecei a ligar para Gustavo, mas a ligação caiu direto na caixa postal.
— Meu sonho é estar perto de vocês, dos meus irmãos, do Gustavo. Estar perto dos meus amigos e da família que somos. Eu quero estar no meio, perto de todos. — Abracei meu pai, e ele sorriu.
Minha mãe, com dificuldade, caminhou até mim e me abraçou. Eu sabia que eles estavam aliviados com a notícia, ambos sempre tentaram se preparar para a ideia de me ter longe. Mas eu percebi que minha verdadeira felicidade estava aqui, perto dessa cidade pequena, do tédio, dos meus pais, da família do Gustavo, do Andrew. Tudo isso me fazia sentir em casa.
— Meu amor não vai mais pra longe, querido. — Minha mãe beijou minha cabeça, e eu apoiei a cabeça em sua barriga. — Sua irmã estará perto de vocês. — Ela sorriu, e eu também sorri.
— Filha, e o Gustavo já sabe para onde ai? — Meu pai perguntou
Era por isso que meu coração doía, ardia e morria de medo. Eu sabia que nossos sonhos poderiam não se alinhar mais, e essa ideia me dava um frio na espinha.
— Pai, eu o amo de verdade. E, mesmo querendo ir para onde ele for, sei que, por causa da carreira dele no esporte, conseguiu Harvard... — Expliquei tentando me manter firme. — Se ele entrou Harvard, eu não poderei acompanhá-lo, porque eu não entrei. — Uma lágrima escorreu, e eu a enxuguei rapidamente. — O amor que sinto por ele me faz feliz vendo-o feliz, sabendo que ele estará onde quer, e nada disso vai nos separar.
Era isso que eu sentia dentro de mim: a felicidade dele me fazia feliz. Ver Gustavo realizado e em paz trazia uma serenidade que eu não sabia explicar. E, mesmo sabendo que Tulane nunca foi o seu sonho, jamais o pediria para desistir do que ele sempre quis, só para ficar comigo. Nós conseguiríamos realizar tudo o que sonhávamos, mesmo que não pudéssemos nos ver todos os dias.
Meu celular vibrou, e quando atendi, ouvi sua voz.
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Ele chegou meia hora após minha ligação, com uma expressão que mesclava felicidade e seriedade. Gustavo entrou segurando alguns papéis, e foi acolhido pelos meus pais, que já estavam comemorando e fazendo comidas e doces. Subimos para o meu quarto, e ele parecia mais sério do que de costume, embora ainda muito carinhoso.
— Essa semana fizemos mais um mês... — Ele me beijou na porta do meu quarto, e juntos abrimos a porta. Sorri e retribuí o beijo. — Ver você feliz é tão bom... Me conte tudo, antes que eu enfarte.
O abracei e entreguei-lhe uma pequena caixa. Mesmo com a nossa combinação de fazer passeios em vez de trocar presentes, decidi surpreendê-lo.
— Mais um mês, e eu quebrei a regra. Este é o seu presente. — Ele arregalou os olhos e me mandou um sorriso largo. — Antes que a gente fale de qualquer coisa, abre logo.
Sentamos na cama, e Gustavo abriu a caixinha retangular. Dentro, estava um porta-retrato pequeno com uma montagem de fotos nossas e uma mensagem. O recado dentro da caixa deixava claro que ele deveria colocar o presente em um lugar onde sempre o visse.
— Não sei o que dizer... É lindo, Anne. — Ele olhou a montagem, os olhos brilhando. — Tantos momentos lindos... — Sorriu e leu a mensagem embaixo da foto. — "Onde quer que esteja, sempre estarei com você. Você é meu primeiro e último amor."
Ele colocou os papéis na cama e me abraçou, deixando uma lágrima escapar.
— Eu te amo, não importa pra onde vamos. Ver você feliz é tudo o que eu preciso para viver bem. — Falei — Eu não estava preparado para a possibilidade de estarmos em lugares diferentes, até perceber que isso estava acontecendo. — Me desculpa, meus sonhos mudaram... e sinceramente estou feliz com isso. — Eu sorria, mesmo com as lágrimas escorrendo.
Entreguei meu papel a Gustavo, era minha carta de aceite. Antes do mesmo ler, suas mãos seguraram meus ombros com delicadeza e seu polegar limpou meus olhos.
— Meus sonhos mudaram também, Anne. Eu sei que sempre quis Harvard, e não quero que mude isso por mim. Quero te acompanhar, viver ao seu lado, mas meu coração também quer ficar aqui, me desculpa por querer ir em uma direção oposta a sua agora.— Sem jeito, Gustavo sussurrou.
— Não estou entendendo, você assim como eu, fez as duas inscrições. Para onde vai? — Enxuguei o nariz, o entreguei minha carta.
Gustavo começou ler minha carta de aceite e começou a sorrir sem pausas. Ele parecia eufórico e, ao mesmo tempo, nervoso. Meu namorado logo começou a me beijar no rosto, e então procurou seus papéis na cama, me entregando-os.
— Eu fui aceito nas duas, estava morrendo de medo. — Com os papéis nas mãos, eu li as suas cartas e meu corpo inteiro se arrepiou. Gustavo havia sido aceito nas duas universidades, e sua felicidade era contagiante. — Eu estava com medo por saber que seu sonho sempre foi Harvard, mas meu coração agora queria Tulane... Fizemos uma confusão!
Ele era incrível, de verdade.
— Gustavo, você conseguiu as duas! Isso é incrível!— Levantei os papéis, e ele sorriu. — Eu passei pela mesma mudança que você, eu fiquei muito feliz em ser aceita em Tulane, como se eu nunca tivesse sonhado com Harvard. Nesse tempo eu percebi que meu lar está ao lado de vocês, que quero mais dias em família, jantares barulhentos e estar no meio entre nossa família e nossos amigos. — Fui tomando fôlego, e me calmando. — Se para você algo mudou, então vai para Tulane também? — Gustavo segurou meu rosto e beijou minha testa, com ternura.
Olhei nos seus olhos, e foi naquele instante que percebemos: nossos corações ansiavam pela mesma coisa, queríamos estar no mesmo lugar e priorizar nossa família.
Gustavo pegou a carta com detalhes vermelhos, a amassou com um sorriso no rosto, e tapei a boca com as mãos. Aquele pedaço de papel era importante demais para ser amassado...
— Não, não faz isso ainda... Sempre foi seu sonho. — Sussurrei, ao vê-lo arremessar a bolinha de papel no lixo. — Tem certeza? — O encarei, e ele me respondeu com o sorriso mais sincero.
— Meu sonho é a medicina, estar com a nossa família, meu sonho é você. A única menina que entrou no meu coração, a pessoa mais corajosa e companheira do mundo. Quero você comigo em Tulane, no próximo outono, e em todos os outros outonos. — Em pé, abracei-o, e senti o ápice da felicidade.
Gustavo me contou sobre o medo que sentiu, que a escolha não foi fácil, mas sabia o que queria. Ele queria estar ao meu lado. Ele nunca havia pensado em Tulane da mesma forma que eu, mas depois de tudo o que passamos, depois de quase perdermos tudo, algo mudou em nossa forma de ver a vida. Sabíamos que poderíamos ter tudo o que sonhássemos, se estivéssemos juntos, com a nossa família. Era isso que o pai do Baker queria, assim como os meus pais, e agora era algo que desejávamos, juntos e sozinhos.
— Precisamos descer, meus pais precisam saber. Já contou ao seu pai? — Puxei-o pela mão, e ele pediu calma.
— Vou contar, ainda não estava em paz. Estou tão aliviado e feliz, meu pai vai chorar muito quando souber que, depois de me deixar ir embora, vou ficar. — Gustavo riu, e eu concordei. — Ele brigou comigo todo esse tempo à toa.
Foram muitos meses tentando mostrar ao Nicholas que o filho precisava seguir suas próprias escolhas.
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Descemos as escadas, e meus pais estavam terminando de arrumar a mesa, com um bolo no centro. Em casa de padeiro e confeiteira, nunca faltam pães e bolos, ontem mesmo fizeram dois bolos e brownies.
— Como fez um bolo tão rápido, Albert? — Gustavo sorriu para meu pai que apenas sorriu e se sentou ao meu lado à mesa. — Olá querida sogra, está tensa?
Já voltando a ser o Gustavo de sempre, ele estava radiante e seu bom humor exalava.
— Chegou todo sério, pensei que não ia falar comigo. — Minha mãe colocou suco em seu copo, e ele negou. — Estou com muita dor querido, e sua carta chegou?
Gustavo me olhou e entregou a carta, dobrada em mil partes. Ele se gabou de irmos para o mesmo lugar, e meu pai demonstrou felicidade.
— Que coisa boa, Tulane é ótima, e fica a pouquíssimas horas de casa. Me sinto aliviado por saber que também vai Baker e seu pai deve estar feliz. — Meu pai o parabenizou e concordou.
— Pai, está feliz por saber que sua filha vai ficar sozinha em outra cidade com o namorado? — Sorri, brincando com meu pai, que sempre foi um pouco ciumento.
Gustavo explicou aos meus pais que Nicholas ainda não sabia da nossa decisão, mas que, no fundo, era o que sempre quis para o filho. Falamos sobre o motivo de Harvard não ser nossa primeira escolha, e fomos bem compreendidos.
— O lugar onde se vive é onde o coração está. E o que vai fazer de vocês bons profissionais é o estudo e a dedicação. Vão morar juntos ou em alojamentos? — Minha mãe perguntou, sendo logo encarada por meu pai e Gustavo. — O que foi?
Morar juntos? Isso nunca tinha passado pela minha cabeça, e talvez fosse algo muito sério para Gustavo.
— Mãe, não é bem assim. Morar juntos é algo sério, serão muitos anos de faculdade. — Sorri sem jeito e fui encarada por Gustavo.
— Isso exige muita responsabilidade, passar vinte e quatro horas com alguém é algo muito sério, Katy. — Meu pai falou, e ela consentiu.
Minha mãe revirou os olhos, sem se importar.
-Vocês são chatos demais, a vida tem que ser vivida. E depois de tudo que passamos e que vocês passaram, tratem de aproveitar melhor. As festas da faculdade eu sempre ia com seu pai. -Ela sorriu, dançando.
De fato, nós faria ainda mais próximos e ligados. Meu estômago encolheu e perdi a fome, viveríamos realmente como um casal sendo novos.
— Sei que para um pai isso é estranho, sei que é uma decisão que o senhor precisará tomar e sei que quer o melhor para sua filha. Mas se ela quiser, podemos fazer isso. Ao invés de morarmos em alojamentos e pagar caro por eles, poderíamos dividir um apartamento pequeno ao lado da faculdade. — Gustavo sorriu e me encarou.
Ele realmente queria isso. Estava propondo com coragem, e meus pais, mesmo com a dor de me verem crescer, mostraram-se felizes com a ideia.
— Sei que ela quer senhor Baker, mas não é tão simples assim, vou conversar com o seu pai. Confio em vocês, mas isso é algo sério e se for possível, não quero netos agora. E, por favor, nada de casamento antes da formatura, não estou pronto para isso agora. — Meu pai falou com pressa, e eu prendi o riso. Minha mãe limpou a testa com um guardanapo, parecendo ligeiramente exausta. — Realmente não estou pronto ainda, Joanne.
Sorri e me levantei para acariciar a cabeça do meu pai.
— Pai, para de apressar as coisas. Estamos novos, temos nossas metas e planos. Só queremos nos concentrar na faculdade, cada coisa no seu tempo. — Coloquei um pedaço de pão na boca e me senti um pouco envergonhada. — Sem filhos!
Meu pai me lançou um olhar severo e justificou que não estava pronto para me ver tão longe. Ele estava feliz por nós, mas insistia em que precisaria conversar com Nicholas a cada cinco minutos, enquanto devorava os doces. Minha mãe seguiu para a cozinha, e eu a ajudei a tirar as coisas da mesa. Gustavo, por sua vez, se mostrava confiante nas suas escolhas e no que queria, e, como meu pai disse, era óbvio que eu também queria o mesmo.
— VAI SER AGORA! — Minha mãe gritou, assustando a todos. — ALBERT!
Pausei minha arrumação e a encarei de longe, ela estava do outro lado da ilha da cozinha. Gustavo me olhou, e meu pai deu de ombros, como se não fosse grande coisa.
— Não vai ser agora, vou conversar com o Nicholas. — Meu pai suspirou e mordeu um pedaço de pão.
— Mãe, prometemos que não vai ser nada agora, não vamos apressar nada pode confiar. — Sorri, tentando acalmá-la, e Gustavo consentiu, fazendo um gesto com as mãos para corroborar.
Ela estava respirando fundo, caminhando lentamente enquanto segurava a barriga. Quando se aproximou, as pernas apertadas de dor, meu pai não conteve uma risada nervosa.
— Albert, deixa de ser lerdo e me ajuda! Vai ser agora, os bebês estão chegando. — Ele a encarou e levantou apressado, batendo a cabeça no lustre baixo. — Não está no dia certo querido, os bebês estão chegando. — Minha mãe gritou, fazendo Gustavo me olhar assustado.
Corri até ela, Gustavo, pálido, me seguiu. A água estava escorrendo pelas pernas da minha mãe, e o chão também estava molhado. Não tinha cor nem cheiro, mas meu pai pensou ser urina, até ela gritar, dizendo saber o que estava sentindo.
— Mãe, vão nascer... — Meu coração acelerou, e meu pai cambaleou, visivelmente nervoso.
— Amor, pode ser apenas contrações. — Meu pai observou a água e Gustavo fez o mesmo, sem saber o que fazer.
— ESTÁ DOENDO! — Ela gritou, gemendo de dor. Sua barriga se contraiu, e eu pude ver o sofrimento em seu rosto. — Precisamos ir agora.
Ela repetia que ainda não havia chegado na semana correta, estava visivelmente nervosa e começou a chorar. Minhas mãos estavam suadas, e eu não conseguia organizar meus pensamentos.
— Sogra, calma. Você está coberta de razão e água, se diz que vão nascer, então vão nascer. Albert, senta aqui também. — Gustavo tentou acalmar minha mãe e puxou meu pai para sentar.
Meu pai teve uma crise de riso, assustando Gustavo, que já estava em pânico. Ele batia as mãos na mesa e conseguia arrancar sorrisos de minha mãe, que, mesmo em meio ao desespero, parecia se acalmar um pouco. Corri o mais rápido que pude até o quarto dos bebês e peguei as duas malas pesadas com uma só mão, colocando-as no braço. Parei por um instante, tentando respirar fundo.
Meus irmãos iam nascer, eu ia para a faculdade, e meu namorado me chamava para morar com ele. Tudo daria certo se eu pensasse uma coisa de cada vez, certo? Eu estava surtando.
Desci as escadas com dificuldade, carregando duas malas em um braço só, enquanto puxava a mala de carrinho com a outra mão. Quando cheguei à base das escadas, dei de cara com Gustavo, que estava abanando meus pais com nossas cartas de aceite.
— Vamos, está tudo aqui. — Com dificuldade, quase caindo, me aproximei, e vi minha mãe acariciando sua barriga. — Não tenha medo mãe, e pai se continuar assim, entrarei no seu lugar e você não verá os bebês.
Meu pai se levantou apressado, procurando as chaves do carro, mas não percebeu que estavam presas à sua cintura até Gustavo apontar. Em poucos minutos, todos estavam em pânico, sem conseguir sequer sair de casa direito, minha mãe ligou para a médica e em seguida, para a fotógrafa que filmaria o parto. Mesmo eu tendo um certificado em fotografia, com uma mão só, não estava ajudando em nada.
Caminhamos até o carro, e Gustavo se ofereceu para dirigir. Mas ele também estava tremendo, como uma árvore em um dia de ventania.
-Calma, está tudo bem e você será tio. -Ainda fora do carro, o beijei e o mesmo sorriu. -Vou ligar para todas as pessoas e dirija com calma e cautela nos buracos.
Meus irmãos iam nascer e eu estava muito feliz.
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Os bebês estão chegando para aumentar ainda mais essa família, nosso casal amado irá para faculdade e já sinto saudade.
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