Pontas soltas ♡ Capitulo 53
Um dia nunca demorou tanto para passar quanto hoje. Faz exatamente dois dias que Gustavo deixou uma carta de despedida e se foi. Hoje, bem cedo, precisei inventar uma dor para que meu pai acreditasse e me deixasse ficar na cama, ele acreditou, o que me faz sentir mal por mentir. Meus pais nem imaginam o que está acontecendo, e, para o bem da saúde mental de todos e pela segurança, eu jamais poderia contar.
Minha mãe entrou no sétimo mês de gravidez. Segundo ela, errou as contas em um mês, e, quando pensou estar com três meses, na verdade estava com quatro. Pelo menos foi isso que mostrou a ultrassonografia. Parada em frente ao antigo escritório do meu pai, observei o ambiente que estava quase pronto para ser o quartinho dos gêmeos, faltando apenas alguns detalhes, como uma poltrona que era minha e que meu pai mandou reformar. Minha mãe criou uma linda parede pintada com nuvens e, ao centro, balões com ursinhos voando. Ao mesmo tempo em que o quarto era neutro, cada lado tinha uma cor — um rosa e outro azul.
Ver os berços arrumados com lacinhos e almofadas, os nomes dos bebês em pequenos quadrinhos e um tapete de nuvem no chão me trazia esperança de dias melhores e mais felizes. Aos poucos, tudo ia ganhando cor e forma aos olhos dos meus pais, e, quando perguntei o motivo do tema "céu," minha mãe explicou que era como ela estava se sentindo: no céu.
— Está tudo lindo, não é? — A senhora loira apareceu como um fantasma e admirou mais uma vez seu bom gosto. — Seu pai abriu o bolso de uma maneira surpreendente — completou ela, com graça.
Sua barriga estava maior do que as que eu costumava ver por aí; quem a visse na rua diria que parecia uma barriga de nove meses, sem dúvida.
— Está quase tudo pronto — sorri, e ela assentiu. — Falta muito? Estou tão ansiosa — apontei para o berço, e ela sorriu, animada.
Em poucos minutos, ela me explicou que, em uma gestação gemelar, os bebês normalmente nascem antes da quadragésima semana, por volta da trigésima sexta ou sétima semana, mas que isso não era uma regra.
— Não se preocupe, eles estão saudáveis e crescendo muito bem. O Blake é mais gordinho que a Lizzie, acredita? — Ela sorriu, e eu sorri junto. — Começar de novo será um desafio, mas estou tão feliz que eles não param de mexer.
Toquei sua barriga, mas não senti nada. Segundo minha mãe, após o café da manhã, os dois costumavam dormir um pouco, só para deixá-la acordada à noite.
— Blake, deixe mais comida para a Lizzie — falei, fazendo minha mãe gargalhar. Por um momento, esqueci o quão apreensiva estava. — Só venham na hora certa, me ouçam, sou a mais velha. Acha que vão ser loirinhos como você? — Alisei sua barriga enorme, enquanto ela reclamava das dores nas costas.
-Isso é muito relativo, a genética é algo muito misterioso. Às vezes podem nascer ruivos como a sua bisavó ou com os olhos azuis do seu pai. Você e o Andrew nasceram com os cabelos pretos como seu pai, seu olho é azul e o do seu irmão não era. Será uma surpresa para nós.
— O importante é ter saúde — falei, e ela concordou. Essa era a frase do meu pai desde o início.
Conversamos muito sobre várias coisas, principalmente sobre bebês e o quanto eles mudam a vida de um casal, especialmente para a mãe, que enfrenta uma sobrecarga física e emocional maior. Isso me fez refletir que talvez eu queira esperar um pouco mais do que havia planejado para me tornar mãe.
Descemos para a cozinha, onde minha mãe passou um bom tempo pensando no que preparar para o almoço, já que raramente eu almoçava em casa por causa do meu trabalho. Nossa cozinha quase nunca era usada para essa refeição. Enquanto organizávamos as coisas, Alice me ligou.
— Em que posso te ajudar, Moore? — atendi com bom humor, tentando esconder minha apreensão na frente da minha mãe.
Do outro lado da linha, Alice fingiu choro.
— Acredita que quase morri de preocupação? Mas minha vó pegou meu celular para me obrigar a ajudá-la a limpar o porão.
Alice parecia irritada, e o tom dela me fez sorrir, mesmo que sem querer.
— Você ajudou? — perguntei, segurando o celular com o ombro enquanto tirava as ervilhas do congelador.
— Não tem como discutir com a minha vó; ela lista todas as doenças e dores que tem. Tem novidades? Ah, tem um homem vigiando minha casa, mas ele mostrou um distintivo. O pai do Will cumpriu a promessa.
Meu coração acelerou ao ouvir isso de Alice. Eu ainda não tinha percebido nada suspeito, mas sabia que o pai do Will era confiável.
— Fica tranquila... Vem almoçar aqui, e conversamos melhor. Estou tentando parecer bem na frente da minha mãe, mas não sei quanto tempo vou conseguir — falei enquanto minha mãe saía da cozinha. Alice confirmou que viria almoçar comigo.
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Era nosso almoço padrão: bife, arroz, legumes, ervilhas e purê. Minha mãe quis uma limonada com mel, então preparei para ela. Alice chegou poucos minutos depois, assim que a mesa estava pronta, e minha mãe riu ao vê-la, comentando que ela devia ter sentido o cheiro da comida de longe. Alice sempre animava o ambiente, chegando à porta sem tocar a campainha, preferindo gritar meu nome, o que assustava a todos.
— Tia, sua comida é tão boa, podia fazer um pouco pra eu levar pra casa? — Alice brincou, já que era viciada em carne e nunca escondia isso.
— Coma à vontade, querida. E pode levar sim, você já é de casa — minha mãe respondeu, colocando mais um pedaço de carne no prato dela.
As duas se davam muito bem, o que me deixava feliz, embora minha mente estivesse em outro lugar.
— Filha, coma mais. Perdeu a fome? — Minha mãe notou meu prato quase intacto, e Alice abaixou o olhar. — Que milagre o Baker ainda não ter dado as caras — minha mãe comentou, sorrindo, e engoli seco.
Era exatamente o que eu mais queria, mãe.
— Ele vai aparecer em breve, tia, a fábrica está a todo vapor — Alice disse, encostando o ombro no meu.
— Eu sei que você gosta muito dele, mãe — falei, sorrindo ao vê-la confirmar. — Logo ele aparece com mala na mão para ficar alguns dias. Não posso tirá-lo do trabalho sempre — completei, enquanto Alice concordava, ajudando a minha mãe a mudar de assunto.
Elas continuaram conversando sobre vários assuntos, e acabei me envolvendo na conversa também. Alice mencionou sua curiosidade sobre gestação, e minha mãe respondeu a todas as perguntas com entusiasmo, já que o assunto a encantava.
— Meninas, talvez vocês precisem saber de uma coisa — minha mãe disse, apoiando os cotovelos na mesa.
Minha mãe raramente ficava tão séria, o que fez Alice me olhar com um misto de curiosidade e preocupação. Dei de ombros, apenas esperando minha mãe falar.
— Aconteceu alguma coisa, mãe? — perguntei, inquieta.
— Está tudo bem, Anne. Eu ia esperar seu pai para conversarmos, mas acho que é um bom momento. É algo que, de certa forma, envolve vocês duas.
Se eu já estava confusa, Alice parecia ainda mais, pois parou de comer. Só havia uma coisa que poderia ligar nós três: Andrew.
— O Albert e eu decidimos, depois de muitos anos e muita relutância... — minha mãe suspirou, com lágrimas nos olhos. — Nós vamos desmontar o quarto do Andrew em breve.
Alice olhou para minha mãe, tentando esconder qualquer reação, mas seu sorriso era tenso. Andrew ainda ocupava um espaço significativo na vida dela, e era um lugar do qual ela não conseguia – ou talvez não quisesse – se desvencilhar.
— Mãe, por que fazer isso agora? — perguntei, surpresa. — Você sempre nos impediu de entrar lá.
Minha pergunta a fez sorrir, enquanto Alice permanecia séria.
— Querida, o Drew não vai voltar. Foi algo que precisei aceitar aos poucos, como mãe. Fui chamada de louca muitas vezes por manter o quarto dele intacto — explicou. — Seu pai e eu temos conversado sobre isso há meses. Chegar a essa decisão custou muitas lágrimas, mas acreditamos que será o melhor.
Sob a mesa, segurei a mão de Alice, que permanecia em silêncio, apenas escutando.
— Eu entendo, mãe, entendo mesmo. Superar leva tempo, e você e o papai estão fazendo o certo, por mais difícil que seja — disse, oferecendo apoio, enquanto minha mãe olhava para Alice com ternura.
— Está certa, tia... — Alice sorriu, suspirando em seguida. — Siga seu coração.
Todas compartilhávamos a mesma dor, cada uma à sua maneira, e ninguém realmente sabia o que minha mãe sentia.
— Querida... — minha mãe chamou a atenção de Alice, que levantou o olhar. — O amor que sentimos por ele vai muito além do quarto, das roupas, das fotos e das lembranças. Nada vai apagá-lo de nossas vidas, e está tudo bem assim.
Alice engoliu em seco e assentiu, visivelmente tentando conter as lágrimas.
Minha mãe pausou, respirando fundo.
— Continue, por favor — Alice pediu, e minha mãe segurou sua mão gelada, em um gesto de apoio silencioso.
A essa altura, nossa comida estava gelada, a fome havia sumido, e eu poderia chorar, mas me contive. Aquele era um momento delas.
– Quando perdi o Andrew, me apeguei à Joanne a ponto de sufocá-la, com medo de perdê-la também. Fechei aquele quarto e me tranquei para qualquer possibilidade de ser mãe novamente. Nunca pensei que algo poderia doer tanto – disse a loira, emocionada, abanando o próprio rosto para conter as lágrimas antes de continuar: – Quando vi o teste positivo, fiquei aterrorizada com a ideia de ser mãe outra vez. Chorei escondida por dias. Para mim, ser mãe de novo era o mesmo que ter mais chances de perder outro filho, e eu não queria passar por isso de novo. – Minha mãe olhou para a barriga e sorriu. – Mas, quando ouvi dois coraçõezinhos batendo, percebi que era uma bênção muito grande, e eu queria ser digna disso. Sei que você namorou o Alex e entendo por que não deu certo...
Minha mãe falava sem pausa, e Alice a observava atentamente. Eu podia sentir todas aquelas palavras tocarem fundo no meu coração.
– Porque eu ainda amo o seu filho... – Alice confessou, e minha mãe sorriu. – E não quero esquecê-lo...
– Você o ama, e isso é lindo. Mas precisa entender que ele não vai mais voltar; ele se foi, Deus quis assim. Cabe a nós agradecer por termos tido a oportunidade de conhecê-lo e amá-lo. Ele nunca deixará de ser meu filho, mesmo que eu tenha mais três. – Alice assentiu, e minha mãe continuou: – Andrew foi vítima de uma fatalidade, e acredito que nunca encontraremos o culpado, mas ele sempre terá o nosso amor.
A jovem senhora parecia desabafar diante de nós, falando sem parar.
– Não vou perguntar se quer a opinião de uma mãe; eu vou falar, e fica a seu critério aceitar. – Minha mãe acariciou os cachos de Alice e lhe ofereceu um sorriso doce. – Você tem dezoito anos e está só começando a vida. É uma menina linda, cheia de charme. Primeiro, Alice, você precisa querer seguir em frente; precisa se dar a chance de viver um novo e sincero amor. Isso não será uma traição. Será uma oportunidade para você ser feliz, formar uma família. E, quando se permitir amar, será amada também.
As palavras de minha mãe fizeram uma lágrima escorrer pelo rosto de Alice. Por mais duras que fossem, eram verdadeiras e sinceras.
– Você está certa, tia, mas é tão difícil... – Alice confessou, e minha mãe voltou a sorrir. – Tenho tentado, mas todo mundo parece passageiro.
– Sabemos que é difícil... – Abracei seus ombros e encostei minha cabeça na sua. – Querer é o primeiro passo.
– Existem meninos incríveis como Andrew e Alex por aí. Você precisa se dar a chance de ser feliz. O amor é lindo, mas precisa ser recíproco, e infelizmente, amar meu falecido filho vai mantê-la cega para as coisas lindas que o futuro pode trazer. – Minha mãe estava no auge de sua sinceridade. – Decidi guardar as boas lembranças, as que me trazem paz. Desfazer o quarto do Andrew não faz com que eu o ame menos, assim como a Joanne amar os novos irmãos não a faz amar menos o irmão que perdeu. Seguir sua vida e se abrir para novos amores não significa que você o amou pouco. Acho que só vivendo em paz poderemos dar paz a ele.
– Concordo com tudo isso. Quanto ao quarto... pode me deixar entrar lá antes de... – Minha mãe assentiu, e Alice se levantou num impulso, indo até ela para abraçá-la.
Após um longo abraço que durou minutos, minha mãe pediu licença e saiu da mesa por alguns instantes. Ela subiu as escadas, e o silêncio entre nós ficou ensurdecedor, Alice encarava as próprias mãos, parecendo estar em outro mundo. Ouvi minha mãe descendo lentamente e fingi que comia.
– Tenho uma coisa para você, de todo o meu coração. – A loira sentou-se novamente à mesa e estendeu um pequeno cartão para Alice.
– O que é isso, tia? – ela perguntou, confusa.
– Esse é o cartão da pessoa que me ajudou muito depois da morte do Andrew. Não só a mim, mas também ao Albert e à Joanne, até que ela parou de ir. – A loira me lançou um olhar de canto, e eu sorri.
– Pode confiar, amiga, sem receio – falei seriamente, enquanto Alice examinava o cartão e lia o nome impresso.
– Abigail Orks, terapeuta – leu ela, séria, enquanto minha mãe pegava sua mão.
– Ela está na minha vida desde que perdi o Andrew. É uma pessoa ótima, muito profissional. Terapeutas podem nos ajudar a refletir sobre nossos medos, problemas, nossa forma de pensar diante de perdas, lutos, traumas, problemas físicos, baixo rendimento, entre outras questões. Estou falando de maneira leiga, mas foi com ela que encontrei clareza para lidar com meus medos e dores.
Minha mãe tinha um jeito com as palavras que aliviou a expressão de Alice. A terapia havia me ajudado a superar uma depressão profunda, foi minha salvação.
– É muito caro? – Alice perguntou.
A curiosidade era um bom sinal; mostrava que ela estava pensando no assunto.
– Não pense nisso agora, apenas ouça o seu coração. Se você sentir que quer ir, só precisa se preocupar em encontrar o caminho. – Sorri, fazendo-a sorrir também.
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Era quase fim de tarde, e Alice tinha me ajudado a arrumar a cozinha e o meu quarto, pois, segundo ela, uma faxina ajuda em quase tudo. Após a conversa com minha mãe, não tocamos mais no assunto; segundo ela, não poderíamos pressioná-la a ir, apenas conversar e dar apoio. Fiquei muito aliviada com a decisão dos meus pais, mas parte de mim doía ao saber que seu quarto seria desfeito; querendo ou não, é onde me sinto mais próxima dele.
O pai do Will nos ligou avisando de outra reunião no mesmo local, só que em uma hora. Com certeza ele não está perdendo tempo em nada; em dois dias, ele me ligou várias vezes, como prometeu às pessoas que estão cuidando de nós.
— Vamos junto ao Alex novamente? — Alice quebrou o silêncio ao me ver encarando a parede de fotos.
— Vamos, sim. — disse, fazendo-a se aproximar da cama.
— Está bem? — Senti seu braço em volta do meu pescoço e balancei a cabeça negativamente.
— Estou em pedaços, mas me tornei boa em fingir. Afinal, já chega de pessoas passando por perigos, não é? — Sorri. — Só quero ele de volta. Pensava que precisava de muita coisa para ser feliz e completa. Mas quando li aquela carta, percebi que ele me completa; o resto só complementa.
Sentia meu coração arder e doer; não havia mais lágrimas, apenas um sentimento de força e coragem saindo de mim, sentimentos antes desconhecidos.
— Vamos achar ele, só pense nisso. — Ela sussurrou e atendeu seu celular.
Alice atendeu a ligação de Alex, e conversaram quase aos gritos, como era de costume. Após combinarem a forma como iríamos e ela chamá-lo de idiota por algum motivo, soltaram risadas e a ligação acabou.
— O idiota chega em meia hora; ainda vai dar quatro da tarde. É bom irmos cedo. — disse ela. — A aleatória é a Emma mesmo?
Sua pergunta me fez arregalar os olhos; aquilo ainda me chocava um pouco.
— É... — sussurrei, fazendo-a bater palmas. — O que foi?
Alice, ao invés de falar algo, começou a soltar risadas altas, o que me assustou.
— Nada, só que ela é tão... Emma. — Seu tom irônico me fez encará-la. — Só quero que ela não o machuque.
— O Alex não é do tipo que se deixa magoar assim. Também fiquei chocada, mas não posso e nem tenho forças para ir contra nada. — falei sinceramente. — Segundo o Alex, eles não têm nada sério, mas algumas coisas não têm explicação. Está com raiva? — perguntei, receosa.
Alice fez uma pausa dramática e sorriu.
— Não, não tem como mandar no coração, e é inútil tentar. Como falei, só quero que, se for para alguém mudar alguém, que seja o Alex a ajudá-la e não ao contrário.
Concordei, era meu desejo também. A única coisa que posso fazer por ele é dar apoio se for algo do seu coração.
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Sentados na mesma sala de estar do outro dia, estávamos todos ainda mais apreensivos. Além de nós, havia mais uma pessoa que era estranha para todos, menos para Will, que estava conversando com ela. Volta e meia, me pegava olhando para Emma e percebia como seu aspecto físico mudara em relação a meses atrás, quando sempre, ou quase sempre, brigávamos muito. Estávamos esperando o Josh chegar para começarmos nossa reunião, e não demorou muito para que ele chegasse.
O garoto chegou e jogou um pacote de papel pequeno para Emma.
— Melhoras, moça. Vamos começar? — O pai de Will chamou nossa atenção, e todos olhamos para ele e seu amigo. — Temos muita conversa, e o tempo está cada vez mais curto.
Sentado longe de Emma, Alex encarava o pacote em seu colo, provavelmente curioso, e não disfarçava.
— Podemos começar, sim. Por favor, Tim. Já estamos na terceira noite contando com o seu sumiço, e não aguento mais. — Falei, fazendo-o consentir.
— Calma, querida. Este é o capitão do distrito policial da nossa capital, Burt Kevin. Como falei para vocês, não estamos sozinhos. Como um grande amigo de infância, confio nele a ponto de contar com sua ajuda. Ele e sua equipe retornaram às investigações em completo sigilo, com o apoio do chefe do nosso distrito, e estão rastreando qualquer câmera que ligue a estrada a uns dos pontos que listamos no dia do acidente de Andrew Clark e na noite em que Gustavo sumiu. — Tim levantou um papel com vários nomes. — Pode haver ligação em relação a lugares.
Tim nos explicou que, com a ajuda dos meninos, fizeram uma lista dos principais lugares frequentados por Augusto, incluindo sua casa, mas lá não tiveram como entrar. Tirando a casa do ruivo, eles foram a todos os locais e, de fato, o garoto frequenta todos, porém nada suspeito foi encontrado.
— Boa noite, meninos e meninas. Sinto muito por tudo isso que está acontecendo, como sabem, Augustos é filho de um de nossos oficiais, o que dificulta e torna isso muito mais grave, mas terá solução. Como estamos falando de uma pessoa possivelmente sequestrada, iremos entrar em contato com a família dele. Iremos achá-lo, afinal em nossas investigações, achamos pontas soltas.
Meu coração tornou-se frenético ao ouvir que envolveriam a família dele, o que me fez perceber que tudo ainda parecia sem solução alguma. Porém, "pontas soltas" significava que Augusto falhou em algo.
— Pontas soltas? Então quer dizer que o ruivo errou em algo que possa levar vocês ao Gustavo? — Emma perguntou, trêmula.
Ela parecia longe de estar bem; sua pele pálida e seus gestos mostravam algum tipo de descontrole.
— É isso, pai? — Will perguntou, fazendo o policial pegar um dos papéis de sua pasta.
— O que é isso? — Alice perguntou, forçando a visão. — Pistas?
— Isso são provas de que Gustavo não saiu da cidade, muito menos do estado ou do país. Por isso o Burt está aqui. — O pai do Will sorriu, e eu me levantei do sofá em um salto.
O capitão Burt tomou a vez de fala e puxou vários papéis; quanto mais eles falavam, mais papéis surgiam.
— Temos aqui a prova de que a tentativa de atropelamento foi, de fato, dele. Ele estava dirigindo o veículo e não se deu conta de que havia uma única câmera ali, que por sinal era de uma loja. Na noite do desaparecimento do senhor Gustavo, o GPS do celular foi desligado uma rua antes, e o do carro também. A rua, que não tem câmeras, traz fortes indícios de um sequestro muito bem planejado.
— Sabia, eu sabia que ele não tinha ido embora. — Abaixei-me no chão e, sem controle eu tremia. — Isso é ainda pior.
O policial Tim e Alice se agacharam ao meu lado e me ofereceram apoio.
— Vamos encontrá-lo. — O policial falou, e eu o encarei com lágrimas nos olhos.
— Viu? Vão achá-lo. — Alice me abraçou, e o policial consentiu. — Vão encontrá-lo, sim, tenha certeza.
Emma tossiu em nossa direção e, tentando disfarçar sua provável gentileza, se aproximou.
— Vou pegar água para tomar remédio. Você quer? — Ela me encarou, e senti Alice fuzilá-la com o olhar.
— Quero, por favor. — Sussurrei, levantando.
Agora, quem não estava acostumada com o novo jeito da Emma era eu. Seria por gostar do Alex ou pela queda dela?
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Encostadas no balcão da cozinha, eu e Emma encarávamos a pilha de papéis em cima da ilha. Ao levar meu copo para lavar, a encontrei sozinha, o que me fez pensar que ela também havia fugido da multidão que conversava sobre teorias. Todos pensavam e falavam ao mesmo tempo, mas quanto mais eu refletia, mais perdida ficava. Segundo o policial Tim, contatar o senhor Nicholas e Mary era crucial; a bomba ia estourar em breve.
— Vão achar ele? — Emma quebrou o silêncio, e, sem me encarar, ela sussurrou.
Nunca tivemos uma conversa, muito menos uma amigável. Emma nunca fez jus ao termo "amigável" desde o primeiro ano de colegial, ela era o oposto disso, e quando digo oposto, era realmente o oposto.
— Estou sem dormir há dois dias me fazendo a mesma pergunta. — Sussurrei, e ela sorriu.
— Lembro quando notei você encarando na escola, a gente achava que era apenas porque sabíamos disso e você era irmã dele. — Ela suspirou, e eu a encarei. — Passei muita raiva, o que você tinha que eu não tinha...
Sentindo a conversa tomar outro rumo, que não me agradava, apenas tentei ser direta.
— Você o ama? É apaixonada por ele mesmo? — Falei, fazendo-a rir.
— Claro que o amo, ele é meu amigo de infância. — Ela tomou um gole da sua água e finalmente me encarou. — Mas para sua alegria, percebi que não o amo de forma romântica, apenas como amigo. E não sou apaixonada por ele... — Disse ela, me deixando aliviada. — É uma longa história que não vem mais ao caso.
Mesmo sabendo que ela nunca teria chances com ele e que ela e Alex estavam tendo algo, me senti aliviada.
— Entendo, ainda bem. — Dei de ombros, e ela fez careta ao engolir seu enorme comprimido. — Está doente?
— Nossa, você nem disfarça o alívio. — Neguei, e ela sorriu. — E não estou doente; toda essa história está me deixando mal do estômago, ou da barriga, não sei.
Tem como disfarçar que está feliz por uma pessoa não ser apaixonada por seu namorado?
— Melhoras. Eu também fico assim quando estou nervosa. — Me aproximei da pilha de papéis e avistei algo. — Às vezes só passa quando eu vomito.
Bem em minha frente, encontrei tudo que precisava para tentar correr contra o tempo: a lista de locais que Augustos frequentava, com seus endereços, e, obviamente, era algo confidencial da polícia. Uma coisa ficou em minha mente desde a última noite aqui; Josh mencionou o único local que não estava na lista como inspecionado, mas tentou disfarçar com poucas palavras. Tirei uma foto do papel e vi Emma me encarando.
— O que está fazendo? — Ela se aproximou, e guardei o celular. —Isso é da policia!
— Jura, Emma? Só estava olhando. — Falei. — Irei te fazer uma boa ação, e você não precisará me agradecer. — Cochichei, e ela não entendeu.
Desconfiada, corri para a sala e de um modo nada discreto, todos me olharam. Eles discutiam formas, possibilidades, meios, horas, ruas e pessoas. Tudo aquilo me deixava com a cabeça mais atordoada.
— Gente, preciso ir, minha mãe quer minha companhia no mercado para carregar as compras. Afinal, ela está carregando dois bebês. — Peguei minha mochila, e Alex me freou junto a Alice. — Li, tudo bem você ir de táxi? Tem dinheiro aí?
Alice se aproximou e consentiu.
— Não se preocupe comigo. E por que você vai sozinha? — Disse ela.
— Calma aí, querida, onde pensa que vai sem mim? — Alex, sendo protetor, cruzou os braços em minha direção.
— Minha mãe me ligou e insistiu na minha presença, ela irá me esperar no mercado. E, Alex, como a Emma está doente, pode levá-la em casa? Não precisamos de mais preocupações, garanta que ela estará bem e sem segurança.
— Pode ser. — A loira deu de ombros, mostrando não se importar. — Tanto faz...
Alex arregalou os olhos e balbuciou, perguntando se eu tinha ficado louca.
— Sei que tanto faz, de nada. — Sorri, e senti Alex puxando minha orelha.
— Já entendi, cabeça quadrada. Tem certeza que pode ir só? — Ele voltou a insistir, fazendo Alice rir da sua cara, e revirei os olhos, puxando-o para mais perto de mim.
— Alex, se eu não tomar um ar, vou surtar diante de todos e pagarei de louca. Minha mãe precisa de ajuda no mercado, e se eu não aparecer, sabe que ela vai chamar a polícia, e juro por Deus que arranco sua cabeça. — Cochichei, cerrando os dentes. — Leve a Emma; ela está péssima, e dê uns beijos nela. — Sorri e acenei para todos.
Procurei sair do ambiente com pressa antes que mais alguém me barrasse, mas, como sou azarada ao extremo, alguém me parou.
— Senhorita Clark. — O pai de Will me alcançou na porta, e freei meus passos. — Posso lhe fazer um pedido que fiz a todos os outros? Se cuide, não fique pela rua ou sozinha.
O policial simpático não me deu escolhas a não ser voltar alguns passos e sorri com a simpatia que eu não tinha.
— Claro. — Falei.
Em poucos minutos, pude seguir meu rumo. Estava mais aliviada com essas pessoas à minha volta, mas não poderia esperar teorias e planos. Depois de me desculpar com meus amigos e afins, precisei ligar para minha mãe.
— Minha senhora, estava dormindo? — Falei, e ela sorriu.
— Sempre! Cochilo a cada meia hora, assim como sua avó. Onde está e com quem?
Sabia que essas perguntas viriam, como a boa curiosa que ela é.
— Vou passar no Gustavo, se não se importa. — Falei e a ouvi gargalhar. — Estou com saudade.
— Tudo bem, mas se você está bem para vê-lo, estará bem para trabalhar amanhã. Como sei que não vai dormir aqui, enganarei seu pai. — Ela sussurrou e me fez sorrir.
— Eu amo você, mãe. — Uma lágrima escorreu, e eu a limpei ao sorrir.
— Eu também amo você, querida.
Ouvi-la me trazia paz e conforto, minha mãe era uma das melhores pessoas que já conheci e definitivamente tenho muita sorte por tê-la. Mas hoje precisarei ir contra um dos meus maiores princípios que era nunca mentir para ela, pois enquanto procuram teorias, eu iria procura-lo e acha-lo sozinha nem que fosse a ultima coisa que eu fizesse.
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O circo está fechando cada dia mais 🙏🏻
Deixem a estrelinha e façam suas teorias ♡
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