Olá de novo. S2 Capítulo 77
Não mais Joana, como de costume. Joanne Clark, com meus vinte e três anos, vivendo em uma grande cidade chamada Nova Orleans. Talvez precise me apresentar novamente, já que tanta coisa mudou, não é mesmo? Bom, a essa altura da vida, não sou mais a menina que poucas pessoas conheciam — e nem desejo ser. Afinal, já apareci até no jornal.
Já não sou quem eu era há seis anos, quando minha vida começou a mudar. Após o nascimento da minha sobrinha e minha entrada na faculdade, cinco anos se passaram.
Passei por muita coisa em pouco tempo, coisas que nem nos meus sonhos mais loucos eu poderia imaginar. Lembro-me daquele momento em que entrei no avião junto ao meu namorado, pensei em mil coisas que poderiam dar errado. Mas, ao meu lado, estava a pessoa mais positiva que conheci depois do Alex, ele passou horas me falando sobre tudo o que poderia dar certo.
Era assim que funcionávamos: eu pensava nos problemas, e ele encontrava soluções.
Depois de muito trabalho interior, tornei-me alguém que confia mais em si mesma, que consegue enxergar além e pensa mais positivamente. Ao longo dos anos, aprendi a controlar minha ansiedade. Hoje, mais do que nunca, posso dizer: algumas coisas não podem ser planejadas — e, às vezes, são exatamente essas que se tornam as melhores.
Quando olho para trás, me vejo lá, naquela cozinha, fazendo uma das coisas que mais amo: doces. Sem idealizar nada além de uma boa faculdade, esperava apenas o período de inscrições para começar. Então, numa tarde comum, o dono de um sorriso lindo bateu à minha porta. Confesso que não o recebi tão bem. Mas como poderia imaginar?
Paciência... Ele tem de sobra para me aguentar, percebi isso a partir daquele momento.
A partir daquela tarde, minha vida começou a mudar — e meu coração foi junto, sem que eu ao menos percebesse. Passei por muitas desconstruções, muitas quedas e cometi muitos erros para entender que sou falha, e que isso está tudo bem. Que todos têm suas dores, e algumas podem ser maiores que as minhas, aprendi que sou merecedora de tudo aquilo, e dele..
"Morar com o namorado não é quase casar?"
"Não acha que foram rápidos demais?""Sabiam que podem enjoar um do outro e se separar?""Cuidado para não pausar sua vida.""Como vai fazer para cuidar de tudo e estudar?"
Essas foram algumas das perguntas que ouvi, muitas e muitas vezes, vindas de pessoas próximas e também de quem não sabia nada sobre a gente. Ainda assim, confesso que esses pensamentos, de certa forma, são compreensíveis.
Morar com ele foi uma das melhores decisões que tomamos juntos, mesmo após apenas um ano de namoro. Sempre buscamos nos unir e respeitar o espaço um do outro, sem invadir nossa liberdade ou deixar toda a responsabilidade para apenas um. Dividíamos coisas como: as tarefas de casa, as contas e, claro, o famoso dia de tirar o lixo. Confesso que essa tarefa recaía mais sobre mim, já que eu sempre lembrava dela antes dele.
Gustavo Baker é meu oposto em quase tudo como sempre foi. Ele é sorridente, alegre com as coisas mais simples, e muito organizado — pratos sujos o irritam profundamente. Ele ama doces, é do tipo que não sossega até assistir à série inteira em poucos dias, monopolizando a televisão. No closet, tem a maior parte do espaço, fica levemente irritado quando eu quebro algo e compra plantas e flores quase toda semana para decorar nossa minúscula varanda. Ah, e ele é o vizinho que, se não tomar cuidado, aparece pelado na janela sem querer — por isso, mantemos as cortinas sempre fechadas.
Ele ainda é aquele que atrai olhares por onde passa, com sua beleza e carisma e foi monitor de anatomia por anos, sempre com notas excelentes. Gustavo é o tio legal da Hannah, o genro dos sonhos do meu pai e o cunhado que adora dar presentes. Ele é o orgulho do pai e o meu também, a cada dia mais. Claro, ele tem defeitos que me tiram do sério, como quando queima roupas ao tentar passar o ferro, não percebe os olhares das meninas, me deixa sem lençol de madrugada e demonstra uma teimosia que às vezes, parece surreal.
Mas ele foi aquela sorte rara que bate poucas vezes na porta da gente, roubou minha atenção e, depois meu coração. Ele segue sendo o motivo dos meus sorrisos, de vários estresses, de varias boas notas e da cicatriz no meu ombro — que sempre gera curiosidade. Gustavo ainda conquista as pessoas por onde passa com seu bom humor, seu ego e sua boa vontade.
Sobre meu medo de que essa nova vida não fosse como eu imaginava? Bom, ela realmente não foi, foi muito mais desafiadora. E sabe aquela perfeição que pregam? Ela não existe, não importa onde você estude ou qual seja sua condição financeira. Tanta coisa aconteceu... Como colocar tudo em palavras?
Chegamos a New Orleans e, ao entrar no nosso pequeno apartamento, estávamos empolgados e logo percebemos que a despensa estava completamente vazia, exceto por uma garrafa de água. Sem perder tempo fomos ao mercado e lembro com clareza da nossa animação ao escolher os itens que mais gostávamos, enquanto tentávamos equilibrar os gastos — algo que era novidade para o Gustavo. De volta para casa, ele preparou um macarrão com queijo que tinha aprendido com a Mary, e nos sentamos juntos para comer. Naquele momento, sabíamos que era o começo de tudo, inclusive da nossa adaptação. Afinal, dormir juntos de vez em quando era bem diferente de morar juntos.
Na semana seguinte, começou nossa árdua jornada na faculdade em tempo integral e ás vezes, chegávamos tão exaustos que a janta acabava sendo um simples macarrão instantâneo — algo que minha mãe nem imagina. Primeiro, cursaríamos as matérias básicas, depois começaríamos nossa prática no hospital-escola, onde aprenderíamos ainda mais. Começamos as aulas juntos e, logo, todos nos conheciam como "os namorados da escola". Entretanto gostávamos de esclarecer que não vivemos aquele clichê dos romances americanos.
Já se passou um ano desde que nos formamos na primeira etapa dessa longa jornada, e também um ano desde que iniciamos a segunda. Fazemos nossos planos sempre incluindo estudos e plantões, afinal, foi essa a vida que escolhemos — e, sem dúvida, é uma das mais desafiadoras. Passamos incontáveis horas nos hospitais, aprendendo juntos e, muitas vezes, sozinhos também.
Aos poucos, eu estava realizando o meu sonho: ajudar pessoas, buscar formas de cura e sentir o alívio de ver sorrisos no rosto delas. Dia após dia, aprendo a encarar a morte de uma maneira que não me abale tanto. Sim, médicos precisam lidar com a morte de forma prática e racional, afinal, em um hospital, ela é parte da rotina. Ainda passaremos muito tempo no hospital-escola, mergulhados nos estudos e na prática, nos aperfeiçoando na área que escolhemos. E, apesar de todas as dificuldades, sei que cada momento está nos moldando para sermos os profissionais que sempre sonhamos ser.
Ao longo desses cinco anos, vivemos muitas coisas — sozinhos, juntos e em família. E, convenhamos, hoje eu tenho uma família enorme. Quando a Hannah nasceu, foi como se uma luz tivesse iluminado nossas vidas, ela chegou exatamente como imaginávamos, trazendo alegria e renovação. Vimos a Alice amadurecer e superar muitas de suas dores, algo que me encheu de orgulho. Já o Nicholas enfrentou seus medos e manteve firme seu relacionamento com a Amy, eles viajavam bastante e hoje já moravam juntos, a mansão estava mais colorida e flores sempre enfeitavam a sala.
A Mary sempre vinha nos visitar, trazendo não apenas metade do mercado, mas também muito amor. Ela deixava várias comidas prontas e sempre nos presenteava, algo que minha mãe também fazia questão de fazer e meus pais, mesmo ocupados cuidando da Lizzie e do Blake — que valiam por cinco crianças juntos! —, nunca deixaram de nos visitar. Eles cresceram ainda mais como casal: meu pai reformou a padaria, e minha mãe recentemente, tornou-se diretora da única escola da cidade. Dizem por aí que ela não deixa nada passar batido e já ganhou fama de ser temida. Passamos juntos natais, ações de graças, feriados, aniversários e todas aquelas datas especiais. A mãe da Alice, que voltou a morar no nosso país, sempre dizia que éramos como uma típica e barulhenta família brasileira.
O tempo passou de forma natural para todos nós, com uma rotina corrida, momentos felizes e outros nem tanto. Pouco depois de eu entrar na faculdade, minha avó materna, vovó Diana, foi diagnosticada com câncer no intestino, iniciando uma luta enorme. Nossa família, que sempre foi um pouco distante, se uniu para apoiá-la. Durante o tratamento, ela passou um ano morando com a minha mãe, sob os cuidados do Dr. Flinn Raybell, um dos melhores oncologistas do estado — convenhamos, sendo ele o médico, ela esteve em ótimas mãos.
Mas o que dizer do câncer? É a doença do século. E, por mais que lutemos, nem sempre saímos vencedores dessa batalha. Vovó Diana lutou bravamente por mais de dois anos e durante esse tempo, vivemos muitos momentos lindos e significativos em família, mas, infelizmente, ela se foi. Foi um dos momentos mais difíceis desses cinco anos, minha mãe sentiu o impacto da perda profundamente e levou um tempo para se reerguer. Estivemos ao lado dela durante todo o processo, dando o apoio que ela precisou para seguir em frente.
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Eu e Gustavo estamos juntos há seis anos. Nesse processo, fomos descobrindo lados nossos que nem sabíamos que existiam, nos conhecendo mais profundamente e nos completando ainda mais. Sempre fazíamos muitas coisas juntos — não por grude, mas porque realmente gostávamos das mesmas coisas. Íamos a festas da faculdade, baladas na cidade, comíamos fora com frequência e cozinhávamos juntos.
Casal perfeito? Nem de longe. Tínhamos nossos atritos e brigas, como qualquer outro. Confesso que, em momentos difíceis, ele acabava se mudando para o sofá ou saindo para tomar um ar.
Meses atrás, passamos por uma fase conturbada quando ele adoeceu. Foi uma experiência complicada, como um filme de terror. Gustavo ficou três dias internado com uma intoxicação alimentar, e eu não consegui sair do lado dele. Além da doença, vinha de brinde a teimosia dele com alimentos saudáveis, como vegetais, o que tornava o processo de recuperação ainda mais desafiador. Mas não foi só ele que precisou de cuidados desses anos, houve muitas vezes em que meu corpo falhou, e ele passou a noite toda ao meu lado, conferindo se a febre havia passado. Sem falar nas crises de ansiedade — algumas causadas por ciúmes meus, outras pela pressão das provas de fim de semestre.
Mesmo assim, morar com ele sempre foi, de certa forma, fácil. Gustavo continua sendo a mesma pessoa que conheci anos atrás, com algumas mudanças inevitáveis: as olheiras, que a medicina nos deu de presente, e a barba, que agora ele mantém. Eu ainda fico brava por nada de vez em quando, mas ele segue sendo a parte calma da relação — e também a mais doce. Isso só faz com que eu o ame cada vez mais, sem limites.
Nesses anos, além de dividirmos a vida e os estudos, também nos aventuramos. Todos os anos viajamos para Aspen, sozinhos, para comemorar o aniversário dele e o nosso aniversário de namoro. Sem dúvida, esses eram os momentos mais aguardados por nós, pois a casa que foi da mãe dele passou oficialmente para ele, por ordem do seu pai, tornando-se ainda mais especial para nós.
Também conhecemos muitos lugares viajando em feriados em que não íamos a Luisiana. Conheci a família materna dele que parte morava em Luisiana e parte na Califórnia, e o levei as fazendas de Winsconsin para conhecer a minha, e foi legal demais. As vezes pegávamos o carro e saímos sem rumo, acampávamos e íamos pescar mesmo voltando sem nenhum peixe. Fomos a Disney em família no quarto aniversario da Hannah, advinha quem mais chorou na viagem? Sim, eu.
Por volta de um ano de faculdade, tomamos uma decisão importante: parar de depender financeiramente dos nossos pais. Gustavo vendeu o carro que tanto estimava, e eu usei o dinheiro que havia juntado durante anos — guardado para o caso de não conseguir uma bolsa de estudos. Com isso, embarcamos em um novo projeto junto com Nicholas: abrimos uma pequena distribuidora dos cafés Baker na Flórida, onde ainda não havia nenhuma. Não era um negócio grande, mas era o suficiente para nos manter. O mais importante: era algo nosso, sem a ajuda financeira de ninguém. Foi nesse momento que começou, de fato, a nossa independência financeira.
Nicholas administrava tudo de perto, e, mês a mês, víamos o lucro crescer lentamente. Foi uma experiência que nos encheu de orgulho. Esse empreendimento foi a primeira grande coisa que fizemos juntos, como parceiros. Graças a ele, conseguimos comprar outro carro, mais simples, e começamos a guardar dinheiro todos os meses.
Há muitas memórias especiais desse período todo, as formaturas foram um marco para todos nós. Fizemos questão de ir a todas: vimos Emma e Alex se formarem, e também vimos Alice, emocionada, chorando ao receber o diploma. Quando chegou a nossa vez, ao pegarmos o diploma juntos na primeira etapa da faculdade, a sensação foi indescritível. Ficamos ainda mais conscientes de que o tempo havia passado e que havíamos vencido mais uma fase importante.
Quando nos reuníamos, era sempre uma festa sem fim. Escolhíamos uma casa e ficávamos juntos até o amanhecer, bebendo, rindo, e celebrando cada conquista. Apesar de todas as dificuldades, a faculdade foi uma das fases mais divertidas da minha vida — mesmo com os surtos por conta das provas.
Por vezes, quando Alex e Gustavo viajavam, eu, Alice, Emma e Hannah passávamos dias divertidos em Nova York, essas escapadas eram sempre recheadas de risadas e leveza. Gustavo, por sua vez, levou muito a sério os conselhos do meu pai sobre equilíbrio. Sempre reservamos momentos só nossos, mas ele também valorizava o tempo com os amigos da faculdade, saindo para jogar basquete enquanto eu passava tempo com duas pessoas incríveis que conheci na faculdade: Jade e Jenny.
As gêmeas Jade e Jenny, inseparáveis desde o útero, tornaram-se minhas grandes amigas desde o início do curso. Elas adoram Gustavo, e Alice, sempre brincalhona, demonstra ciúmes quando vê nossas fotos juntas. Falando nisso, meu círculo de amizade expandiu bastante em comparação à época do colégio, quando praticamente se resumia ao Alex. Hoje, meu grupo é muito mais diverso, sempre saímos para beber, competir na máquina de dança, e esses momentos são sempre cheios de alegria.
Após a formatura, continuamos morando no mesmo apartamento. Ele era próximo aos hospitais e o aluguel permanecia acessível, íamos juntos para o hospital todos os dias, mas, quando nossos plantões não coincidiam, acabávamos nos adaptando. Sempre tivemos pensamentos alinhados sobre o futuro e planejamos cada passo com muito cuidado, talvez por isso nossa relação tenha amadurecido tão rápido — enfrentamos desafios, construímos sonhos e crescemos juntos.
Faz um ano que não somos mais namorados, sim, algo mudou em nossa relação também. No ranking dos dias mais incríveis da minha vida, existe um que segue liderando:
Viajamos para Aspen, como já era nosso vício, e, entre momentos de diversão, decidimos redecorar a casa. Transformamos o ambiente: deixamos tudo mais claro, colocamos muitas fotos e reformamos o quarto que antes era do Gustavo, transformando-o em um quarto de visitas que, diferente de antes, quase nunca estava vazio.
Nossos dias tinham tudo para serem normais, mas em um dos passeios pela neve, algo inesperado aconteceu. Em frente a uma enorme montanha coberta de branco, cercados por pessoas que esquiavam e brincavam, Gustavo me surpreendeu com uma declaração. Ele se ajoelhou bem ali, no meio da neve, e me pediu em casamento. Dessa vez, ele já tinha recebido a bênção do meu pai, o que tornou o momento ainda mais especial.
O que era para ser um final de semana comum se transformou em um dos dias mais felizes da minha vida. Olhando para mim com os olhos brilhando, Gustavo falou:
"Está muito frio, estamos em meio a neve pós formatura e está linda hoje. Querida Joanne Clark, como previ você foi a melhor parceira para se dividir um apartamento e uma vida. Mesmo sendo imperfeito e ficando irritado quando quebra as coisas, meu amor por você só cresce. Sei que nossa vida está começando e somos novos, mas preciso seguir meu coração hoje mais do que nunca. Te amo a seis anos e sei que amarei por mais seis mil, acredite. Todos os momentos com você são únicos e preciso disso para o resto da minha vida ou não entrarei no céu em paz. Sei que já pediu minha mão anos atrás e aceitei, mas eu pedi sua mão ao seu pai ganhei minha benção e sem muita produção quero saber se aceitar casar comigo e ficar ao meu lado até o fim."
Eu sou eu, comecei a chorar ali mesmo, e ele acabou chorando também. Foi um choque de felicidade tão grande que só percebi o que estava acontecendo quando ele, rindo, avisou que seu joelho estava doendo. Só então caiu a ficha, e eu disse o tão esperado "sim". Faz um ano que sou sua noiva, com direito a um anel caro — afinal, a ocasião merecia.
Todos vibraram conosco, nossa família organizou um churrasco de noivado, onde recebemos bênçãos e carinho. Meu pai, emocionado e um pouco bêbado, fez um longo discurso chorando e arrancou de Gustavo a promessa de que ele nunca me magoaria, foi um momento tão engraçado quanto emocionante.
Decidimos nos casar um ano após o noivado, assim, teríamos tempo para economizar e planejar cada detalhe do jeito que sempre quisemos. Durante esse ano, o frio na barriga foi constante, e sempre que pensava no casamento, precisava correr ao banheiro. Gustavo parecia ainda mais nervoso do que eu, fizemos cinco viagens até Boston para ir ao ateliê da Emma e provar nossas roupas, toda vez que colocava meu vestido, eu chorava — e Emma também se emocionava.
Escolhemos o jardim enorme dos Baker para a cerimônia, pois queríamos que Gustavo sentisse a presença da mãe, foi algo que fiz questão de incluir. Marcamos a data para as férias de verão, assim todos poderiam estar presentes e ter tempo para aproveitar, planejamos tudo com tanto cuidado que a ansiedade tomou conta de nós nas semanas finais. Nossas mães, super atentas, garantiram que cada detalhe estava pronto. Na última semana, limpamos o apartamento juntos, e foi ali que a ficha caiu. Sentada no sofá, senti o frio na barriga aumentar. Eu estava tomada por um misto de alegria, nervosismo e emoção.
Amanhã vamos viajar para nossa cidade.
Alex, com sua família, e Alice já devem estar lá, provavelmente. Josh que segue morando lá, organizou a despedida de solteiro do Gustavo, e Will estava vindo para se juntar a eles e obviamente para nosso casamento. Alice, por sua vez, ficou responsável pela minha despedida de solteira, isso me deixava ainda mais nervosa.
Estava sentada no sofá, encarando a caixa do vestido. Tinha acabado de colocar o jantar para fora, e lavei o rosto tentando disfarçar a ansiedade que estava tomando conta de mim, era uma mistura de excitação e nervosismo que não conseguia controlar.
Ouvi o som da porta se abrindo, Gustavo estava chegando da farmácia. Ele sempre chegava em casa sem muito barulho, mas, dessa vez, percebi que ele também estava diferente quando a chave caiu no chão duas vezes. Talvez fosse a ansiedade dele também, algo que ele tentava esconder, mas estava ali, visível em seus olhos.
– Amor, cheguei, acho que preciso me acalmar também. Estou derrubando tudo pelo caminho! – Ele sorriu, coçando sua barba, cheio de sacolas. – Quer um calmante? Comprei remédios para dor, enjoo, calmante e alguns doces... Anne, a Emily devolveu seu laringoscópio. – Gustavo chamou minha atenção percebendo que eu estava distraída.
Gustavo colocou as sacolas na ilha da cozinha, sentou ao meu lado e me fez deitar com a cabeça em sua perna, ele fazia a mesma coisa quando me sentia nervosa.
– Que bom que chegou e que pegou meu laringoscópio... – cochichei – Já dormi tanto, para ver se me acalmo... Mas estou nervosa, está chegando o dia. E não posso tomar calmante hoje... – Sussurrei, e ele beijou minha testa. – Me dá um remédio de enjoo e algum doce.
Após ele me dar o remédio e um doce, tornou a sentar e me balançou como uma criança. Gustavo fazia isso quando eu estava nervosa demais para ver um filme.
– Não pode calmante porque? Apenas um não vai te dopar... – Ele me deu outro doce rosa. – Tudo bem, estou assim também, mas é só nosso casamento. – Ele respirou fundo e gargalhei. – Meu Deus, é nosso casamento. Vou casar com você, mas sempre soube disso, sabia?
Gustavo sempre diz que quando me conheceu sabia que nos casaríamos algum dia e sempre solto risadas.
– Não vai desistir, né? Espanco você, Baker. – O olhei e ele negou. – Me diz com sinceridade, o que acha de coisas que chegam em nossa vida sem planejarmos? Coisas que não tenhamos planejado com antecedência... – Sorri sem graça.
Toquei sua barba e ele sorriu. Quando ele sorriu, percebi o quanto o amava antes e o amo agora.
– Acha que vou desistir? E aquelas comidas desperdiçadas? – Ele sorriu. – Quero você para sempre, Joanne Clark, e sobre coisas que acontecem sem planejar, acho que têm tudo para serem coisas lindas. – Ele sussurrou.
Levantei do seu colo e o beijei, como nunca. Ele sorriu, perguntando o que estava acontecendo comigo, e apenas deixei as lágrimas caírem, sem entender. Meu organismo estava realmente passando por mudanças e apenas sorri. Eu tinha em minha vida tudo o que sempre via em filmes. Mas são filmes... É difícil achar que vão acontecer conosco, mas às vezes acontece, se você se der uma chance.
– Está passando por um misto de emoções? Faz dias que hormônios parecem estar à flor da pele? Rindo, chorando e me atacando. Sabia que estou com um arranhão enorme nas costas? – Ele sorriu em meio aos meus beijos e eu apenas dei de ombros.
– Estou com tudo à flor da pele... E me diz, todos os seus amigos daqui vão? As meninas também vão, elas falaram que não perdem isso por nada. – Mostrei meu celular com a mensagem de confirmação e ele bateu palmas.
Pensamos em uma festa pequena, sem muito exagero, mas isso não ia ser possível, visto que tínhamos pais empolgados que amavam dar festas.
– Todos vão. Está pronta para ser a senhora Baker? – Ele me olhou sorrindo com os olhos, e consenti. – Ser esposa do antigo playboy do café ou seria idiota do basquete?
Gustavo me abraçou, nos fazendo cair no sofá, e mais uma vez percebi que nos seus braços era meu lugar preferido.
– Agora, serei esposa de um ótimo oncologista. – Falei, beijando seu ombro.
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Depois de uma longa viagem, com a mala do carro e o banco traseiro lotados, chegamos à nossa cidade, que não havia mudado nada. Quer dizer, havia mais lugares para diversão, como um cassino, mais espaços para jogos, um novo museu e outras coisas. A mala do nosso carro estava cheia de roupas, caixas, presentes e bagunça. Paramos no Bell's e encontraríamos nossos amigos para relembrar os velhos tempos, e a fome estava grande. Após isso, iríamos à casa dos Baker, onde o resto da família nos esperava, afinal, era um sábado ensolarado.
Gustavo parou o carro e descemos sem pressa após uma viagem cansativa. Estiquei meu corpo e tentei disfarçar minha roupa amarrotada. De longe, Alice acenou para nós, empolgada, e sorri. Nossa amizade se fortalecia a cada dia mais. Sem dúvida nenhuma, ela é essencial em minha vida.
O velho e bom sino no Bell tocou quando entramos, e o senhor já grisalho nos encarou.
– Anne, quanto tempo. A turma do barulho está logo ali, sentem-se. Tudo pronto para o casamento? Parabéns, menininha. – Abracei o senhor e Gustavo o abraçou também. – O rapaz do som alto, como está?
Gustavo sempre parava seu carro aqui e ficava com o som alto, viajando na maionese quando não queria ir para casa.
– Estou bem, Bell, quanto tempo. – Gustavo falou, feliz. –Saudades, obrigado por nunca me mandar baixar o som!
Bell sorria largo ao nos ver.
– Sinto falta daqui, Bell. Minha vida toda foi por aqui, comendo seus doces coloridos por sempre estar enjoada dos meus. E recebeu seu convite? – Falei, e ele sorriu, com a mão na barriga.
– Claro que sim, irei com minha senhora, sinto-me velho ao ver vocês casando e outros com filho– Ele sorriu e avisou que já ia para a nossa mesa.
Cidade pequena, toda notícia se espalha rápido, mas o Bell havia recebido um convite. Ele nos conhecia desde criança, e tínhamos um carinho gigante por ele. Eu e o Alex já provamos todos os doces daqui, sem dúvida.
Avistamos nossos amigos na última mesa, como sempre, e Alex levantou a mão.
– VIVA OS NOIVOS! – Alice levantou, gritando, e Alex tapou os ouvidos. – Minha paixão está tão linda, vai casar mesmo com esse mala? Se quiser fugir, eu dirijo.
Ela tocou meus cabelos e os elogiou.
-VIVA NÓS MESMO. –Gustavo gritou, fazendo o Bell sorriu de longe. -Não roube minha noiva, filha.
Alice beijou minha bochecha, e Gustavo passou a mão em seus cabelos, os assanhando.
– Por que não bagunça os cabelos da sua madrinha? Me abrace. – Alice abraçou Gustavo, e ele sorriu. – Senti falta da relação melosa de vocês e da sua cara feia.
– Senti sua falta também, por incrível que pareça. – Gustavo sussurrou, e ela revirou os olhos. – Está mais alta? Ah, não, ainda é um gnomo.
Emma sorriu, e Alex sussurrou: "Estava com saudade das alfinetadas deles dois."
– TIA ANNE! – Hannah saltou do colo da mãe, assustando-a, e correu.
A filha do meu melhor amigo não era mais uma bebê, com seus quatro anos, era inteligente e amava doces e em breve também teria a missão de levar nossas alianças até o altar. Alex sempre dizia que ela pegava as manias de Alice, como falar gritando. Mas, de fato, às vezes ela parecia ter um pouco de nós em sua personalidade. Quanto à aparência, era toda da mãe.
– Que saudade de você, princesa. – Falei, pegando Hannah nos braços, e ela sorriu. – Está maior e mais bonita! Como está a escola? – Beijei sua bochecha, e Gustavo a cutucou.
– Estou alta, tia. – A chacoalhei e confirmei sua altura. –Eu gosto da minha escola!
Emma sempre nos ligava para falarmos com Hannah. O casal fez questão de criá-la o mais próximo possível de nós, afinal, somos padrinhos da mini Emma.
– Não sente minha falta? Não sou eu que pareço com o príncipe da Barbie? Sou seu padrinho, minha senhora. – Gustavo puxou Hannah e a abraçou, fazendo-lhe cócegas.
– Sinto sua falta, titio "senhora". – Hannah apertou as bochechas de Gustavo, e ele fingiu dor. – Que barba de Papai Noel! – Ela sorria, e ele a beijava. – Está igual ao meu pai. – Hannah tocou sua barba fina, e ele concordou.
– Acha que estou velho assim? – Ele encarou Hannah, que pareceu não entender, mas consentiu. –Vou te fazer cocegas, senhora.
A gargalhada de Hannah fez todos rirem fazendo Gustavo cutucou sua barriga.
Emma e Alex se levantaram, os dois estavam juntos como sempre, e Alex sempre esboçava felicidade.
– Hannah constatou que estamos velhos... – Alex veio em minha direção pulando. – Minha irmã vai casar de verdade agora, e não é um noivo imaginário. – O abracei e o estapeei. – Estou tão feliz por vocês que não posso colocar em palavras.
– Estou nervosa, enjoada e sinto sua falta. – O abracei mais forte, e ele sorriu. – Está lindo, muito lindo. – Sorri, e ele concordou.
Emma me abraçou, dando os parabéns, e eu sorri.
– Parabéns, irão ser ainda mais felizes. Estou tão ansiosa! – Ela me abraçou forte, e eu me senti bem.
– Fez um lindo trabalho, obrigada por tudo. – Sussurrei em seu ouvido, me emocionando. – Sua mão é de fada, Raybell. Quando abro a caixa, choro.
Emma desenhou meu vestido por meses a fio e fez da forma que eu sempre quis: simples e elegante.
– Não agradeça, foi de coração. Agora vamos sentar e aproveitar, porque essa semana vai ser agitada. – Disse a loira, observando todo o meu corpo. – Está ainda mais bonita. – Ela piscou, e eu arregalei os olhos.
Sentamos em minha mesa, já maior que no passado, com uma cadeirinha de bebê na ponta. Estávamos reunidos novamente, um pouco mais velhos e com mais histórias para contar sobre nossa vida. Em pouco tempo, começamos a falar todos juntos.
– Assinei meu primeiro projeto, e eu pago a conta de hoje. – Alice sugou seu milk-shake e entregou um donut a Hannah. – Coma, amor, precisa de energia, e Alex não me olhe assim.
Alice ia contra tudo que os pais da garotinha a deixavam fazer, mas no final das contas, estava tudo bem, se fosse por uns dias.
– A despedida de solteiro vai acontecer, Baker, se prepare para dar adeus à vida de desimpedido. – Alex sorriu, e eu balancei a cabeça. – Comprei as bebidas. – Alex piscou para Gustavo, que bateu em sua mão.
– Gustavo desimpedido? Não vejo ele assim desde o colégio, quando começou a paquerar ela. – Emma falou, arrumando os cabelos da filha e sorriu.
Todos concordaram incluindo eu.
– Nunca foi e nem será. Vou colocar uma aliança de ouro ali. – Apontei para o dedo do meu noivo e ele bateu palmas. – Cuidado nessa despedida, Alex, ou não será mais o padrinho.
Rimos, mas era assim mesmo. Confesso que sou um pouco mais ciumenta que ele. Alex, Emma, Alice, Justin, Will, Josh, e suas namoradas seriam nossos padrinhos, ficando no altar ao nosso lado. Estávamos felizes com nossas escolhas; de fato, não poderiam ser outras pessoas.
– Também terá a sua, meu amor, calma. Contratarei caras musculosos para dançar apenas de sunga, e as meninas vão encher a cara. – Alice sorriu e Emma concordou. – Vai ver alguns tanquinhos, coisa que seu noivo não tem.
Gustavo jogou açúcar em Alice e jurou que estava malhando em casa. O que era mentira.
– Eu vou encher a cara. – Hannah fez uma dancinha, e caímos na risada. – Sou menina também.
A lógica dela estava certa, mas levamos um tempo para explicar que crianças não enchiam a cara. Como um pai ciumento, Alex ficou indignado, e rimos ainda mais.
– Sem caras musculosos de sunga, e a senhorinha vai dormir. – Alex limpou a boca e ela consentiu. – Ainda é um bebê... Não me mate do coração agora, Hannah. Quer crescer sem pai também?
Hannah negou, e Emma mandou o namorado parar com o drama.
– Nem precisava dessa despedida. Pra que ver homens assim? Não teremos mulheres lá. – Gustavo bufou.
– Vamos ter a despedida sim, e não vamos discutir. – Falei, com a cara fechada. – Não terá homens, ainda caem as gracinhas da Alice? – Revirei os olhos, e ele mandou uma careta para a cacheada.
Alice sorriu satisfeita ao tira-los do sério, e Gustavo bufou. Logo Bell trouxe mais dos seus doces, e me animei, era o gosto da adolescência.
– Por que acho que precisarei ajustar o vestido? – Emma me encarou sugando o suco e sorriu descaradamente. – Vai ser o casamento do ano, estou até vendo o burburinho da cidade. – Ela bateu palmas, e Alice concordou.
– A trilha sonora está ótima, e aviso que cantarei na festa, mesmo bêbado. – Alex sussurrou com torta na boca, e rimos.
– Irão sair no meio da festa como em filmes? – Alice me encarou, e Gustavo negou. – Aviso que ficarei até o fim, não vim de longe para comer e beber pouco.
– Jamais, baby. – Falei, e Alice se animou. – Paris espera a festa rolar aqui, e outra coisa, nossos pais se juntaram e compraram comida para metade da cidade.
Gustavo concordou e disse que não tínhamos tanta pressa. De fato, era assim. Queríamos aproveitar tudo: as pessoas e o momento tão especial para nós.
– Sair cedo? Casamento é caro, todos nós vamos aproveitar até o fim. Bebam, caiam e levantem de novo até amanhecer. Quero que isso fique para a história, entenderam? Casamentos demoram a acontecer, e só casarei essa vez. – Gustavo apontou para nossos amigos, e todos consentiram. – E você, leve as alianças em segurança, certo? – Ele levantou a mão, e Hannah bateu.
Alex me olhou e piscou. Tínhamos um plano bolado, e daria tudo certo.
– Vocês têm notícias do Augustos? – Alice falou, e todos negaram.
O que sabíamos era que ele passaria um bom tempo preso.
– Acho que o filho dele deve ter a idade da Hannah. Das vezes que viemos, ninguém tocou no assunto. – Alex deu de ombros e apoiou os cotovelos na mesa.
Me sinto aliviada por não ter notícias, só de ouvir o nome dele, lembro de tudo o que passei. O assunto morreu ali, ninguém mais falou nada, e seguimos nossas conversas aleatórias, que até envolveram nosso vizinho.
– Vamos pra casa, vamos! – Hannah balançou as perninhas, e Emma revirou os olhos. – Mamãe.
-Amor, tenha calma a piscina não sai sumir. -Emma falou e Hannah fez cara de choro. -Nossa senhora do anticoncepcional Hannah, estamos comendo o que você gosta.
Alex abraçou Emma e pediu paciência, enquanto Alice convenceu Hannah de que logo iríamos, e Gustavo cedeu seu celular para ela ver vídeos.
– COISA MAIS LINDA DESSE MUNDO, MEU DEUS DO CÉU! – Alice beijou Hannah, já mais calma, fazendo as pessoas ao nosso lado olharem.
– Viu onde ela aprendeu a gritar? – Falei, fazendo Emma estapear a própria testa.
– Tão velha e gritando... – Gustavo cochichou.
– Tão feio e casando... – Alice rebateu, me fazendo sorrir.
Acho que só o tempo passou mesmo, pouca coisa mudou. Passamos a tarde comendo tudo o que podíamos, e confesso que comi muito mais do que estou acostumada.
Entre histórias, sentia de longe o enjoo, enjoo e mais enjoo. Era tudo o que eu sentia, dia após dia. Não importava se tomava remédio ou não. Mas, apenas respirava fundo e continuava a conversar normalmente, porque estava feliz demais para reclamar de algo ou deixar as pessoas preocupadas.
Juntos, a risada era certa. Não importava qual era nossa idade ou onde estivéssemos ao longo desses anos. Nos reuníamos mais uma vez para celebrar mais uma fase linda da vida: minha união com a pessoa que amo. Quando nos juntávamos, não parecia que o tempo havia passado, na verdade, apenas tínhamos mais histórias e planos.
O tempo passava, a vida mudava, e a idade chegava a cada ano que passava. Seja individualmente ou como grupo, crescíamos e nos reerguíamos a cada queda. Aprendemos que, por mais dura que a vida possa ser em alguns momentos, o sol sempre volta a brilhar... Eu realmente passei por muita coisa para ser quem sou hoje, e para ter o que tenho hoje, que, por sinal, não tem nada a ver com dinheiro, a não ser para a gasolina do jatinho dos Baker, que trabalhou mais do que o normal.
Acasos nos aproximaram, acasos nos juntaram e, hoje, sei o motivo: Para nunca mais passarmos por nada sozinhos, como no passado.
S2
O tempo passou, vidas mudaram. Nossas crianças cresceram e a autora não estava preparada pra isso como faz?
Mesmo cada um com sua vida, sempre pesaram o maia importante. A amizade que construíram em meio a dias felizes e adversidades.
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