O veredito ♡ Capítulo 70
— Vossa Excelência, a parte autora agora chama a testemunha e pai da vítima, Albert Clark. — O advogado fez um gesto para meu pai, que se levantou e tocou meu ombro com um semblante sério.
Após o intervalo, chegamos à segunda e última fase do julgamento: as lembranças, testemunhas, apelação com novas provas e, finalmente, o veredito. Era tarde da tarde e o ambiente parecia ainda mais gelado, ou talvez eu estivesse simplesmente mais nervosa. Meu pai estava prestes a testemunhar sobre a noite do acidente, narrando como o dia transcorreu, o momento em que soubera de tudo e, principalmente, o momento em que ficou sabendo que não havia provas suficientes.
— Senhor Clark agora que nos contou tudo, o que sentiu quando o caso foi arquivado? — O promotor pediu licença ao advogado de meu pai e se aproximou, os olhos fixos nele.
Meu pai baixou a cabeça, retirou os óculos e, antes de falar, soltou um longo suspiro. Uma lágrima caiu lentamente, traindo sua luta para se manter firme.
— Injustiça, ódio... — Ele respondeu, mais para si mesmo do que para qualquer um na sala. — Quantos pais ou mães aqui estão preparados para perder seus filhos? — Ele encarou a juíza, sua voz era cheia de dor e indignação. — Se vocês, que são responsáveis pela justiça, me disseram que não havia provas, o que eu deveria fazer a não ser chorar e me culpar? — Ele bufou, e eu pude sentir a dor cortante em sua voz.
A juíza olhou para ele com uma expressão de compaixão, logo suspirando.
— O senhor tem condições de continuar? — A juíza perguntou, ele assentiu lentamente, respirando fundo, e ela fez uma pausa antes de adicionar. — Leve seu tempo, senhor Clark.
O olhar da juíza, tão controlado e aparentemente imparcial, me deixou sem palavras. Ela estava tentando manter a objetividade, mas sua face não refletia exatamente imparcialidade. Ela era, afinal, um ser humano.
-Agradeço, mas estou finalizando. –Ele levantou a cabeça. –Talvez isso seja mais um desabafo do que um testemunho, mas posso fazer isso certo? Esperei anos, me culpei por manda-lo a outra cidade e farei isso até o dia da minha morte. –Meu pai levantou e encarou augustos. –Desejo que em seu tempo de prisão, viva bem e saudável. Todos os dias lembre da dor que causou a famílias, seus pais e possa se arrepender para ter chance de ser um pai para seu filho, e nunca deixar que ninguém o machuque. –Arregalei os olhos e meu pai desceu do gabinete.
Filho? O Augusto é pai? Meu pai não mediu palavras, despejando palavras pesadas e cheias de raiva diante de todo o tribunal.
— Baker... — Cochichei, sentindo a tensão no ar. Gustavo se inclinou em minha direção, seus olhos ainda fixos na frente. — Filho? Só eu não sabia disso? — Ele bufou, consentindo com um gesto sutil, mas mesmo assim, seu corpo estava tenso.
— Em seu tempo de hospitalização, ficamos sabendo que uma das mulheres lá era namorada do ruivo e estava grávida. — Ele bufou novamente, impaciente. — Não se preocupe, ele livrou a namorada da culpa. Ele mentiu ao dizer que chantageou a mesma, assim ela não foi presa e poderá criar o filho bem. — Gustavo voltou para seu lugar, por ordem do pai, e o promotor retomou a fala.
Eu fiquei ali, absorvendo tudo. Jessie... Eu podia sentir que algo estava acontecendo entre eles, algo que eu não sabia explicar, mas que estava claro no ar. Eu também sentia que Jessie não queria me fazer mal, mas tudo isso ainda era um mistério.
Após cada testemunha, o promotor falava com precisão, apertando ainda mais o cerco. Meu pai foi uma das primeiras testemunhas, seguido por Will e Josh, que também subiram no banco das testemunhas e contaram tudo. Will foi quem mais trouxe detalhes, revelando tudo o que havia acontecido na noite em que tudo começou. Ele contou como o réu havia chamado todos para sair, e eles confirmaram as chantagens, o medo que ambos sentiram por suas famílias.
— Vossa Excelência, a parte autora agora chama a testemunha e também vítima, Gustavo Baker. — O promotor anunciou, e todos na sala se atentaram.
A juíza mexia em seus papéis, os olhos observando atentamente cada uma das vítimas no tribunal. Quando chegou a vez do meu namorado, o ambiente se tornou tenso novamente. Ele foi chamado por seu advogado e subiu ao gabinete, lançando um sorriso em direção a Augustos.
— Gustavo, pode nos contar tudo o que aconteceu na noite do seu sequestro? — O advogado andou até ele, com um tom que já indicava que aquela seria uma das partes mais cruciais.
Gustavo, então, começou a falar. Seu pai, sentado atrás de mim, não conseguia se manter imóvel. Ele estava inquieto, mexendo-se na cadeira, claramente abalado. Gustavo contou sobre como foi seguido, como o ruivo o abordou e como ele foi forçado a escrever a carta de despedida, me ameaçando.
— Quando paramos na estrada, eu tinha certeza de que ia morrer ali. Foi quando Augustos me acertou e eu desmaiei. Ele me ameaçava o tempo todo, me batia sem razão. — Gustavo gesticulava enquanto falava. — Quando Joanne chegou para me salvar, ele me batia na frente dela, tentando intimidá-la.
O advogado Liam então apresentou fotos adicionais aos jurados, mostrando as marcas roxas pelo corpo de Gustavo, as coisas quebradas ao redor dele. O advogado parecia satisfeito com o impacto das provas.
— Um sequestro arquitetado, com ajuda de pessoas fortemente armadas. Isso seria ou não intencional, querido júri? — Liam pediu que Gustavo descesse e voltasse ao seu posto, e o ambiente ficou carregado.
Estávamos chegando ao fim das testemunhas da parte autora, e logo seria a vez das de Augustos. Alguns minutos se passaram, e a juíza continuava a ler papéis, enquanto o escrivão digitava rapidamente, tentando registrar tudo. O que me chamava atenção era o fato de que nossos advogados nunca protestavam, apenas ouviam com atenção, observando cada palavra com cautela.
— Vossa Excelência, por fim, parte autora agora chama a testemunha e vítima, Joanne Clark. — O advogado anunciou, fazendo com que todos os olhos se voltassem para mim.
Caminhei devagar até o centro do ambiente e o policial me acompanhou até o gabinete. Sentei na cadeira de couro macia e tive uma visão de todo o ambiente. Meus pais me encaram e consentiram, Nicholas me mandou um sorriso e Gustavo balbuciou calma.
Seu olhar cerrado encarava o meu sem piscar, sabia que tinha sido alguns segundos mais para mim havia sigo horas. Mexi o ombro no qual a bala adentrou e ele sorriu com ironia.
— Joanne, pode nos contar como sofreu ameaças do réu durante todo esse tempo? — O promotor se aproximou de mim, aguardando minha resposta.
Respirei fundo antes de começar a falar, e o ambiente se tornou silencioso, todos os olhos fixos em mim.
— Antes de saber de tudo por meu namorado, Augustos me observava e puxava conversa comigo na porta de uma cafeteria. Naquele momento, ele foi interrompido por Gustavo, e eu não entendi muito bem o que acontecia, mas ele sempre deixava claro suas ameaças. No começo, eu não imaginava nada, não tinha ideia de quem ele era ou o que ele queria. Um tempo depois, sofri uma tentativa de atropelamento junto ao meu amigo, mas fui salva por ele. Acabei com algumas escoriações, mas foi o suficiente para eu descobrir a placa do carro. — Contei tudo em detalhes, sem omitir nada.
O promotor então apresentou filmagens e documentos com a placa do carro nos registros de trânsito. O advogado de Augustos pediu permissão para questionar, e a juíza cedeu. Ele se levantou, pronto para tentar me intimidar. Eu o encarei, sentindo uma mistura de nervosismo e raiva.
— Senhorita Clark, como conseguiu encontrar o paradeiro do seu namorado tão rapidamente? E por que não pediu ajuda a ninguém? — O advogado perguntou, a incredulidade em sua voz fazendo o tribunal murmurar.
O burburinho se espalhou pela sala, e eu senti o peso da pergunta. Meus familiares começaram a se revoltar, e o barulho me fez suspirar. A tensão era palpável.
— Ordem no tribunal! — A juíza bateu o martelo com força, fazendo todos se calarem imediatamente. — Silêncio na sessão. — Ela encarou o advogado do réu com firmeza.
O advogado de defesa dos Baker se levantou, fazendo um protesto audível.
— Protesto! Pergunta acusatória e inconsistente à minha testemunha. — Liam elevou a voz, pedindo ao tribunal que anulasse a pergunta. A juíza concordou.
— Senhorita Clark, pode continuar. — A juíza me encarou, e eu consenti com um leve movimento de cabeça.
Pedi permissão para falar, e o promotor me deu a palavra. Eu estava sentindo uma raiva crescente, mas precisava manter a calma. Respirei fundo e comecei a responder com firmeza.
— O senhor está me acusando de ser cúmplice do assassino do meu irmão, que, por sinal, me deu um tiro? — Perguntei, dando de ombros, meu olhar firme. O advogado bufou de frustração. — É tão desesperador assim saber que para o seu cliente não há defesa? Mas, respondendo à sua pergunta... Quando nos reunimos com a polícia, eu encontrei uma lista com os prováveis locais por onde Augustos poderia andar. Nossos advogados têm tudo registrado. Quer me acusar de mais alguma coisa? — Perguntei, sentindo a raiva se misturar com a necessidade de expor a verdade.
Fui interrompida por um murmúrio de aprovação de nosso advogado, que parecia orgulhoso da forma como eu lidava com a situação. O advogado de defesa permaneceu em silêncio, claramente irritado, e me fez sinal para continuar.
— Eu fui a vários lugares e, eventualmente, encontrei uma casa onde há uma rede de corrida clandestina. Me fiz de amiga dele e, então, o homem me deu o endereço do galpão. — Sorri com amargor. — Algumas pessoas me chamam de louca, mas fui sozinha para não colocar mais ninguém que amo em risco. Salvei ele, e faria isso de novo... E de novo. — Afirmei com convicção, sentindo uma sensação de poder ao falar a verdade.
O promotor então se aproximou e começou a mostrar imagens minhas pela cidade, entrando em um táxi. Ele me perguntou, com uma expressão séria:
— Em qual estado encontrou seu namorado naquela noite?
Fechei os olhos por um momento, lembrando o quanto aquele dia havia sido aterrorizante. Respirei fundo, e minha voz falhou um pouco, como se a dor ainda estivesse fresca.
— Ele foi trazido por homens, estava sangrando, machucado, quase sem voz... E durante todo o tempo, recebemos ameaças. Eu apanhei de capangas, fui trancada em um quarto... E ouvi várias vezes que íamos morrer. — Deixei uma lágrima cair ao olhar para Gustavo, que estava lá, me observando com dor. — Mas eu estava com ele, porque ele lutou por nós e eu te falei que iria pagar por tudo... — Olhei para o ruivo, e falei em sua direção.
Nosso advogado, então, tomou a frente e começou a falar. Suas palavras eram calmas e articuladas, sempre com educação e respeito diante dos jurados. Ele sabia como usar a língua para impactar, e meus pais me olharam com um sorriso orgulhoso, sabendo que eu estava fazendo a coisa certa.
— Querido júri, não é apenas uma vítima. São três jovens, por um único motivo. A família Clark perdeu um filho e, por pouco, essa moça também teve sua vida tirada. — Ele abriu os braços e gesticulou. — Isso não é um crime premeditado? Quem compensará a vida perdida e os danos emocionais causados a jovens com a vida toda pela frente? — Ele se calou junto a todo o tribunal e encarou a juíza sem expressão.
Por alguns minutos, já de volta ao meu lugar, fui acalentada pelas pessoas ao meu lado. Meu corpo estava trêmulo e gelado. A sensação de estar ali mexeu com todos os meus órgãos, me dando uma enorme vontade de vomitar.
Mas agora era a vez da testemunha do réu... Não perderia isso por nada. — Ajustei-me na cadeira e minha mãe apertou minha mão.
— Vossa excelência, a parte referida agora chama a testemunha e mãe do réu, Rachel Milles.
A mãe de Augustos parecia ser uma mulher distinta, séria e aparentemente jovem. Rachel havia recebido o filho na noite do crime e claramente mentiria para acobertá-lo. O promotor se aproximou, com muitos papéis, e pediu para que ela contasse como recebeu o filho naquela noite.
— Ele me ligou, afirmando que chegaria tarde, como de costume, e que eu não esperasse acordada. Meu marido também estava em serviço, então apenas tentei deitar para assistir. — Ela gaguejou e fechou os olhos.
A mulher ruiva estava chorando e tentava disfarçar.
— Então, a senhora afirma que recebeu uma ligação, quando o advogado do réu afirma ter sido mensagens, senhora Rachel? — O promotor havia pensado mais rápido que todos nós. — Continue.
— Ele chegou em casa... — Ela encarou o filho e sorriu. — Ele... Ele é meu único filho. Estou destroçada, porque o criamos para o bem. Não o vi com o rosto cortado ou cheirando a álcool... — Ela baixou o olhar e sorriu.
Ela estava mentindo, mas meu coração, mesmo assim, a via como uma mãe que provavelmente havia criado seu filho com amor. Todos ao nosso redor afirmavam que Augustos havia sido bem criado, seus pais eram bem casados, gostavam de viajar em família e sempre os viam como uma família modelo na cidade, proporcionando ao garoto uma infância saudável.
— Rachel, muito obrigada por seu testemunho. Não vejo mais perguntas! — O promotor saiu e o advogado do réu foi à frente.
A mesma ladainha começou. O advogado fez perguntas à mãe do réu e ela começou a se contradizer, ela parecia nervosa, mas acobertou o filho até o fim. Diferente de seu pai, que também foi trazido por policiais, o mesmo estava sem regime semiaberto e pagando com atividades comunitárias a fim de reduzir sua pena.
O antigo xerife Miles admitiu tudo. Ele tentou coagir o ruivo a parar, mas o mesmo se recusou, foi quando atirou em mim, lembro-me de tudo com clareza. Dando seu testemunho, o pai e cúmplice do réu parecia tranquilo, ele contava tudo sobre a noite do crime e como fez para apagar as provas.
— Não consegui fazer o que a lei mandava, não o entreguei lá atrás. Errei como cidadão, como policial e como pai. Eu ajudei meu filho quando encobri seus erros e isso hoje me custou meu emprego, meu casamento e minha liberdade. — Ele suspirou e encarou Augustos. — Eu amo você Augustos, amo sua mãe, e faz parte de ser um pai ver seu filho errando e o repreender.
Augustos levantou irado, e seu grito ecoou na sala.
— EU TE ODEIO. — O policial segurou Augustos e fez com que ele se sentasse.
O pai do réu sorriu e o encarou.
— Eu o resgatei na estrada em uma madrugada chuvosa, estava nervoso e jamais pensei se era o certo a fazer, apenas fiz. Ajudei a esconder o carro e a ambulância foi chamada por mim de um telefone público, muitas e muitas horas depois.— Ele sorriu e entrou em negação. — Chamei tarde demais, pois primeiro ajudei meu filho a sair de cena, me perdoem. — Ele encarou meu pai e meu pai não o encarou. — Já mostrei o que precisava, já falei. Podem me levar? — Ele levantou e o advogado não entendeu.
O pai do ruivo não respondeu a perguntas, apenas falou. Reafirmou seu depoimento à polícia e estava aceitando seu castigo. A mãe do ruivo chorava sem pausas do outro lado da plateia e era abraçada por uma senhora, os policiais escoltaram o pai dele para sair do gabinete, e ele encarou o filho mais uma vez.
— Antes fiz isso por amor a você e agora também. Quero que aprenda que não podemos machucar pessoas e as ferir, saindo ilesos depois. Te esperarei, não importa quanto tempo leve. — Ele deixou uma lágrima cair e foi levado como pediu.
Com a mão apoiada no peito, minha mãe encarava a cena completamente apática.
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Após todas as testemunhas, antes da juíza dar permissão para a saída do júri, nossos advogados pediram permissão para a última cartada.
— Senhoras e senhores, sabemos que de longe é uma situação complicada e dolorosa para todos presentes. O senhor Baker, antes de ser sequestrado, estava buscando formas de resolver a situação. — O promotor deu espaço ao advogado dos Baker, e o mesmo trouxe seu notebook.
O advogado dos Baker colocaria a gravação para todos ouvirem, e a juíza, que provavelmente já sabia, ou não, apoiou os cotovelos em seu gabinete e encarou Liam.
— Preciso que ouçam com atenção, e obviamente isso já passou por testes onde foi confirmado o reconhecimento vocal, livre de fraudes. — O advogado deu play, e Augustos arregalou os olhos em direção ao mesmo, junto com seu advogado.
A voz do Gustavo e do ruivo ecoaram no ambiente, e ouvimos com atenção.
Previ que no andar das coisas você iria juntar seu pequeno exército e não me encontraria quando eu chamasse. Precisamos conversar, Gustavo, nem que seja pela última vez, estou ficando sem paciência.
A voz do ruivo ecoou, e o mesmo começou a se contorcer em sua cadeira.
Tantas meninas naquele colégio de merda, porque justo a irmã do falecido? Se for para se vingar de mim, porque não acabamos logo com isso? Sei que estão juntos...
A gravação mostrava Augustos amedrontando Gustavo, e ambos trocando farpas. Depois de muito diálogo, a juíza suspirava e piscava os olhos lentamente, mas quando as gravações chegaram em um certo ponto, a mesma colocou a mão no queixo.
Meu coração acelerava quando ouvia minha própria voz, e o que levou todo o tribunal ao choque foi uma confissão.
Porque não socorreu meu irmão?
Porque eu não quis... Eu era de menor, havia bebido e bati no carro dele... Por isso não socorri, e por vocês saberem disso hoje será o feliz para sempre de vocês.
O júri se entreolhavam abismados e o burburinho por pouco começou, se não fosse por a gravação.
Me desculpa Baker, mas não posso deixar você acabar com a minha vida. Falei que vocês dois não sairiam bem dessa, e nunca foi minha intensão manter você vivo, com ela ou sem ela aqui...
Minha boca se tornou seca e meu corpo tremia ao ouvir aquilo, minha mãe me abraçou e tapou meu ouvido com a mão.
Amor? Para com isso pois me irrita profundamente esse papinho, nunca fui o bom moço da historia e você sempre soube.
O advogado, por fim, fechou seu notebook e avisou à juíza que toda a gravação já estava com a polícia, a voz foi identificada e a mesma poderia ouvir tudo novamente. A mãe do ruivo entrou em desespero, meu pai suspirava aliviado e Gustavo era acalentado por seu pai.
— A parte autora não tem mais nada para apresentar. — Liam acenou para a juíza e voltou a sentar.
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A juíza começou a falar. Ela falou sobre leis, artigos e sobre Augustos.
— Agradeço a presença de todos, ouvimos muitas coisas e muitas parecem irreais. Augustos Milles, de dezenove anos, hoje tem maioridade penal para assumir seus atos. Nascido e criado em nossa cidade, está sendo acusado pelos seguintes delitos, que vão diretamente contra as leis do estado da Louisiana. — Ela pausou e começou a ler seu papel. — Dirigir alcoolizado, o que causou um acidente; omissão de socorro à vítima; fuga; sequestro; cárcere privado; violência física e psicológica diante de anos de ameaças e tentativa de homicídio. — A juíza apoiou seus óculos na mesa.
Augustos recebeu permissão para falar e, após minutos de silêncio, tossiu. O ruivo levantou-se de sua cadeira e deu de ombros.
— Eu não tinha intenção de bater naquele carro, mas bati. Eu não tinha intenção de sequestrar ou atirar, mas foram atrás de mim, testaram minha paciência. — Augustos, com as mãos algemadas, voltou a se sentar. — Façam o que acharem que mereço diante dos meus erros, só tirem meu pai dessa. Ele... — Augustos pausou suas palavras e bufou. — Meu pai não tem nada com isso.
— Meu cliente não tem mais nada a dizer. — Seu advogado, cabisbaixo, falou, fechando sua pasta preta.
Muitas pessoas não esperavam pela confissão de Augustos, algumas dessas pessoas foram meus pais, que estavam visivelmente aliviados.
— O júri começará a deliberar. — A juíza ordenou, e a plateia do júri saiu em fila rumo a uma porta pequena.
Após mais um longo intervalo, respiramos e nos acalmamos. O dia estava no fim, o tempo estava passando, e alguns de nós saímos para comer, enquanto minha mãe foi ligar para saber dos gêmeos. Gustavo e eu ficamos a sós, ele ficou ao meu lado e enxugou minhas lágrimas, que não sabíamos se eram de alívio ou medo.
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— Todos de pé. — O oficial de justiça falou, e levantamos.
Após horas, voltamos ao tribunal e estávamos novamente de pé. Um sentimento entrou em mim de forma avassaladora. De onde ele estivesse, estaria olhando por nós. Estaria vendo que estávamos ao seu lado, lutando por justiça? — Fechei os olhos e vi seu sorriso.
Ouvia o choro baixinho de Alice sendo acalentada por minha mãe. Já em lugares diferentes, tinha Gustavo ao meu lado, segurando minha mão. A juíza se sentou em seu local e arrumou seus papéis.
— Muito bem, tragam o júri de volta. — A juíza ordenou, e as pessoas tomaram seus postos.
O policial levou até a juíza um papel branco em suas mãos, sem olhar. Ele transitou pelo local rapidamente, e acompanhamos o movimento com atenção.
— Vai dar tudo certo. — Gustavo apertou minha mão e sorriu.
— Vai sim, tem que dar. — Sussurrei.
A juíza leu o papel com atenção, parecia ter relido. Ela suspirou e encarou o réu.
— O réu, por favor, se levante com seu representante. — Ela falou, e assim fizeram. — Oficial, pode ler o veredito.
Augustos levantou junto ao seu advogado. O oficial de justiça, com o papel em mãos, chegou ao centro do ambiente onde estávamos todos de pé e fez uma pausa dramática e desnecessária, na minha opinião.
— Na competência desse tribunal no estado da Louisiana, acusações contra Augustos Milles, na acusação de direção perigosa e homicídio culposo, onde não houve intenção de matar, o mesmo não havia alcançado a maioridade penal. — O oficial de justiça pausou suas palavras e continuou. — Já alcançando a maioridade penal, o mesmo está sob acusação de tentativa de homicídio, sequestro e cárcere privado, violência física e psicológica. Diante de todos os crimes apresentados no passado e no presente, consideramos o réu culpado, e assim dissemos. — Augustos se jogou na cadeira, e comecei a chorar.
Gustavo me abraçou o mais forte que pôde, e desaguei em lágrimas, logo meus pais se abraçaram. Todos nós estávamos com lágrimas nos olhos, meu peito ardeu em chamas, e mal conseguia falar. Tudo estava voltando para os lugares, mesmo que nada disso pudesse trazer meu irmão de volta para nós.
Mas o culpado iria pagar por tudo, e isso nos deixava em paz.
— Acabou, acabou, meu bem. — Gustavo sussurrou em meu ouvido, e consenti. — Tudo bem, pode chorar.
— Eu preciso chorar, preciso chorar. — Sussurrei, já chorando. — Acabou.
A juíza pediu nossa atenção e voltamos a sentar. Augustos parecia inconformado. Ela encarou o réu e entregou-lhe um microfone.
— Augustos, o júri chegou ao veredito de culpado. — Ela leu os papéis e suspirou. Começou a ler as leis, os crimes, os artigos, os motivos, e ele a encarava. — Justo por tudo isso, por ter gravações que o mesmo admite parte do crime e por ter sido preso em flagrante pelo FBI, você então receberá uma pena de trinta e nove anos de reclusão, sem possibilidade de liberdade condicional, e entrará em nosso programa de ressocialização.
Minha mãe fechou os olhos e tapou o rosto com as mãos, ela estava sorrindo e chorando ao mesmo tempo. Gustavo sorria e chorava também, e meus amigos respiravam aliviados.
Está tudo bem, meu irmão, a justiça foi feita por você.
— O réu tem algo a falar? — A juíza perguntou, surpreendendo a todos.
Augustos puxou sua cadeira para perto da mesa, suspirou e falou ao microfone.
— Desculpa, mãe, peça desculpas por mim ao Bryan e faça com que ele viva uma boa infância até minha saída. Não leve ele aquele lugar imundo, apenas diga que estou de castigo e sairei quando ele já for crescido. — Augustos encarou sua mãe aos prantos . — Aos advogados, promotor, famílias, lindo grupinho de heróis e até mesmo o falecido, tenho algo a falar para vocês...— Augustos levantou da cadeira, passou as mãos algemadas nos cabelos e sorriu. — Vão todos à merda, desejo que sejam infelizes para sempre. — Augustos chutou a mesa e foi segurado por policiais e arrastado.
— Sessão encerrada, levem o preso agora mesmo. — A juíza bateu seu martelo, e meu corpo ficou mole, me fazendo sentar na cadeira.
Meus pais me abraçaram, e Gustavo baixou a cabeça para chorar. — Abracei seus ombros, e ele chorava sem vergonha.
Seu pai se agachou em sua frente, e todos ficamos em volta do meu garoto, a pessoa mais corajosa que eu já conheci e que lutou fielmente ao nosso lado. Aos poucos, todos começaram a sair da sala, a mãe do ruivo foi levada aos prantos. Soube-se pouca coisa sobre seu pai, mas o que sabíamos era que ele havia feito um acordo com a justiça: perdeu o cargo e cumprirá dois anos em regime semiaberto, além de algumas horas de serviço comunitário que ajudariam a diminuir sua pena. Ele foi essencial para várias provas, foi leal à justiça e sabia que seu filho precisava pagar. Cumpriria seu castigo e seguiria sua vida.
— Obrigada por lutar, Baker. — Sussurrei em seu ouvido, e meu pai tocou sua cabeça. — Obrigada por não desistir. — Deixei uma lágrima sair.
— Estou tão aliviado, Anne. — Ele sorriu. — Tive tanto medo.
Gustavo me encarou e sorriu mais uma vez. Ele estava feliz, embora com os olhos inchados. Alex o abraçou com euforia e depois me abraçou também, enxugando meu rosto. Os advogados pediram que saíssemos, e assim fizemos. Sentamos todos ao lado de fora e agradecemos aos advogados, que fizeram um trabalho excelente.
— Meu filho recebeu justiça. — Meu pai encarou nosso advogado e o abraçou. E, claro, fez o mesmo com Liam. — Grato a vocês, muito grato mesmo.
Todos nos abraçamos pouco a pouco. Meus amigos estavam felizes, mas ainda chorosos. Passei muitos minutos a sós com Alice em outro banco, com sua cabeça apoiada em meu ombro. Senti suas lágrimas caindo em meu braço.
— Não sei o que estou sentindo, Anne. — Ela sussurrou. — Tudo está resolvido, mas ele nunca voltará. — Deitei sua cabeça em meu colo e acariciei seus cabelos.
— Ele irá receber sua luz, ele ficará em paz. — Falei com calma.
Gustavo, Alex e Emma sentaram ao nosso lado, acariciando Alice. Todos estávamos ali, oferecendo força à menina que parecia finalmente estar respirando aliviada.
— Chore agora, e se certifique de nunca mais chorar por isso. — Gustavo falou, e Alice levantou a cabeça. — Você me falou isso anos atrás, quando chorei por minha mãe. — Ele sorriu e a abraçou.
— A falta... — Ela sorriu, deixando cair mais uma lágrima. — A falta que ele me faz ainda me toma em partes. — Ela sorriu, e nós também sorrimos.
Gustavo limpou as lagrimas dela e Emma a deu um lenço para tirar o borrado dos seus olhos. Levantamos e seguimos lado a lado após um tempo ali, todos os precisaríamos chorar e limpar a alma depois de tanta guerra. Para chegar até aqui passamos por muitas coisas, conhecemos muitas pessoas e vivemos muitas vidas em apenas uma. Rimos, choramos, brincamos, nos unimos, formamos uma família, passamos por coisas ruins e conhecemos a profunda dor. Nos ajudamos, nos apoiamos, caímos juntos, cuidamos um dos outros e estávamos prontos para vivermos todas as alegrias. –Saímos do tribunal e os pais esperavam na porta.
Meu pai abraçava minha mãe, trocando carinhos, enquanto Will e Josh conversavam com seus pais, parecendo aliviados. Ambos vieram nos abraçar, e sorrimos.
— Acabou? — Will sorriu e abraçou Gustavo. — Nossa, acabou aquele pesadelo.
Todos nos olhamos e sorrimos.
— Acabou sim. — Falei, e todos concordaram. — Põe "pesadelo" nisso. Depois da morte dele, isso tudo foi a parte mais pesada da minha vida.
— A LUZ É SUA, ANDREW! — Alice gritou, e todos a olharam.
Risadas tomaram conta do ambiente. Estranhos passaram direto, sem se importar. Nossos pais sorriam, e Alex deu um passo à frente, dando a entender que iria gritar.
— A LUZ É SUA, IRMÃO! — Ele gritou, encarando Alice com orgulho. — Vencemos? — Nos encarou, e sorrimos.
— VENCEMOS! — Gritamos em uníssono, e Emma caiu na risada, seu grito saindo o mais fino de todos.
Descemos as escadarias juntos. Josh começou a pular os degraus — ele com certeza era da família dos cangurus, mas o menino estava feliz, assim como nós. Para eles, um fardo cheio de ameaças havia sido retirado das costas, e agora podiam seguir suas vidas sem medo.
— Isso realmente está com cara de final, gente. Olhem o sol se pondo... — Emma comentou, e todos rimos.
O sol estava se despedindo lentamente, mas nós? Ah, ainda tínhamos muito para viver. A vida estava recomeçando. Encarei o céu alaranjado e fechei os olhos.
Gustavo roubou um beijo meu, apertou minha bochecha com força e correu para o estacionamento. Corri atrás dele, gritando seu nome, e ele, mais atlético que eu, saltava na direção oposta.
— Vou arrancar sua bochecha, Baker! — Gritei, correndo atrás dele, e ouvi Alex nos mandando parar.
Onde quer que esteja agora, está vendo isso? Formamos uma linda família que não tem nada a ver com sangue. Nos unimos e lutamos juntos por você, para que a pessoa que te matou jamais ficasse impune. Vencemos, por você e por nós.
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Respirem juntos comigo ♡
A justiça foi feita ♡
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