Nós dois ♡ Capítulo 22

Dizem que os melhores momentos da vida não podemos planejar, e, se eu parar para pensar, comigo sempre foi assim. Minha vida sempre foi totalmente diferente das demais, em poucos meses, encontrei pessoas incríveis que me acolheram tão bem e me fizeram feliz. Era como se o mundo tivesse me abraçado novamente. Só que nem sempre a vida nos permite manter essa felicidade, e não podemos fazer nada além de aceitar isso. No corredor frio de um hospital grande, pessoas vão e vêm a todo momento, lutando por suas vidas ou sofrendo por pessoas que amam, assim como eu.

Na sala de espera vazia, tentava me acomodar em uma cadeira desconfortável e fria, com uma impaciência descomunal. Em plena madrugada, sinto meu coração no chão mais uma vez, não sabia o que fazer ou pensar. Enfermeiras ocupadas e médicos conversando com familiares, todo o bagulho me deixava atordoado. A tela do meu celular marcava quatro horas da manhã, e nosso papel de parede mostrava dias felizes que vivemos em meio a poucos meses. 

Minha impaciência persistente não me deixava esperar, então mesmo sem poder, seguir por entre corredores. O barulho de sirenes bagunça minha cabeça, e o cheiro forte de álcool gela minhas narinas ainda ásperas por conta do frio, olhava atentamente para as placas em cima das portas que explicam onde fica cada ala, mas não consigo achava a sala vermelha. 

Droga, lembro-me com clareza do médico gritando sobre esse local. Onde fica? Como eu acho isso?

Por entre o longo corredor de paredes brancas e foscas, apresso os passos ao avistar uma porta branca, com uma janelinha pequena, e sem poder, entrei ali.

— Te achei amor...— sussurrei, quando a vi.

A vi deitada em uma cama com muitos fios ao peito, mas antes que eu pudesse chegar ao leito em que ela estava, uma equipe de profissionais correu passando por mim e puxando um carrinho de emergência.

—Precisa sair aqui! — Um rapaz de branco pediu e me neguei. — Não pode entrar aqui!

Ele me puxou pelo braço e mesmo sem querer fui literalmente arrastado da sala, a vontade de chorar me invadiu e da porta pude vê-la. Meu coração estava a mil, ao redor dela estava lotado por profissionais da saúde apressados, e eu estava observando pelo lado de fora a pessoa que mais amei sofrendo.

— Não, por favor. — Bato minhas mãos no vidro em completo desespero, minha respiração faz o vidro embaçar, e sinto meu coração sendo arrancado do peito.

— Ela está parando! Preciso do desfibrilador! — A voz do médico abafada dentro do quarto me fez socar o vidro com toda minha força. — Carrega em cem, por favor, rápido. — O medico parecia nervoso. — Sem batimentos, carrega de novo! — Ele gritou, usando o desfibrilador, fazendo o corpo de Joanne ser puxado pela carga elétrica no peito.

— ME DEIXEM ENTRAR, ALGUÉM ME DEIXA ENTRAR! — Gritei com a voz falha, sentindo meu pulmão contrair e doer. Apenas uma enfermeira me olhou, e seu olhar caiu. Nada estava adiantando, não funcionava. O médico gesticulava com expressão apavorada, e já não ouvia mais nada. — Alguém me deixa entr... — Naquele momento, meu coração parou também.

Minhas lágrimas caíam sem controle, eu as sentia escorrer pelo rosto até o pescoço e meu corpo desabou no chão, me fazendo sentar na porta da sala vermelha. Nunca senti tamanha dor, meu leito parecia partir-se ao meio, minha respiração falhava. Em alguns minutos, um médico saiu pela pequena porta com a expressão cabisbaixa. 

Levantei-me com dificuldade, e ele se aproximou ainda com a cabeça baixa. Era um senhor grisalho que parecia ter muita experiência, mas seus olhos mostravam uma enorme tristeza.

— Você... você pode me falar o que houve? O coração dela está batendo, certo? — Apontei para os enfermeiros retirando os fios que antes estavam grudados no peito da minha namorada. — Me deixa entrar, isso não é real. — Tapei minha boca com as mãos e chorei o mais alto que pude.

O medico me encarou, e soltou o ar dos pulmões...

— Fizemos tudo que foi possível. Usamos todos os recursos da medicina, mas não conseguimos salvá-la, sinto profundamente por sua perda, Sr. Gustavo. O hospital vai entrar em contato com a família para que compareçam com urgência. A queda foi muito severa, ela perdeu muito sangue, e não resistiu.

Neguei, eu entrei em uma completa negação, aquilo não poderia está acontecendo.

— NÃO, ME DEIXA ENTRAR. ISSO É MENTIRA, VOCÊ NÃO PODE ME DEIXAR ASSIM ANNE! — Gritei, impotente. 

O médico tocou meu ombro e se afastou lentamente, me deixando entrar no quarto.

Nesse exato momento perdi a pessoa que mais amei, a única pessoa que amei. Perdi-me, perdi o sentido de tudo que imaginei para minha vida. De frente para seu corpo frágil e pálido, sua pele gelada avisa que o sangue havia parado. Seus lábios antes rosados estavam arroxeados, peguei sua mão pequena e a beijei, não posso á deixar partir.

— Por favor, volta me chama de idiota. Me xinga, diz que me odeia. Volta pra mim Anne, eu prometo nunca te abandonar. Você disse que não me deixaria... — Apoiei minha cabeça em sua mão e sinto meu corpo.

S2

Sem cortinas, a escuridão do quarto era por conta da noite gelada lá fora, após uma noite de vinho e declarações, dormimos lado a lado mais uma vez. 

Abri os olhos lentamente, ainda no escuro, ao ouvir uma respiração ofegante que me assustou. Gustavo estava inquieto na cama, remexendo-se de um lado para o outro. Em um salto, sentei-me na cama assustada e liguei o abajur ao meu lado.

Com o rosto suado e trêmulo, Gustavo parecia estar passando mal. Alguma dor parecia mexer com todo seu corpo, fazendo-o gemer e se retorcer ainda mais. Passei a mão em seu braço, tentando acordá-lo e me aproximei.

— Está com dor? Acorda... — Sussurrei, balançando-o continuamente. — Baker, quer remédio?

Gustavo acordou de repente, desorientado. Sua pele estava suada e sua respiração descompassada. Ele se sentou, apoiando as costas na cabeceira da cama, e repetia meu nome sem parar.

— Baker, estou aqui, olhe. — Apoiei sua mão gelada em meu rosto, e logo que ele abriu os olhos, uma lágrima escorreu. — Estou aqui, você está com dor?

Ele parecia em panico.

— Anne, você... Anne, aperta meu braço... — sussurrou Gustavo, ainda nervoso. Apertei seu braço, e ele me abraçou de imediato, meu abraço apertado parecia aliviá-lo. — Foi um pesadelo, apenas um pesadelo. — Concluiu.

— Está tudo bem, estou ao seu lado.  Ainda é madrugada, calma... — Beijei sua bochecha, fazendo-o sorrir. — Deite aqui colado em mim, conte-me o pesadelo.

Gustavo, um pouco mais calmo, deitou com a cabeça apoiada em minhas coxas. Alguns fios de seu cabelo estavam molhados de suor, mostrando o quão perturbador foi o sonho. Após controlar sua respiração, ele começou a contar seu pesadelo com os olhos fechados.

— Sonhei que estávamos esquiando na neve. Eu te ensinei a esquiar lentamente, e você dizia que já sabia e foi sozinha. Acabou batendo em um pinheiro, foi lançada contra uma pedra e... desmaiou. No hospital, te via morrer, ficava roxa, e eu te perdia. Você nunca mais me chamava de idiota... 

Um breve sorriso apareceu em meus lábios pela forma mansa como ele falava, ele realmente estava com medo.

— Idiota... — Beijei sua testa gelada, e um breve sorriso brotou em seus lábios secos. — Isso não vai acontecer, eu me viro bem na neve. Sou de Wisconsin lembra? Mesmo fazendo anos que não vou, eu conheço a neve e seus perigos.

Gustavo permaneceu em silêncio, fechou os olhos e como mágica voltou a dormir profundamente. Muito tempo passou e o deixei dormindo no meu colo, encarando as montanhas de neve, assistia o amanhecer, e o sol aparecia aos poucos, revelando a paisagem coberta de neve além da parede de vidro. Ver Gustavo daquela maneira era perturbador, meu coração ainda acelerado, apoiei minha mão sobre o peito e respirei fundo.

O sono foi embora, e eu não consegui dormir. Com o celular em mãos, olhei algumas fotos que tiramos juntos ao longo da viagem e da cidade. Em um dia, eu era apenas uma menina que não imaginava dividir o coração com ninguém. Ontem, aceitei namorar essa pessoa deitada em meu colo. 

Minha mão percorreu o rosto pálido de Gustavo e em um movimento sonâmbulo, ele voltou ao seu lugar e dormiu de bruços.

-Bela bunda. -Sussurro ao observar sua justa calça de moletom cinza.

-Obrigado, mas não aperta. -Sinto minhas bochechas quentes após ter percebido que falei alto demais. 

Apertei os lábios ao perceber que ele teve alguns segundos de consciência e me ouviu, logo quis morrer e me cobri até a cabeça.

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Já pronta para curtir a neve, minhas roupas eram quase mais pesadas do que eu e extremamente bonitas! Na cozinha, arrumava o café da manhã: torradas com geleia de morango, bacon, ovos, e café para mim. Gustavo, com seu trauma de café, ficará com um suco de caixinha. Encarei a sala a minha frente e sorri ao ver a enorme foto na parede, pareciam ser dias felizes. Gustavo e seus pais estavam deitados na neve, sorrindo...

Barulhos de passos na escada de madeira me tiram dos pensamentos distantes  e meu olhar antes no quadram, visualizaram Gustavo descendo as escadas lentamente, com uma roupa azul royal e botas pretas, e seus cabelos molhados, não importava como ou onde, ele era a pessoa mais bonita que eu conhecia e aos poucos dei as boas vindas a mais um sentimento: O ciúme.

— Bom dia, amor. — Ele se aproxima da ilha, debruça-se sobre os braços e me encara. — Por que você está vermelha? — Rapidamente, coloco minhas mãos sobre o rosto, tentando esconder a vergonha.

— Nunca fui chamada de amor por ninguém além da minha mãe. — Minha risada sem graça o fez gargalhar, enquanto ele passava geleia na torrada.

— Acostume-se. Espero que esteja feliz e não volte atrás na sua reposta... Eu não te dei tempo para pensar ou fazer um grande gesto... — Ele declarou.

— Eu não precisei pensar, eu aceitei, idiota. Uma viagem surpresa de jatinho para uma mansão no meio da neve, isso foi um gesto gigante... — Expliquei, fazendo Gustavo pressionar minha sobrancelha com o dedo indicador.  — O que foi? Está sujo? — Perguntei.

Ele negou, já sorrindo.

— Quando você fica séria, levanta apenas uma sobrancelha! Apenas a abaixei, Clark. E quando me chama de idiota, é muito sexy. — Seus olhos castanhos encararam os meus, e ele me mandou uma piscada.

Fiquei vermelha de novo, com certeza. Ele mexe com meus sentidos e sabe disso, mas isso é ótimo!

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Caminhando com dificuldade sob a neve alta Gustavo puxa minha mão e se recusa a soltar após seu pesadelo da madrugada, após irmos a estação de esqui e não esquiar nada além de cinco minutos por medo do meu namorado, começamos a fazer um enorme boneco de neve em frente à casa. Ele tornava todos os momentos divertidos e de muitas risadas, nós tiramos fotos juntos na neve e deitados sob a neve, Gustavo tirou fotos minhas de todos os ângulos que sua criatividade permitiu. 

Parados em frente ao torto boneco, analisávamos onde tínhamos errado.

— Acha que o Astolfo está com a cabeça muito grande? — Com a mão no queixo, Gustavo analisava o boneco ainda sem olhos e com um cachecol vermelho ao redor do pescoço.

— Esse nome é feio, mas o achei lindinho. Faltam os olhos e a cenoura para o nariz, os galhos como os braços estão ótimos. — Imitei Gustavo com a mão no queixo e escutei-o soltando uma risada rouca, logo entrando para pegar o que faltava para nosso boneco. — Acompanho com os olhos ele correr pela neve e entrar na casa, sentindo um leve sorriso brotar em meus lábios.

Em alguns minutos, ele voltou com dois objetos laranja e grandes apoiados nos braços, uma cenoura entre os dentes e botões entre os dedos.

— O que é isso tão grande? — Peguei a cenoura e os botões rapidamente, e ele apoiou seus aparatos na neve.

— Isso? É sledding, popularmente conhecido como um simples trenó de plástico. Meu pai comprou quando eu era pequeno. Iremos subir naquele pequeno monte e escorregar, muito mais seguro do que esquiar! — Gustavo apontou para um pequeno monte de neve atrás de nós. — Assim que subirmos, a gente senta aqui e desce escorregando. É muito legal, e lembrando, seguro.  — Seus olhos me escararam, e consenti.

— Vamos sim, amor. — Minhas palavras o fizeram corar de imediato. Com um doce sorriso, ele mostrou ter gostado do que ouviu. — Me ajuda a pôr os olhos aqui, vai ficar me encarando? — Concluí, fazendo-o se aproximar.

— Você pode me chamar assim sempre, fica sexy. — Gustavo sussurrou e revirei os olhos, ele colocou a cenoura no boneco de neve, finalizando nossa obra de arte.

— Tudo em mim pra você é sexy? — Perguntei e Gustavo consentiu, balançando a cabeça, e me olhou da cabeça aos pés.

— É sim, tudo.

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Após muitas fotos com o boneco e uma guerra de bolinhas de neve que nos renderam muitas risadas, com toda certeza, muita coisa que estou vivendo aqui jamais vivi antes, me sentia genuinamente feliz. Gustavo deixava transparecer a felicidade da minha companhia,  talvez isso fosse muito melhor que a neve, era como se a gargalhada dele aquecesse meu coração mesmo cercada por montanhas de neve.

Em uma manhã seguida da tarde, aproveitamos o que havia de melhor, escorregamos com o trenó e rolamos na neve literalmente por conta da nossa alta velocidade e levantamos rindo pós queda. Ele me ensinou a ficar em pé no trenó e imitar o famoso surf do Havaí, e sempre caia quando tentava me salvar de uma queda, que no fim nos fazia cair juntos, foi nesse momento que nossas risadas se juntaram como uma doce melodia.

Sentada em um pequeno monte de neve, vejo Gustavo andando em minha direção com canecas em suas mãos, sua pele ainda mais pálida que o normal e seus lábios rosados balbuciam algo que não consigo entender. 

Ele sentou-se ao meu lado e me entregou uma das canecas fumaceando.

— Cidra de maçã, é a bebida mais típica e quente da região. Minha mãe dizia que esquenta todo o nosso interior, eles plantam as maçãs e produzem manualmente, ou seja, é a melhor. — Em um pequeno gole, provo a bebida que faz jus à sua fama, levemente doce e realmente esquenta todo o corpo.

— É maravilhosa mesmo, coisas caseiras sempre tendem a ser melhores. — Ele me encarou e retirou alguns cabelos meus que voaram nos meus olhos, logo que pudesse enxergado novamente, o beijei.

Nosso beijo ainda lembrava o primeiro, voraz e doce. Nossas línguas se entrelaçaram e minha mão tocou seu rosto macio, deixando-o guiar o beijo. Em segundos, nossos corpos ainda mais colados me fazia querer mais, e ao sentir mão percorrer minha cintura com firmeza, senti arrepiar, em vastos minutos quase perdemos o ar.

— Nossa, acho que... — Gustavo distancia seu rosto do meu, ainda ofegante e sem jeito. 

— Eu gosto da sua boca, Baker. — Ainda com meu corpo em êxtase,  sorri em sua direção e entrelacei minha mão na sua.

Gustavo sorriu sem jeito e consentiu, ele com vergonha era fofo.

—  Agora que você é minha e sua boca é minha... pode me prometer algo? — Gustavo apertou minha mão e me encarou, logo consenti. — Pode não sair da minha vida mais? E quando eu passar dos limites assim, pode me mandar parar. Nossos beijos são bem intensos...

— Não sairei da sua vida, e se eu não peço para parar... É porque não quero que pare, querido namorado. — Sorri e o abracei, ele logo prendeu o riso.

O tempo podia parar agora, talvez a melhor coisa que fiz por mim mesma foi ter me permitido viver isso.

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Após o dia inteiro aproveitando todas as diversões que a neve podia nos proporcionar, a noite chegou lentamente e o frio intenso nos mostrou quem manda no pedaço. Nossa segunda noite aqui estava incrível, segundo Gustavo nós começamos a namorar hoje, pois já passava de meia noite quando ele me pediu, então ele me deu a escolha entre ir um restaurante da cidade, ou ficar trancada no quarto me arrumando e esperando ele fazer um jantar especial para nós.

Com um vestido rosa claro na altura do joelho, um salto fino e meus cabelos ondulados, espero deitada na cama o jantar especial ficar pronto. Mesmo não trazendo nenhuma roupa para festa, Alice me obrigou a trazer esse vestido, por sorte eu trouxe.

 Pego meu celular a fim de mandar uma mensagem para minha amiga.

Como está tudo por ai?

Alice me respondeu de imediato, parecia empolgada.

Tudo ótimo por aqui, eu e o Alex fizemos uma semana nos conhecendo e estou feliz. Conta de vocês, o Alex está aqui do meu lado te mandando mil beijos.

Respondi com um longo texto.

Nossa, estão sendo os dias mais felizes dos últimos tempos. Estamos em uma casa na montanha e passamos o dia na neve. Tirei muitas fotos, e fui pedida em namoro com uma declaração linda, estou tão apaixonada, droga. Vou te mostrar fotos de tudo, olha. Mande dois mil beijos para ele.

Enviei fotos da casa, da vista do quarto e todas que tiramos juntos na neve. Uma das fotos que mais gostei foi uma que tiramos no dia que aceitei o pedido, nossas mãos entrelaçadas com a lareira de fundo.

Diz que você aceitou? Eu estou tão feliz amiga. O Alex ainda está digerindo a informação mas está feliz por vocês, sério! Quando você chegar claro que vai me contar todos os detalhes. XOXO

Eu aceitei! xoxo

Um sorriso se formou em meus lábios ao lembrar-me de todas as lindas palavras daquela noite. Imaginei o Alex falando que vai quebrar o Gustavo ao meio se ele fizer algo que não deveria, por algum ou todos os motivos, não conseguia parar de rir. Deitada na enorme e confortável cama de casal, observo as chamas da lareira queimando as lenhas aos poucos e  senti algo queimando em mim também; em poucos meses, venho sentindo coisas que nunca imaginei sentir, principalmente por alguém. 

Fechei os olhos e sorri.

— Não cozinhei para você dormir queridinha... — Gustavo sussurra, me fazendo abrir os olhos. — Vamos, levante-se baby!

Ele vestia uma roupa social: um terno azul-marinho por cima de uma camisa branca, o que o deixava mais sério e bonito. Ele me encarou fixamente, esperando uma resposta enquanto mexia os dedos com impaciência. 

Ainda deitada, eu estendi a mão e Gustavo me puxou lentamente.

— Vamos, amor, você demorou demais. Devia ter me deixado ajudar... — Falei e ele negou.

Em silêncio, ele percorria o caminho do corredor me puxando pela mão e ao chegar na escadaria de madeira, ele parou em silêncio e estendeu o braço, me dando passagem para ir à sua frente. 

Em cada degrau da escada havia duas pequenas velas vermelhas acesas, uma de cada lado do degrau, o que fazia o caminho ser iluminado, com a mão sobre o peito, sentia meu coração acelerado. Antes que eu começasse a descer, Gustavo me abraçou por trás e apoiou sua cabeça em meu ombro.

— Você gosta de coisas simples e feitas com o coração. Então, em cada detalhe tem meu coração, tem meu esforço para deixar minha namorada feliz. Achou que ia ser só um pedido na lareira? Eu sou Gustavo Baker, e seu namorado. — Suas palavras ao meu ouvido faziam meu coração saltitar, meus olhos encheram-se de lágrimas e apenas uma risada saiu em meus lábios.

Gustavo me soltou de seu abraço apertado e desci as escadas lentamente. Tudo estava escuro, mostrando que as únicas luzes eram grupos de velas em pontos estratégicos por toda a sala. Uma mesa mediana, redonda, composta por louças, taças, pétalas de rosa vermelha espalhadas, dois castiçais com velas acesas, um lindo bolo decorado com morangos, fondue de queijo com torradas e um vinho tinto. 

A mesa pronta para dois mostrava o quão ele se esforçou para tornar tudo delicado e romântico.

— Uau. — Balbuciei, observando tudo.

Meu sorriso entregava o quão estava impressionada por tudo aquilo em minha frente. Observava todos os detalhes e mais feliz me sentia, nunca nem havia sonhado com isso, era magico. O cheiro de comida por todo o ambiente indicava que ele realmente tinha cozinhado algo e estava muito bom. 

De imediato, ele puxou a cadeira e eu me sentei, ainda sentindo meu coração saltitar. Ele logo sentou a minha frente, sorridente.

— Agora pode falar o que achou, exagerei? — Com os cotovelos apoiados na mesa, Gustavo me encarava. — Nunca fiz isso, então... — Sussurrou ele, sorrindo.

— Nunca recebi tamanha demonstração de carinho. Está tudo incrível nem sei o que falar, olha tudo isso... — Respirei fundo, tentando recompor a respiração ainda trêmula. — Fez tudo sozinho? — Perguntei.

— Sim, mesmo sem saber se você iria aceitar. Planejei tudo e  segui minha intuição, mas como nunca gostei de ninguém antes, não sabia bem o que fazer. O conselho do meu pai foi apenas seguir meu coração e fazer algo bonito! — Encarando as mãos, ele explicou calmamente.

Eu o encarava quase sem piscar, era como se eu tivesse enfeitiçada.

— Seu pai tem razão e você acertou em tudo. Todas essas velas e pétalas de rosa vermelha são exatamente o que eu gosto. Gosto da delicadeza e ver que você fez tudo do seu jeito está fazendo meu coração saltar do peito... E eu aceitei, pois segui meu coração, sim... — Estiquei meu braço, de modo que pus minha mão por cima da dele. — Tive medo de me entregar lá no começo, mas meu coração falou mais alto e não pude resistir a você. — Declarei.

Encarei o bolo em nossa frente e ele sorriu.

— Hoje não é só o dia que te pedi em namoro... — Falou Gustavo, me encarando.

— Como assim? — Minha risada instantânea o fez rir também. 

Gustavo esfregou os olhos e suspirou.

— Hoje é meu aniversário, Anne. Estou completando dezenove anos de pura beleza, por isso disfarcei quando me perguntou isso varias vezes e mudávamos de assunto, porque queria planejar isso primeiro...— Sussurrou o menino com seu sorriso maroto.

Arregalei os olhos e permaneci estática por alguns minutos.

— Por que você não me falou, Baker? Já tentei te perguntar varias vez sobre isso e você realmente mudava de assunto. Eu nem trouxe presente... — Falei, ainda boquiaberta.

Ele havia dito que só vinha a Aspen no Natal ou no seu aniversário, eu não me toquei. Em silêncio, Gustavo bate os dedos na mesa procurando palavras, sua expressão séria passava algum motivo por trás de seu segredo.

— Depois que minha mãe morreu, paramos de vir aqui comemorar meu aniversário na neve. Então isso marcou minha infância, parei de gostar do meu aniversário pois ela era  pessoa que mais se importava com a data e a data doía mais do que qualquer outro dia... — Gustavo umedeceu os lábios e pausou suas palavras. Nossa mão entrelaçada, eu o senti apertar. —Eu percebi que você sempre falava com animação sobre aniversários, e pensei em como seria bom se eu voltasse a gostar do meu, para comemorar ele com você... Então eu quis que nosso dia fosse comemorado no dia do meu nascimento, pois iria me importar com ele novamente. — Concluiu.

Suas palavras sinceras e tristes expressadas de um modo singelo me fizeram sorrir. Quando eu penso que ele não pode surpreender, ele me deixa sem ter o que falar.

— Compreendo tudo, e estou feliz por escolher seu dia para começar nossa historia. Sei que não é fácil, mas vamos passar por tudo juntos e não precisa deixar doer sozinho. Divida a alegria e a dor, todo aniversario eu, vamos fazer o dia mais feliz do ano! Nunca mais vai tratar como um dia comum, por que não é... É o seu dia, e agora o nosso dia. — falei com calma e um sorriso saiu de seus lábios rosados, ali percebi o quanto vê-lo feliz me faz feliz.

Coloquei o bolo no centro da mesa e uma pequena vela em cima do mesmo. Naquele momento, depois de anos, cantamos parabéns para o Gustavo e minha animação na cantoria o fazia rir com timidez, e aos poucos ele cantou também, encarando a pequena vela. Por sua maneira tímida de agir, parecia não estar familiarizado em apagar uma simples vela, mas logo a apagou e abriu um sorriso largo, me fazendo tirar uma foto.

 Aquele momento estava sendo eternizado em nossos corações, duas comemorações em uma e seria sempre assim.

— Então, um brinde aos seus dezenove anos e a nós? — Levantei minha taça.

— Um brinde aos começos e recomeços. — Gustavo levantou a dele também e em um fino toque, as nossas taças brindaram.

Uma melodia calma tocava ao fundo do ambiente e, como duas crianças, comíamos o bolo e seus morangos, ele contava historias engraçadas da sua infância e o conhecia mais e mais. Para o jantar, Gustavo fez batatas recheadas maravilhosas com bacon, cream cheese, queijo cheddar e cebolinha. Segundo ele, é a única coisa que sabe fazer na cozinha e, para minha surpresa, estavam incríveis.

A noite ainda só começava, conversamos sobre nossas vidas diferentes, gostos e o quão seu gosto musical era diferente. Falei da minha paixão por donuts e brownies, o que, ao contrário, ele prefere coisas salgadas como frango frito com molho picante e cerveja. Estávamos cientes de como éramos diferentes em muitos aspectos e como também tínhamos gostos parecidos, como só conseguir assistir a um jogo em pé em frente à televisão.

— Confesso que você é estranha, Joanne, mas gosto muito de você. — Com um pedaço de morango entre os dentes, Gustavo ria das minhas confissões.

— Estranho é você! Já que quis me namorar, precisa saber dos meus defeitos... — Rebati com rapidez, o fazendo arregalar os olhos ainda entre risadas.

— O que você vê como defeitos, eu vejo como detalhes. E eu estou longe da perfeição mesmo parecendo ser perfeito...

Suas palavras inteligentes me faziam pensar se realmente o achei burro um dia.

— Concordo com você, não tem como ser perfeito. Até que, para o bonitão do basquete, você é muito sábio. — Gustavo ergueu sua mão e bateu rapidamente na minha.

— Quer dançar com o bonitão do basquete, baby? — Gustavo levantou-se e esticou a mão em minha direção, me fazendo corar. —Afinal você namorada um intocável agora...

— Aceito a dança, o meu intocável... — Levantei-me, e, em um movimento rápido, ele deu uma volta na pequena mesa e me puxou para um abraço, me fazendo colar em seu corpo com firmeza.

Sobre nossa noite... Ah, ela estava apenas começando.

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