My Only One ♡ Capítulo 45
Estávamos os quatro sentados em uma mesa redonda, em um silêncio gritante. Os adultos tinham se retirado para beber em outra mesa, enquanto a mãe de Joanne descansava com as pernas esticadas sobre uma cadeira ao lado do pai, que ainda conversava com alguns amigos. A festa estava praticamente no fim, e havia vestígios dela espalhados pela grama: balões estourados, bolinhas de sabão e restos de embalagens de comida que, por sinal, estavam sensacionais.
Finalmente conheci a famosa família barulhenta dos Clark e, como previ, senti-me sortudo por estar prestes a fazer parte de uma família oposta à minha. Eles são animados, barulhentos, brincalhões — exceto pela avó Diana —, extremamente fanfarrões e sempre encontram motivos para rir e fazer piadas, até sobre a própria barriga. Esse é o caso do tio Jerry, que, com seus cinquenta e poucos anos e três filhos completamente inquietos, adora cerveja com petisco de salsicha apimentada e costeletas ao molho madeira.
Cheguei à conclusão de que trocaria toda minha herança para ter nascido aqui. Mas, de qualquer forma, aqui estou. — Pensei, encarando a árvore com luzes piscando.
— Seu arranhão na nuca e sua noite fora de casa fazem parte do mesmo combo? — perguntou Alice, chamando minha atenção de volta para a mesa.
Notando o que ninguém mais havia percebido, ela parecia calma e serena. Eu e Joanne nos aproximamos do Alex e confirmamos: lá estava, uma marca vermelha com dois riscos no meio. Totalmente despreocupado, ele deu de ombros, sem aparentar arrependimento ou preocupação com a marca.
Só consigo imaginar o caos se, um dia, minha namorada encontrar um arranhão que ela mesma fez e quiser me matar por isso.
Claro que isso não era para ser notado, mas o que é que uma mulher não percebe? Com certeza, não queria estar na pele do Alex, sendo colocado contra a parede por duas garotas curiosas. — Arqueei as sobrancelhas, e ele me mandou um olhar tranquilo.
— Onde dormiu mesmo? Pensei que sua noite mal dormida tinha sido pensando. — A voz de Joanne cortou o silêncio, me fazendo encará-la. — Olhe para mim, peixe morto. — Ela falou irritada, e Alice me olhou de canto.
Com certeza o Alex passou a noite pensando, mas não de uma forma lúcida. — Prendi o riso, recebendo um olhar fuzilante de Joanne.
Ela foi ignorada, assim como Alice, o que a deixava ainda mais irritada. Alex, sério e de braços cruzados, não fazia questão de responder as duas; talvez porque ainda não tivesse pensado em uma resposta. O arranhão no pescoço já entregava qualquer desculpa que ele tentasse inventar, mas, sendo solteiro, ele não estaria errado.
— Então... Vou pegar umas cervejas e ir ao banheiro. — Comentei. — Mas é impressão minha ou sempre que bebemos juntos algo acontece? — Sussurrei e suspirei. — Já volto.
Joanne segurou meu braço e se inclinou para falar algo que ninguém mais pudesse ouvir.
— As cervejas estão na última prateleira da geladeira. — Disse ela, sem me encarar, e assenti em silêncio. — E pode usar meu banheiro, a essa hora é o único limpo.
Tentando parecer o mais natural possível, caminhei até a cozinha com passos largos. Não sabia como os pais de Joanne encaravam bebidas alcoólicas e não queria trazer problemas para ela. Entrei na casa, que estava aparentemente vazia, com várias comidas espalhadas pela ilha da cozinha, o suficiente para a semana toda, provavelmente.
Acendi uma luz baixa e, ignorando minha bexiga, fui verificar as cervejas.
Encarei a porta da geladeira, coberta de polaroides presas com ímãs, mostrando a família em momentos íntimos e divertidos. Uma foto da minha namorada com chantilly no nariz, fazendo careta, chamou minha atenção. Seus olhos azuis focados no próprio nariz me fizeram rir; como pode até tentando ser feia ela continuar bonita? Passei o olhar por todas as fotos antes de abrir a geladeira e olhar a última prateleira, onde havia muitas frutas coloridas.
— Posso ajudá-lo, Baker? — uma voz rouca me fez pular.
O pai de Joanne, com uma lata de cerveja na mão, me observava. Seu rosto avermelhado me deixou na dúvida se era de raiva ou só efeito do álcool. Será que ele me seguiu? Sorri sem graça, passando a mão na cabeça.
— Estou procurando... algo. — Tentei disfarçar, mas ele se apoiou na ilha da cozinha, esperando uma explicação. — Está tudo bem? — perguntei, notando a testa suada dele.
— Está procurando minha filha? — Ele lançou um olhar para a geladeira aberta.
Como alguém procuraria uma pessoa dentro de uma geladeira?
A tosse dele interrompeu meus pensamentos, e voltei a encará-lo.
— Não, senhor. Na verdade, eu só queria pegar uma cerveja para relaxar um pouco se não por incomodo. — sussurrei, confessando, o que fez ele arquear as sobrancelhas quase grisalhas. — Quer falar algo comigo?
Minha pergunta deveria ser uma deixa para escapar da cozinha, mesmo sem a cerveja.
— Na verdade, quero sim. Talvez hoje seja um pouco errado, porque eu já bebi... Mas tudo bem, ou não? — Ele sorriu, e eu suspirei internamente. Acabei assentindo, sentando-me ao seu lado, mesmo sem a cerveja. — Não precisa ficar receoso, não sou um sogro ruim e mesmo sem vocês tendo idade, podem beber na minha vista. Mas dirigir, não.
Assenti com sua afirmação. Ele realmente não era um sogro ruim, muito menos uma pessoa ruim. Pelo contrário, ele era uma inspiração para mim, como começou do zero em uma profissão pouco valorizada, como cuida da família mesmo depois de uma perda enorme, e como leva uma vida simples, mas feliz.
— Podemos conversar sim — afirmei, ainda com um pouco de receio de me abrir. — E não se preocupe por ter bebido, enfrentar certas emoções sóbrio pode ser... cansativo — completei, apoiando os cotovelos na ilha da cozinha.
Brevemente ele compartilhou sua trajetória profissional, sua vida como marido e pai. Contou-me sobre erros passados, revelando que muitos anos atrás, cometeu uma traição. Fiquei surpreso por ele confiar em mim com algo tão pessoal, sabendo que eu poderia contar a verdade para sua filha. Mas jamais faria isso mesmo achando um completo absurdo e uma falta de caráter imensa, mas confiança quebrada é algo difícil de reconstruir então me manteria quieto.
— Notei você encarando a foto da minha filha, e isso já aconteceu algumas vezes — Albert soltou uma risada, sem me olhar, enquanto eu permanecia sério. — Você realmente a ama como uma mulher? — perguntou, e eu respondi sem hesitar.
— Sim, eu a amo como mulher — respondi, engolindo seco. — Sinceramente, eu a amo. — Levantei as mãos como se defendendo minha sinceridade.
Sentia meu corpo suar sob a camisa, e a intensidade da conversa me pegava de surpresa. Já havíamos trocado algumas palavras antes, mas nunca com essa seriedade. Albert, apesar da cerveja, parecia completamente lúcido enquanto me revelava pedaços de sua vida.
— Ter uma filha mulher é difícil, mas criá-la não foi — ele disse, dando um gole em sua cerveja e encarando a lata. — Ela é uma ótima menina, tive muita sorte com meus filhos. Minha esposa e eu tentamos dar a eles uma criação livre, e eles cresceram bem. Você teria gostado do Andrew. — Suas palavras apertaram meu coração, mas logo em seguida ele soltou uma risada rouca.
Um misto de culpa e tristeza me invade, mas preciso ser forte quanto a isso.
— Tenho certeza que sim, todos falam bem dele — falei, com sinceridade. — Dizem que Joanne o lembra muito.
O senhor suspirou, com um olhar distante, fixo na geladeira, como se estivesse revivendo memórias que o tiravam dali.
— Na verdade, ela o lembra mais na aparência... tirando os olhos. Mas, por dentro, eles eram opostos — explicou, me deixando imaginar como Andrew teria sido. — Ele era sorridente, falava muito, e onde pisava, a grama morria.
O encarei, confuso, e ele notou minha expressão.
— Às vezes esqueço que você é novo... Essa expressão significa que ele era calmo e paciente — esclareceu, com um sorriso melancólico. — Sinto falta dele... e me culpo...
Quanto mais imagino Andrew, mais sinto raiva de Augustos.
— Sinto muito por tudo. Sinto muito mesmo! — falei, na falta de palavras melhores. — Mas o senhor não tem culpa de nada.
— Na verdade, tenho sim. Fui eu que o mandei para outra cidade... Mas não se preocupe com meus sentimentos. Posso ser sincero? — Ele me olhou com um sorriso sereno.
— Claro — respondi, e ele suspirou.
— Baker, confiei minha filha a você porque vi os sentimentos dela por você. Notei que, desde que estão juntos, ela tem se soltado mais, voltou a fotografar, fala mais e tem feito novas amizades, além de passar algumas noites fora. Essas são coisas boas que sua presença trouxe para a vida dela — disse ele, fazendo uma breve pausa antes de continuar. — Quando vocês terminaram, ela ficou mal. Pensei em te procurar, mas sabia que iriam resolver as coisas sozinhos, como de fato fizeram.
Era difícil explicar os motivos específicos, mas decidi manter a justificativa que ela mesma tinha dado, conforme o Alex me contou.
— Foi um momento ruim para nós dois. Embora nos amemos, nossas personalidades são diferentes, como em qualquer casal. Mas estamos nos ajustando aos poucos, e isso não vai acontecer de novo — afirmei, com convicção.
Não era mentira, somos realmente diferentes em vários aspectos, a começar por nossas personalidades. Seria hipocrisia dizer que tudo é um mar de rosas, relacionamentos são complexos.
— Talvez até aconteça de novo — ele ponderou, cruzando os braços. — Minha filha tem um gênio forte e pode ser fria e dura como uma pedra de gelo. Vocês vão se desentender, e isso é normal. Mas seja homem para jamais feri-la ou cometer o "acidente" que eu cometi.
Será que ele se referia à traição? Traição é uma escolha, uma escolha infeliz — pensei, mas mantive o pensamento para mim.
— Sei que não sou perfeito, mas nunca faria nada intencionalmente para magoá-la ou feri-la. Minhas intenções com sua filha são sérias e verdadeiras, isso não é apenas um romance de adolescente apesar de ainda sermos adolescentes.— desabafei, e fui recebido com uma risada dele.
Suas risadas roucas às vezes me assustavam.
— Eu sei, você tem minha confiança. Mas eu durmo como coelho: um olho aberto e o outro fechado — ele finalmente me encarou, pousando sua mão pesada no meu ombro. — Tome cuidado com essas dormidas por aqui. Não sou um sogro chato, mas também não sou bobo.
Arregalei os olhos, soltando uma risada forçada. A mensagem estava clara: nada de netos antes do tempo e outros "blá blá blás".
— Posso ficar hoje? — Juntei coragem e perguntei, um pouco sem graça. — Prometo que ajudo a arrumar o quintal antes de deitarmos. — Apontei com o polegar para trás, o que o fez rir.
O senhor se levantou do banco, ajustou a calça folgada e suspirou, exalando um leve aroma de álcool.
— Pode ficar, desde que cumpra sua promessa sobre a arrumação — disse ele, pegando a cerveja de volta. — E, aliás, fique à vontade para pegar a sua, contanto que ninguém pegue no volante e que nada se quebre, gastei muito meus braços para fazer pão e construir essa casa.
Assenti de imediato.
— Obrigado, sem carro e sem nada quebrado — garanti.
— Como um coelho, Baker. Sou como um coelho. — Ele apontou para os próprios olhos e, em seguida, para mim, visivelmente afetado pelo álcool.
Ele saiu pela porta estreita da cozinha, e eu finalmente soltei o ar que estava preso em meus pulmões havia quase meia hora. Eu realmente esperava ouvir aquelas palavras do pai da minha namorada, afinal, já estamos juntos há bastante tempo, mas não estava preparado para essa conversa.
A essa altura, a vontade de ir ao banheiro já tinha passado, o nervosismo fez minha urina sair pelo suor. Passei a mão pela testa, limpando os respingos de suor.
S2
De volta à mesa, sentei-me ao lado de Joanne, que ainda estava com uma expressão emburrada – provavelmente Alex não lhe deu explicação nenhuma. Peguei as latinhas e deslizei duas pela mesa, uma para Alex e outra para Alice, que encarava o céu com uma expressão despreocupada. Abri uma latinha para minha namorada, que apoiou a cabeça no meu ombro.
– Você foi fazer o número dois? – ela sussurrou, me fazendo engasgar com a cerveja. – Demorou horrores, também tem prisão de ventre? – Ela continuou o interrogatório, e me apressei em responder antes que piorasse.
– Não fiz nada disso e, não, meu intestino funciona muito bem, obrigado. Ele tem seu horário, aliás, às onze da noite, e apenas no meu vaso. – Expliquei, fazendo-a gargalhar ao meu lado. – Mas já que perguntou, estava conversando com seu pai e perdi a noção do tempo.
Joanne arregalou os olhos, curiosa, mas tentei me mostrar despreocupado. Se não fosse pela voz de Alex, provavelmente teria que contar tudo a ela.
– Como todos aqui sabem, meus pais morreram em um acidente sete anos atrás, e eu estou viajando para Boston quase todo mês e fiz uma viagem recentemente, coisa que odeio de todo meu coração. – Alex suspirou, parecendo incomodado por ter que explicar.
O menino fez uma pausa, e Joanne murchou, provavelmente se sentindo culpada por ter pressionado tanto. Eu sabia bastante sobre o Alex, mas alguns detalhes ainda eram novidade para mim. Ele tomou um gole da sua cerveja e suspirou antes de continuar a explicação.
– Ontem, quando cheguei de viagem, chamei a Joanne para comer frango, e depois, ao voltar pra casa, saí novamente e bebi até não aguentar mais porque estava triste pós-viagem. – Seus olhos encaravam a mesa, e eu me senti mal por ele. – E sim, Alice, eu bebi. Saí com uma pessoa aleatória, e não vou me sentir culpado por isso. Não foi traição, nós terminamos o que nem chegou a ser um namoro, e isso nem foi uma escolha minha. – Alex falou com a voz calma, e Alice acenou em concordância.
– Não se sinta culpado, conversamos e está tudo bem. – Ela respondeu tranquila, acariciando-o, e eu arqueei as sobrancelhas.
– E, Anne, não fica chateada, tudo bem? Estava triste por coisas que nenhum de vocês pode fazer para me ajuda e precisei de um tempo sozinho longe de tudo. – Ele cruzou os braços na mesa, apoiando a cabeça, e Joanne levantou-se para ficar ao lado dele. – Às vezes, eu só preciso viver loucamente e esquecer de tudo.
Ela sentou-se ao lado dele e passou a mão em sua cabeça.
– Não estou te julgando. Eu sei de tudo, e sinto muito. Claro que você precisa viver sua vida, loucamente, se quiser. – A voz suave de Joanne o fez sorrir.
– Não quero magoar a Alice, não nos apaixonamos e decidimos seguir como ótimos amigos, está tudo bem.
Entramos em um silêncio matador e todos suspiraram ao mesmo tempo, como se tivéssemos planejado.
– Alex, se eu puder ajudar de alguma forma, não hesite em me chamar. Joanne, se está tudo bem entre eles, então está tudo bem pra nós. Alice, ninguém aqui te julga por ainda amar o Andrew, sei bem que querer parar de amar alguém não é o suficiente para deixar de amá-lo. – Falei seriamente.
Mesmo sem saber exatamente o que dizer, expressei minha opinião. Não sei se realmente me pus no lugar dele ou se apenas sou sensato em meio a pessoas ansiosas. Bebi minha cerveja, e logo começamos a conversar sobre outros assuntos.
– Baker, você nos deixou de fora da situação com o Augustos. Como está isso? – Alex desviou do tema sobre comidas e expressou sua preocupação.
Minha razão para mantê-los afastados do assunto era pura proteção, mas sabia que todos estavam preocupados com isso.
– Justamente por ser perigoso, não compartilhei meus pensamentos e planos. Não quero que nenhum de vocês três fique na mira do Augustos. – Encarei Joanne, que apertou minha mão. – Eu, o Will e o Josh vamos dar um jeito, e quero que ele pense que não tenho mais contato com vocês. – Respirei fundo, estalando o pescoço.
Essa era apenas uma das coisas que eu poderia explicar. Continuo firme em minha meta de manter as pessoas importantes para mim longe do marginal ruivo.
– Gustavo, isso está me deixando aflita. – Joanne resmungou, fazendo Alex sorrir. – Para de rir, peixe morto. – Ela bufou.
– Para de ser um peru de Natal, não está acontecendo nada e eu quero vocês protegidos. – Afirmei, fazendo Alice concordar. – Eu e os meninos conhecemos o ruivo, vocês não. Então, para todos os efeitos, não tenho mais nenhuma ligação com vocês. – Retruquei, gesticulando.
Precisava acalmar a mente ansiosa de Joanne antes que ela pudesse agir por impulso devido a sua preocupação.
– O Baker tem razão, gente. Precisamos fingir que estamos fora da reta dele. – Alice concordou comigo, fazendo Alex assentir. – Isso requer sangue frio e deixar as emoções de lado, como você viu, Anne. Nem a polícia pode fazer nada. – Abracei Joanne, e ela finalmente assentiu, concordando.
Tínhamos bebido todo o engradado de cerveja, e as horas foram passando enquanto boas conversas nos distraíam. Joanne parecia mais calma, e o clima entre o ex-casal não parecia passar de uma amizade. O céu estava estrelado, com poucas nuvens, e o som de uma coruja ecoava no quintal.
– Futuramente, poderíamos fazer uma viagem juntos? – Alice sugeriu, enquanto falávamos sobre aviões.
A ideia realmente me animou, seria legal uma viagem entre nós para esquecermos a vida por um tempo.
– Apoio. – Disse Joanne.
– Estou dentro. – Alex rebateu, amassando uma latinha. – Wisconsin? – perguntou, animado.
A expressão de Joanne mostrou sua recusa em relação ao lugar citado pelo amigo.
– Não, Alex. Minha avó nos obrigaria a ficar na fazenda. – Ela explicou, o que me deixou animado.
A família dela era animada e festeira, exatamente o que precisávamos para nossas férias antes da faculdade.
– Sua família é legal, eu gostei. – Alice comentou, fazendo-me apertar sua mão em concordância. – Eles são felizes e falam o que dá na telha. – Sorri, lembrando-me da esposa do tio Jerry brigando por causa da cueca rasgada.
– Vocês acham legal porque só conheceram a parte calma da família Clark. Quando se juntam, é uma imensidão barulhenta. No dia de Ação de Graças, é uma briga para ver quem vai ficar com as coxas do frango, e alguém sempre acaba se engasgando. – Joanne explicou, fazendo todos sorrirem, inclusive ela.
– Imaginem ter uma família que coloca quatro tipos de garfos na mesa. – Eu disse, dando de ombros. – É uma frescura tão grande que um jantar de uma hora, parece durar cinco dias.
Alex fez uma careta, imitando alguém escolhendo qual garfo usar. Ele era um comediante nato, fazendo todos rirem com uma facilidade surreal.
– A única família com a qual tenho contato são meus avós, e estou bem assim. – Alex falou, mergulhando o grupo em silêncio.
Com certeza, sua história de vida era uma das mais pesadas que já conheci, mas ele nunca deixava de sorrir. O Ross é uma pessoa que, mesmo triste, nunca para de sorrir, pelo menos foi isso que percebi desde o dia em que o conheci.
– Brasil. – Alice interveio. – Antes da faculdade, poderíamos tirar férias no Brasil, na casa da minha mãe. Ela é uma pessoa icônica, e o lugar onde ela mora fica na região nordeste do país, uma área animada, quente, praiana e cheia de lugares para conhecer. – Sua ideia me fez arquear as sobrancelhas, e Joanne sorriu animada.
Um país tropical, clima agradável, animado e com muitas festas. Meu pai faz negócios por lá desde o inicio da fábrica, mas nunca pude ir, ele dizia que ia apenas por negócios e não podia levar ninguém.
– Ótima ideia! Podemos fazer isso no final do ano. Até lá, espero que tudo já esteja em seus devidos lugares. – Falei, batendo palmas animadas. – Se ninguém for contra, acho que podemos ir.
– Iremos! Vai ser uma aventura tropical: biquínis, praias lotadas, solzão, festas animadas e comidas boas. – Alex fez uma dancinha, e eu o acompanhei, sendo beliscado por Joanne.
– Biquínis, uma ova! Se o seu olhar for para o lugar errado, você vai voltar solteiro. – Ela disse, arqueando as sobrancelhas em minha direção.
– Tudo bem, amiga, nós também podemos usar um biquíni tamanho extra pequeno e colocar a bunda no sol. – Alice resmungou, fazendo Joanne se animar.
Por que acho que essa viagem vai me estressar?
– Biquíni extra pequeno, uma ova. – Sussurrei, emburrado.
S2
Na voz de Joanne:
Já passava de duas da madrugada quando me preparei para deitar, após um dos dias mais longos dos últimos meses, sem sombra de dúvidas. Para completar, Gustavo prometeu ao meu pai que deixaríamos o quintal organizado, o que me fez colocá-lo para fazer o serviço mais pesado como castigo.
– Esse banho me deixou relaxado, depois de você me escravizar. – O garoto com o cabelo molhado abriu a porta do banheiro, deixando a fumaça sair. – Você só tem cara de boazinha. – Ele retrucou, passando a toalha pelos cabelos.
Realmente, o fiz ficar com o trabalho pesado do quintal, e sua cara de cansado me faz ter um pouco de pena.
– Quem manda prometer ao meu pai que ia arrumar? Ele nem ia lembrar disso amanhã. – Juntei roupas espalhadas e o vi pendurar a toalha em um gancho atrás da minha porta. – Não vai jogar a toalha em cima da cama?
Gustavo, com os cabelos molhados e uma calça de moletom, transitava pelo quarto juntando suas coisas.
– Toalha molhada em cima da cama é bem filme e ela fica fedendo. – Ele gargalhou, me fazendo parecer boba. – Não fecha a cara, amor. Precisamos da cama seca. – Gustavo e se aproximou e beijou meus cabelos molhados.
Seu jeito manhoso me fazia sorrir. Após um dia cansativo, tudo o que eu precisava era deitar. Abracei sua cintura e me senti relaxada.
– Vamos deitar, amanhã arrumamos o resto. – Puxei-o pela mão e nos deitamos lado a lado na minha cama, que não era muito grande.
Ambos encarando meu lustre de borboleta, descansávamos em silêncio. Deitada sob o braço de Gustavo, sentia-me confortável. Ele cheirava à minha lavanda misturada com sabonete, e seus olhos piscavam lentamente enquanto um sorriso brotava em seus lábios.
– Gostei da sua família, do dia de hoje e da noite. – Sussurrou ele, fazendo-me virar para seu lado. – Por que está me encarando, senhora Baker?
Sua expressão calma e sua voz mansa faziam meu coração palpitar.
– Porque eu realmente amo você e não esperava por isso. – Com as sobrancelhas arqueadas, ele se preparou para falar, mas tapei sua boca com minha mão. – Você faz gestos românticos, diz coisas bonitas, tenta me agradar, me faz sorrir quando estou mal, e mesmo não sendo perfeito, tenta ao máximo.
Isso não fazia meu estilo, nunca fui de falar para as pessoas o quão eu as amava, sempre esperei que todas soubessem disso apenas por meus gestos. Mas quando paro para pensar sinto que preciso expor mais para que as pessoas se sintam como me fazem sentir e esse é o caso do Gustavo.
– Eu faço tudo de coração. Sei que, mesmo nunca errando diretamente com você, posso ter falhado muito. Não te prometo ser perfeito, sinceramente não posso ser perfeito. – Ele falou, sério.
Não preciso de perfeição, Baker. Nunca precisei.
– Eu sei de tudo e também não posso ser perfeita. Mas obrigada por tudo que faz, por acolher minha família e meus amigos. – Abracei seu pescoço, deixando uma lágrima cair, mas a limpei de imediato. – Graças a você, mesmo quando estou sozinha, não me sinto mais só.
Gustavo virou-se em minha direção, analisando meu rosto, provavelmente vermelho.
– Se você chorar, eu vou chorar também, e sou muito feio chorando, acredite. – Sorri, fazendo-o sorrir também. – Nunca mais estará sozinha.
– Estou chorando porque não quero perder você, e quase perdi. Imagina se você tivesse achado uma aleatória na rua? – Declarei, indignada. – Achou?
Gustavo sorriu, passando a mão pelo rosto e apertando minhas bochechas.
– Não vai me perder, tira isso da cabeça sua louca. A não ser que Deus me leve, sendo assim, não tenho escolha. – Suas palavras me fizeram dar um chute em sua perna, mas, em contrapartida, ele colocou a perna em cima do meu corpo. – Não achei ninguém, faz tempo que quero apenas você.
– Que bom! E deixa de ser dramático, Baker; a dramática da relação sou eu. Você é o calmo que me acalma. Eu não sei acalmar ninguém. – Dei de ombros, deixando-o confuso. – Quando alguém está desabafando, a única coisa que sei dizer é "é complicado" ou "vai passar."
Ele sorriu da minha cara, na minha cara.
– O que seria de você sem mim... – Seu ego inflou, me fazendo gargalhar.
– Eu ainda seria eu, linda e sexy. – Balancei os ombros, fazendo-o revirar os olhos. – Mas eu, sem você, estaria paquerando alguém por aí. – Arqueei as sobrancelhas, sem me importar.
Com sua perna em cima de mim, mesmo relutando, não conseguia me soltar pela sua força maior. Com seu corpo por cima do meu, seus olhos castanhos encaravam os meus, e eu, presa sob suas pernas, seguia estática. Com meu pijama de estampa de margaridas, nada sexy, lamentava por estar tão à vontade em sua presença que, por vezes, não me importava em impressioná-lo.
Gustavo se curvou em minha direção e beijou meus lábios de forma carinhosa e lenta, suas mãos acariciaram meu rosto calmamente.
– Quietinha... Está muito cansada? – Ele sussurrou, ao beijar minha bochecha.
Sorri em sua direção.
–Por que? O que quer fazer? – Mordi o lábio e ele me encarou.
– Podemos ver uma série para estrear seu celular novo. – Seus lábios tocaram minha outra bochecha, e, com delicadeza, tirei-o de cima de mim, fazendo-o sentar ao meu lado.
– Estou muito cansada mesmo, aff. – Demonstrei descontentamento, e ele franziu a testa, sem entender.
– Ué, fechou a cara por quê? – Ele sorriu. – Quer fazer alguma coisa em específico?
O encarei, negando.
– Não seja sonso. – Falei.
– Não seja tímida, baby. – Gustavo sussurrou, apertando minha coxa, sem cerimônia.
Assim como Gustavo me prendeu entre suas pernas, repeti sua ação, deixando-o estático, e sentei em seu colo sem pensar muito antes de agir; caso contrário, minha timidez não me permitiria isso. – O beijei com voracidade e senti sua mão segurar minha cintura, logo pausando o beijo.
–O que foi? – Perguntei.
– Vou colocar uma música, não somos tão silenciosos e seus pais estão ali ao lado. – Ele sussurrou, me deitando na cama. – Feche os olhos – Pediu ele.
Gustavo colocou seu celular ao nosso lado, tocando uma música de um cantor latino. A canção não era muito lenta nem muito animada, mas era romântica. Chamava-se "My Only One" e, segundo ele, era nossa segunda música.
Com seu pedido, fechei os olhos e ouvi a letra da canção, sentindo-o beijar minha testa de forma carinhosa. Seus lábios gelados desceram pelo meu pescoço, passaram pela clavícula e contornaram meu braço. Meu coração acelerou ao sentir sua mão retirando minha blusa rapidamente, e me tocando com carinho.
Todos os dias pareciam novos, com experiências que nunca havia vivido antes. Não sabia se ainda era a mesma menina de dezessete anos do interior, com sonhos limitados à minha pequena lista. Parte de mim queria mais: viver mais, sonhar mais e tirar os pés do chão. Sorri ao encarar os olhos castanhos que nunca sonhei em ver e prestei atenção na letra da música.
"Quando olho nos seus olhos, vejo milhares de estrelas cadentes. Sim, eu te amo. Mal posso acreditar que você está ao meu lado todas as noites. Vou cuidar de você em todas as noites, vou te amar sem censura. Sentirei sua falta nas tempestades, mesmo que existam mil razões para renunciar."
— Sim, essa é nossa música — sussurrei, fazendo-o sorrir enquanto minha mão puxava sua calça cinza, querendo tira-la o mais rápido possível.
S2
O clima de romance para uns acabou e para outros permanece né?
Ouçam a música do nosso casal e comentem o que acharam ♡
https://youtu.be/WLtVtMdRvmo
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