Isso será esquecido amanhã ♡ Capítulo 42
Andando para cima e para baixo com Mary, rodávamos o shopping em busca de presentes que agradassem à senhora ao meu lado. Estávamos na cidade vizinha, após quase uma hora de viagem; teríamos chegado em quarenta minutos se Mary não me advertisse sobre a velocidade a cada cinco minutos. Embora nossa cidade fosse maior não tinha tanta variedade de departamentos, e o comércio local era muito menor, o que nos deixava sem saída a não ser pegar a estrada para as cidades vizinhas.
Amanhã, iremos a uma festa na casa da Joanne para comemorar o aniversário da sua mãe e a gravidez de gêmeos, estava ansioso para encontrar algo que agradasse a Katy. Por mais que fosse uma mulher simples, parecia ser muito vaidosa em diversos momentos de nossas conversas. Lembro-me de que meses atrás, nesse mesmo lugar, a encontrei e perguntei como sua filha estava. Então, ela, animada, me deu o número para que eu mesmo pudesse perguntar a ela. — Sorri, fazendo Mary me cutucar.
— Você veio para me ignorar? — Sua mão rápida beliscou meu braço, e eu fiz uma careta. — Sua nova mania é me deixar com cara de boba, falando sozinha? Arranco seu couro na unha, moleque. — Extremamente brava, ela me repreendia sem vergonha.
Acariciei meu braço, observando a mancha vermelha deixada pela marca das suas unhas grandes.
— Estou ao seu lado, andando. O que mais quer de mim? — Peguei a bolsa da mão dela e a joguei no meu ombro, estressado. — Tão agressiva! — Bufei, sem paciência.
Com a bolsa em meu ombro, recebi muitos olhares risonhos, o que me estressava ainda mais. E também tinha em mente comprar um presente para Joanne, mesmo não sendo uma data comemorativa para nós. Ela sempre diz que prefere momentos juntos a presentes caros, e respeito sua opinião, ela não é uma pessoa de luxos ou vaidade excessiva.
Entramos em uma loja de bebês extremamente grande e colorida, o ambiente tinha dois andares, separados por idades: em cima, era para crianças a partir de três anos, e embaixo, havia mobílias e enxovais para recém-nascidos até dois anos. Andando entre os móveis, sentia-me perdido, enquanto Mary me guiava.
Berços de todos os tamanhos, carrinhos, armários coloridos, cômodas personalizadas com os nomes, andadores e móveis que eu nunca imaginaria onde se encaixariam em um quarto de bebê. Uma das primeiras coisas que notei ao entrar na loja foi que, por mais rico que você seja, as coisas de bebês são extremamente caras e descartáveis. Encarei um pequeno berço e arregalei os olhos.
— Berço Louis clássico em madeira pura, com pintura natural, para bebês de zero a doze meses — li, observando a etiqueta com o valor. — mil dólares? Isso é muito caro! — Afastei-me do berço, abismado, e ouvi a risada de Mary ao se aproximar de mim.
— Proteger-se é bem mais barato, cuide-se! — Mary deu um leve tapa em meu ombro, fazendo-me segui-la. — Vamos achar algo. — sussurrou.
Andamos entre as roupas, e Mary pegou várias para escolhermos. A senhora, empolgada, havia selecionado roupinhas, sapatinhos, pequenos edredons e alguns artigos de decoração para o quartinho, segundo ela, eram necessários.
Ao mesmo tempo em que os preços me assustavam, um misto de alegria e empolgação me invadiu ao ver Mary escolher pequenas roupinhas e uma sapatilha preta que era tão pequena que se perdia na palma da minha mão.
— Mary, podemos levar um conjunto de maternidade branco para cada um? — empilhei as duas caixas, sendo observado por uma vendedora nada discreta. — Esses são para quando nascer, então pode acrescentar a roupa da bailarina com essa saia engraçada e a roupinha de piloto de corrida. Esses são os meus presentes. — Pausei minha explicação, deixando Mary boquiaberta.
Sem entender, fui encarado por as duas mulheres a minha frente.
— Tão lindo ver um pai assim! — A vendedora simpática me lançou um sorriso animado, provavelmente feliz por suas vendas, enquanto Mary soltou uma risada tosca.
— Agora irei ser cunhado e pai somente em alguns anos — expliquei, deixando a moça loira sem graça. — E quero um cartão de presente com os bichinhos coloridinhos! — Apontei para vários cartões expostos.
Encarei o cartão colorido e brilhante, pensando em algo para escrever, sabendo que as duas crianças não leriam tão cedo, afinal, estavam na barriga. Com minha pouca experiência em demonstrar sentimentos para bebês, sentia-me tímido e precisava de palavras fofas.
"Espero que possamos nos divertir muito juntos, ainda não me conhecem mas sou namorado da irmã de vocês. Parte de mim está feliz e ansiosa, e sim, também amo vocês."
Anotei no pequeno cartão e o fechei sem deixar Mary ler. Escondi o cartão dentro de uma das roupinhas, e ela me olhou torto; deixá-la curiosa era um pecado, segundo suas palavras.
Minha explicação ecoava em minha própria cabeça. Ser pai em alguns anos me deixava ansioso e nervoso, não só pelos preços dos berços, mas pela responsabilidade de ter alguém que nunca poderá viver sem você. Ser um pai diferente do meu será uma missão que cumprirei muito bem, não importa o que.
S2
Com as mãos cheias de sacolas que não eram minhas, Mary me fazia carregar seus presentes para a família Clark. Segundo ela, era um dia muito especial para passar despercebido com presentes pequenos. De fato, presentear era algo que Mary sabia fazer muito bem.
— Mary, pode esperar aqui sentadinha? — apontei para uma mesa, e a senhora me interrogou com seu olhar. — Preciso comprar uma coisa. — expliquei.
— Está bem, estarei aqui. — disse ela, sentando-se à mesa. — Não demore, já passa das nove.
Poderia explicar que quem demorou quatro horas foi ela, mas preferi poupar meus ouvidos de ouvir muito mais. Eu estava disposto a comprar algo para Joanne, pois a devia isso há algum tempo. Conversando com Alex há algumas semanas, fiquei sabendo que ela praticamente ficou sem celular após seu quase atropelamento causado por Augustos.
Mesmo sabendo que ela não gosta de presentes caros, minha consciência pesava todas as vezes que ela precisava bater em seu celular para ligá-lo. Joanne é do tipo de pessoa que se fascina por coisas simples, como uma cesta com flores ou passeios noturnos. Ao longo dos nossos meses juntos, percebi que nunca a presenteei, especialmente após comprar sua fotografia. Segundo ela, paguei uma fortuna apenas por uma foto, e discutimos sempre que entramos nesse assunto.
Por entre as vitrines de uma loja de celular, procurei um que não a fizesse passar mal pelo valor e que, ainda assim, fosse bom. Agradar sua simplicidade é um pouco mais difícil do que parece, mas lembro-me de como ela gosta de mexer no meu celular e não esconde isso.
Aproximando-me de um vendedor simpático, ele sorriu para mim.
— Boa noite, vocês têm esse modelo? — puxei meu celular do bolso, com a tela trincada, e o vendedor analisou.
Ele me pediu para acompanhá-lo até um computador, e assim fiz. O rapaz, eficiente, pesquisou o modelo com agilidade e me mostrou as cores disponíveis.
— É um lançamento, então temos apenas nas cores rosa, branco e preto fosco, igual ao seu. — Olhei atentamente para as fotos e me perguntei, entre o preto e o branco, qual seria a cor preferida dela, já que Joanne nunca consegue escolher entre as duas. — Posso ver todas as cores? — falei, ainda em dúvida e ele consentiu.
Circulei pelo ambiente à espera do vendedor trazer o rosa, que só tinha em outra loja ali mesmo no shopping.
— Senhor? — o rapaz cutucou meu ombro, tirando-me do transe. — Pode me acompanhar até aquela mesa? Os aparelhos estão no outro balcão. — explicou, com simpatia.
Ainda com a dúvida em minha cabeça, sentei-me em uma mesa confortável e encarei os três aparelhos à minha frente, com os braços cruzados. Bufei, sem conseguir decidir. Apesar de o preto ser lindo, o branco se destacava.
Deixando o vendedor confuso, descartei o rosa, ficando apenas com o branco e o preto.
— Se ela gosta das duas cores, como decidir? — resmunguei, fazendo o rapaz sorrir.
— O senhor pode levar as duas cores, então. — Sua sugestão me fez sorrir em negação.
Ele obviamente não sabe a peça rara na qual eu namoro, ela vem aqui e devolve sem pensar duas vezes.
— Estou correndo o risco de apanhar por levar um. Se eu levar os dois, avisarei que foi ideia sua, e você também vai apanhar. — Expliquei, fazendo o vendedor cair na risada e desistir de me convencer a levar os dois aparelhos.
S2
Após passar mais de uma hora comprando o presente da minha namorada, sentia-me satisfeito com a aquisição. Segundo Mary, nossa noite foi produtiva, embora tudo que compramos naquela cidade pudesse claramente ser encontrado em nossa cidade com facilidade. Mas não estava com paciência para discutir com Mary; afinal, nenhuma opinião importa quando ela acha que está certa.
Parados na porta de casa, ajudei-a a tirar as sacolas de papel do carro. Nossa volta foi mais rápida que a ida; poderia dizer que foi por conta da minha ansiedade, mas o real motivo foi o cochilo da senhora, que me fez pisar no acelerador por alguns minutos sem que ela percebesse. Coloquei as sacolas no sofá e fui chamado para a cozinha.
Sentei-me à mesa após ajudá-la, e Mary me preparou um misto quente que, ao seu modo, não era tão simples de fazer; envolvia queijos e um creme cheese delicioso.
Ela sentou ao meu lado e me observou enquanto comia.
— O que você comprou para Joanne? — perguntou ela, em um tom mais baixo que o normal.
Sua pergunta aleatória poderia dar início a uma conversa curiosa, mas mesmo assim respondi.
— Um celular. — Degluti, e ela arqueou as sobrancelhas. — O que foi? — perguntei, intrigado.
— Você sabe que ela é uma garota bem simples, cuidado com presentes muito caros que possa a deixar sem jeito em receber. — Mar gesticulou. — Ela sempre insiste em lavar a louça ou limpar a cozinha, mesmo sabendo a quantidade de empregados que temos.
Precisei concordar com Mary de imediato. De fato, nossos mundos são bem diferentes, assim como nossas criações, meu receio de presenteá-la sempre foi por isso, mas minha consciência estava pesando, e algo tira meu sonho com muita facilidade.
— Eu sei, comprei esse celular porque o dela está quebrado, e a culpa é minha por derrubar e rachar toda a tela. — Expliquei, deixando-a aparentemente tranquila. — Não vou exagerar.
— Certo, então tudo bem em comprar outro para ela. Só não esqueça que mais importante que um presente físico é a maneira como você a trata e a faz sentir-se especial. As coisas mais valiosas são aquelas que o dinheiro jamais poderá comprar. — Consenti, e ela se deu por satisfeita.
Tenho minhas dúvidas se minha governanta não é uma filósofa ou algum tipo de divindade de outro mundo. Sua forma de pensar me faz refletir por dias.
Meu celular vibrou, e eu li uma mensagem do Augustos.
S2
— Não acha que vir até a porta da minha casa com câmeras é um tanto arriscado? — perguntei assim que o portão se abriu.
Augustos me mandou uma mensagem avisando que estaria na minha porta em dez minutos para uma conversa rápida. Claro que isso fazia parte do meu plano. Semanas atrás, deixei um de seus amigos ouvir que eu e Joanne estávamos separados, uma isca fácil para atraí-lo até mim sem precisar chamá-lo. Pela câmera, vi ele parar seu Jeep preto um pouco mais à frente do meu portão e sentar-se no capô.
Precisava de uma forma de provocá-lo sem que isso afetasse Joanne de nenhuma maneira. O único jeito seria fazê-lo acreditar que meu relacionamento tinha desmoronado.
— Vim em paz — disse ele, arqueando os braços e saltando do capô de uma vez. — Precisava te perguntar algumas coisas — explicou, enquanto me aproximava sem medo.
Longe de seus capangas, ele parecia lembrar que um dia foi um dos meus melhores amigos. Afinal, quando o conheci, ele estava longe de ser um marginal, mas não demorou muito para mudar drasticamente, deixando todos sem entender nada.
A cicatriz em seu rosto o ligava diretamente ao acidente, mas não havia prova alguma a respeito, muito menos registro médico da noite em que tudo aconteceu.
— Não sei se acredito, diante das ameaças que sofri ao longo dos meses — sorri, com sarcasmo. — Entende?
Mantinha a calma e fingia tristeza, assim era mais fácil manipulá-lo.
— Soube que seu namoro acabou. Devo te parabenizar ou lamentar? — disse ele, aparentemente feliz. — Agora ela está a salvo, não é?
Respirei fundo, engolindo seu jeito imundo de completo menosprezo, e sorri. Precisava trazê-lo para minha armadilha.
— Você conseguiu o que queria. Agora que só existe eu, sabe que não vai se safar. Está pronto para pagar por tudo? — falei, soltando uma gargalhada.
Senti seu olhar pesado sobre mim, e sua risada cessou de imediato. Augustos pensava que era o mais forte. Toquei seu ombro, fazendo-o me empurrar.
— Ainda quer ser o super-homem Baker? Aproveita que a irmã do falecido saiu da sua vida e esquece isso. É o melhor que você pode fazer. E se estiver com gravador, desista — ele disse, apontando para meu corpo, já impaciente.
Bingo, a reação dele é a esperada. Você é um gênio Baker.
— Gravador? Esqueceu que foi você quem me chamou? — sorri, deixando-o ainda mais irritado. — Esqueceu que essa era nossa teoria quando assistíamos a filmes de ação? Assim, você debocha da minha inteligência, Augustos Miles. — Falei, encostando-me ao seu carro.
— Não quero te machucar. Fomos muito amigos. Mas já que tirou sua princesa da reta e o segredo ainda permanece entre nós, te aconselho a enterrá-lo. — Possesso de raiva, Augustos se distanciou, e eu bati palmas.
— Você tem razão, a tirei da reta, e agora estamos nós dois. E não tenho medo de você, então encare isso como um homem. — Ele voltou a se aproximar, e eu encostei o dedo indicador em seu ombro.
— Quer mesmo pagar por um erro que não foi seu, Gustavo? — Ele me interrogou, sério.
— Eu não, ninguém vai pagar pelo seu erro. Somente você. Quantos crimes ao todo? — O provoquei, contando os dedos em silêncio enquanto o sentia me encarar. — Acho que uma perpétua me deixaria satisfeito, meu caro. Quando você tentou machucar aquela garota, ativou em mim o nível máximo de fúria, e sou a pessoa mais calma que conheço. Sabe quando mexemos em um vespeiro? Eu a perdi, e agora você vai pagar por tudo. — Empurrei seu ombro, e o ruivo deu um passo para trás.
Em silêncio, Augustos não dizia nada. Nossos olhares, cruzados por puro ódio, pareciam capazes de emanar uma fumaça preta ao nosso redor. Eu o havia provocado, e, de branco a vermelho, seu rosto parecia prestes a explodir a qualquer momento.
— Aproveita a noite, em breve pode ser que seja difícil apreciar a lua de dentro da cela. — Falei, enviando um sorriso e me distanciei.
S2
Na voz de Alex:
Dirigindo, encarava a rua vazia. Depois de dias viajando e com a cabeça a mil, passei uma noite divertida com minha melhor amiga, sai com Joanne para um lugar que ela amava, e nos deliciamos com muito frango e refrigerante. Por uma parte da noite, me senti longe de todos os meus problemas.
Deixei Joanne em casa um pouco depois das dez horas, sabendo que seu dia seria cheio amanhã, ela não quis prolongar a noite, e acabamos deixando para conversar mais na festa da sua família. Não consegui guardar segredos e contei a ela sobre meu afastamento de algo romântico com Alice, tentando convencê-la de que deveríamos contar os detalhes juntos amanhã.
Decidir pararmos de ficar aconteceu depois de uma longa conversa sentados na meia da calçada, mesmo afirmando que foi amigavelmente não ficamos bem depois daquela noite atordoada.
Pelas ruas vazias, dirigindo com cervejas no banco do passageiro, finalmente havia encontrado algum lugar para beber em paz sem ninguém ver, afinal não tinha a idade permitida para isso. Parei o carro próximo ao lago e peguei uma cerveja, logo fechando os olhos e voltando ao passado.
Anos atras...
Sentados em frente à televisão, aguardávamos o jogo começar. Andrew era o tipo de pessoa paciente e falante, ao contrário de Joanne. Ele falava sem parar e sempre queria compartilhar alguma história de suas experiências, mesmo com seus poucos anos de vida.
— Alex, você não tem ideia! Estava matando aula na arquibancada quando fui pisado por ela. Pisado por um anjo! — Ele sorriu, animado enquanto me contava os detalhes.
— Um anjo não pisa em ninguém, Drew. Não exagera! — Sorri, fazendo-o empurrar meu braço de leve.
— Acho que me apaixonei pela forma como ela me mandou sair da frente; foi tão sexy! — Ele pausou a explicação e suspirou. — Quando fingi que estava com dor, ela tentou me ajudar.
A maneira como ele falava dela era surreal. Mesmo sem mencionar o nome, eu conseguia imaginar a cena.
— Então vocês estão saindo? — Perguntei, curioso. — Quem é ela?
— Meu amigo, ainda não estamos saindo mas vou conquistá-la. E você vai ver, vou até me casar com ela! Irá conhecer, mas só depois que tudo der certo. — O jogo começou, e o silêncio tomou conta da sala.
Andando pela areia úmida do lago após muito tempo dentro do carro e quase todas as cervejas bebidas, encarei as aguas do lago envolto em silêncio. Passando das dez da noite, as pessoas já não caminhavam mais por ali. Apesar de ser uma cidade tranquila, ficar sozinho em lugares escuros poderia os fazer sentir vulnerável.
Meu coração se mantinha calmo na maior parte do tempo, mas era evidente meu medo de tudo aquilo atrapalhar nossa amizade. Ela era, sem dúvida, uma das pessoas mais animadas que conheço, e odiaria não poder mais ser seu amigo. Passei a mão pelos cabelos e suspirei, soltando o grito mais alto que consegui, que ecoou em frente ao lago.
— Já tentei gritar, e não funciona. — Uma voz feminina me fez assustar, e meu coração quase saiu do peito na mesma hora.
Tentei enxergar de longe quem era, mas não conseguia, pois o lago estava quase todo envolto em escuridão, e não avistava ninguém de ambos os lados.
— Quem é? — Gritei, olhando ao redor.
Deixando meus pensamentos me guiarem, andei mais do que gostaria. Se fosse uma assassina, já estava muito longe do meu carro, longe demais para correr.
— Atrás de você. — A voz desconhecida me orientou, e, com a lanterna do celular, me aproximei dos degraus, ainda sem reconhecer a pessoa de casaco preto.
Andei alguns metros e avistei a última pessoa que eu não imaginava encontrar. A garota, completamente diferente do normal, usava um casaco preto com o capuz cobrindo seus cabelos loiros. Sem maquiagem, seu rosto estava marcado por pequenos sinais, ou sardas. Emma encarava o mar, com uma garrafa de uísque ao lado e um copo de vidro na mão, parecendo estar em sua pior fase ou apenas sendo ela mesma. A cena era estranha e me deixava desconfiado.
— Emma? — Coloquei a luz em seu rosto, e ela se cobriu com as mãos. — O que faz aqui? Não tem noção de perigo? — Sentei-me ao seu lado, e ela me encarou.
— Não te deixei sentar ao meu lado, Alexander. E tira essa luz forte do meu rosto, sem noção.— A menina chata me recebeu com farpas, e com a cerveja na cabeça, eu só queria ir embora.
Respirei fundo e encarei o lago sendo banhado por uma lua enorme, cheia e linda.
— Você não é a dona do lago, minha filha. — Rebati, ouvindo sua risada ecoar na escuridão. — Vejo que está bêbada; vou ignorar a grosseria. — Sussurrei.
A garota, sem me encarar, estendeu o copo de uísque pela metade em minha direção. Encarei-o, sem entender, mas acabei pegando. A bebida, de ótima qualidade, provavelmente custaria mais do que meu salário, mas, quente, era tão desagradável quanto as baratas do mercado.
— Sou quase a dona, afinal tenho vindo aqui todos os dias há semanas, bebendo meus sentimentos. — Disse a loira, e passei o copo de volta para ela, sentindo sua mão gelada ao tocá-la.
Com certeza, Emma estava falando de seus sentimentos não correspondidos pelo Baker. Fiquei sabendo toda a novela da vida deles juntos no aniversário da Mary, e não recomendo a ninguém. Mas, sinceramente, acho que estou passando por algo semelhante.
— Sei da sua novela com o Baker, mas você precisa superar isso. — Sussurrei, sentindo seu olhar fixo em mim.
— Pensei que com o término deles eu teria chances, mas mesmo separados ele não me deixa me aproximar. —Ela explicou. —E o que faz aqui, Alexander? Está na merda?
Então, ela ainda não sabe do retorno deles. E sinto que é melhor que não saiba, ela é maníaca por aquele cara.
— Acabei com um lance que tinha, te pouparei dos detalhes. — Sorri cortando o assunto, fazendo-a balançar a cabeça negativamente. —Pode me chamar de Alex, não precisa de tanta formalidade.
Mudar de assunto foi uma habilidade que aprendi bem com a minha melhor amiga, e foi exatamente isso que fiz.
— Pelo menos você chegou a ter um lance. — Ela sussurrou, bebendo o resto da bebida quente. — Eu cansei e decidi ir embora daqui, estou fugindo dessa merda toda.
Permaneci em silêncio, ouvindo Emma desabafar sobre sua vida ao lado do Gustavo e quanto mais ela falava, mais bebíamos. Ela comentou sobre não ter ninguém além dele, e que, por causa da minha amiga, não o tinha mais.
Suspirei ao beber o resto da bebida, e ela me olhou.
— Se está entediado, vai embora. Nem sei por que estou conversando com um nerd, a que ponto cheguei... — Fora de si, ela passou a mão pelo rosto e me encarou com seus olhos verdes.
— Você é sem noção, garota. Estou aqui fazendo companhia e você me insulta. Não estou entediado, mas olho pra você e vejo uma das meninas mais bonitas daquele colégio, cheia de dinheiro, status, beleza, com pais vivos e pessoas que te idolatram. E acho uma burrice imensa ficar chorando por alguém que sempre deixou claro que nunca gostou de você. — Respirei fundo e levantei-me do degrau, sentindo o peso do seu olhar verde sobre mim.
Nunca havia falado nesse tom com ninguém em toda a minha vida, especialmente com uma mulher. Poucos minutos depois, me senti desconcertado sob o olhar de Emma. Sem rebater minhas palavras, ela voltou a beber.
Sentei-me novamente, e sua risada me surpreendeu.
— Você até que é bonitinho de perto, mas não sabe ofender ninguém. — disse ela, soltando um suspiro.
Fui insultado e elogiado em menos de cinco minutos. Com toda certeza, não sabia quem estava mais fora de si: eu, por estar ali, ou ela, por estar bêbada na rua, desabafando sobre a sua vida comigo.
— Você não é tão feia por fora quanto por dentro. — sussurrei, fazendo-a me encarar. — É assim que ofende? — perguntei, e ela negou.
Sobre cutucar onça com vara curta, eu estava fazendo exatamente isso. Mas me arrependi de imediato ao vê-la limpar uma lágrima. Enxuguei a testa suada e dei um gole na bebida que compartilhávamos.
— Tem razão, e você ainda não sabe ofender. Quer saber, estou me sentindo cansada — disse ela. — Cansada de tudo, inclusive de viver.
Cansada de viver?
Arregalei os olhos em sua direção e constatei: ela realmente estava chorando.
— Para com isso, menina. Foi apenas um sentimento sem reciprocidade e lá na frente quando estiver com seu marido e filhos, vai se lembrar disso e ver que está sendo boba. — sorri, fazendo-a enxugar suas próprias lágrimas, que, segundo Joanne, eram de crocodilo.
Após ouvir o desabafo de Emma sobre o amor em sua vida, percebi que ela parecia ser muito sozinha. Apesar de não gostar de noventa e nove por cento do jeito dela, viver sozinho não deve ser fácil.
— Vou para casa, pode ficar com a bebida — ela disse, levantando-se cambaleando e segurei seu braço rapidamente. — Me solta, não temos intimidade — respondeu, um toque de irritação na voz.
Conviver com Emma devia ser uma missão de paz para todos. Em mais ou menos uma hora e meia, precisei respirar fundo mil vezes para não xingá-la.
— A última coisa que quero com você é intimidade, menina sangue-frio — disse, irritado. — Mas tive educação e posso te dar uma carona.
Ela sorriu, falsamente.
—Não quero carona sua, Alexander. —Ela falou e cruzou os braços.
—Não está em posição de escolher, quando estar bêbada, sozinha e provavelmente longe da sua casa. —Falei, seriamente. —Não sou irresponsável assim, mesmo que não goste de você e muito menos você de mim, agora vamos até meu carro sem discussão e te deixarei em casa em completa segurança, de nada.
Ela me encarou com seus olhos de serpente e parecia não ter o que falar, para minha sorte.
S2
Sentada ao meu lado, a pessoa mais improvável do mundo estava ali, permanecendo em um voto de silêncio. Eu poderia imaginar dando carona ao presidente, mas a ela, definitivamente, não.
— O GPS está certo? Sua casa é no final da rua? — apontei para o celular e ela assentiu, confirmando que também morava em um dos bairros mais nobres da cidade. Emma com certeza vivia cercada de luxo.
— Isso pode ficar entre nós? — sua voz baixa sussurrou, me fazendo bufar. — É sério. — Ela implorou.
— Não, Emma. Amanhã isso vai passar no jornal local, e eu vou mandar uma mensagem para todos os moradores como os de furacões, avisando que te dei uma carona. — Expliquei sério, fazendo-a rir.
Ela sorriu como se realmente tivesse achado engraçado e ruborizei na hora.
— Uau, não é tão sonso assim, e minha casa é aquela branca no final da rua. Desde já, obrigada por isso. — disse ela, parecendo outra pessoa.
Percorri o restante da rua com Emma em silêncio. Mesmo sendo uma situação aleatória, estava tranquilo por ajudá-la. Minha avó me ensinou a ajudar sem olhar a quem e se eu olhasse, certamente a deixaria lá.
Antes de pararmos em frente à sua casa, uma enorme grade dourada se abriu ao Emma apertar um controle.
— Pode entrar, não tem problema. — Emma pediu, ela com certeza gostava de ser tratada como uma princesa.
Ao parar na porta principal notei que a casa parecia estar vazia, sem funcionários ou qualquer luz acesa. Mesmo com o carro parado, a loira relutou em descer, mas eventualmente, desceu, aparentemente tonta.
— Quer ajuda? — perguntei, e ela negou. — Vá devagar. — A garota tentou descer novamente e acabou caindo, me assustando.
Com pressa desci do carro e segui até ela que ainda estava sentada de bunda no chão.
— Emma, mandei você ir devagar. — sussurrei, levantando-a.
Sem pensar demais, caminhei com Emma até o andar de cima da sua casa, que era um pouco menos luxuosa do que a do Gustavo. Não havia fotos ou quadros; as paredes eram neutras e, mesmo com as luzes acesas, não havia sinal de que o lugar fosse habitado. Subimos a longa escada reta que dava de cara para um corredor claro, repleto de várias portas. Em silêncio, Emma parecia envergonhada.
A loira puxou a porta de correr bege que dava acesso ao seu quarto, decorado quase todo em tons de rosa claro, era um lugar bem delicado para alguém com o humor dela. Não que eu esperasse conhecer seu quarto, mas achei que tudo preto combinaria mais com ela.
Ajudei-a a sentar na cama e respirei fundo, aliviado. Depois, caminhei até sua mesa de centro e enchi uma caneca rosa com água ainda gelada.
— Beba isso, irá ajudar. — entreguei a água a ela, e Emma tomou um gole.
Depois de me entregar a caneca, ela ainda não me encarava, então me sentei ao seu lado.
— Obrigada de novo. E não pedi segredo por você ser um nerd classe média, sem ofensa. — revirei os olhos, já pouco me importando. — Apenas não quero que me vejam como a menina sozinha e fraca. — Ela desabafou, e eu virei seu rosto para mim.
— Você é chata, metida, arrogante, maléfica e confesso que não suporto você. Mas não acho que é fraca. Todos nós passamos por coisas que ninguém sabe, e você não deve nada a... — Antes que eu pudesse completar a frase, senti seus lábios pequenos tocarem os meus, e arregalei os olhos ao afastá-la.
Sem jeito, ela se afastou e me deixando ainda estático e tocou a própria boca. Ela só podia estar super bêbada. Fora de si, completamente fora de si. Isso jamais aconteceria em plena consciência.
— Desculpa. — Emma encarou a parede sem jeito, e começou a rir sem controle, o que me fez rir também. — Deus do céu, desculpa mesmo. — Com a mão no rosto, ela parecia uma menina normal, bem normal.
Nossa risada de misturou fazendo eco no seu quarto e bufamos ao mesmo tempo.
— Foi a bebida... Amanhã não vamos lembrar disso e serei o nerd de novo. — levantei-me, fazendo-a levantar também.
— Bebida quente, é assim. — ela sussurrou enquanto passávamos pela porta do seu quarto. — Sabe sair?
Emma me acompanhou até a porta e, sem maquiagem e com uma roupa simples, não parecia a víbora da escola. O que a bebida não faz...
— É verdade a bebida estava super quente, eu... — indaguei, passando a mão pelos meus cabelos. — Eu sei o caminho da saída, sim. — caminhei sem jeito, e Emma parou na minha frente.
A loira pausou os passos na minha frente e eu a mandei um olhar desconfiado. Seu plano era me torturar ou algo assim? Dei de ombros, esperando que ela me desse passagem para descer as escadas, mas não tive sucesso.
— Sendo a bebida ou não, mesmo que seja muito difícil eu agir assim... quero muito beijar você nerd. — Boquiaberto, não soube o que dizer. —Seus lábios são quentes e macios.
Senti sua mão tocar meu ombro exposto pela camiseta regata, e levantei as mãos, sem tocá-la.
— É apenas a bebida falando, esquece isso. Não vou te tocar, amanhã não quero ser acusado de nada. E não sou nerd, sou péssimo em matemática, aliás. — Confessei, fazendo-a se aproximar mais do meu corpo.
Ela de fato é uma pessoa bonita e charmosa, mas não é para meu bico. Essa garota é problema demais para a minha cabeça. Seus olhos verdes me encaravam com um tipo de sede, parecendo me enfeitiçar, sua mão percorreu meus abdômen e desceu por minha coxa, me fazendo respirar fundo. Emma me encostou na parece do corredor com uma certa voracidade e a encarei novamente, mergulhei em seus olhos verdes como um feitiço.
— Tudo bem, matemática é ruim. Mas e matérias como biologia, química... — Sua boca se aproximou da minha, e seu hálito de álcool me embriagava. — Não será acusado, caso eu queira. — Nossos lábios se tocaram pela segunda vez.
Com seu corpo totalmente grudado no meu, nos beijávamos de forma selvagem. Suas mãos percorriam meu corpo, e eu mordi seu lábio, com raiva de mim mesmo por deixá-la me enfeitiçar.
Emma me puxou para seu quarto e bateu a porta com violência. Não sei o que aconteceu com o whisky, mas ela parecia outra pessoa.
— O que quer de mim? — sussurrei, sentindo sua mão puxar minha blusa.
—Você, por acaso é virgem? —Ela cravou suas unhas nas minhas costas.
—Não sou, mas querer transar comigo é bem estranho. —Sorri sem graça e ela me encarou.
Ela pausou suas mãos ágeis e deu de ombros.
— Se não me quiser, é só falar. Ambos não temos ninguém, e isso é um caso de uma noite só que será esquecido pela manhã. — Suas palavras não mentiam, mas eu só poderia estar fora de mim. — E seu corpo já me deu um sinal claro de que me quer. — Ela encarou minha calça.
Respirei fundo, e ela voltou a se aproximar. Logo, a agarrei, colando seu corpo no meu, o que a fez sorrir.
Emma retirou a blusa lentamente, revelando um corpo que me fez prender a respiração. O ar parecia eletrificado entre nós, logo toquei seus seios com delicadeza, quase como se temesse quebrar alguma magia invisível, e nossos olhares se encontraram em um instante que misturava calor e desejo, e então ela me beijou, os lábios dela se moviam com uma suavidade quase hipnótica.
Ela me empurrou para a cama rosa, e a sensação do colchão sob mim me fez esquecer de tudo, exceto dela. Emma deixou uma trilha de beijos quentes e delicados pelo meu corpo logo me despindo e por longos e longos minutos ao sentir sua boca em mim, meu corpo era dominado por algo ardente como larvas de um vulcão.
— De perto assim, você não é nada mal mesmo. — A loira sussurrou no meu ouvido, e me beijou. — Na verdade, é muito bom. — Ela completou, seus olhos brilhando com um brilho atrevido, enquanto seus dedos deslizavam pelo meu peito, me fazendo sentir cada toque como uma centelha de eletricidade.
Suspirei já perdendo o controle do meu corpo, e a deitei na cama sem delicadeza e com meu corpo por cima do seu, mantinha Emma presa entre minhas pernas, logo ela sorria me provocando sensações estranhas.
— Presa assim, você é uma pessoa melhor. — sussurrei, meu tom carregado de uma intensidade que me surpreendeu. Mergulhei minha mão em seus cabelos curtos, sentindo a textura macia entre meus dedos, e a puxei para mais perto, beijando-a com voracidade.
Os lábios dela eram irresistíveis, e a cada toque da minha mão em seu corpo, ela soltava longos gemidos que ecoavam no ar entre nós. Beijei seu corpo sem deixar nenhum centímetro de fora, explorando cada curva com uma urgência com base ouvia seus gemidos. Sua pele era quente sob minhas mãos, e eu a sentia se contorcer ao sentir minha boca em sua virilha, como se cada carícia despertasse algo adormecido dentro dela.
— Líder de torcida metida e insuportável. — Mordi sua coxa, fazendo-a sorrir de maneira provocante, como se estivesse pronta para um desafio. — Com certeza isso é um erro.
— É um erro sim, mas você parece gostar de errar, Alexander.
A provocação pairava no ar, e sua mão se moveu com firmeza, puxando meus cabelos e me guiando até sua virilha.
—Sua calcinha esta deixando claro que também está adorando esse nosso erro descomunal. —Falei, voltando a beijar sua coxa.
— O erro está feito, nerd ruim de matemática. — Ela sorriu e quando mordi sua barriga, Emma soltou um gemido alto. — Erre mais um pouco e pare de me provocar com sua maldita boca, não nos lembraremos disso amanhã. — Ela se inclinou para frente, seus olhos verdes brilhando com uma mistura de malícia e desafio.
— Isso é o que você quer? — perguntei, retirando sua peça intima em um único movimento.
Ela respondeu com um sorriso travesso, e fechou os olhos.
— Quero tudo e um pouco mais, temos a noite toda... — O tom de sua voz era um sussurro, quase uma ordem, e eu sabia que não conseguiria resistir.
Onde eu estou e com quem eu estou na cama, sei que não irei esquecer.
S2
Por essa vocês não esperavam né?
A vida tem seus mistérios, são capazes de shippar?
Deixem a estrelinha e comentem se isso foi um erro mesmo♡
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top