Eu sei. ♡ Capítulo 34

Um filme de terror assustaria menos do que a sensação de interrogação que me deixava aflita. Em um ambiente estranho, estávamos eu, Alex, Alice, Gustavo, Michael e Emma. O dia tranquilo rapidamente se transformou em um drama; em plena madrugada, uma menina se declarou para meu namorado, o primeiro menino que gostei por sua vez, foi salvar a garota maluca, enquanto meus amigos nos observavam abismados. Tentava organizar os pensamentos na minha cabeça:

Alice realmente gostava do Gustavo ou isso era apenas uma invenção da Emma? O que o Michael tinha a ver com a Emma? Prendi meus cabelos e apoiei os cotovelos na mesa, buscando força para encarar aquilo sem ir embora para casa. O clima pesado persistia, e Emma derramava suas lágrimas de crocodilo, mantendo todos a seus pés. A víbora conseguia fazer com que as pessoas se sentissem culpadas, enquanto se fazia de vítima. 

Bebi o resto da minha cerveja já quente, sentindo-a queimar na garganta.

— Para de beber, Anne, e vamos embora. — Alex sussurrou. Olhei para Gustavo, agachado, conversando com a Emma, que parecia resistente a ir embora. — Ela é problemática, mas não é nosso problema. — Ele apontou com o polegar para Emma.

— Meus pais viajaram, vou ficar aqui até segunda. — Sussurrei, dando de ombros. — Meu pai ainda tem medo de me deixar sozinha... — Falei, e ele consentiu.

O medo dele vinha de uma tentativa de assalto que vivenciamos anos atrás na padaria. Eu estava sozinha e liguei para ele em pânico. Emma levantou-se abruptamente da cadeira, assustando a todos, enquanto Michael colocou a mão no coração, gesticulando com exagero.

-Vamos embora Emma, já causou problema demais. Deixo-te em casa, onde quer que você more... A vergonha está extrapolando barreiras inimagináveis. -Michael implorou visivelmente cansado e sua mania que palavras elegantes não parece ter mudado.

Michael andava em círculos impaciente, é raro o ver assim que me lembre. Ele é o ser mais calmo que já conheci em toda a vida, sua voz é baixa e serena. Anos atrás ele dizia que a vida o obrigou a ser calmo sereno e ser adepto a meditação. Agora entendo os motivos, problemas cardíacos.

— Vai embora, nerd dois, você desfez nosso acordo. O que faz aqui? — Emma encarou Michael, que gesticulou para ela se calar. — Baker não precisa ter medo dele; é apenas um ex-doente. Não tem coragem para gostar da sua namorada. — Michael passou a mão pelo rosto, arrumando os cachos molhados.

— Cala a boca, vaca. — Falei, fazendo-a me encarar. — Só não te jogo para fora daqui a pontapés porque a casa não é minha.

-Ainda... -Alex sussurrou e o repreendi com o olhar.

Nunca vou ser dona desse palacete, mal tenho dinheiro para pegar um avião até a Califórnia.

Emma estava conseguindo deixar todos literalmente constrangidos. Mexendo em meu celular, tentava distrair minha cabeça com um jogo de fazenda em que eu precisava colher os malditos milhos antes que a praga chegasse. Mas minha mente não conseguia se concentrar, e acabei não colhendo os milhos a tempo. Bloqueei a tela do celular e o guardei no bolso do meu casaco jeans.

— Que noite louca. — Michael balbuciou em minha direção, e eu dei de ombros. — Nem sei onde estou.

Michael parecia estressado, falando sozinho.

— Gus, eu e o Alex já vamos. Adorei a festa, mas nos vemos outra hora para beber algo sem novela mexicana. — Alice se levantou, mostrando o aplicativo do táxi. — Anne, quer dormir lá em casa?

Balancei a cabeça negativamente, e ela piscou para mim.

A menina cacheada veio em minha direção e me abraçou apertado. Seus cachos batiam em meu rosto, fazendo-me sorrir.

— Obrigado por vir, hoje não conseguimos conversar. Está tudo uma bagunça. — Sussurrei, e ela bufou.

— Eu não gostava dele, acredita nisso? — Alice beijou minha testa e jogou sua mochila florida nas costas. — Nunca gostei dele.

Consenti, e ela saiu sem falar mais nada.

S2

Horas se passaram após a partida de Alice e Alex. Afinal, ninguém é obrigado a escutar a balbúrdia de uma menina mimada que não sabe beber. O relógio estava prestes a marcar duas da manhã, e sentado ao meu lado, Gustavo me abraçava. Sem pregar os olhos, ele parecia pensativo; tudo o que Emma disse e supôs martelava em minha cabeça, fazendo o sono ir para bem longe.

— Está pensando em quê? — Apertei sua mão, e ele me olhou, saindo do transe. — Ei. — Chamei sua atenção.

— Você não viu? Acreditei na Emma e magoei a Alice quando não acreditei nela. Era tudo... — Ele indagou, suspirando frustrado. — Mentira, a Alice nunca gostou de mim. Fui idiota... — Encarando a parede branca, ele explicou.

Gustavo contou que, na época, eles estavam no começo da adolescência. Ele havia conhecido Alice, e os três eram amigos. Emma, por ser uma pessoa difícil, sempre tinha crises de ciúmes e conseguia criar problemas entre eles.

— Estávamos no ano anterior a começar o ensino médio e íamos passar um final de semana na casa de praia da Emma. Antes da viagem, ela me disse que Alice havia contado que gostava de mim e que ia se declarar em breve. Eu fiquei tão assustado, não queria que ela gostasse de mim. Então cancelei a viagem, e a partir dali, nunca mais nos falamos.

Assim, foi isso que fez a amizade ir para os ares em tão pouco tempo. Vindo da Emma, não me surpreendi.

-Você ficou assustado, mas, foi covarde. Acha que nós mandamos no coração? Se fosse verdade ela teria culpa? -O encarei e ele apenas deu de ombros. Sua face amoada e pálida parecia realmente triste. -Não mandamos no que sentimos ou por quem sentimos a vida não pede permissão quando o coração se intromete. -Respirei aliviada por não ser verdade, mas não transpareci.

Emma bateu palmas e me encarou.

-Você fala muito bonito. Joanne. Mas nunca superou o Michael ter de deixado não é? -Emma sorriu e levantou. -Aproveita e tenta fazer as pazes com ele, tentei o coagi para separar vocês dois, porém ele se negou. Pode ser sua salvação no futuro. E Gustavo, vou fazer o que você pediu, nunca mais volto aqui.

-Cala a boca e vai embora. -Gustavo levantou com fúria e a encarou. -Você destrói tudo por onde passa, mas não vai destruir aqui.

Gustavo estava bravo e tremulo. Segurei seu braço e o puxei com força, fazendo-o cambalear.

— Michael, faz algo. — Sussurrei, olhando para o menino de preto, que balbuciou uma desculpa.

— Emma, chega. Vamos. — Michael puxou Emma pela blusa, e ela andou ao seu lado, descalça e com a saia molhada. — Vou levá-la. — Ele sussurrou, e Gustavo consentiu.

s2

Deitada na cama, Gustavo dormia. Seu sono pesado o fazia roncar, e eu acabava de passar por uma das noites mais conturbadas e confusas dos últimos dias. Estávamos chegando quase na metade do ano, e minha intenção era que tudo estivesse calmo e tranquilo em minha vida até o início da faculdade. Sem sono, encarava o teto pálido sob a luz de uma luminária simples que funcionava por meio de palmas. Como será que Alice está? E o Michael? Por que estou preocupada com ele?

"Tentei coagi-lo para separar vocês dois, mas ele se negou. Pode ser sua salvação no futuro..."

A frase de Emma ecoava em minha cabeça. Então, o vínculo deles é por isso? Entre meus pensamentos, o dia amanheceu. Encarei minha mala ao chão e levantei-me da cama lentamente para não acordar Gustavo, procurei minha calça de moletom cinza e meu casaco, avistando por entre a cortina a neblina cobrindo todo o jardim.

— Está frio. — Falei em voz alta.

Depois de me vestir e fazer minha higiene quase matinal, deixei um post-it colado em seu braço com um recado simples, de modo que ele não surtasse ao não me ver na cama.

Fui correr um pouco, mas tarde estou de volta. Não se preocupe a noite não dormi e após ontem minha cabeça está bagunçada.

S2

Por entre as ruas molhadas e vazias, caminhava com o capuz cinza sobre a cabeça e os fones de ouvido no máximo, ouvindo Celine Dion. Recordava-me de como ir ao show dela foi o momento mais sensacional da minha adolescência. Lembro-me do meu aniversário de dezesseis anos; foi meu presente ir até Los Angeles com Alex para assistir ao show, vivemos aventuras após pegarmos o metrô errado duas vezes seguidas. Um sorriso brotou em meus lábios e, após minha corrida, sentei-me no meio-fio de uma calçada aleatória e peguei meu celular.

Está acordado?

Enviei uma mensagem para a ultima pessoa na qual imaginaria Michael, que respondeu de imediato.

Sim, depois da noite passada, o sono não chegou. Não esperava sua mensagem, nossa.

Bufo ao ler, sentia-me fazendo uma coisa muito errada. Mas precisava entender muita coisa, que ele vai ser o primeiro a me explicar já que o resto está dormindo.

Pode chegar ao lago em dez minutos? Precisamos conversar e lugares públicos essa hora é impossível.

Ok, estarei lá.

Sua resposta chegou mais rápido do que eu esperava, levantei-me e seguir andando em passos longos. Mesmo não sendo a coisa certa a fazer e mesmo não fazendo a menor diferença em saber de algo, minha mania se ouvir meu coração sempre me guiava. 

s2

— Como conheceu a Emma? — falei diretamente, após ele se sentar ao meu lado nos degraus frente ao lago. — Logo a Emma...

Encarando o lago, respirei fundo.

— Bom dia pra você também. — Michael sorriu ao se sentar. Seu casaco preto e seu short estampado se contradiziam; estava com frio ou não?

— Bom dia, e desculpa pedir isso tão cedo. — sussurrei, fazendo-o rir. — Qual a graça? — franzi o cenho e o encarei.

Michael me encarava em silêncio, seu sorriso revelando suas covinhas e me fazendo recordar do passado.

— Cheguei há alguns meses, achei a menina que gosto com outro, e uma louca com ciúmes. Sinto-me em um filme... — sua explicação me deu pena, até ele gargalhar na minha cara.

— Ainda continua rindo quando está nervoso? — rebati com frieza. — Não mudou muito, presumo.

Após minutos em silêncio, ele parecia buscar palavras e cessou sua risada.

— Vou simplificar para você, como sempre me pedia. A Emma ouviu nossa briga no café quando fui te procurar e, na mesma hora, me chamou. Disse que sabia sobre nosso passado; ou seja, ela estava procurando alguma forma de prejudicar vocês e perguntou se eu queria ajudá-la. Disse que gostava de você e que, quando ela ficasse com o mauricinho... — ele sorriu e estalou o pescoço — eu ficaria com você.

Após sua explicação sincera, vi-o encarando o lago, que começava a clarear com o sol. Seus cabelos cacheados balançavam com o vento e, por um tempo, não soube o que dizer. Acreditei em suas palavras, mas meu coração continuava inseguro.

— Ela não vale nada, mas por que não aceitou isso? E sabe sobre o que ela fez com a Alice? — interroguei-o, e ele me encarou, me deixando sem jeito.

— Ainda é tão curiosa... — ele virou-se para mim e retirou meu capuz sem motivo algum. — Todas as maldades da Emma são verdades, ela não parece temer nada e faz tudo pra ter o que quer. Minha prima nunca gostou de ninguém além do seu irmão, e agora diz gostar do Ross, mas infelizmente não acredito. — Michael passou a mão gelada em minha bochecha e, de imediato, a tirei, fazendo-o segurar a minha.

— Não, Michael. — Logo retirei a mão dele do meu rosto.— Agradeço por não dar ouvidos às armações da Emma, mas sabe que nunca vai acontecer nada entre nós, não é? Mantenha sua integridade. — falei, fazendo-o consentir.

Ele recolheu a mão, colocando-a no bolso, e pediu desculpas por seu gesto.

— Sobre a Emma dizer que nunca me superou, é verdade? — ele sorriu, mas logo tornou a ficar sério. — Melhor, não me fale nada. E eu nunca faria nada para te magoar. Dizem que o amor só é amor quando você vê a outra pessoa feliz, e isso te dá paz. — Michael suspirou e levantou-se do degrau.

— Obrigada por explicar. — falei.

— Só fique o mais longe que puder da Emma. Ela não é feliz e não quer ver ninguém feliz. Já estou indo, Jô. — o garoto deu as costas e subiu o restante dos degraus. — Se cuide.

Michael acenou e fiz o mesmo. Sua explicação acalmou meus ânimos, mas sentia que minha vida era uma bagunça. Os sentimentos de Michael por mim eram cada vez mais aparentes, e felizmente não eram mais recíprocos. Fui ingênua ao achar que Emma era apenas uma menina mimada que queria atenção; não sei até onde ela pode chegar, mas é melhor ela não se meter comigo.

S2

Acordei em um susto e o celular marcava onze e quinze da manhã. Após voltar para casa, minha cabeça aliviada conseguiu dormir mais do que esperava, Gustavo já não estava mais na cama, e isso me fez levantar de imediato. Meu celular vibrou, e a tela mostrava a foto da minha mãe.

— Alô, mãe. — bocejei, ouvindo um chiado. — Mãe, fale.

— Não acredito que está de visita e dormiu até essa hora, Joanne! — ela disse, brava, me fazendo levantar de vez. — O QUE TE ENSINEI? — gritou, me assustando.

Bufei, afastando o celular da orelha enquanto ela falava sobre minha criação.

— Mãe, ontem foi um aniversário. Bebemos até de manhã, o que houve para ter ligado? — perguntei, tentando manter a calma. 

Ela resmungou, pedindo desculpas, e contou sobre a viagem.

— Comprei um cachecol lindo pra você. Espera só eu chegar! Queria saber se estava bem, eu e seu pai vamos assistir a palestras sobre investimentos e renda, até mais tarde.

— Até... — falei, já com a ligação desligada.

Ela encerrou a chamada sem se despedir, e voltei a me deitar. Minha cabeça doía por não ter costume de beber e ao deitar novamente, vi a porta do quarto abrindo lentamente. Gustavo tentava equilibrar uma bandeja com um prato em cima e um copo.

-Em filme os homens fazem isso com tanta agilidade. Foi um inferno subir as escadas sem o suco cair. -Ele sentou e colocou a bandeja na cama.

— Isso é bem romântico, onde aprendeu? — sussurrei, tapando a boca ao sorrir.

— Aprendi nos filmes que assistia com Mary, por estar de castigo, mas sempre é café da manhã. Eu vim aqui três vezes e senti pena de acordar você. — O agarrei pelo pescoço e apertei sua bochecha o mais forte que pude, fazendo-o gritar.

Comi todo o almoço feito por Mary enquanto Gustavo cantarolava no chuveiro. Com a cabeça mais aliviada, mexia no celular, olhando as fotos aleatórias que com toda certeza iria revelar. Em um salto de coragem, levantei da cama e entrei no banheiro. Meu namorado, sem talento algum para cantar, não se envergonhava ao interpretar Bon Jovi, logo retirei meu roupão e senti meu coração acelerar.

E se for muito ousadia? Mas mulher pode e deve da o primeiro passo. Nunca tomei banho com ninguém. -Apoiei as mãos na pia e respirei fundo.

Aproximei-me do box do chuveiro e abri a porta de vidro, fazendo-o arregalar os olhos. Um sorriso tímido surgiu em meus lábios enquanto ele me envolvia debaixo da água quente, que caía sobre nós como uma cortina de seda. Suas mãos deslizavam por minhas costas, aquecendo minha pele e despertando sensações que eu mal conseguia controlar.

Gustavo me observava, seu olhar ardente transbordando desejo. Eu me sentia vulnerável, mas de uma forma deliciosa. Com um movimento lento, encostei-me à parede do chuveiro, e ele se aproximou, colando seu corpo no meu sem nenhuma timidez.

— Obrigado por gostar de mim, você é um ser humano incrível. — O sussurro de sua voz vibrava na minha pele, enquanto sua testa se colava à minha.

— De nada, me esforcei muito. Um Nobel da Paz é pouco para o que faço por você. — Ri suavemente, antes de sentir seus lábios quentes roçarem meu nariz. Uma onda de eletricidade percorreu meu corpo, e em um impulso, puxei-o para mais perto, beijando-o bruscamente.

—Sabe dos riscos de transar no chuveiro? — Gustavo sussurrou em meu ouvido.

— Gastar toda a agua da sua casa? — Respondi, sentindo as mãos dele nos meus seios, de forma intensa. — Não corte meu barato, me falando dos riscos... Apenas vamos riscar mais algum local da nossa lista.

Minha mão tocou sua coxa, até chegar no local que o animou um pouco mais.

—Seu pedido é uma ordem! —Ele sorriu, consentindo.

Gustavo me encarou com toda malicia existente em seu ser, e me pegou no colo, ainda me deixando encostada na parede.  O beijo se intensificou, e a água quente escorria sobre nós, enquanto suas mãos exploravam cada curva do meu corpo. O mundo lá fora desapareceu; restava apenas a conexão ardente entre nós, gemidos contidos e promessas sussurradas.

S2

— Você queimou toda a pipoca, Baker! Agora como vamos comer? Olha isso, toda queimada. — Revirei os olhos, procurando pipocas boas.

— Que culpa tenho eu se o cinema foi fechado por infestação de ratos? Vamos assistir em casa, no sofá, olhando a tempestade lá fora. — Ele explicou, sentando ao meu lado no sofá gigante.

O único cinema da nossa cidade foi fechado por conta de uma infestação. Depois que começamos a namorar, não fizemos esse programa clichê, mas não me importava. Gustavo gostava de filmes de reflexão e sobre assassinos, mas acabamos vendo um terror que não assusta nem crianças. Os nomes passando na tela indicavam o final do filme, e com a cabeça encostada no meu ombro, ele citava os defeitos do filme.

— Ninguém no mundo aproveita para passear no porão justo quando falta energia. Quem faz isso? Sem total sentido. — Ele resmungou quando apareceu o nome do elenco. — Aranves? Que nome é esse para uma criança?

— Falando no nome estranho dessa menina, o seu não é muito comum. Nunca vi outro, sabe o porquê de Gustavo? — Apertei os olhos e me arrependi do comentário.

— Está comparando meu nome a Aranves? A história é longa, então vou resumir: continua mexendo no meu cabelo. — Ele colocou minha mão em sua cabeça, e ganhou um tapa.

Folgado.

— Bem, tudo começou quando eu era um espermatozoide que ganhou a corrida. Odeio perder. — Minha risada o fez sorrir também; ele não tem bem juízo.

— Fala sério, conta. — Sussurrei, com os dentes cerrados, puxando seu cabelo.

— Gustavo tem origem sueca. Minha mãe tinha sangue sueco por parte do meu avô. Os pais da minha mãe se conheceram na Suécia e, por minha avó ser americana, decidiram construir a família aqui. — Ele pausou sua explicação e continuou. — O sonho do meu avô era ter um filho homem, mas só teve duas meninas. O tempo passou e, apesar de ele nunca aprovar o casamento dos meus pais, ficou feliz com minha chegada e pediu à minha mãe para eu me chamar Gustavo. Porque significa "protegido por Deus" e existiu um rei da Suécia chamado Gustavo Adolfo II, que foi considerado um dos maiores guerreiros da sua época. Então, minha mãe deixou assim; por isso pensam que não sou americano.

Uau, isso que é criatividade.

— Muito sofisticado. Queria ter um nome assim, cheio de coisa, lenda, rei e tudo por trás. — Falei com graça, fazendo-o me encarar.

— E o seu? Sei que é o nome da Lady Gaga, isso sim é um fato digno. Ela é incrível. — Por um minuto, esqueci a origem do meu nome. — Sua mãe gosta dela?

Tomei o resto do meu vinho e comi um misto quente feito por Mary.

— Simples e rápido, é o nome da avó da minha mãe, e sei que significa "cheia da graça de Deus." — Rapidamente expliquei, fazendo-o bater palmas. — Minha mãe não deve saber que a Lady Gaga tem esse nome.

Minha rapidez o fez me encarar.

— Deus aqui, Deus aí. Então ele está por aqui... Me desculpa pela noite anterior. Falei ao meu pai e ele garantiu não chamá-la mais, sinto muito por ela envolver o Michael nisso, ele não parece ser ruim.

Suas palavras sinceras me deixaram com o coração aliviado.

— Tudo bem, e ele não é uma má pessoa. Mas acho que entre você e a Emma existe algo. O que ela sabe que eu não sei? — Soltei, fazendo-o levantar do meu colo.

Após minha pergunta, Gustavo sentou em silêncio e encarou a televisão desligada. O sentimento de que existe algo se tornou ainda maior; há algo entre eles que não sei. Emma sempre que pode ameaça com o fato de que eu devo saber de algo, e Gustavo parece se tornar dominado por isso.

— Nem sempre fui uma pessoa boa, eu tive minhas falhas... Quer dizer, você sabe. E até a metade do segundo ano do colégio, eu era mesmo da bagunça. Então, coisas aconteceram e a Emma acha que, se souber, irá me deixar. É uma chantagem emocional indireta, mas bem direta. — Com as mãos no rosto, ele respirou.

— Você também acha isso? — Perguntei, fazendo-o se levantar.

— Não sei, Anne. Nunca te escondi meu passado de merda. Mas quando te vi a primeira vez no auditório, falando sobre seu irmão, de alguma forma gostei de você, da sua coragem, e você entrou no meu coração. Mas nunca me aproximei por isso, porque não ia ser fácil conquistar uma pessoa que eu já tinha decepcionado.

— Chega, está bem? Seus atos do passado não me importam. — O acalmei. — Sei quem é agora, e isso é suficiente. Só, sempre que precisar falar algo, me deixa saber por você. — Mais calmo, ele voltou a sentar-se.

— Às vezes acho que não mereço você, Santo Cristo. — Ele sorriu, ainda aflito. — Se eu perder você, já era.

— Perder nada, não fala bobagem. — Estapeei seu braço, fazendo-o sorrir.

Suas palavras me fizeram sentir culpada por deixar a Emma enfiar coisas na minha cabeça. Falar do seu passado o assombra; preciso descobrir sozinha o que Emma usa para mexer com seu psicológico.

— Mas vou precisar arriscar te perder e te contar tudo. Nesse momento, vou assumir o risco, vou tirar um peso da minha vida e rezo para que isso não a leve também. — Disse ele, pálido.

O garoto ao meu lado me encarou, deixando lágrimas escaparem. Seus olhos ficaram vermelhos rapidamente e ele pegou minha mão com voracidade.

— Ei, está me assustando. — Degluti o vinho tinto ao ficar em pé junto a ele. — Fala, Baker, não vou te deixar por algo do passado. — Sorri preocupada, pegando sua mão.

— Eu sei quem foi o responsável pelo acidente que matou seu irmão. — Gaguejando, Gustavo falou entre lágrimas, fazendo-me soltar sua mão. —Eu sempre soube, Joanne.

Minha taça de vinho foi ao chão, quebrando-se em vários pedaços.

Quebrou-me também.

                                       S2


Deixem aqui, suas opiniões ♡ Que caos!

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top