Deixar fluir ♡ Capítulo 11
Sentadas à beira do lago Pontchartrain, Alice e eu conversávamos, longe de todos e mais perto de nós mesmas. Chamei-a aqui em uma tarde tediosa para falarmos sobre assuntos de mulher e os acontecimentos recentes com Gustavo. Pensei muito a respeito e, por um momento, não quis contar a ninguém sobre o que aconteceu na padaria alguns dias atrás. Mas sempre desejei ter uma amiga em quem pudesse confiar para dividir meus caos e casos. Finalmente, tenho essa amiga, e confio plenamente nela.
Joguei uma pequena pedra no lago com o máximo de força que meus braços permitiam. Alice permanecia em silêncio, provavelmente processando tudo o que eu havia contado sobre aquela manhã e o que aconteceu uns dias atrás na padaria.
— Amiga, como foi o trabalho hoje? — Alice perguntou, fazendo-me pensar por um segundo que ela mencionaria o Gustavo.
— Foi normal, muitas receitas, e fiz um bolo de aniversário enorme, olha — mostrei a ela a foto da obra de arte que havia tirado com meu celular.
Levei um dia inteiro para fazer o bolo, todo branco, com borboletas douradas e um jardim de elfos no topo.
— Que lindo! — ela gritou, fazendo ecoar, e olhares se voltaram para nós de imediato. — Você deve ser ruim em algo, não é possível — completou, amarrando seus cabelos cacheados em um rabo de cavalo.
— Pessoas, não sou boa com pessoas — suspirei, fazendo-a me encarar seriamente. — O que foi?
— Agora escuta, vou falar sobre aquele cara!— virou-se para meu lado e pegou o celular da minha mão. — Sua atenção é minha, larga isso. — ela falou, arqueando uma sobrancelha e colocando meu celular no bolso.
Bufei, revirando os olhos.
— Está bem, manda ver, Moore — ela parecia empolgada com nossa conversa.
Alice me encarou por alguns segundos e logo consentiu.
— Fiquei feliz por você ter me chamado pra uma conversa de garotas, mesmo a gente se conhecendo há alguns meses apenas. O que percebo desde o ensino médio e diante de tudo que seu irmão me contava... — minha garganta seca, mas ela continua. — Você é uma das pessoas mais incríveis do mundo. Seu irmão te colocava num altar e agora sei por quê. Você é uma pessoa doce e gentil, seu coração é do tamanho desse lago aqui e com a mesma profundidade.
Neguei, tímida.
— Vai me fazer chorar, Moore — sussurrei, mas ela continuou.
— Sempre achei que você fosse chata. E, às vezes, é mesmo, mas dane-se, você é incrível. — sua risada foi inevitável, o que me fez rir também. — Mas também sei de tudo que você passou, sei da sua timidez e da forma como você tem dificuldade em multidões, mesmo se destacando nelas.
— Nossa, nem sei o que... — ela me interrompe, apontando o dedo indicador na minha direção.
Tagarela, ela gesticula ao me explicar tudo que achava sobre mim. Acho que ninguém nunca foi tão sincera sobre a minha personalidade.
— Vejo em você tudo pra ser feliz, onde e com quem quiser. Você tem pais ótimos, tinha um irmão incrível, um amigo de ouro, e tem a mim, que sou fantástica — ela falou com graça, fazendo-me sorrir. — Joanne, eu sou a pessoa que nunca vai deixar você se arriscar em algo sabendo do perigo. Acho que o que posso te dizer é que conheço o Gustavo desde criança, e quero que ele te conte a história dele, não eu. Só quero que saiba, ele foi um idiota na escola e, nossa, eu sentia ódio quando ele fingia não me conhecer.
Senti meu coração acelerar com suas declarações. Ela realmente parecia magoada com o que Gustavo havia feito no passado, mesmo sem nunca tocar completamente no assunto. Sem a interromper, permaneci em silêncio, observando suas expressões, seu modo de falar, e guardando seus conselhos.
— Eu não estou defendendo ele, longe de mim. Só vejo que ele está se esforçando pra resgatar o antigo Gustavo, e sei que você tem motivos pra não acreditar; eu também tenho. Depois de tudo que já aconteceu, se você está contando os detalhes corretos, ele está mudado. Não sei como ele chegou até você, talvez só ele tenha a resposta. Falando por mim, e acho que você não sabe... — Alice pausou suas palavras e apertou os dedos de modo ansioso.
— Tudo bem, Moore, não fale o que não quiser — sussurrei, passando a mão em seu ombro nu.
Alice suspirou, buscando palavras, e um breve sorriso escapou de seus lábios pálidos.
— Lutei contra todos os meus sentimentos para não gostar seu irmão. Nós nos apaixonamos de uma forma inesperada, e eu não queria. Ele era certinho, fofo, e conquistava todos à sua volta. Mas por mais que eu lutasse contra, o amei. E hoje me arrependo de não tê-lo amado antes, me arrependo de ter pedido para esconder o namoro por causa do meu pai, e todos os dias sofro por não tê-lo aqui — ela suspirou, aliviada, e ao ver minha expressão triste, apertou minha mão. — Se quer um conselho, fugir dos sentimentos é burrice, seja amizade ou algo mais.
Suas palavras tocaram meu coração, transmitindo a dor de uma perda precoce.
— Alice, obrigada por estar aqui me ajudando com assuntos tão pessoais. Na verdade, tenho medo de modificar quem eu sou por alguém que pode me magoar. E se eu for apenas mais uma pessoa que ele quer ter aos pés? E se ele não quiser apenas amizade e eu acabar sendo feita de boba? — Respirei fundo, tentando me acalmar diante de um possível choro que se aproximava.
Suspirei, em pensamentos conflitantes.
— Eu e o Alex vamos quebrar todos os ossos dele, tenha certeza. E no fundo, ele sabe que você não é uma menina indefesa. Não posso te dizer que ele é perfeito, porque ninguém é, mas você é linda, simpática e honesta; não é estranho alguém gostar de você. Acho que você precisa se permitir viver novas histórias, mesmo que elas possam te deixar marcas. Uma história sem marcas não foi vivida. Se quiser, posso conversar com o Alex, e ele vai te apoiar. — Ela passou as mãos no meu rosto, apertando minhas bochechas.
— Obrigada de novo. Vou pensar mais ou simplesmente deixar fluir, como esse lago. Estou me sentindo estranha... — Fechei os olhos, sentindo a brisa fresca bater em meu rosto.
— O destino não vê quem, ele apenas une. E se quer saber de algo, o Gustavo detesta café desde criança, ele falava que enjoava só de sentir o cheiro em padarias. Será que isso te mostra algo? — Ela explicou calmamente, devolvendo meu celular, e minha única reação foi encará-la. — Você é inteligente e vai saber das intenções dele.
Sim, ele já tinha me falado que não gostava de café porém não me toquei antes, agora entendo as caretas que ele fez ao tomar o primeiro gole.
Ficamos sentadas olhando aquela obra feita por Deus quase que a tarde toda, conversamos sobre nossa vida e sinto que a conhecia um pouco mais a cada dia. Meu irmão sempre que estava sentado aqui comigo dizia que era nosso ponto de paz. Sinto que isso é real, aqui todos os meus pensamentos ficam claros.
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Alice me chamou para caminharmos até o Bell's para comer algo e eu chamei o Alex para nos encontrar em vinte minutos. Enquanto andávamos pelas nossas ruas longas, vi um casal brincando com um cachorro, ambos jogavam uma bolinha, e o animal corria o mais rápido que podia, tentando orgulhar seus donos. Ao encarar aqui eu sorri, e Alice me olhou sem entender.
— Joanne, estamos a três minutos do Bell's, e quem chegar lá primeiro paga quatro donuts. Está preparada? — Alice me desafiava para uma corrida por comida. Consenti e corremos o mais rápido que conseguimos.
Ela estava um passo à frente, e eu sentia o vento gelado contrair meus brônquios, mas não podia desistir dos donuts maravilhosos. Quando estávamos a um passo do destino, sinto-me bater em alguém e perco a corrida. Ninguém chega a cair, mas a torta da pessoa cai no chão com a cobertura para baixo.
— DROGA, PERDI! — Gritei, lamentando.
Pisei forte no chão após ver Alice correr.
— Olha por onde anda, garota, perdi a torta. — Falou um rapaz alto, grosseiramente. Ele pegou a torta do chão e, em seguida, me olhou assustado. — Ah, oi Joanne, desculpa por isso, não quis ser grosso.
Era Joseph, amigo do Gustavo. Talvez, quando ele não pode me seguir, manda seus capangas. Ele pegou a embalagem do chão e, em seguida, limpou as mãos na calça. Observei e concluí que o critério mínimo para jogar basquete é a beleza.
— Desculpa pela sua torta, te pago outra. — Sussurrei e Alice me encarou, gargalhando de longe, onde me esperava para entrar no estabelecimento.
Ele gesticulou negativamente, balançando as mãos em minha direção.
— Não precisa pagar está tudo bem, e ele tem razão, você é linda mesmo. — Ele soltou um comentário, me encarando fixamente e fazendo-me corar.
Ele acabou de me elogiar descaradamente? De uma hora para outra comecei a ser vista por todo o time de basquete da escola?
— Não entendi. — Falei seriamente, e ele sorriu.
— Não foi nada, até mais. — Joseph atirou a embalagem em uma lixeira ao meu lado e saiu em direção ao seu carro.
Ele é um dos poucos amigos do Baker que possivelmente valem alguma coisa. Dizem que são amigos desde o jardim de infância e não se separaram por nada. Josh é um garoto muito bonito, um dos melhores do basquete na época do colégio.
— Até. — Suspirei, observando-o.
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Entrei no Bell's acompanhada de Alice e não estava tão cheio quanto pensávamos. Nos sentamos em uma mesa ao fundo do ambiente, uma de frente para a outra. Vejo o rapaz do caixa sendo cobiçado por algumas meninas sem sal mais uma vez.
Uma das meninas se chama Emma e a outra, Fallon, ambas terminaram o colégio no mesmo ano que eu, mas nunca tive contato direto com nenhuma, graças aos céus.
Lembro-me dos bailes de primavera, quando elas agarravam os meninos mais populares para aparecer. Ao olhar para a cena, Henry sorri de longe e leio seus lábios dizendo Socorro. Eu também queria ser salvo se estivesse sendo atacado por duas galinhas.
— Joanne, você está flertando com o bonitinho do caixa? — Alice apertou meu queixo, virando meu rosto em sua direção.
— Talvez, estava observando a agonia dele, sendo atacado por aquelas duas. — Alice se virou, nada discreta, e observou a cena das duas apoiadas no balcão, fazendo pessoas esperarem na fila. — Que vergonha alheia.
Alice encarou as garotas e fez uma careta, fingindo nojo.
— Ele é lindinho mesmo — sussurrou Alice ao observá-lo.
Observávamos a timidez de Henry ao tentar atendê-las, seu sorriso sem graça tentava colocá-las para fora.
— Morro solteira e não faço isso — sussurrei, ainda observando a cena. Henry saiu do caixa, dando espaço para um senhor atendê-las. — Acho que morrerei solteira mesmo.
Suspirei, com a mão no queixo.
— Sei, se depender do Gustavo e do Henry... não fica solteira por muito tempo — disse ela, brincando ao enrolar um de seus cachos longos e arqueei as sobrancelhas, fazendo-a rir.
— Oi, meninas, boa tarde. O que vão querer? — Henry se aproximou e colocou o cardápio sobre a mesa amarela.
Alice me encarou, como quem queria fazer alguma gracinha ao vê-lo.
— Boa tarde, estamos esperando outra pessoa, mas pode nos trazer quatro donuts variados e dois com as letras G e H? — pediu Alice, fazendo com que eu a encarasse sem entender o motivo dessas letras.
Henry concordou e foi buscar o nosso pedido.
Ficamos conversando por alguns minutos sobre a faculdade e percebo que iremos estudar no mesmo estado, o que me deixa um pouco mais animada do que antes. Alice me contou que abriu um restaurante de comida chinesa do outro lado da avenida e que deveríamos visitá-lo e comprar uns biscoitos da sorte.
Ouço o sino da porta soar e o Alex entra lentamente, com os cabelos molhados e um moletom preto que eu o presenteei em seu aniversário no ano passado. Por onde ele passa, atrai olhares e nunca sabe como reagir a eles de forma normal. Ele se aproximou da nossa mesa e passou a mão lentamente sobre nossas cabeças.
— Oi, gatas, desculpem a demora. Passei em casa pra tomar banho. Como foi no lago? — perguntou Alex, tentando recuperar o fôlego de uma corrida até aqui.
Seu perfume adentrava minhas narinas e ele se orgulhava disso.
— Oi, neném, respira. Foi ótimo, conversamos muito. — digo, enxugando o suor de sua testa com a manga do meu moletom.
— Oi, Alex, como vai? — pergunta Alice, fazendo-o sorrir.
— Estou bem, só muito cansado. Alguém já pediu comida? — diz Alex, levantando a mão para chamar Henry, que já vem trazendo os donuts.
O garçom simpático coloca a bandeja ao meu lado e sorri de canto, sinto-me ser observada por Alice em minha frente.
— Aqui estão os donuts. Querem mais algo? — diz Henry, com seu bloco de notas e sua caneta em forma de casquinha de sorvete.
Alex se animou, levantando a mão.
— Quero um muffin, um burrito e um refrigerantes, por favor. — Henry anota tudo rapidamente e segue em direção ao balcão. — Não me olhem assim, estou com fome. Quero a letra H... — Alex pega um donut e abocanha sem cerimônia.
Ele mastigava feliz, eu o encarava e Alice prendia o riso.
— Vai comer o Henry? — diz Alice, fazendo-me engasgar.
Alex arregala os olhos e põe a letra de volta na bandeja, fazendo Alice cair na risada.
—Como assim? —Perguntei, pasma.
—Não vou comer ninguém não, credo. —Alex fez uma careta. —Quem é Henry e porque eu comeria ele?
Eu ainda pasma, ouvia tudo.
— H de Henry, é o garçom que paquera a Joanne e G de Gustavo, que a Joanne paquera. —Alice explicou, e ele respirou aliviado.
Neguei, varias vezes.
—Qual é Alice, não instaura o caos! —Pedi, fingindo um choro.
— Não sei o que é mais sinistro, Alice. — Alex fala com desdém, comendo outra rosquinha com cobertura de caramelo.
Encarei meu amigo, boquiaberta.
— Nossa, sou tão mal assim? — pergunto, fingindo estar ofendida por sua reação anterior, enquanto amarro meu cabelo em um coque.
— Não, Anne, você é incrivelmente bonita e quem não gostaria de te ter? Só falei assim porque o Henry é casado e o Gustavo... bom, é o Gustavo. — Alice e eu nos olhamos, sem entender nada, e ele oferece um pedaço de donut para ela.
— CASADO? — Alice e eu perguntamos em uníssono.
Canalha.
— É casado, conheço a esposa dele. — Alex sorri, me deixando com vergonha. — Ela é linda, muito bonita mesmo.
Sou tão azarada que quando finalmente tenho coragem de paquerar alguém, e ser paquerada a pessoa é casada.
— Obrigada por me avisar. — Bufei, colocando metade do donut na boca. — E entendemos que ela é bonita. — Cruzei os braços e ele sorriu, sem se importar.
— E eu apoio sua felicidade, Anne. O Gustavo só precisa ganhar minha confiança. E saber que vai morrer se te magoar, se ele entender isso, que mal tem... — Alex pausou a explicação e respirou fundo. — Se quiser ter algo com ele, ninguém vai ficar contra. — Ele me belisca, depois alisa o dorso da minha mão e a beija. — Sério, acredite em mim, sou sincero.
Alice estava satisfeita com aquela conversa, ela sorria em nossa direção e piscava seus olhos redondos lentamente.
— Não tenho nada com ele e não terei. — Concluí o assunto, fazendo Alice me olhar confusa, mas ela não perguntou nada. — São meus amigos ou não?
Alice sorri e se entrega ao ter armado essa cena, ela realmente quer ser meu cupido e, quem sabe, eu possa ser o dela também. Já percebi algumas coisas, porém não posso ser intrometida, até porque sempre a procurei para conselhos e ela nunca me procurou. Sinto que ela ainda não esqueceu meu irmão completamente.
Henry trouxe nossas comidas, e comemos lentamente conversando sobre os mais diversos assuntos. Eu acabei contando ao Alex sobre a festa da fábrica que eu e meus pais vamos e ele ficou animado por mim, como sempre me mandou ter cuidado e observar bem as intenções do Gustavo.
— Joanne, nós vamos com você escolher o vestido chique pra festa da fábrica? — Alice perguntou animada, encarando o lado de fora do Bell's pelo vidro.
— Vocês vão sim. A festa é domingo. Podemos ir amanhã com meus pais, o convite é puro luxo, minha mãe disse que não podemos fazer feio na mansão do café. — Expliquei, preocupada internamente.
Alice consentiu, me dando razão.
— É uma casa enorme, tipo, gigante. A fábrica fica no fim da cidade e é tão grande que tem um mapa na entrada. Império Baker, dinheiro a perder de vista. — Explicou Alice, parecendo conhecer muito bem a família. — As plantações estão espalhadas por toda a América do Sul e há cinco fábricas aqui em nosso país.
Eu e o Alex escutávamos atentamente Alice explicar um pouco sobre o Império Baker. Para mim, era tudo novidade, por nunca ter tido interesse em me aproximar. Mas, como as coisas estão acontecendo, não faz mal saber um pouco.
— Dinheiro não falta. Afinal, o café da América do Sul dizem ser o melhor. Mesmo não conhecendo o Gustavo muito bem, ele não parece esbanjar toda essa fortuna, a não ser com carros. Pelo menos ele não é um idiota completo... — Alex comentou, ganhando uma tapa na testa dada por mim. — Ai, doeu. — Ele resmungou.
Por que o bati?
— Ele e o pai não são metidos ou arrogantes. — Expliquei. — Eles passaram o Natal na minha casa e o Alex estava também, o pai é muito simples, nos tratou de igual para igual. — Completei o comentário de Alex, e Alice concordou.
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Saímos do Bell's, pois a noite se aproximava e Alice nos avisou que tinha horário para voltar para casa quando o pai dela está, o que não me surpreende desde que o conheci no ano novo. Obviamente, não vou comentar sobre isso, mas ele parece ser uma pessoa bem amarga ou fechada.
Sendo assim, caminhamos por entre as ruas sem mais corridas. Entre nossa caminhada, paramos em frente a uma casa de adoção de animais. O ambiente era todo aberto, com uma cerca colorida ao redor e muitos brinquedos espalhados pela grama.
Eu amo animais, existem muitos cachorrinhos fofos para adoção e nada seria melhor do que dar um lar a eles. Se eu pudesse, levaria todos. Entretanto, minha mãe não gosta de animais, o que me faz ser restrita a isso enquanto morar com ela.
Aproximo-me da cerca e acaricio um cachorrinho que fica em pé na minha frente.
–Oi amiguinho, você é fofo. – Passo a mão pelo seu pelo branco e macio.
O Alex brinca um pouco com uns filhotes pendurados na cerca, e Alice não toca muito por ter medo de ser brutalmente atacada por excesso de maciez. Logo após isso, seguimos de volta para nossas casas, que não são muito distantes dali.
Meu celular vibra me avisando de uma mensagem nova, e eu o pego de imediato.
Filha, sai com seu pai para comemorarmos vinte anos juntos. Nos veremos amanhã cedo, e à tarde vamos comprar os vestidos. Se cuide e não volte para casa tarde. Beijos, mamãe.
Minha mãe comemora todos os anos o aniversário de casamento e o de namoro. É simplesmente fantástico a forma como eles nunca se esquecem um do outro.
Felicidades para vocês, estava esquecida da data. Que dure toda a vida, amo vocês. Não se preocupem.
Enviei a mensagem com um sorriso no rosto.
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Após nos despedirmos, entrei em casa e cada um deles seguiu para sua casa. Essa noite, depois de um tempo, vou ficar sozinha, curtindo meu próprio eu. Vou para o meu quarto em busca de um banho relaxante, e a casa está em completo escuro — se eu tivesse medo do escuro, estaria em apuros, porque meus pais deixam tudo na penumbra para economizar energia.
Enquanto a banheira enche de água, me observo no espelho, amarro meu cabelo em um coque bem firme e passo a mão pelo meu ombro, seguindo a forma bem aparente da minha clavícula, eu gosto desses ossinhos aparecendo, acho sexy. Não consigo segurar minha risada, que ecoa dentro do banheiro.
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Encarando a rua úmida e vazia, mesmo sendo muito cedo, coloco uma música para tocar e sigo caminhando lentamente. Entre os passos, avisto a quadra de basquete vazia com uma bola no chão, me aproximo procurando o dono da bola e ninguém está por perto, logo a pego.
Arremesso a bola na cesta, mas ela não entra. Mesmo gostando de um esporte, posso ser claramente péssima nele.
— Como posso amar basquete e ser tão ruim assim? — Falei sozinha.
Repito o mesmo arremesso mais de cinco vezes e erro todas. O tempo passa e minhas tentativas se tornam cada vez mais frustrantes. E é isso que me faz esquecer muita coisa, apenas rio da minha própria desgraça.
— Clark, você é de longe uma das piores pessoas no basquete que conheço. É péssima. — Uma voz grave me assusta, fazendo-me dar um passo para trás.
Gustavo me observava de longe, encostado na grade, vestindo uma camisa regata dos Lakers e um short branco, o que me faz recordar dos tempos da escola.
— O que está fazendo aqui a essa hora? Camisa linda. — Apontei e Gustavo se aproximou de mim com passos longos, jogando sua mochila no chão.
Ele concordou, tocando na camisa.
— Primeiro elogio recebido com sucesso, obrigado. — Ele sorriu. — E é meu time do coração, desde a infância. — Declarou, colocando a mão apoiada sobre o coração, fazendo-me soltar uma risada. — Eu sempre jogo aqui, Clark. A quadra perto da minha casa não tem pessoas com as quais simpatizo. E o que você faz aqui sozinha? Isso pode ser perigoso!— Disse ele, se aproximando e esticando as mãos em busca da bola.
— Também torço para eles, são muito bons. Sempre gosto de vir aqui para pensar sozinha. — Joguei a bola em sua direção, fazendo-o pegá-la com agilidade e arremessar na cesta de modo certeiro. — Você é bom nisso.
Fazendo jus a ser o capitão do time de basquete por anos seguidos, ele faz cestas consecutivas. Gustavo se posicionou atrás de mim e colando seu corpo no meu segurou meus braços me mostrando o ângulo correto da bola.
Arremessei, acertando.
— Acertei, pela primeira vez. — Virei-me feliz, encarando seu rosto de perto.
Ele ficou sem jeito, e nos afastamos de imediato como se ambos estivessem se assustado com a proximidade dos corpos repentino.
— Sou bom mesmo, anos fazendo isso. Estou atrapalhando seu momento solitário? Já foi a um jogo deles? — Sussurrou, fazendo a bola quicar sem parar, querendo mostrar seus dotes, obviamente.
Como ele consegue misturar tantos assuntos de uma vez?
— Não está, e nunca fui. Parece que você está sempre me seguindo, é meu stalker? — Tomei a bola de suas mãos e arremessei na cesta, errando mais uma vez. — Talvez seja um dos meus sonhos ir vê-los jogar. — Arremessei novamente, errando.
Gustavo deu uma gargalhada ao ver a bola indo na direção oposta à cesta, enxugando o suor com um pedaço da camisa. Tentei disfarçar, mas olhei em direção à sua barriga. Não é definida, mas é chapada.
— Eu já te vi me vendo jogar em quase todas as finais. Mas nunca... — Ele jogou a bola e acertou mais uma cesta.
— Mas nunca falou comigo... — Sentei em uma mini arquibancada dentro da própria quadra, já cansada. Ele sentou ao meu lado e, antes que pudesse falar algo, eu continuei. — Podemos deixar o passado no passado? — Ele consentiu e jogou a bola para longe.
Ficamos sentados a sós, numa sexta-feira à noite, em uma quadra de basquete vazia. Nenhuma palavra foi dita por muitos minutos. O vento frio adentrava meu moletom, fazendo meu corpo todo gelar, e não havia o que dizer ali, talvez ele também não tivesse muito o que falar.
Ele se mexeu no banco e senti sua mão quente e grande tocar a minha. Não a retirei.
— Você vai para o aniversário da fábrica? Segunda é feriado, então você não vai se atrapalhar para acordar. — Ele deu de ombros e encarou as folhas secas no chão.
Essa data parece ser muito importante para ele.
— Vou, meus pais também. Obrigada pelo convite. Seus amigos irão? — Ele voltou o olhar para mim e um doce sorriso saiu de seus lábios úmidos. — Topei com seu amigo Josh hoje à tarde.
— Eles irão viajar com as famílias, procurar a neve por aí. O Josh é legal. — Explicou sem preocupação. — Acho que essa roupa não foi uma boa ideia. Aqui parece ser mais frio do que perto da minha casa. Só suei correndo ali...— Gustavo colocou os braços dentro da camisa e sorriu sem mostrar os dentes.
O encarei, mesmo sem querer.
— Aqui tem muita árvore e vento, você está de regata. — Toquei em seu ombro e estava muito gelado. Levantei-me e pulei da arquibancada para baixo, e ele acompanhou meus passos sem entender nada. — Quer procurar algo quente para tomar, por ai?
Perguntei, falando baixo.
— Está me convidando para sair? — Ele passou a mão entre os cabelos, preocupado. — Você está bem? Não trouxe dinheiro!
Cruzei os braços e bufei.
— Não estamos no século vinte, onde os homens pagam tudo. A gente acha algo barato, nada chique pois quem é rico é você! — Cocei meu queixo e o encarei. — Por incrível que pareça, estou bem. Não quer ir?
Acho que acabei de convidar Gustavo Baker para tomar algo. O frio na barriga me adentra e sigo andando, ele correu ao meu lado e sorriu.
Saímos da quadra, ele pegou sua mochila que estava jogada no chão, e colocou o celular dentro. Andávamos entre as ruas calmas e escuras, conversando sobre os Lakers e os jogos ganhos na NBA. Talvez eu precise mesmo deixar as coisas acontecerem e fluírem, ter o controle de tudo nos faz reféns de nós mesmos.
《♡》
Pessoas lindas, os capítulos estão sendo mais focados no casal que adoramos.
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