Click ♡ Capitulo 56
Atenção, leitores: Este capítulo aborda momentos intensos e inclui cenas de violência física e psicológica que podem ser impactantes. A leitura envolve situações tensas e descrições detalhadas que buscam transmitir a profundidade do drama. Recomendamos cautela para leitores sensíveis a esse tipo de conteúdo, a mídia é explicativa.
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Augustos usava tudo que podia para nos torturar psicologicamente e fisicamente. Mantinha Gustavo constantemente em sua frente, me ameaçando, o que deixava o garoto completamente fora de controle. O ruivo parecia não ter pressa para nada conosco, mas, a cada segundo que passava, minha mente ficava mais apreensiva. A única coisa que sabia era que ainda estávamos na mesma noite, mas não tinha ideia de que horas eram. Homens entravam e saíam do galpão o tempo todo, provavelmente trazendo informações.
Gustavo estava em silêncio, ele e o ruivo se encaravam. Em pé, eu podia ver tudo, sentir tudo — e fazer absolutamente nada. Jessie estava ao meu lado, garantindo que eu não tentasse qualquer movimento e de fato, não havia nada que eu pudesse fazer.
— Mandei você parar de bancar o herói. Por que não fez isso? — o ruivo sussurrou, encarando Gustavo. — Você era meu amigo. Tivemos bons momentos juntos, bebemos e pegamos muitas meninas. Sabia disso, querida? — Augustos me olhou, querendo me provocar.
— Cala a boca, imbecil. — sussurrei, embora ele não tenha me ouvido.
O ruivo parecia sofrer de uma profunda instabilidade emocional; ao mesmo tempo em que exalava ódio por nós, lamentava pela amizade perdida com Gustavo. Eu sabia disso — passei anos estudando no mesmo ambiente que eles, observando o grupo inseparável que formavam. Quando se afastaram, o grupo inteiro se desfez, restando apenas o time de basquete, que o treinador insistia em manter unido apesar das brigas adolescentes. Em poucos minutos, Augustos parecia reviver aqueles momentos que viveram juntos, enquanto Gustavo o escutava sem qualquer emoção.
Vê-lo machucado era como sentir uma lâmina afiada cortando minha pele aos poucos. A dor era silenciosa, mas dilacerante, e me consumia lentamente.
— Tínhamos uma boa amizade e realmente você era uma pessoa que eu gostava de ter por perto, me fazia rir e era de longe uma das pessoas mais legais daquela escola, mas ai você se tornou isso ai. —Gustavo apontou ele o ruivo. — E ninguém tem o direito de tirar a vida de alguém por pura irresponsabilidade, você foi ruim, covarde e se tornou um monstro que sequestra, bate, e fere pessoas. — Gustavo suspirou, forçando um sorriso que logo virou uma careta ao sentir o lábio ferido. — A raiva que sinto de você, não há palavras para descrever.
Gustavo tentava se controlar, mas eu sabia que ele era impulsivo demais para segurar tudo o que sentia. Meus olhos o imploravam por calma, e, de alguma forma, ele conseguia ler o que eu queria dizer. Nossos olhares se encontraram, e naquele instante nos comunicávamos sem precisar de uma única palavra.
Por favor, fique calmo, respire. Estou aqui com você e nunca deixarei você passar por isso sozinho...
— Tudo isso é por causa dessa menina aí? — O ruivo apontou para mim, fazendo meu coração disparar. — Deveria ter acabado com ela de uma vez só, quem sabe você volte ao seu juízo. — Ele enxugou o suor do rosto com o braço, o olhar ainda mais sombrio.
Ele sentia raiva de mim, em sua cabeça tudo isso Gustavo estava fazendo por mim e pela lógica, a culpa disso tudo era minha e do nosso namoro. –Encarei Jessie, ela foi até a porta e consentiu positivamente para mim com a cabeça.
Arqueei as sobrancelhas, sem entender e ela saiu do local.
— Quantas vezes vou ter que repetir que no começo nunca foi por ela? — Gustavo disparou, a voz carregada de indignação. — Eu a conheci por acaso. Tudo isso foi por ele... porque você matou um menino incrível. Ele ajudava a todos sem olhar a quem, cuidava do pai, tinha sonhos, uma namorada, amigos e uma família. — Gustavo se desvencilhou de Augustos com uma determinação que beirava o desespero.
Eles agora estavam afastados, mas eu podia ver Gustavo entrando em algum tipo de surto, andando para trás enquanto se aproximava de mim, sem qualquer medo no olhar. Eu queria alcançá-lo, estender minha mão para ele, mas ele ainda estava longe. Estávamos encurralados, presos em um beco sem saída.
–Você o matou quando o deixou sangrando em um asfalto gelado, em uma estrada vazia. De uma vez só você matou uma família e acha que não errou? Isso é de um egoísmo... –Gustavo gesticulava, estava nervoso e com raiva. –UMA LIGAÇÃO, PARA UMA AMBULANCIA. ERA UMA LIGAÇÃO.
Era isso mesmo, Augustos estava ficando sem saber o que fazer.
As palavras de Gustavo me faziam rir e chorar ao mesmo tempo. Talvez fosse um choro de puro nervosismo e medo, mas também de orgulho – orgulho por ter meu primeiro amor como uma pessoa tão leal e incrível. Sempre temi ser vulnerável a alguém, abrir meu coração e confiar. Mas hoje, ao ver quem ele realmente é, percebo que foi a melhor escolha que eu poderia ter feito.
-Me desculpa Baker, mas não posso deixar você acabar com a minha vida. –Gustavo deu passos lentos para trás e tudo passou em câmera lenta. –Falei que vocês dois não sairiam bem dessa, e nunca foi minha intensão manter você vivo, com ela ou sem ela aqui... –Augustos apontou a sua arma preta para Gustavo.
Meu corpo entrou em êxtase, tremendo sem controle, enquanto minha visão ficava turva. Podia sentir meu tórax se contraindo e expandindo com força, o coração disparado, e o som da respiração de Gustavo ao meu lado era claro e alto, pulsando como se fosse o último. Mas, no fundo, eu sabia – esse não era nosso fim. Esse não seria o fim dele.
De repente, um estrondo ecoou no ambiente, fazendo-nos estremecer. A porta de ferro foi arrombada a chutes, e uma tropa de homens de preto, encapuzados e armados até os dentes, invadiu com uma marcha firme e ameaçadora. O barulho das botas no chão ressoava como o início de algo – ou a salvação, ou o fim de tudo. Gustavo me olhou, seus olhos intensos, e Augustos, paralisado, mal conseguia respirar.
-FBI, MÃOS PARA O ALTO. –Muitos homens armados e completamente fardados invadiram tudo e começaram a render os capangas de Augustos.
— O que você fez, Baker...? — Augustos mexeu o pescoço, engolindo em seco, os olhos fixos em Gustavo com uma raiva contida, mas visível.
Os capangas se atiraram ao chão, e as armas deslizaram até perto dos policiais. Jessie, de volta ao meu lado, levantou as mãos, soltando seu revólver prateado no chão com um som metálico que ecoou no ar. Eu podia sentir Augustos prendendo a respiração, seus olhos arregalados para a cena, enquanto Jessie o olhava com uma calma fria que não escondia a decisão já tomada. Minha intuição dizia que eles estavam conectados de alguma forma, e que aquele gesto — da arma caindo no chão — era o fim para ela. Ela havia desistido dele.
— Baker... — sussurrei, a voz falhando com o peso da revelação.
Gustavo ao meu lado, não dizia uma palavra, mas seu sorriso de canto foi o suficiente para eu entender que de alguma forma ficaria tudo bem, mas ainda assim, não estávamos a salvo. Augustos com um sorriso sádico, mirou novamente sua arma para Gustavo. Ele não demonstrava medo, nem um pingo de remorso.
— AUGUSTOS MILLES, ESTAMOS COM TODAS AS ARMAS APONTADAS PARA VOCÊ! — um homem da linha de frente gritou, sua voz carregada de autoridade. Mas Augustos não se intimidou. Não parecia nem um pouco surpreso. — PONHA SUA ARMA NO CHÃO! PELAS LEIS QUE REGEM O ESTADO DE LUISIANA, VOCÊ ESTÁ PRESO COMO O PRINCIPAL CULPADO DA MORTE DE ANDREW CLARK! — O grito soou como uma sentença, mas o ruivo apenas sorriu, sem mover um músculo.
As bolinhas vermelhas das miras estavam espalhadas por todo seu corpo, cobrindo-o como um manto ameaçador e ainda assim, ele não parecia sentir medo. Com um movimento sutil, Augustos olhou para as miras, depois para os policiais, franziu a testa e, com um sorriso, continuou apontando a arma para Gustavo.
-Vocês não podem provar, e antes de qualquer uma das suas bala chegarem a mim, a minha chega a cabeça do filho do Nicholas Baker pensem bem, ele é filho único, tudo isso é culpa dele e como meu tempo é curto só posso usar uma bala. –Augustos sorriu de canto de boca e o click de sua arma ecoou em minha mente novamente. –Eu recomendaria a vocês desligarem essas miras e colocarem as suas armas no chão.
Não, não, não. Esse não tinha como ser nosso fim.
A tensão no ar era quase palpável, uma corda esticada até o ponto de arrebentar. O policial, com a voz grave e cheia de urgência, deu um passo à frente, tentando manter o controle da situação.
— Augustos, vamos conversar. Largue sua arma, duas pessoas inocentes estão sob sua mira. Se entregue ou as coisas ficaram ainda pior para você. — O policial falou com firmeza, mas a resposta de Augustos foi uma risada baixa, carregada de desdém.
— Não é minha intenção dar um final feliz de bandeja a eles, acham que sou idiota? — A voz de Augustos estava venenosa, e ele balançou a arma com calma. — Baixem suas armas ou o herdeiro do café morre com uma única bala em sua cabecinha. — Ele sussurrou, e pude ver Gustavo apertando os olhos com força, como se estivesse tentando controlar sua respiração, talvez até seu próprio medo.
Meu corpo parecia estar longe de mim, afastado da realidade. Cada parte de mim estava tomada por um medo insuportável. Não conseguia pensar direito, o pânico me dominava e as palavras se tornavam difíceis de formar. Eu só conseguia ver a arma de Augustos apontada para a cabeça do meu namorado e sentia minha garganta apertada, o medo estava me sufocando.
Homens do FBI e da polícia se aproximaram, mas a situação estava fora de controle. A tensão aumentava a cada segundo que passava e Augustos parecia saber exatamente o que fazer para manter todos com medo, ele continuava com sua atitude arrogante, sua risada fria ecoando como se fosse dono de tudo.
-Meu filho. –Uma voz grossa ecoou pelo ambiente, e um senhor ruivo e fardado atravessou os policiais, algemado. –Pare com isso agora, temos FBI e a CIA em nosso encalço, eu me rendi e espero que faça o mesmo. Eu amo você Augustos, sua mãe te ama, mas precisa pagar pelo seu erro, deixe-os em paz.
O ambiente parecia ter se tornado um labirinto de emoções conflitantes, com cada passo de Augustos, cada palavra de seu pai, criando uma pressão insuportável. A visão do pai de Augustos, pálido e com a postura de quem não tem mais nada a perder, mexeu profundamente comigo. Ele se aproximava do filho sem medo, como se estivesse disposto a enfrentar o que quer que fosse necessário para acalmar a situação. Mas a verdadeira bomba não estava na presença dele.
A voz de Augustos cortou o silêncio, fazendo meus ossos tremerem.
— Amor? Para com isso, pois me irrita profundamente esse papinho. Nunca fui o bom moço da história, e você sempre soube. — Ele falou com uma frieza assustadora. Então, para a minha surpresa, uma lágrima escorreu de seus olhos, e ele encarou a arma, como se algo dentro dele tivesse se quebrado. Seu pai, em resposta, também caiu em lágrimas.
Não, não poderia ser o fim, eu não aguentaria perder Gustavo. Desde aquele dia em que o vi pela primeira vez, na porta dos fundos da padaria, seus cabelos molhados e seu cheiro forte, eu soubera que algo havia mudado. Ele iluminava qualquer ambiente, sua presença era como um calor que me envolvia e me fazia querer ser melhor.
Lembrei da sua beleza que, embora evidente, era apenas uma parte do que ele realmente era. Seu sorriso, sua sinceridade, o modo como ele amava, como tratava a mim e aos outros, isso era o que realmente importava. Ele não era perfeito, mas era perfeito para mim. Seu jeito romântico e sua sinceridade arrebatadora faziam meu coração bater mais rápido, recordei do modo como ele cantava "Fix You" no carro, aquela música que era nossa, e de todas as vezes em que suas bochechas ficavam grandes e fofas quando ele fazia cara de bravo.
Eu queria voltar no tempo, abraçá-lo naquele exato momento, sentir o calor dos seus braços ao redor de mim. Era difícil demais ver tudo isso indo embora, tudo o que construímos juntos, tudo o que ele significava para mim.
Mas então ao olhar para Augustos, e ver a expressão nos olhos dele, minha alma congelou. Ele sussurrou, e as palavras caíram pesadas como um presságio.
— É meu fim, e o seu. — Ele olhou nos olhos de Gustavo com tanta certeza que parecia já ter decidido o destino deles.
Em vastos segundos levantei e corri em direção ao meu namorado, eu o abracei e na mesma hora ouvi um tiro, um tiro havia sido disparado em nossa direção.
A sensação foi brutal, como se o tempo tivesse parado por um segundo e tudo o que existia era a dor e o medo pulsando nos meus ouvidos.
O toque das mãos de Gustavo, tentando me proteger, se misturava ao som do disparo, ecoando em minha mente como uma sinfonia de desespero. A pressão no meu corpo me fez ser jogada para frente, sentindo o calor das chamas subindo pela minha pele, e tudo parecia se arrastar em uma lentidão insuportável. O barulho do disparo ainda ecoava em meus ouvidos, e minha visão estava embaçada pela dor e confusão.
Eu não sabia se estava viva ou se havia sido consumida pela explosão do momento. Mas a única coisa que podia sentir era o abraço de Gustavo, apertando-me contra seu peito, e a sua voz cortando o ar, um grito de desespero ao me chamar pelo nome.
— ANNE, ANNE, JOANNE! — Ele gritou, e o som das suas palavras foi um alicerce que me fez agarrar-me à realidade, mesmo que minha mente estivesse turva.
Eu vi o medo em seus olhos, e logo sua mão cobriu meu rosto, me impedindo de ver o que estava diante de nós. Senti sua respiração quente, apressada, contra minha pele, mas também podia perceber a tensão em seus músculos, o medo que o consumia ao tentar me proteger de algo que, até aquele momento, eu não sabia o que era.
Ele conseguiu, conseguiu me afastar da visão daquele terror. Mas o medo não me deixava, nem mesmo com a segurança de estar nos braços dele. Eu não sabia o que acontecia ao nosso redor, mas a dor no meu corpo era insuportável.
— Gustavo... — Minha voz saiu fraca, quebrada, enquanto ele me segurava com toda a força que ainda restava em seus braços.
Mais um barulho fino no ambiente percorreu meus ouvidos, era cortante e agudo, doía minha cabeça e agoniava o coração. Senti meu corpo amolecer, meu corpo estava dormente e meu peito parceria ter fogo, puro fogo. Apertei meus dedos e não tinha forças alguma, com minha cabeça no peito do meu namorado, me sentia desfalecer.
-MEU FILHO FOI BALEADO, AUGUSTOS. –Sorri, tudo parecia ter acabado, tudo parecia ter tido um fim.
Minhas lágrimas caíam, estava tudo cinza e em câmera lenta. Em minha mente, vieram à tona todos os momentos felizes que tive em minha vida, e eu estava tranquila, havia feito o que meu coração mandou, depois de muitos anos seguindo apenas minha mente.
Muitos passos vieram em nossa direção, Gustavo me deitou no chão e tocou meu rosto, poderia ver suas mãos sujas de sangue, o meu sangue.
-CHAMEM O SOCORRO AGORA, POR FAVOR ALGUÉM SALVA ELA. –A voz de Gustavo alta me fazia sorrir, sentia meus lábios rachados e suas mãos seguravam meus braços. –Ela está apagando, alguém nós ajuda...
Suas lágrimas caíam sobre mim, eu queria abraçá-lo, mas não tinha forças. Muitas pessoas, muitos passos, sirenes, barulhos, gritos, choro. Dor, muita dor.
Sentia o corpo de Gustavo se distanciar do meu e segurei sua blusa, mas ela escapou das minhas mãos. Degluti seco com dificuldade e forcei meus pulmões a produzirem ar, precisava respirar, mas não conseguia perfeitamente. Sentia o chão gelado, e minha visão turva ainda me fez enxergar pessoas de preto e Gustavo.
-Baker.... –Minha voz falhou e o senti se aproximar com voracidade. –Está a salvo... –Levantei minha mão e toquei seu rosto. –Eu amo tanto você que faz meu corpo arder....
Busquei ar novamente e sorri, poderia sentir tudo em mim falir e doer a cada vez que puxava o ar. Por alguns minutos, tudo o que desejei foi água, mas já não conseguia pensar.
-Esse tiro era para mim Joanne, o que você fez... –Com as mãos na cabeça Gustavo chorava, soluçava e tocava meu corpo com cuidado. –Não vou conseguir sem você, precisa ficar viva. Abra os olhos, olhe para mim.
Sorri em sua direção, ele era uma das pessoas mais bonitas que já vi. Eu sou tão sortuda por tê-lo tido...
– Não a toque, o socorro está a caminho, ela está perdendo sangue por um ferimento por arma de fogo. Fique calmo, Gustavo. Tudo vai ficar bem! – Alguém se aproximou e o empurrou. – Joanne, pode olhar para mim? Consegue me ver?
Minha respiração descompassada era nítida, mas ainda conseguia balbuciar que sim, estava enxergando a pessoa.
– ISSO ERA PARA MIM, FAÇAM ALGUMA COISA. – O seu grito ficava cada vez mais baixo. – EU NÃO POSSO PERDE-LA.
Toquei sua calça e o senti perto, sua respiração estava tão próxima que pude sentir suas lágrimas caírem em meu rosto. Todos estavam ao nosso redor, e forcei meus olhos a abrirem.
– Cadê ele? – Falei, deixando escapar uma lágrima. – Me promete que ele irá pagar por tudo? – Minhas pálpebras caíram e gemi de dor. Estava com muita dor, cheia de dor. – Não irá se livrar de mim tão fácil, fique calmo Baker.
– Joanne, está tudo bem. – Alguém colocou uma luz forte em meus olhos e não consegui mantê-los abertos. – Vamos cuidar de você, tudo bem? – Uma voz feminina tentava me acalmar, mas não pude respondê-la.
Senti suas mãos em meu rosto, nada conseguia enxergar, mas era ele. Nunca estive tão perto do meu começo e do meu fim ao mesmo tempo, a única coisa que tinha certeza era que a dor de perde-lo era muito maior que a dor de um tiro.
S2
Na voz de Gustavo:
Estava perdido, eu estava com toda minha vida passando diante dos meus olhos. Joanne pegou para si o tiro que era para mim e, mesmo assim, senti minha vida indo embora ao vê-la caída em meus braços. Minhas mãos estavam cheias de sangue, e seu corpo estirado no chão.
Não conseguia respirar, eu só conseguia chorar e implorar por socorro. Joanne estava perdendo sangue rapidamente, o que fazia todos os policiais se apressarem para socorrê-la. Já Augustos estava jogado no chão com um ferimento na perna, e seu pai chorava aos seus pés. O ruivo estava lúcido e algemado.
Joanne começou a tossir, assustando a todos, e me aproximei de seu rosto.
– Cadê ele? – disse ela, quase sem voz. – Me promete que ele irá pagar por tudo? – Seus olhos azuis se fecharam diante de mim.
– Joanne, está tudo bem. – Um policial visualizou suas pupilas, mas ela não conseguia mais abrir os olhos. – Vamos cuidar de você, tudo bem?
Ela estava apagando, e todos ao nosso redor começaram a entrar em pânico. Joanne parecia não ter mais forças, e eu sabia que não teria forças para perdê-la.
– Precisa aguentar, por favor, não dá para seguir sem você. – Minhas lágrimas caíam em seu rosto. – Não faz isso comigo, não vai embora. – Meu choro alto ecoava pelo ambiente.
Paramédicos correram em nossa direção, e senti alguém me puxando para longe dela.
– Se afaste, senhor, precisamos socorrê-la. – Uma paramédica me segurou, e eu relutei. – Vamos salvá-la, alguém ajuda ele, por favor. – Ela pediu, já puncionando uma veia da minha namorada.
Senti meus músculos tremerem e meu corpo desfaleceu. Policiais chamavam meu nome e eu não conseguia responder, estava em surto, com medo, querendo estar com ela, no lugar dela. Era para mim, aquela bala era minha, somente minha, e não dela.
Os paramédicos a colocaram em uma maca amarela, e estavam frenéticos, procurando aparelhos e medicamentos. Os policiais corriam para todos os lados, procurando câmeras no local, armas e qualquer coisa que pudesse incriminar o ruivo ainda mais.
Me aproximei de Joanne, e ninguém me encarava.
– Ela vai ficar bem? Alguém a salva, por favor. – supliquei, fazendo uma mulher me olhar. – O que é isso tudo? – Ela estava colocando várias coisas em seus braços.
Ela estava desacordada, e sua roupa estava lotada de sangue. Sua blusa azul já estava roxa, e suas mãos estavam ainda mais pálidas. Entrei em uma oração eterna, meus lábios balbuciavam a palavra "Deus" sem pausa para respirar. Eu chamava por ele, como nunca chamei em toda a minha vida.
Se salva-la, nunca mais te chamo de injusto. Me perdoe...
– Doutor, pressão nove por seis e caindo devido à perda de sangue. Precisamos de mais soro, e precisamos de sangue... – A enfermeira chamou pelo médico, e ele correu para visualizar o ferimento. – Olha o monitor, a saturação está diminuindo.
– Ligue para o hospital de imediato. Precisamos de sangue e uma sala de cirurgia de emergência. – O médico encarou o monitor pequeno na mão de um enfermeiro.
A maca subiu, e os enfermeiros levaram Joanne às pressas, correndo a toda velocidade. Augustos já tinha sido retirado do local.
– Eu irei junto. – Corri em direção ao seu lado e segurei sua mão. – Ela vai ficar bem?
Ninguém me ouvia, ninguém me respondia e um aparelho apitava um som agudo e conversavam coisas que não entendia. Dentro de uma das ambulâncias íamos em dois enfermeiros, um medico eu e Joanne já ligada a muitos fios e um tubo da boca. Ela estava respirando um ajuda de um aparelho manual que era insuflado por a enfermeira loira.
– Eu sou paramédica e enfermeira do hospital da cidade. Eu vi o irmão dela morrer anos atrás, e não deixarei ela morrer. – A enfermeira loira olhou para mim – Eu vou fazer de tudo o que estiver ao meu alcance para ela sobreviver, não se preocupe. – A moça fazia seu trabalho com cautela, mas sentia a emoção prendendo o choro.
O barulho da sirene dentro da ambulância era ainda mais alto. A polícia nos seguia, e minha cabeça doía. Minhas lágrimas saíam a toda velocidade enquanto eu segurava sua mão, gelada e úmida.
Encarei o monitor e vi as batidas do seu coração.
Joanne era forte e destemida, ela tinha a língua afiada e a cabeça dura. Não sabia perder e sua paciência era curta como a de um idoso, ela não gostava de coisas caras e nem muito brilhantes. Ela errava, mas não tinha medo de pedir desculpas, ela sorria e fazia meu coração doer de felicidade ao ver a covinha em seu queixo. Eu havia desaprendido a viver sem ela, como se antes minha vida tivesse sido sem graça. Ela era moradia, proteção, sossego, calma e amor. Se eu a perde-se, nunca mais me encontraria novamente, precisava dela para seguir, para ser a mãe dos meus filhos e a idosa ao meu lado.
– Nossos pais... A mãe dela está grávida, minha mãe é de idade... Já sabem? – Sussurrei. – Anne, se ficar firme, prometo adotar aquele panda que vimos na televisão, lembra? Aquele pequeno... – Apoiei a cabeça em sua mão e não achava mais lágrimas.
O monitor apitou, me assustando, e arregalei os olhos.
– Ao ouvir sua voz, os batimentos dela acabam subindo. Não se preocupe, tudo aqui precisa fazer barulho para nos alertar. E sim, todos já sabem e aguardam no hospital. Creio que ela precisará de sangue, e caso nosso estoque esteja baixo, precisamos de ajuda. – A enfermeira sussurrou e pegou minha mão. – Pode confiar em mim...
– Confio em você... – Li seu nome na sua roupa. – Amy...
Poucos minutos depois, a ambulância freou na porta do hospital, e, na velocidade da luz, as portas se abriram.
Muitas pessoas puxaram sua maca e a mesma se abriu, desci na ambulância em um salto e corri para seu lado, mas não me deixaram ficar. Entrei no hospital e meu olhar cruzou com o de todas as pessoas. Meu pai, Mary, os pais de Joanne, Alice, Alex, Emma, Will, Josh, muitos policiais e médicos.
– JOANNE, MINHA FILHA. – O pai de Joanne avançou até a maca e entrou em um choro frenético. A mãe de Joanne se aproximou e pegou sua mão.
-Meu amor não vá, a mamãe está aqui. Todos os seus amigos estão aqui. –Ela encarou a filha desacordada e suplicou. –Salvem minha filha, por favor.
Os médicos afastaram os pais de Joanne com cautela e senti meu pai em abraçar com toda força. Sentia suas mãos tocando meu corpo, ele estava procurando algo, mas não consegui falar. Eu não estava ali, minha alma não estava ali.
-Filho, senti tanto medo. -Senti a cabeça do meu pai em meu ombro e o abracei. -Eu amo você Gustavo, eu te amo demais meu filho. -Meu coração acelerou com suas palavras e o abracei ainda mas forte.
– Puncionem mais um acesso, façam volume, chequem o pulso e preparem para intubação. – O médico, às pressas, olhou novamente suas pupilas. – Ligam para o banco de sangue agora mesmo, quero quatro bolsas de O+, e sala de cirurgia imediatamente.
Abrimos passagem e a levaram às pressas. Eles corriam pelos corredores, enquanto ficávamos todos para trás. Minha sogra estava aos prantos, ela gritava e todo o hospital sentia sua dor.
– ANNE, POR FAVOR. – A voz de Alex ecoou e ele começou a andar com as mãos na cabeça. – O que houve? Não pode ser assim. – Alex chorava, passando a mão no rosto, enquanto Emma tentava abraçá-lo.
De longe, via Alex surtando e Alice sentada na cadeira, cabeça baixa, chorando. Mary correu em minha direção e os pais de Joanne também.
– Meu filho. – Mary correu aos prantos e eu baixei a cabeça. – Gustavo, o que aconteceu com nossa menina, o que houve com seu rosto. – Ela chorava e tocava meu rosto.
-É tudo culpa minh... –As lagrimas começaram a escorrer e meu pai encarou meus olhos, com a mão no rosto, minhas pernas eram incapazes de parar. –Katy é culpa minha. –Com as mãos no rosto me agachei e era o que ecoava em minha mente. –Me perdoem por favor.
-Querido não fale isso, não é culpa sua. -Chorando, Katy tocava meus braços.
-Não é nada culpa sua... –Senti a mão do pai de Joanne no meu ombro e o mesmo se abaixou. –Venha, venha comigo. –Levantei e fui escoltado até a recepção sem encara-los.
Muitas perguntas, muitas lágrimas. Meus olhos percorriam o hospital, mas a maca não estava mais lá. Alex me abraçou, e seu choro saiu em meu ombro, ele estava em prantos. O melhor amigo de Joanne estava trêmulo, suas mãos apertavam minhas costas, e assim ficamos por breves minutos.
– O que houve? O que houve lá? O que aconteceu com ela? – Emma perguntou. – Você está bem, Gustavo? Olha pra mim. – Olhei para Emma e a abracei. Ela tocou meus braços e encarou o sangue em meu corpo. – O Augustos fez isso com a Joanne?
– Não estou ferido, eu não estou ferido. – Encarei seus olhos verdes e vi-os se encherem de lágrimas. –Fez, ele fez Emma.
Emma deixou uma lagrima cair e sentou.
Fui abraçado, acalentado, e me senti protegido por todas aquelas pessoas igualmente desesperadas. Fui em direção a Alice, que seguia aos prantos, tentando esconder seu rosto. Ela me abraçou, mas nada falou.
Um médico se aproximou, me fazendo encará-lo. Ele estava sujo de sangue, com papéis nas mãos. Todos formamos um círculo, e não havia uma pessoa sem chorar, todos os rostos estavam vermelhos.
– A Joanne foi atingida por projetil de arma de fogo. Precisamos que tenham calma e esperem aqui, muitos médicos chegaram agora. Estamos unidos ao suporte do maior hospital do nosso estado e faremos o possível. – O médico encarou a mãe de Joanne e tocou seu ombro com pressa.
– Ela vai viver? DIGA QUE MINHA FILHA VAI VIVER! – A loira gritou, colocando a mão na barriga. – Quero minha filha viva, façam isso por favor. – Soluçando, Katy se desesperou.
Alice se aproximou de Katy e a abraçou.
– Tia, calma, os bebês... Vai ficar tudo bem. – As lágrimas de Alice caíam. Mesmo parecendo durona, ela estava aos prantos. – Estamos com você.
– Por favor, senhora Clark, se acalme. Cuide dos bebês em seu ventre, faremos tudo que a medicina permitir. Sua filha acabou de entrar na sala de cirurgia e está sendo tratada.
Meu pai se aproximou e, com poucas palavras, fez todos ficarem em silêncio.
– Quero o impossível, quero o melhor suporte deste hospital, onde está o Flinn? Se precisarem do melhor médico dos cinquenta estados, eu trarei. Salvem aquela menina, por favor. – Nicholas chamou pelo dono do hospital, o médico abaixou a cabeça e consentiu.
–O doutor Flinn está a caminho, ela já está com o nosso melhor medico! Faremos de tudo, estou dando minha palavra. –O medico encarou Nicholas e consentiu.
Uma enfermeira chegou com cautela e chamou pela mãe de Joanne, a moça sentou a senhora em uma cadeira e conectou um cinto em sua barriga. O cinto captava os batimentos cardíacos dos bebês, que estavam bem.
Meu choro alto assustou meu pai, e ele me abraçou novamente.
– Respira, cara, por favor. Respira. – Alex se aproximou e me acompanhou até uma cadeira. O pai de Joanne se agachou à minha frente, com os olhos azuis inchados, e apertou minha mão. – Irmão, não desabe.
– Aquela bala era minha, ele mirou em mim. – Solucei, e todos me olharam confusos. – Era só minha, Alex. Por que ela fez isso?
Estava tentando respirar, mas não conseguia cessar meu choro.
– Como assim, meu filho? – Mary se aproximou e senti sua mão em meu rosto. – O que aconteceu lá?
Contei tudo o que passei nos últimos três dias, e meu pai ficava cada vez mais vermelho. Falei sobre as agressões físicas e psicológicas, sobre como ele ameaçava matar Joanne a cada vez que piscava o olho.
– Quando os policiais chegaram, ele estava descontrolado, ele não se importou, pai... Ele apontou a arma para o meu peito e ela me abraçou. – Senti a mãe dela se aproximar. – Ela me salvou, mas eu não queria, eu que precisava salvá-la. Eu só tentei provar que ele foi quem bateu no carro do Andrew, eu queria que ele pagasse e que vocês tivessem paz.
Era assim que me sentia, inútil e culpado. Fiz de tudo o que pude para protegê-la, mas foi inútil.
– Ela te salvou porque te ama e ele vai pagar por tudo isso! – A mãe de Joanne deglutiu com dificuldade e pediu permissão para sentar ao meu lado, ela parecia mais calma visando os bebês. – Não se culpe, só uma pessoa é culpada por isso. Seja forte por ela, por seus pais. Todos aqui amamos você, sua coragem e seu amor por nossa filha são admiráveis.
– Não se culpe, estamos com você. Ela vai ficar bem, ela vai! – Albert me encarou e beijou minha testa, ainda em lágrimas.
Encarei todos a minha volta, Alex e Emma abraçados pareciam não ter medo de expor seus sentimentos, a loira tentava conter o choro do rapaz. Will e Josh estavam com seus rostos inchados e suados, Alice chorava com a mão tapando a boca. Estávamos todos em pedaços, todos exalando uma dor descomunal.
-Eu sinto um amor tão grande por ela, que sinto meu peito entrar em erupção. Eu preciso dela viva, aqui comigo. Precisamos entrar na faculdade, ir a festas, brincar, sorrir, dividir um doce e assistir romances. –Desabafei e o pai dela consentiu.
– Terão minha permissão para tudo isso, eu prometo. Obrigado por protegê-la esse tempo todo. Por ser corajoso e fazer justiça pelo meu filho, mesmo sem provas.
Um sorriso sincero saiu por meus lábios secos, e enxuguei minhas lágrimas.
– Quem começou essa busca por nós? Como acharam o galpão? – Sussurrei, e vi Will acenar desesperadamente.
O pai do meu amigo se aproximou, e todos deram espaço para o senhor fardado se aproximar.
– Oi, como está? – Sua mão pousou em minha cabeça. – Sua namorada não acreditou em sua carta de despedida, começamos uma investigação e vimos as cartas. Droga, tentamos fazer tudo o mais rápido possível, e mesmo assim... – Ele passou a mão na cabeça e suspirou.
Eu sabia que ela não acreditaria em minha despedida, ela era mais esperta do que podiam imaginar. Retirei a corrente do meu pescoço e a pendurei entre meus dedos, eu usava aquela corrente há semanas, e ela iria para as mãos certas.
– Obrigado por acreditar e lutar por nós. – Direcionei a corrente à sua frente, e o homem não entendeu. – Você fez seu trabalho, estou feliz por isso.
Todos me encararam, e apenas gesticulei em sua direção.
– Pegamos os pertences depois, não se preocupe. Temos digitais dele e muita coisa para acusá-lo, vamos tentar uma confissão. – O homem apoiou a mão em meu ombro e sorriu. – Não quer entrar para a polícia? – Ele brincou, fazendo todos rirem.
-Ele será médico, policial jamais. -Me pai declarou e o encarei. Ele havia me apoiado na medicina. -Jamais. -Completou ele, estressado.
– É, pai, o senhor tem razão. – Sorri, e recebi um sorrisão dele em resposta.
Levantei-me e fiquei frente a frente com Tim. Ele era um homem de índole exemplar, eu confiava nele.
– Tim. – Ele encarou a corrente enquanto ela girava no ar. – Aqui está a confissão que precisa, aqui tem tudo para ele morrer atrás das grades.
S2
Espaço desabafo é aqui ♡
Tenso, que tenso hein?
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