A noite continua ♡ Capítulo 16
Na mais louca das hipóteses, Emma armou para que alguém nos visse juntos e pensasse o pior. Estava procurando Joanne pelos corredores quando Emma me puxou para o quarto de hóspedes, dizendo que tinha um assunto importante, só não imaginava que Joanne acabaria vendo aquela cena e, agora, provavelmente me quer bem longe. A imaturidade de Emma desde os tempos de escola é exaustiva; ela sempre conseguia afastar qualquer pessoa que ousasse tirar a atenção que ela recebia — ou achava que recebia. Desde nossa adolescência, ela insiste em algo que nunca terá, e sei que vai tentar me atrapalhar de todas as formas.
— Pode entregar esta carta na mesa daquela moça de vestido amarelo claro? — Pedi ao garçom, esforçando-me para sorrir, mesmo com ele parecendo pouco receptivo.
— Claro, precisa de mais alguma coisa? — Ele respondeu secamente, me encarando, e eu apenas neguei com a cabeça.
O garçom se dirigiu às mesas, e eu voltei para a parte de trás da casa, esperançoso. Afinal era mais sensato da minha parte chama-la para conversar a sós.
Enviei uma carta para Joanne pedindo que viesse me encontrar na estufa, mas não sei se ela virá com essa teimosia que tem, dessa vez com razão. Provavelmente, acha que eu não mudei e que tenho algo com Emma, como eram as fofocas.
Passo a mão por uma fotografia da minha mãe, tirada exatamente neste lugar, colada ao vidro. Este lugar é uma das coisas que cuido com todo meu amor. Minha mãe era fascinada pela natureza, e aqui sempre cultivamos plantas das mais diversas formas e aromas.
Enquanto encaro os lírios, ouço a porta se abrindo.
— É... Esse lugar é incrível. — Uma voz doce ecoa pelo ambiente, enquanto a porta de vidro se abre completamente. — E cheiroso.
Nunca a vi tão linda.
Joanne entrou, segurando a barra de seu vestido e analisando tudo à nossa volta. Vestia um vestido amarelo-claro com uma fenda que deixava à mostra sua perna e as costas nuas. Era um vestido simples, de alças finas e um decote em V que realçava seus seios. Seus cabelos soltos e ondulados, tão suaves que eu quase podia senti-los, lembravam-me daquela noite.
— Achei que não viria, mas torci para que viesse... — falei, ao encará-la, enquanto Joanne fechava a porta com delicadeza.
Ela sorriu sem graça e começou a observar as flores ao seu redor, passando a mão em algumas que estavam ao seu alcance.
— Não viria, mas em época de celulares, cartas me chamam atenção! — respondeu friamente, dando de ombros, ela caminhou na minha direção ainda sem me olhar nos olhos. — O que você quer, Baker?
A seriedade dela era assustadora.
— No quarto, mais cedo... não aconteceu nada, e eu não tenho nada com a Emma, eu nunca tive!— murmurei, soltando o ar dos meus pulmões, vendo-a balançar a cabeça negativamente enquanto sorria.
Joanne não parecia enfurecida, o que chegou a me preocupar.
— Me chamou aqui pra isso? Não existe nada entre nós, Baker. Não me deve explicações — disse ela, em voz baixa, o que me fez sorrir. — Está rindo de quê, imbecil? — Joanne questionou irritada, finalmente me encarando.
Seus olhos alcançaram os meus, mas nenhuma emoção transpareceu.
— Você está tão bonita hoje, e eu sou tão azarado. — bati palmas, em desespero.
Com as sobrancelhas arqueadas, Joanne me olhou de longe, com desprezo. Nunca irei entender o que essa menina fez com meus sentimentos, mas é assustador.
— Azarado? Além de galinha, você é louco? — Joanne bufou, me fitando seriamente.
Neguei, logo a fazendo bufar.
— Eu já fui galinha. Hoje, sou apenas azarado... — respondi calmamente, observando-a tocar em rosas brancas. — Você está irritada?
Perguntei, já sabendo a resposta, mas precisava ouvi-la, mesmo que fossem palavras desagradáveis e ferissem meu ego.
— Desde a escola, ela sempre foi um pouco... maníaca. Não estou surpresa, mas não vou permitir que me faça de idiota, Gustavo Baker.
Meu corpo esquentou, e meus lábios ficaram secos ao ouvi-la citar meu nome. Como ela consegue fazer isso comigo?
— Sou azarado porque estava ansioso para te ver hoje, e acontece isso. A Emma tinha que estragar tudo... — comecei a andar em círculos, sentindo o olhar dela em minha direção. — Não faço você de idiota, deixo todo mundo ver que estou sendo honesto, inclusive você!
Joanne revirou os olhos, com um tom de desprezo.
Nunca ter que me explicar para alguém me deixou com uma enorme dificuldade de explicar o inexplicável. Minhas tentativas estavam ficando cada vez mais sem noção, mas então Joanne se aproximou, com os braços cruzados, e puxou o ar de seus pulmões.
— Você dando uma de coitado é patético. —Ela negou, cruzando os braços.
Eu estava irritado, ela realmente não tem papas na língua.
— Patético? — perguntei, irritado. — Você não facilita nunca? Estou sendo honesto, tenho cara de palhaço?
Me aproximei dela, e Joanne deu um passo para trás. Seu rosto ficou vermelho, e ela respirou fundo, provavelmente prendendo o choro.
— Aquele beijo de ontem... posso dizer que foi meu primeiro. Já tinha dado um selinho antes, mas não foi nada comparado àquela noite!— Suas mãos gesticulavam em minha direção, e arqueei as sobrancelhas ao ouvi-la. — Eu fugi de você como o diabo foge da cruz por que sabia que ia ser encrenca, e olha agora? Você não vê quantas barreiras internas derrubei para não deixar seu passado no meio? Ontem você me beijou, e hoje te vejo no quarto com outra menina? Por que não esquece o beijo, esquece que um dia abrir a porta para você, e segue sua vida?
Meu olhar seguiu seus passos, quase deixando a estufa. O quê? Não mesmo. Não ouse ir embora.
—Não saia, é sério, Clark! — Falei em um tom mais alto, fazendo eco no local, e a vi paralisar. — Não vou fazer nada disso, desistir não é comigo.
Joanne virou-se para mim, cruzando os braços novamente.
— Primeiro, você me beijou. Segundo, não tive culpa daquilo, e sim aquela louca. —Falei, pasmo.
— Nos beijamos, certo? — Ela sussurrou, e balançou os ombros de uma forma engraçada, me fazendo analisá-la.
Respirei fundo e me coloquei no lugar dela, eu realmente teria ficado muito irritado ao ver ela com outro cara.
— Então seu primeiro beijo de verdade foi ótimo, não foi? — Sorri, inclinando a cabeça, e ela me fuzilou com seus olhos azuis. — Desculpa por estar triste, eu vou repetir pela milésima vez, não tenho nada com a Emma. E não quero brincar com você, e não vou te esquecer. — Ao deglutir, senti minha garganta seca.
Ela franziu as sobrancelhas e apertou os olhos, suas expressões irão me matar a qualquer instante. Literalmente parece que a menina a minha frente não se importa com nada.
— Você se acha demais. Já dizia uma novela asiática: se desculpas adiantassem, pra que serviria a polícia? Olha, mesmo sendo apenas palavras, vou acreditar em você... Ninguém estragou nada, não darei esse gosto a sua amiga! — Joanne descruzou os braços e consentiu. — Seu pai organizou uma linda festa, e são datas especiais — ela murmurou com a voz falha e sorriu, me deixando ainda mais sério.
Bufei, percebendo que tinha gastado saliva para ela brincar com minha cara. Então, ela gostou de me ver aflito?
S2
Na voz de Joanne:
Após nossa discussão, desejei profundamente acreditar em suas palavras. Não poderia deixar a Emma estragar tudo como ela havia planejado, e se eu não a conhecesse da escola poderia até me deixar abalar... — Balancei a cabeça, tentando expulsar os pensamentos negativos.
Após finalizarmos o assunto e eu o ver irritado pela primeira vez, Gustavo começou a me mostrar todas as flores na estufa, e para minha surpresa, ele entendia tudo sobre elas, ele era uma verdadeira caixa de surpresas. Discretamente eu observava seus traços enquanto ele gesticulava e apontava para cada planta no ambiente.
Eu estou encrencada, e a culpa é sua, Baker.
— Obrigado por após ter um leve surto, ser madura e não acreditar nas bobagens da Emma... Esperei por essa noite por dias... — Sua mão tocou a minha, ainda apoiada na bancada.
Sentir o toque dele ativava todas as sensações que eu nunca havia sentido. Meu corpo entrava em combustão, e meu estômago parecia uma montanha-russa desgovernada.
— Coloca isso no passado, já chega! Agora é o que importa, esse é meu lema. E sua mãe era linda, você se parece com ela — Analisei a fotografia de uma mulher tocando as flores, colada na parede junto a outras.
Ela tinha um sorriso lindo, um olhar doce e de alguma forma reconfortante.
— Sim, cuido dessa estufa para ela até hoje, pois era sua paixão. Então, confessa que sou bonito novamente? Uau... — declarou com aquele sorriso idiota.
Ego, seu ego era enorme.
— Gustavo, você era um dos meninos mais bonitos do colégio. Por onde passa, as meninas te olham e... — murmurei, timidamente. — Você é uma pessoa bonita, se eu falar o contrario seria um mentira.
Senti meu rosto esquentar ao vê-lo acompanhar minha explicação atentamente, provavelmente adorando o elogio.
— Você está corada... Obrigado pelo elogio, Clark! — um sorriso surgiu no canto de sua boca. — Até vi o filme da Bela e a Fera, sabe? Gostei da história, apesar de ser tão melosa e triste em partes. E você está de amarelo, como a Bela.
Meu rosto corou novamente e o menino do basquete estendeu sua mão com uma rosa vermelha. Apenas uma rosa em minha direção me fez senti um misto de felicidade e surpresa, era como se ele soubesse que eu nunca havia recebido flores antes e não ousaria recusar.
— Rosa vermelha, ela tem uma linda ligação com o filme. Eu amo flores, são lindas... — disse, pegando a rosa e sentindo Gustavo se aproximar de mim. Sua mão tocou meus cabelos de maneira suave e fechei os olhos sabendo o que ia acontecer, ou pedindo que acontecesse.
Nossos lábios se encontraram em um beijo intenso, cheio de desejo. Segurando seu paletó, puxei-o contra meu corpo, sentindo suas mãos percorrerem minhas costas nuas. Nossas línguas se entrelaçavam, permitindo-me sentir seu gosto, enquanto nossos corpos juntos faziam meu estômago revirar, todos os salgadinhos que comi estavam entrando em pânico. Gustavo, encostado no balcão com suas mãos passeando pela minha cintura, fazia meu corpo estremecer, e acabei mergulhando meus dedos em seus cabelos antes arrumados.
Aos poucos, nosso beijo se tornou lento e calmo, ele sorriu em meio ao beijo e me abraçou, de forma acolhedora. Meu coração batia em completo descompasso, e meu corpo se fazia moradia de seus toques.
Essa era a estranha sensação que ele causava em mim, casa.
— Anne... — sua voz rouca ao meu ouvido me fez arrepiar, e ele se afastou do meu corpo lentamente, acariciando meus ombros expostos.
— Ursinho... — Sussurrei seu apelido e seus olhos escuros arregalados me fizeram sorrir sem controle.
Então, seu apelido o incomodava? Esse é um dos seus pontos fracos, Baker? Mary deixou escapar pelos corredores, e achei uma forma bem carinhosa.
— Quem te falou meu apelido? Vê bem o momento que você escolhe para dizer isso, é tão... — ele revirou os olhos e passou uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha. — Desestimulante — completou, arrumando os cabelos.
— A Mary... Ela me levou até o banheiro e ficou empolgada em me conhecer — aproximei a rosa do meu rosto, sentindo seu aroma suave. —Esse é um apelido muito carinhoso, seja grato.
— Ela me deu esse apelido quando nasci, e eu não gosto — Gustavo passou a mão no rosto e coçou o queixo. —Não tenho mais idade para isso!
Quanto mais o conheço, mais quero tê-lo por perto, mesmo sabendo de todo o seu passado e seus defeitos, eu não estava conseguindo escapar. O bom de ter ficado sempre distante é que acabei conhecendo-o melhor e pelo que percebi, ele não gosta de ficar vulnerável e tenta disfarçar a timidez.
— A Bela me concede uma dança lá fora, no meio de tantas pessoas? — ele declarou estendendo a mão, e me mandou uma careta em seguida temendo um "não".
Consenti e peguei sua mão.
— Tudo bem, urso, vamos. Mas sua amiga está escondida ali fora, as escondidas. — percebi que a Emma me seguiu até os arbustos. — A loira alta, bonita.
Gustavo em encarou surpreso, ele estava realmente supresso.
— Você está brincando? — minha risada foi inevitável, e o puxei pelo braço até o lado de fora. — Não está brava com isso? Você é um enigma, Clark.
Quase correndo, ele me seguiu enquanto eu o puxava com pressa. Acho que Emma ainda não sabe quem sou eu, mas gostaria de mostrar a ela, tocando em sua maior ferida.
— Gustavo, não sou criança, não estamos no colegial. Essas bobagens de adolescente mimada que não aceita perder... não ligo — parei com ele ao lado de fora da estufa e o encarei.
Segurei seu rosto com as mãos, e o beijei com força, Gustavo sorriu, me fazendo sorrir também. Ele me abraçou, tirando-me do chão, e distribui vários beijos em sua boca e em seu rosto de um jeito carinhoso. Ele gargalhou ao sentir cócegas no pescoço e me abraçou novamente.
— Joanne, sabe que você a matou do coração, não é? — sussurrou em meu ouvido, e eu dei de ombros, sem me importar. — Menina má, muito má.
De mãos entrelaçadas, percorremos o trajeto de volta para o espaço da comemoração e Gustavo contou de quando caiu e bateu a cabeça nas pedras, o que lhe custou menos um dente. A noite cheia de emoções para meu coração estava longe de acabar. Seguíamos andando por entre as pedras, rindo de histórias do passado. A festa estava indo bem, e avistamos nossos pais rindo e conversando, logo soltamos as mãos e fingimos demência.
Chegamos até minha mesa, e minha mãe deduziu que estava com o Baker. Acobertando tudo, ela apenas me lançou uma piscada, já que seria entrevistada depois. Coloquei minha rosa na mesa e senti Emma me encarar da mesa ao lado, fervendo em ódio.
— Sr. Clark, o senhor me daria a mão da sua filha para dançarmos? — meu pai encarou Gustavo e tomou um gole de uísque. —Por gentileza...
Perdeu o juízo Baker? Cutuquei Gustavo que me ignorou, esperando sua resposta que viria do meu pai. O senhor grisalho com olhos tão azuis quanto os meus, encarou Gustavo dos pés a cabeça e me encarou, então logo sorri em sua direção.
— Sim, cuidado — meu pai, já sendo tomado pelo whiskey, parecia não se importar mesmo assim percebi quando ele coçou a cabeça e bufou.
Levantei-me sorrindo, sendo encarada pelo senhor grisalho enquanto Gustavo me puxava pela mão.
Caminhamos até o centro do ambiente, onde a pista de dança estava montada. À nossa frente, um rapaz controlava o som, e Gustavo foi até ele, provavelmente para pedir alguma música. Então em poucos segundos todos ao nosso redor podiam nos ver, o que me deixava muito tímida. — Toquei minhas bochechas e tentei não encarar mais ninguém.
Gustavo caminhou em minha direção e cumprimentou-me, curvando-se à minha frente, o que me fez repetir sua ação. Um sorriso escapou dos meus lábios, e eu dei um leve tapa em seu ombro, entrando em sua onda de gracinhas. Outros casais já estavam dançando ao nosso redor, e de longe, meus pais, o Sr. Baker e a Sra. Mary cochichavam à nossa mesa, provavelmente falando sobre nós.
A música lenta começou a tocar — uma canção da Alicia Keys, que eu particularmente amo. A música se chamava "If I Ain't Got You", e ao lembrar da letra, senti meu coração acelerar. Gustavo pegou minha mão e colocou a outra em minha cintura. Em passos lentos, fomos dançando ao ritmo da linda melodia, ele me fazia girar, e todas as vezes, minha gargalhada era instantânea.
— Eu amo essa música, é linda. — ele sussurrou em meu ouvido, com sua cabeça já encostada na minha.
Podia sentir todo seu corpo colado ao meu, me levando em um ritmo lento e suave por todo o espaço.
— Ela é linda mesmo, boa escolha, Baker — declarei. — Só acho que é muito nova para a maioria do público da festa.
Ele soltou uma risada, sem se importar muito. Sua risada era embriagante, assim como ele.
— A verdade é que eu gosto de quem sou quando estou com você. Sinto-me mais eu mesmo, não preciso puxar saco ou ser tão cordial. — Senti suas mãos percorrerem minhas costas nuas e dei um tapa leve em seu ombro e ele se conteve.
Com minha cabeça deitada em seu ombro, senti seu cheiro amadeirado invadir minhas narinas. O que somos, afinal, Baker?
— Eu não te suportava, você era a pessoa de quem eu mais queria distância... — suspirei, sentindo seu cheiro grudado em mim. — Olha onde está minha cabeça agora, tudo culpa sua!— Bufei, soltando uma risada.
— Vejo que mudou de opinião... — O garoto, contente, me balançava sem ritmo, de uma forma engraçada.
Por um momento, fechei meus olhos, aproveitando o momento e as sensações que ele estava me trazendo. Pensei em todas as vezes que me recusei a encontrar alguém ou que duvidei em abrir meu coração. Por todas as vezes que o tratei mal, essas sensações me fizeram morder a língua.
— Mudei, então não me faça me arrepender, idiota. Você já sabia disso quando me pediu uma amizade. — Senti-o beijar meu pescoço, fazendo-me arrepiar. — Meu pai, Baker. — Sussurrei, fazendo-o se afastar de forma engraçada.
—Desculpa, irei me conter! — Ele prendeu o riso e de longe percebia meu pai nos encarando.
《♡》
— Joanne, tem certeza de que quer ficar? Vai ter como voltar depois? Não irá ficar para dormir, de forma alguma!— Exclamou minha mãe, preocupada. — Vou precisar dirigir, já que seu pai bebeu até os últimos goles e está dormindo no carro.
Gustavo me convidou para ficar mais um pouco, e eu hesitei antes de falar com minha mãe, mas senti vontade de ficar.
— Sra. Clark, não se preocupe. Meu motorista pode levá-la, deixe a jovem curtir a festa e garanto que ela chegará em segurança. — sugeriu Nicholas, simpaticamente, despedindo-se da minha mãe.
Meu pai, já bêbado, não perceberia minha ausência.
— Certo, tudo bem, mocinha... Volte — ela apontou para mim e sorriu.
Ela sempre falava a mesma coisa, então sorri em sua direção.
— Obrigada, vou para casa em segurança — beijei a testa da senhora loira, que me olhou com carinho... — Acredite em mim, vou voltar! — completei, sorrindo.
Após minha mãe permitir que eu ficasse um pouco mais, ela foi embora com meu pai, que, como sempre, exagerou nas bebidas caras. As pessoas foram saindo, e apenas duas mesas continuaram ocupadas por senhores discutindo sobre a bolsa de valores na indústria alimentícia e o quanto isso impactou seus bolsos.
Gustavo me levou para conhecer parte da casa, com seus cômodos enormes no térreo e uma decoração impecável. Precisei tirar meus saltos para aguentar andar por todo o espaço, e segurando uma de minhas mãos e carregando meus saltos na outra, Gustavo me conduziu até onde Mary estava, apesar de já ter mencionado que a conhecia.
— Mary, olha quem está aqui, a Joanne! — entrei na cozinha enorme e fiquei encantada com a quantidade de aparelhos modernos e funcionários.
Será que uma cozinha assim pode ser minha meta de vida?
— Oi, minha querida, encontrou o banheiro? — a doce senhora me cumprimentou com dois beijos e me guiou até a mesa. — Acredite, ele nunca trouxe uma garota aqui antes, estava curiosa.
Gustavo se aproximou da governanta, apertando suas bochechas, tentando impedi-la de fornecer mais detalhes.
— Mary, sem detalhes — sussurrou Gustavo, visivelmente constrangido com as declarações da doce Mary.
A senhor sorriu em minha direção, de forma atenciosa.
— Achei o banheiro, sim. E até coisas além dele, acredite! — falei entre risadas finas, piscando para Gustavo, que revirou os olhos.
Mary serviu torta de abóbora e alguns salgados finos, e eu comi sem cerimônia. Gustavo, ao meu lado, tomava seu suco de maçã lentamente.
— Vocês estão namorando? Venha sempre aqui, querida, adorei te conhecer — Mary nos entrevistou.
Gustavo soltou uma tosse fingida e eu bati nas suas costas com força buscando desengasga-lo. Com graça, olhei para ele e em poucos segundos já havia roubado toda a sua paciência mais uma vez, logo, nenhum de nós respondeu nada a pergunta da Mary.
— Já vamos, Mary. Vou mostrar o resto da casa a Anne,... — Gustavo me puxou pela mão em passos rápidos, irritado. — A tosse era fingimento, não percebeu? Você quase estourou meus pulmões, uau.
Gustavo sério era ainda mais bonito...
— Eu sei, mas quis te bater, e nem foi forte! — respondi, e ele virou para mim com um olhar sério. Dei de ombros e continuei andando ao seu lado. — Foi pelo episódio do quarto.
Subimos para o primeiro andar da casa e entramos em um quarto que era da sua mãe. Um belo lustre de cristal pendia do teto, e uma foto em uma enorme moldura exibia toda a sua beleza. Telas pintadas decoravam o ambiente, junto com algumas fotografias, alguns espelhos e tudo ali tinha um cheiro floral.
Andei pelo espaço e Gustavo sentou no sofá, afrouxando sua gravata borboleta, ele me deixou à vontade para olhar todos os desenhos e artes de sua mãe. Sob uma longa mesa de vidro, havia porta-retratos com fotos de Gustavo e sua mãe plantando uma árvore, fotos de família, ela e seus pais, ela grávida do Gustavo, seu diploma de Yale e alguns espaços vazios.
— Esses vazios, ela comprou e teve tempo de preencher... — as palavras desapareceram dos seus lábios. — Você sabe...
—Sinto muito... — O encarei e ele consentiu.
Aproximo-me do sofá de couro branco, e o observo encarar o teto pálido. Não sei se é uma boa ideia ter um quarto de alguém que já morreu, mas quem sou eu para falar. Minha mãe não deixa ao menos entrar no quarto do meu irmão, imagina desfaze-lo.
— Por que você não me mostra seu quarto? — declarei, sem pensar, quase sem acreditar no que tinha pedido.
O ambiente em que estávamos parecia deixar Gustavo triste, era visível em seu rosto sério e calado. Após meu pedido impensado, um sorriso sem graça surgiu em seus lábios e, segurando minha mão, ele me guiou pelo corredor escuro, a casa era definitivamente muito grande para poucas pessoas, beirava um exagero.
Paramos em frente a uma porta larga, e ele apontou para ela.
— Aqui está meu ninho, pode entrar! — ele abriu a porta, me dando permissão para entrar. — Está arrumado por causa da Mary, e cheiroso por minha causa.— Ele justificou ao ver minha surpresa.
Era um quarto em tons de cinza e branco, muito bem arrumado, com seu cheiro forte impregnado. A cama de casal gigante estava impecável, com lençóis pretos que pareciam convidar para um salto e muito, muitos travesseiros. A decoração deixava clara a paixão por basquete e carros esportivos, era tudo a cara dele.
— Que quarto arrumado, Baker. E Harvard? — Uma faixa na parede, próxima à cama, deixava claro seu sonho.
Então suas notas exemplares e prêmios no grêmio estudantil tinham uma explicação muito boa: Harvard.
— Sim, lá mesmo! — ele sorriu e se jogou na cama, esticando os braços, parecendo cansado.
Observei todas as suas fotos e gostos. Ele amava basquete, Harvard, carros, neve e mais carros de vários tipos e marcas. Nossa foto no lago estava apoiada em um porta-retrato, ao lado de uma foto sua esquiando em algum lugar do mundo, o que me fez sorrir.
— Talvez eu vá para lá, mas é difícil — Falei baixo e minha declaração o fez saltar na cama. — O que foi?
Gustavo deitou na cama, e sorriu em minha direção.
— Qual profissão você quer seguir? — perguntou Gustavo, eufórico, sem piscar, aguardando minha resposta.
Como explicar que a profissão que eu queria seguir era uma das mais cara, longa e difícil?
— Medicina, neurologia! Mas como já disse... É Harvard, preciso de uma bolsa mesmo que seja mínima e preciso que eles me aceitem. — respondi.
Gustavo me enviou um lindo sorriso e bateu palmas. Mesmo sem entender completamente, acompanhei o devolvi um sorriso enquanto olhava para uma prateleira com carros de ferro pesados, incluindo um idêntico ao seu.
— Antes da minha mãe falecer, jurei que ia salvar muitas outras mães, já que não pude salvar a minha. Meu pai quer que eu faça administração, mas quero medicina, oncologia. — Sua explicação fez meu coração acelerar freneticamente. Não imaginava que ele tinha essa motivação. — Vai ser aceita e vai conseguir a bolsa, sim, Clark.
《♡》
Na voz de Gustavo:
Minutos trás no meu quarto, Joanne me contou sobre seus sonhos e metas para o futuro, falando quase sem parar. Ela sonhava com a Harvard desde antes do colegial, o que me fazia admirá-la cada vez mais. Contudo a noite foi passando, e eu poderia ficar ali com ela por muitas horas; sua forma de falar e pensar a tornavam madura e admirável.
Mary logo nos chamou para a cozinha com a intenção de nos servir algo que ela havia feito novamente. A todo momento, Joanne parecia se confortável, o que me deixava em paz; afinal, querendo ou não, nossos mundos eram diferentes.
— Sorvete de caramelo! — Mary colocou as taças em nossa direção e me mandou uma piscada.
— Nossa, amo caramelo, me lembra a infância. Obrigada, Mary — sussurrou Joanne, timidamente. —Caramelo é o melhor!
Ela parecia realmente amar caramelo, colocando mais calda por cima e se concentrando totalmente.
— Ursinho, por que você não leva sua garota para ver as estrelas? As luzes foram apagadas e o céu está uma maravilha, a grama está limpa... — murmurou Mary, fazendo minha garganta secar.
— Mary, esse apelido não, é infantil. — Falei com os dentes cerrados e a doce senhora fez pouco caso, mas Joanne riu da minha cara obviamente.
S2
Joanne concordou em ver as estrelas e me acompanhou pela grama em passos lentos, admirando o céu. Em silêncio, a menina com olhos de sereia deitou-se na grama sem se importar com a roupa, encarou o céu e soltou um longo suspiro.
— Deita aí, mauricinho, não vai estragar o terno! — Ela não parecia ter papas na língua, o que me fez encarar seus lábios rosados e me controlar para não beijá-la ali, naquele momento.
Eu precisava me concentrar no céu, e não nos seus lábios rosados e macios.
— Posso tirar uma foto nossa? — sussurrei, e ela aceitou. Afinal, ninguém tira fotos de momentos que se esquecem. — Uma selfie nossa... — declarei, posicionando a câmera para uma foto de rosto, deitados na grama.
Ela não sabe o quanto mexe comigo, em todos os sentidos imagináveis.
Deitado ao seu lado, coloquei os braços atrás da cabeça. O céu estava limpo e estrelado, o silêncio preenchia todo o ambiente, e ela era um completo enigma para mim. Não conseguia imaginar o que se passava em sua cabeça.
— É bom estar aqui. — Sua doce voz me tirou dos pensamentos distantes. — Posso te fazer uma pergunta?
— Quantas quiser — declarei.
— Por que se afastou da sua turma? — Engoli seco, sem saber como explicar. —Quer dizer, quando isso aconteceu todo o colégio ficou sabendo, a maior fofoca.
Sua curiosidade já era algo que eu havia notado; sinceridade era algo que ela prezava.
— Eles faziam coisas erradas, machucavam pessoas por diversão e por mais que não acredite, eu não sou assim. E sim, eu me iludi com o mundo de festas, dinheiro sem limites e popularidade, mas ferir pessoas, isso não. — Ele negou, seriamente. — Então, quando me afastei, tirei uma venda dos meus olhos e passei a ver a vida de outra forma, mais dura e real. E vi uma coisa bonita que esteve diante de mim por anos... — As palavras saíram de minha boca facilmente, e senti Joanne virar o corpo para o meu lado.
Ela me encarava, pacificamente.
— Entendo, já te julguei demais, confesso. Você é uma pessoa boa, Baker. — Ela sorriu. — E o que você viu?
Suas palavras aqueciam meu coração, eu sei que ela sabe de quem estou falando, mas talvez precise ouvir para acreditar.
— Você. — Falei, baixo. — Por que não te vi antes? Tipo, no jardim de infância. — Bufei, mostrando meu lábio inferior.
Ela negou, sorrindo sem jeito.
— Tudo acontece como tem que acontecer, nem sempre temos as respostas. Eu te via, mas não suportava essa sua cara de irritante e mauricinho metido a besta... — ela sorriu, arqueando as sobrancelhas.
Ela me xingava com muita facilidade, mas era engraçado.
— Quase ninguém me suportava, só queriam usar meu corpo, me beijar e depois me largavam. Você vai fazer isso? — brinquei, fazendo-a sorrir de forma descontraída.
Nossos corpos se aproximaram sob a noite estrelada e com um vento gelado. Virados para o mesmo lado, podia sentir sua respiração trêmula próxima a mim, senti sua mão gelada se perder entre meus cabelos e acariciar minha bochecha. Seus olhos azuis encaravam os meus, e passei meu polegar em seu lábio inferior rosado e seco.
—Farei muitas coisas, menos largar... — Joanne sussurrou, fazendo um sorriso surgir nos meus lábios. —Irritante, convencido, metido, sem noção e lindo.
Acabei de ser xingado e estou sorrindo.
— O que mais eu... — Antes que eu pudesse completar a frase, senti sua testa colar na minha.
O cheiro doce de seus cabelos invadiu minhas narinas e seus olhos fecharam, e sua mão na minha cintura me fez sentir seu suspiro, perto demais, Clark.
— Agora você aceitaria sair comigo? Meio que um encontro, você sabe... — declarei em voz baixa, fazendo-a sorrir sem mostrar os dentes.
Ela parecia séria, bem séria.
— Gustavo, somos opostos. Você esqueceu? Somos totalmente opostos! — Joanne suspirou, fazendo-me tocar sua sobrancelha arqueada.
— Sou seu o oposto e não seu contrário — segurei sua mão apoiada na grama e senti-a apertar de volta.
O que estamos nos tornando, Clark?
— Meio ou um? — Ela sorriu com minha cara de interrogação. — Meio ou um encontro, lerdo.
Sorri após entender e ela negou.
— Um, o primeiro. Posso falar com seu pai? — Joanne revirou seus grandes olhos azuis.
— Se é importante para você, vamos combinar isso, não haja por impulso! — Inclinei-me em sua direção e a beijei com rapidez, fazendo-a soltar uma leve tapa na minha testa. Meu sorriso surgiu instantaneamente junto com uma careta.
O tempo poderia parar naquele momento. Ela é uma mistura de medo e desejo, furação e calmaria, vulcão em erupção e mar pacífico.
Joanne observava as estrelas, contando-as com atenção. Podia ver cada detalhe seu... Ainda não sei como não tê-la aqui, mas estou entregando a oportunidade da menina de língua afiada me ter completamente. Em outras palavras, estou apaixonado por ela.
《♡》
O casal que eu amo está se formando e não podia está mais feliz ♡
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