Surpresas e incertezas.
Encostada no batente da porta e com os braços cruzados, Ningning observava a melhor amiga se despedir da tatuada — e até então estranha. Sentia-se estranhamente nervosa buscando inúmeras possibilidades em mente para o que presenciou assim que chegou, mas não chegava a nenhuma conclusão. Todavia um pensamento em específico era persistente, talvez não devesse tê-las deixado ali, no final parecia ter sido uma péssima ideia.
— Vou deixar vocês sozinhas agora, precisam conversar. — Ouviu a morena a sua frente falar calmamente com a sua melhor amiga.
Minjeong permanecia sentada sobre a cama do grande quarto desde que as coisas se acalmaram, se é que isso realmente aconteceu. Jisoo, ao seu lado, era a única entre as vizinhas que ainda estava ali. Por insistência. Com toda a situação, nenhuma das garotas viu mais clima de continuar o que faziam e seguiram de volta para casa.
Se até a loira sentia-se constrangida com o que ocorreu, quem dirá as vizinhas que não tinham nada a ver com aquilo.
Por que essas coisas acontecem comigo?
A pergunta rondava a mente de Minjeong.
Se agora Minjeong estava envergonhada por chorar na frente de todo mundo, antes estava completamente irredutível. Jimin tentou por diversas vezes falar com a loira, mas falhou completamente em todas elas e vendo que não adiantaria muito insistir naquele momento, acabou indo para a casa do outro lado do lago para dar um pouco de espaço — e também por sugestão de Chaewon. Giselle, mesmo confusa, a seguiu. Precisava, assim como a namorada, entender tudo o que aconteceu.
Agora aquela casa possuía um silêncio e um vazio completamente desconfortável. Minjeong lembrava-se daquela sensação, era a mesma que sentia nos primeiros dias.
— Não guarde nada 'pra você, ok? — Jisoo pediu, depositando um breve carinho em seu ombro.
Ela apenas assentiu.
Não chorava mais, mas seu rosto vermelho e seu olhar perdido entregava as lágrimas que derramou minutos atrás.
— Obrigada. — Foi tudo o que ela disse. A tatuada questionou-se se a garota havia realmente a escutado, mas preferiu não insistir.
Jisoo pôs-se de pé e caminhou até a saída do cômodo, dando uma breve olhada na garota por cima dos ombros antes de cruzar a porta, passando por Ningning. A ruiva a acompanhou com o olhar e encostou a porta atrás de si — deixando-a semiaberta — assim que a tatuada passou por ela, queria dar uma palavra com a desconhecida antes de conversar com a melhor amiga.
— Vejo que se preocupa muito com ela. — Ningning iniciou ponderando sobre como abordar a mulher. — Se conheceram aqui? — A ruiva estava curiosa.
Curiosidade era a palavra que mais dominava a sua mente no momento.
— Quase isso. É uma longa história, ela vai te contar tudo. — Jisoo respondeu de forma breve e sem hesitar. — Esse não é o melhor momento, mas me chamo Jisoo, se precisarem de qualquer coisa podem me chamar. — Repuxou os lábios em um sorriso quase imperceptível.
Sentia-se um pouco triste pelo que aconteceu, mesmo que não tivesse culpa sobre nada. Sempre defendeu a conversa como o melhor caminho para discussões, mas entendia o lado da loira em tirar as suas conclusões, nem ela mesma tinha certeza das reais intenções de Jimin ao falar sobre aquilo.
— Yizhuo, mas pode me chamar de Ningning. — A ruiva também se apresentou brevemente.
Sem apertos de mãos ou apresentações mais calorosas.
— Eu sei, ela me falou de você. — Jisoo lembrou-se das vezes que Minjeong citou a melhor amiga.
— Sinto que perdi muita coisa. — O olhar de Ningning percorreu o seu redor, um pouco pensativa. Como se buscasse capturar tudo o que ocorreu naquela casa enquanto estava fora. — Você mora na casa do outro lado do lago?
— A casa é de uma das minhas namoradas, eu venho aqui algumas vezes durante as férias. — A tatuada responde de forma simples, não queria soar rude, mas também não gostaria de estender o assunto.
Ningning pareceu um pouco mais confusa quando ouviu a palavra “namoradas”, mas logo entendeu o que a outra quis dizer.
— Certo... bom, vou falar com a Minjeong agora. — A ruiva preferiu não fazer grande caso, um relacionamento a três não era algo de outro mundo e no momento possuía coisas mais importantes a fazer. — Obrigada por cuidar dela. — Ofereceu um sorriso simples.
— Não precisa agradecer, me preocupo com ela, embora tenha a conhecido a poucos dias. E não precisa me acompanhar, vocês precisam realmente conversar, eu fecho a porta antes de sair. — Jisoo disse por fim, não dando tempo de resposta a ruiva que apenas observou a mulher distanciar-se e seguir rumo ao andar de baixo.
Ningning encarou o nada por mais alguns segundos, com uma pulga atrás da orelha pela forma que a mulher frisou que precisavam conversar duas vezes. Ficou fora por duas semanas, mas a sensação que tinha era de voltar de uma viagem de dois anos.
Virou-se novamente para o cômodo e empurrou a porta, adentrando-o e encontrando a loira no mesmo lugar.
O olhar da loira encontrou o da ruiva, buscando um conforto do qual sentiu falta durante todos aqueles dias. Com os pés balançando no ar — pela altura da cama — ela tocou o espaço ao seu lado no colchão, em um pedido silencioso para que a melhor amiga se acomodasse ali.
— Senti a sua falta. — Ningning proferiu enquanto fez o que Minjeong pediu. Sabia que a melhor amiga precisa de conforto e ela não sairia dali enquanto sentisse que a loira precisava dela.
— Eu também senti a sua falta, todos os dias praticamente. — Minjeong disse em um tom baixo. A primeira frase coerente que saiu em minutos.
— Acho que fiz a escolha errada em deixar vocês aqui, olha como você está... — A culpa era nítida na voz da ruiva.
Minjeong ficou calada por alguns milésimos de segundos, não saberia dizer se concordava ou não com a amiga. Sua mente ainda insistia em pensar nas palavras que ouviu no porão.
Estar ali havia sido um erro?
— Eu preciso te explicar muita coisa. — A loira, por fim, falou.
— Tenho todo tempo do mundo. — Ningning assegurou. — Preciso entender o que realmente aconteceu, você nunca ficou assim em nenhuma briga com ela antes.
— Dessa vez foi diferente... — Completamente diferente. Minjeong apenas pensou, tinha muito o que falar, mas não teria pressa.
— Não irei te pressionar em nada, pode explicar no seu ritmo. — A loira sentiu falta do jeito compreensivo da ruiva.
Ningning sempre foi uma ouvinte maravilhosa, mas Minjeong sentia-se nervosa em compartilhar tudo o que aconteceu durante aqueles dias, duas semanas que foram suficientes para fazê-la questionar as próprias decisões.
A verdade é que ela tinha ensaiado mentalmente diversas maneiras de explicar tudo o que aconteceu quando as amigas chegassem, mas não contava com aquele cenário em que se encontrava. Esperava que quando chegasse a hora, explicaria cada detalhe e escutaria a melhor amiga berrar por alguns minutos sem acreditar que ela e Jimin se beijaram — diversas vezes — e estavam se relacionando, se conhecendo, ficando, ou seja lá como rotulavam aquilo.
Mas agora... sentia-se envergonhada por ter se entregado a um sentimento que deveria ter morrido anos atrás. Precisava contar para Ningning tudo o que ocorreu, porém dessa vez sem final feliz. Gostaria de acreditar que nunca esperou um, mas ela o fez.
Sentia agora uma mágoa que a consumia e o marejar de seus olhos era quase perceptível, se ela não estivesse conseguindo segurar tão bem a vontade de desabar mais uma vez.
Minjeong não queria a pena de ninguém, e o que mais a irritava era que mesmo magoada e não querendo ver o rosto da morena por um tempo indeterminado... ela não conseguia a odiar. Algo que sempre conseguiu fingir tão bem fazer agora não era mais possível.
Talvez tenha sido as palavras ditas, as promessas bobas e os beijos trocados que a fizeram desmontar por completo. Ela estava em pedaços e sabia que a única pessoa que poderia juntar os seus cacos também foi a mesma que a quebrou.
Kim Minjeong odiava não odiar Yoo Jimin.
A loira suspirou pesadamente e acomodou-se melhor sobre a cama, ficando frente e frente com a melhor amiga.
— Lembra do dia que me levou para conhecer a Giselle? — Minjeong precisava iniciar de algum ponto e nada melhor do que começar pelo começo, a redundância sempre a levando para o mesmo lugar.
Ningning assentiu assim que ouviu a pergunta.
— Sim. Foi o dia que você e a Jimin brigaram pela primeira vez. — Nunca esqueceria do jantar mais desastroso que já pôde presenciar.
Minjeong também não.
— Aquela não foi a primeira vez que eu a vi. — Minjeong foi direta. — Eu já conhecia a Jimin. — Falar aquilo depois de guardar por tanto tempo era como tirar um enorme peso das costas.
Ningning encarou-a em dúvida, não tinha certeza se havia escutado direito ou se estava alucinando. Buscou no olhar da amiga uma hesitação, algo que pudesse indicar falta de verdade, mas não encontrou.
— Como? — O tom de voz confuso era presente.
— Estudei com ela durante o ensino médio, apenas algumas aulas durante a semana, mas me recordo de cada dia como uma das memórias mais vivas em minha mente. — Por um momento a mente da loira vacilou, preenchendo seus pensamentos com imagens daquela época.
Ela não queria reviver aquilo.
— Por que nunca me contou sobre isso? — Ningning não entendia o porquê sua amiga havia escondido isso dela.
— Porque eu sempre preferi manter isso para mim, antes da Jisoo eu não havia compartilhado nada disso com ninguém. — Jisoo. Ningning não sabia em que comento perdeu o controle de sua amizade com Minjeong, mas não sentia-se bem em saber que uma estranha foi o porto seguro para a melhor amiga enquanto ela curtia uma viagem com a namorada.
— Onde ela entra nisso? — A ruiva indagou.
— Explicarei sobre ela no momento certo, tudo bem?
Ningning apenas assentiu, ainda incomodada com aquilo. Não fazia a linha ciumenta, mas odiava não conseguir ajudar.
— A Jimin poderia ter sido facilmente apenas uma colega de classe durante dois anos da minha vida, mas ela não foi. — Minjeong prosseguiu com o pouco de coragem que tinha. — Não para mim. — A pausa fez-se presente por um momento. A loira estava nervosa, muito por finalmente contar tudo em detalhes e também por lembrar de uma época da qual detesta.
A ruiva remexeu-se um pouco sobre a cama buscando uma posição mais confortável, enquanto ouvia atentamente a outra.
— Lembro de estar guardando algumas coisas em meu armário e vê-la saindo do banheiro, foi a primeira vez que a vi... — O olhar de Minjeong vagou pelo cômodo como se pudesse ver a cena por outra perspectiva. Era como estar vendo um filme que passava apenas em sua mente. — E o único pensamento que cercou a minha mente naquele momento foi “que garota linda”.
Ningning arqueou uma das sobrancelhas em surpresa, a partir daquele ponto não sabia mais o que esperar daquela conversa.
— Eu a via algumas vezes pelos corredores durante todo o primeiro semestre e algo nela me chamava atenção, mas foi a partir do segundo semestre que eu entendi o que era. — Minjeong, antes com o olhar perdido, encarou os olhos confusos da ruiva a sua frente.
— E o que era? — Ningning perguntou baixo. A pergunta poderia facilmente ser uma pergunta retórica, afinal, a ruiva não era boba e por mais irreal que aquilo pudesse parecer, ligar os pontos não era difícil.
— A partir da metade do ano passei a ter duas aulas com ela durante a semana e talvez sentar na última carteira no canto da sala não fosse a melhor das escolhas para estudar... — A loira deu um riso abafado e descontente. — Mas era o melhor lugar para que eu pudesse a observar.
— Observar? — O olhar da ruiva parecia implorar para que a amiga prosseguisse.
— Acho que admirar representa melhor o que eu fazia. Em poucos dias ela deixou de ser a garota que chamava a minha atenção quando passava pelos corredores para a garota que não saia da minha mente.
Minjeong buscou a mão da ruiva sobre o colchão, buscava o toque e o entrelaçar de dedos. Ningning sabia que quando a amiga sentia-se nervosa ela segurava a sua mão, quase como um ato automático.
— Você ‘tá tentando me dizer que... — Ningning entendia, mas ainda soava completamente distante daquela realidade.
A loira sentia um bolo se formar em sua garganta.
— Sim, é exatamente isso. — Minjeong compreendeu o que a outra quis dizer. — No segundo ano do ensino médio eu ansiava pelas aulas que tinha com ela, apenas para passar o período inteiro notando o quanto o perfil dela era estranhamente bonito ou como os lábios dela... pareciam atrativos sempre que ela estava fazendo alguma pergunta. — As bochechas da loira ganharam um tom rosado.
Ningning suspirou, nunca imaginou que um dia escutaria tudo aquilo. Sempre brincou dizendo que todo o ódio entre as duas garotas era apenas amor acumulado, mas sempre foi apenas provocação.
Aparentemente ela não estava completamente errada e isso era o que mais chocava.
— Espera... — Ningning acabou desfazendo o contato com a amiga quando usou as mãos para jogar os fios ruivos para o lado. — Muita coisa para processar, você 'ta mesmo falando sério sobre isso? — A ruiva levantou-se ficando ao lado da cama, como se ficar de pé ajudasse a processar melhor.
Agora, mais do que nunca, sentia-se culpada por tê-las deixado ali.
— Por que eu mentiria? — Minjeong choramingou. A loira deitou-se sobre o colchão e encarou o teto completamente perdida e envergonhada, um suspiro pesado também foi ouvido.
— Mas se você gostou da Jimin no ensino médio... por que se odeiam hoje e por que você e ela fingiram não se conhecer naquele dia? — Ningning apontou para a amiga, como se a intimasse. Sabia que ainda viria mais coisa por aí.
Minjeong virou o rosto para olhar para a ruiva. Definitivamente contar para uma “estranha” havia sido mais fácil.
— Na verdade, apenas eu fingi. — O quê? Ningning pensou. — Durante os dois anos que passei gostando dela, ela nunca me notou.
Os lábios finos da loira repuxaram-se em um sorriso conformado.
— Você disse que estudaram juntas, como ela não notou você?
Ningning logo resolveu sentar novamente, voltando para a mesma posição que estava e fazendo Minjeong sentar-se também.
A Kim respirou fundo, o incomodo em sua garganta ainda era presente.
— Como eu falei, tínhamos apenas duas aulas juntas uma vez por semana e eu sentava no fundo da sala. — A loira encarou a ruiva. — Nunca fui a pessoa mais sociável, eu era completamente invisível durante o ensino médio, Ning.
— Então... ela nunca soube?
Naquele ponto, Ningning temia fazer qualquer pergunta e se chocar ainda mais, afinal, como pode perceber, o buraco era muito mais embaixo do que imaginou.
— E eu pretendia fazer com que ela nunca soubesse, mas sempre que eu a via eu me lembrava da adolescente covarde e que passava completamente despercebida por todos, isso me irritava e eu precisava culpar alguém. — Minjeong permitiu-se admitir, o choro preso era insistente mas ela precisava ser forte.
Ningning assentiu lentamente, as coisas começavam a fazer sentido na sua mente.
— Todas as brigas com ela foram por isso? — Perguntou baixo.
— Ela não me trazia boas memórias... — Minjeon respirou fundo antes de prosseguir. — Mas depois de um tempo eu apenas me acostumei com aquela situação, entrei em uma zona de conforto onde era mais fácil agir como se a odiasse.
— Mas você nunca a odiou. — A ruiva constatou, não perguntou.
— Nunca. — A resposta veio sem hesitação. — E talvez isso fosse o que mais me irritava, a minha incapacidade de odiá-la. Até que tudo isso aconteceu e me vi completamente perdida.
— Você diz sobre ficarem presas aqui? — Agora, mais do que antes, a ruiva sentia-se culpada por aquele plano idiota.
— Sim. Nos primeiros dias tudo ocorreu como o esperando, nos evitamos dentro dessa casa a maior parte do tempo e vez ou outra acabávamos discutindo por alguma besteira. — Um riso anasalado e tristonho foi ouvido. — Em um certo momento concordamos em dar uma trégua, parecia que não ia dar certo mas...
— Deu?
Minjeong assentiu e engoliu em seco pela enésima vez naquele dia. Mordia o interior das bochechas em nervosismo e com os lábios umedecidos ela prosseguiu.
— Tudo ficou diferente, estranhamente não brigávamos mais por besteira e talvez tenha sido a partir disso que eu perdi o controle de tudo.
A loira perguntava-se mentalmente se faria tudo diferente caso tivesse a oportunidade, mas não sabia responder. No momento o que ela mais possuía eram perguntas sem respostas.
— O que quer dizer com tudo? — Ningning indagou.
— Meu sentimentos... — Minjeong levantou-se ficando de costas para a melhor amiga e passou a encarar a janela a sua frente. — Ou ao menos aqueles que eu achava que não existiam mais. — Fez uma pausa.
Ningning apenas ouvia atentamente.
— Eu estava tão confusa e perdida, até que um dia emprestamos o seu carro para a Rosé e a Jennie buscarem a namorada delas em outra cidade e decidimos ir junto, eu precisava respirar um ar diferente e espairecer a mente.
— Vocês emprestaram o meu carro para duas pessoas desconhecidas? — A ruiva elevou um pouco o tom pela surpresa.
Minjeong apenas suspirou. Sabia que a amiga detestaria aquela ideia, mas não podia fazer nada, afinal, ela havia deixado o carro de toda forma.
— Não eram desconhecidas, são nossas vizinhas. A Rosé, por exemplo, cresceu com a Giselle por aqui. — Explicou-se e virou de frente para a ruiva, olhando-a como se pedisse para que a entendesse.
Era óbvio que Ningning não faria caso sobre aquilo, não agora, o momento não pedia. Mas nunca havia emprestado seu carro antes e nem esperava fazer isso tão cedo.
— Certo, falaremos sobre isso depois. Pode continuar. — A ruiva pediu.
— A Jisoo entra a partir de agora, ela foi a pessoa que fomos buscar e sinceramente eu nunca encontrei alguém tão observadora quanto ela. — Então foi assim que se conheceram. Ningning pensou. — Em apenas um dia me vendo ao lado da Jimin, ela leu todas as minhas inseguranças e eu me senti completamente transparente. Tivemos uma conversa sincera retornando pra cá e foi a primeira vez que eu contei tudo para alguém e admiti o que sentia também.
Além de ter colocado ambas ali por um plano seu, a sua melhor amiga havia escondido isso por tanto tempo que acabou contando para alguém que tinha acabado de conhecer. Ningning sentia um incomodo com aquela situação, a fazia se achar inútil.
— Que ainda gostava da Jimin? — A grande pergunta foi feita.
Minjeong sentiu seu coração errar uma batida e as borboletas em seu estômago passearem de um lado para o outro. Admitir isso havia se tornado difícil novamente. A loira respirou fundo mais uma vez, a vontade de chorar era grande desde o início da conversa. Ela encarou o olhar da ruiva a sua frente, mordeu o lábio inferior e suspirou.
— Infelizmente. — Foi tudo o que disse.
Ningning assentiu lentamente, agora finalmente compreendendo todas as coisas que sempre estiveram a sua frente e ela sequer notou. Levantou-se e cercou o corpo da amiga em seus braços, em um abraço que transmitia cuidado e saudade.
Minjeong sentiu falta do abraço da amiga e até mesmo do cheiro doce do seu perfume de sempre, a outra sempre foi seu porto seguro seja qual fosse o problema. Nos braços de Ningning ela estava segura, ao mesmo tempo que poderia desabar a qualquer momento, mas não o faria, não mais.
As lágrimas de mais cedo seriam as últimas que derramaria por aquilo tudo. Por ela.
— O que houve entre vocês para aquela briga ocorrer? — Ningning perguntou, agora segurando o rosto da loira com ambas as mãos.
— Quando voltamos dessa pequena viagem eu havia decidido me dar a chance de sentir aquilo de forma justa, queria me permitir tentar. — Minjeong pausou incerta. — Eu queria estar próxima da Jimin, queria sentir o que guardei dentro de mim por anos. Queria me sentir envergonhada com o sorriso dela e notar o calafrio que ela me causava sempre que tínhamos um contato diferente, até que... — Nem um som saiu da boca da mais baixa.
— Até que.. — Ningning notou o olhar perdido de Minjeonh que encontrou o seu em seguida.
— Ela me beijou.
— O quê?! — Com a surpresa, o tom de voz da ruiva saiu mais alto do que ela queria. Dois passos para trás foram quase suficientes para fazê-la tropeçar no tapete, mas conseguiu se equilibrar.
Como assim elas haviam se beijado? Ficou fora por duas semanas e tudo aquilo aconteceu? Imaginou como Giselle reagiria ao saber daquilo, se bem que levando em conta o tempo que saíram dali com certeza já estavam conversando.
Minjeong sentia as bochechas queimarem.
— Ela me beijou uma vez... duas, três, quatro... Ning, nossos últimos dias aqui foram cercados de momentos assim, ela me dizia coisas que nunca imaginei ouvir e eu me sentia segura. — E ela acreditou em tudo. — Cada beijo, cada palavra bonita e sorriso fazia a minha insegurança desaparecer cada vez mais.
— E por que brigaram? — Ningning sabia que tinha mais coisa, ainda não tinha a resposta para a sua pergunta anterior.
— Eu ouvi ela conversando com a Jisoo sobre ter escutado a nossa conversa. — A cena passou na mente de Minjeong novamente quase que involuntariamente.
— Ah... merda. — A ruiva passou os dedos entre os fios do cabelo novamente, tinha essa mania quando ficava nervosa ou ansiosa.
Agora todos os pontos haviam sido ligados, por isso quando chegou encontrou toda aquela confusão em plena sala de estar.
— Apenas ali ficou claro 'pra mim que toda a mudança dela ocorreu depois daquela viagem, Ning. Ela não sentia o mesmo por mim... era tudo culpa por ter me feito sofrer anos atrás, mesmo que sem saber. — Minjeong proferiu todas as palavras de uma vez, como se com aquele ato fosse capaz de se livrar do sentimento que a consumia.
Muitas perguntas rodavam a mente da ruiva naquele momento e ela sabia que levaria um tempo pra processar tudo que ouviu e ser capaz de compreender sem se chocar com os detalhes. De tantas questões, apenas duas não poderiam ser respondidas por sua melhor amiga.
O que Jimin quis quando beijou Minjeong?
Por que Jimin havia brincado com ela?
E ela buscaria as respostas, mas não agora. Minjeong era sua maior prioridade e não sairia dali até a manhã seguinte, quando pegariam a estrada de volta para a capital.
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