Saudade e respostas.

Somente mais dois caps pela frente...

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Sentia a ponta dos dedos gélidas e um arrepio percorrer toda a parte exposta do seu corpo. Os fios pretos completamente molhados serviam de caminho para a água que escorria por entre as madeixas e deslizavam pelo seu rosto, com os lábios trêmulos pelo frio e as roupas ensopadas, ela suspirou por finalmente ter chegado.

Jimin encarou a porta de madeira escura a sua frente, a chuva caia atrás de si, mas ela estava protegida pelo teto da varanda. Não deveria ter esquecido o guarda-chuva. Ergueu a mão e deu três batidas, esperando ansiosamente, sentia-se nervosa por não saber exatamente o que dizer e como dizer. Levou cerca de vinte minutos para chegar ali, molhou-se um pouco para chegar na estação de metrô próxima a sua casa, mas foi quando desceu no destino que não viu outra alternativa a não ser correr na chuva em direção a casa de Minjeong.

Agora estava completamente ensopada.

Os poucos segundos que se passaram após as batidas foram como longos minutos, seu estado não era dos melhores e seus lábios estavam machucados do tanto que já havia os mordidos. Quando a porta se abriu, a morena assustou-se levemente e deu um passo para trás.

— Jimin?

Não era Minjeong, e sim, a mãe dela. A mulher a encarava com uma certa confusão no rosto, sabia que a sua presença ali não era algo tão esperado.

— Sra. Kim? — Jimin gaguejou um pouco pela surpresa.

— Você está completamente molhada, criança! O que faz aqui? — O tom de voz preocupado da mulher fez-se presente.

Jimin sentiu as bochechas esquentarem um pouco pela vergonha que estava passando.

— Eu preciso falar com Minjeong...

— Ela foi na biblioteca pegar algo que esqueceu. — A mulher, dona de fios loiros como os da filha, disse. — Mas ela deve voltar logo, ela odeia chuvas assim, tenho certeza que pegará um táxi de volta assim que finalizar.

A morena abriu e fechou a boca ao menos duas vezes, mas apenas assentiu. Sentia-se frustrada, era como se sempre estivesse atrasada em relação a Minjeong, simplesmente nunca chegava no momento certo. Na escola, quando se conheceram e até mesmo quando achou que o momento havia chegado, estava errada.

Seu timing era uma porcaria, ela diria.

— P-posso esperar aqui? — Jimin perguntou referindo-se a varanda.

O olhar incrédulo que recebeu da mulher mais velha quase a assustou, afinal, a outra a encarou como se ela tivesse falado a maior besteira do mundo.

— Aqui? Nesse frio e nessa chuva? — A morena apenas repuxou os lábios constrangida. — Nunca! Espere um pouco. — A Sra. Kim pediu de maneira apressada.

Jimin viu a mulher sumir da sua vista adentrando a própria casa em busca de algo que ela não sabia o que era, então apenas fez o que a outra pediu, esperou. Precisava admitir que estava com muito frio, suas roupas molhadas e grudadas na pele com toda certeza não era, nem de longe, a melhor das sensações.

Esperou por mais ou menos dois minutos, logo a mulher voltou, tão apressada quanto foi, mas com algo em mãos.

— Aqui está... — Jimin encarou o que parecia ser uma muda de roupas e uma toalha. — Você pode se secar no banheiro social perto da cozinha, as roupas são da Minjeong então podem ficar um pouco mais curtas.

A mulher ofereceu um sorriso.

— Eu posso esperar aqui, não precisa... — Ela não queria incomodar daquela forma.

— Ande, menina. — A outra insistiu, pondo a mão sobre um de seus ombros e fazendo-a entrar. — Não se preocupe com o assoalho, eu secarei.

— Obrigada. — Sobrou para ela sorrir sem graça, agora com as roupas em mãos.

Jimin praguejou-se mentalmente por estar molhando o assoalho da casa da mulher, havia ido conversar e apenas estava dando trabalho.

— Se apresse, nesse clima é muito fácil pegar uma gripe. — Sra. Kim pediu, enquanto apontava em direção ao banheiro do andar de baixo.

A morena seguiu como pedido e logo entrou no pequeno cômodo. Sentiu um alívio quando pode tirar as roupas molhadas e vestir as secas, acabou sorrindo ao encarar-se no espelho e notar que a camisa que vestia parecia ser um número menor que o seu, nada demais, mas tinha o cheiro dela.

Secou um pouco os cabelos úmidos com a toalha e saiu do banheiro, deixando as roupas molhadas sobre a grande pia. Ao sair, notou que o piso antes um pouco molhado, já estava seco, indicando que mulher já havia limpado. Cruzou no corredor e a viu na cozinha, a mesma lhe lançou um sorriso simpático.

— A Minjeong veste essa camisa quase todo dia ‘pra dormir. — A loira comentou e riu baixo.

Por isso o cheiro dela estava ali.

— Obrigada, Sra. Kim. — Jimin agradeceu.

— Não precisa agradecer, Jimin. Fiz ‘pra você. — A mulher apontou para a xícara sobre a ilha da cozinha. — E pode me chamar de Haewon. — Pediu.

Jimin assentiu e sentou-se no banco para ficar frente a frente com a mulher, a fumaça do chocolate quente contido dentro da xícara adentrava por suas narinas.

— Eu não queria incomodar dessa forma.

— Incomodo algum. — Haewon disse. — Você não costuma vir aqui com tanta frequência como as meninas, deve ser ocupada.

Jimin acabou rindo baixo.

Nunca foi ocupada, mas não tinha como simplesmente dizer que aparecia ali apenas quando era forçada pela melhor amiga e que durante muito tempo ela e a sua filha não conseguiam ficar sozinhas no mesmo ambiente.

— Quase isso. — Limitou-se a responder e deu um gole no líquido.

Estava uma delícia.

— Aconteceu alguma coisa? — A mulher indagou curiosa.

A morena negou com a cabeça.

— Apenas preciso falar com a Minjeong. — Pensou que seria melhor, ao menos por aquele momento, ocultar certos detalhes.

— Deve ser realmente importante já que pegou uma chuva dessa para chegar aqui. — De fato era.

Jimin apenas assentiu e deu mais um gole no chocolate quente.

— Jimin. — Ouviu a voz da mulher a chamar após breves segundos em silêncio. Seu olhar encontrou o dela, como um pedido silencioso para que prosseguisse. — A Minjeong anda um pouco cabisbaixa nos últimos dias, até decidiu fazer esse trabalho voluntário na biblioteca. Não entendo bem os jovens de hoje em dia, mas obrigada por estar aqui, ela precisa mesmo se animar um pouco.

A morena sentiu um pouco incomodada por ouvir aquilo, imaginando que a mulher estava preocupada com a filha, sem nem imaginar que o motivo para o jeito estranho da mesma estava bem a sua frente.

— Eu entendo... — Jimin acabou ficando sem graça. De repente o líquido dentro da xícara se tornou um bom ponto de fuga.

— A Yizhuo veio aqui, tentou animar ela, mas não conseguiu. Posso perguntar algo? — A mulher perguntou de forma que mostrava o tamanho da sua curiosidade.

— C-Claro, Sra... Digo, Haewon. — A morena permitiu nervosamente e deu um grande gole.

— Acha que ela está gostando de alguém?

Jimin acabou queimando os lábios enquanto tomava o chocolate, não esperava aquela pergunta e muito menos saberia como responder. Haewon a olhou preocupada, esquecendo-se da sua pergunta por um momento, mas logo sentiu um alivio quando a mais nova sinalizou que estava tudo bem.

— Eu não sei dizer, ela não me contou nada. — Na verdade, eu quem gosto da sua filha. Ela apenas pensou.

Haewon riu baixo.

— Entendo... é que ela não costuma ficar assim e não sei como funciona as coisas hoje em dia, mas na minha época isso se chamava sofrer por amor. — A mulher acabou sorrindo sem graça. — O que eu quero dizer é que eu realmente me preocupo com ela, embora no fundo eu saiba que ela sabe se cuidar.

— Eu realmente não sei. — A morena repuxou os lábios em um sorriso torto e sem graça. Jimin viu a mulher a sua frente assentir lentamente, não parecia completamente convencida. — Para falar a verdade, ela e eu não somos tão próximas assim. — Admitiu.

Ou não éramos. Ela pensou.

A mulher pareceu não se surpreender, sabia que a filha e a garota a sua frente não eram tão amigas quantos as outras duas que quase sempre apareciam por ali.

— Não sei sobre o que veio conversar, mas espero que consigam se resolver. — Haewon fez uma pausa e notou que atraiu o olhar da mais nova. — A Minjeong pode parecer bem cabeça dura na maior parte do tempo, acabou herdando isso do pai, mas no fundo ela parece mais comigo e prefere lidar sozinha com certas coisas. — A mulher sorriu.

Jimin assentiu lentamente, digerindo cada palavra direcionada a ela. No final, ter aquela pequena conversa com Haewon acabou ajudando um pouco.

O barulho da porta da sala foi ouvido e logo a morena sentiu-se ansiosa novamente.

— Deve ser ela. — Haewon avisou.

Logo a loira fez-se presente no ambiente.

— Mãe, eu acho que... — Minjeong não conseguiu terminar de falar, notou a presença inesperada.

Jimin estava sentada de costas para o corredor, mas logo levantou e ficou frente a frente com a loira.

— Jimin? — O que diabos ela estava fazendo ali? Era tudo o que Minjeong conseguir se perguntar. — O que faz aqui?

— Eu vim conversar. — Disse simples, mantendo contato visual.

— Essas roupas são minhas? — Minjeong perguntou confusa.

— Ela chegou ensopada pela chuva, emprestei uma muda de roupas e ofereci chocolate quente. — Haewon explicou e trocou olhares com a filha. A loira assentiu lentamente observando a xícara posta sobre o balcão. — Bom... vou deixar vocês conversarem.

— Sra. Kim. — Jimin chamou. — Eu deixei as... — Acabou sendo interrompida.

— Não se preocupe, vou colocar as suas roupas na secadora. — A mulher respondeu como se pudesse ler a sua mente.

Logo a mais velha desapareceu pelo corredor, deixando as duas sozinhas.

— Jimin, eu acho que... — Minjeong disse baixo.

— Que você precisa me ouvir. — A morena insistiu vendo o olhar da outra fugir do seu. — Por favor.

Jimin estava cansada daquilo. Sentia falta de quando o olhar da loira buscava o seu e não o contrário, ela não entendia antes, mas agora sim. Muito do que antes parecia uma incógnita, deixou de ser, ela apenas lamentava que fosse naquela circunstância.

Minjeong suspirou pesadamente, no fundo sabia que aquela conversa chegaria em algum momento, seu olhar encontrou novamente a morena a sua frente que a encarava esperando algo.

— Vamos para o meu quarto. — Foi tudo o que disse antes de seguir em direção a escada que dava ao primeiro andar. Ela não poderia fugir para sempre e talvez fosse melhor assim.

A morena sentiu um pequeno alivio ao notar a outra abaixar a guarda pela primeira vez desde que voltaram de viagem, era algo simples, mas que para ela bastava. Não preparou algo para dizer, nem achava que deveria, havia saído de casa disposta a não perder mais tempo e assim o faria.

Apenas temia que fosse tarde demais, mas algo dizia a ela que não era.

Para Jimjn, o quarto da loira não parecia muito diferente desde a última vez que esteve ali, mesmo que já fizesse uns bons meses. Lembrava-se da última festa no pijama em que foi praticamente arrastada por Giselle. Era sempre assim, ela nunca estivera ali por livre e espontânea vontade.

Até agora.

— Você guardou. — A morena acabou comentando quando notou nada mais nada menos do que a pelúcia sobre a cama da outra.

Jimin sorriu lembrando de pedir para a outra beijar a bolinha que fez com que ela o ganhasse, não pensou duas vezes antes de dar de presente à Minjeong. Naquele momento achava que não, mas no fundo já sabia o porquê de fazer aquilo.

— Eu não quis me desfazer. — Minjeong ponderou um pouco antes de admitir.

A loira tinha a porta atrás de si e analisava a outra observando o seu quarto. Era a primeira vez que estavam de fato cara a cara, sozinhas, sem ninguém para atrapalhar. Dizer que ela estava um pouco nervosa seria eufemismo.

— Tenho a nossa polaroid. — Jimin disse e não escondeu o sorriso. Desde que chegou de viagem a foto tem lugar reservado no quadro acima da sua mesa, vez ou outra enquanto jogava, pegava-se admirando.

A morena esperou alguma reação por parte da loira, mas não veio. Minjeong permanecia parada na entrada do cômodo como se estivesse esperando apenas um momento para fugir dali.

Jimin suspirou e prensou os lábios.

— Por que age como se tivesse medo de mim? — O tom de voz magoado saiu quase rasgando a garganta da morena.

A loira fugiu do seu olhar pela qual poderia ser a quinta vez somente nos últimos dois minutos.

— Não é de você que tenho medo. — Minjeong deu uma pausa. — É de não me manter firme. — A voz da loira quase falhou ao final da frase.

Jimin deu alguns passos em sua direção, ficando cada vez mais próxima.

— Você não precisa. — Ela pediu.

Minjeong não saberia dizer se a proximidade da morena era o que mais a deixava nervosa, mas foi quando sentiu as borboletas voarem descoordenadas em seu estômago que constatou que fingir durante aqueles dias de nada adiantou. Ela ainda era uma boba e gostava de Yoo Jimin. Por um momento achou que vacilaria, mas como um último resquício de resistência, seu corpo desviou do da morena e ela pode respirar normalmente de novo.

Agora, em uma distância a qual a loira chamaria de segura.

— Jimin... — O chamado saiu quase como uma suplica. Para a loira, enfrentar qualquer tempestade seria mais fácil do que ter que encarar aquela situação.

Sua mente, antes com tantas certezas dolorosas, agora estava uma completa confusão. Um emaranhado de pensamentos que brigavam entre si, como um anjo e um diabo sob seus ombros.

— A gente 'tá deixando isso mais complicado do que deveria ser. — Jimin proferiu de forma frustrada. As mãos passaram nervosamente entre os fios ainda úmidos.

— Por que insiste nisso? Eu não entendo. — Minjeong de fato sentia-se perdida.

— O que não entende?

— Como pode me confundir tanto e ainda insistir em estar perto de mim, você deveria estar feliz por não ter que fingir mais. — As palavras foram proferidas sem aviso, doendo no âmago de quem as pronunciou e de quem as ouviu.

Aquilo não era verdade, a morena sabia que não.

— Eu nunca fingi, nem por um segundo. — Jimin disse convicta, finalmente encontrando os olhos castanhos da outra.

Minjeong buscou por longos segundos encontrar um resquício de dúvida no olhar da morena, mas quanto mais procurava, menos encontrava.

— Por que faz isso comigo? Você me deixa perdida. — Saiu quase como um sussurro.

— Eu sei... — Jimin assentiu. Ela tinha completa certeza disso. — Realmente não fui tão clara sobre meus sentimentos em alguns momentos, mas eu nunca me apaixonei antes, tudo isso é novo 'pra mim. — A confissão saiu naturalmente.

— Se apaixonou? — A morena não entendia o porquê da outra parecer surpresa.

— Por que acha que eu “insisto nisso”? — Jimin respondeu como se fosse óbvio.

Talvez realmente fosse para qualquer pessoa que visse de fora, mas parecia que para ambas as envolvidas tudo soava mais complicado do que realmente deveria ser.

— Pensa em mim também, Jimin. — A loira quase choramingou. — Tanto tempo gostando de você e de repente eu te encontro, isso trouxe de volta uma insegurança, um medo que antes eu achei ter superado. Eu passei por cima de muita coisa para me entregar a momentos com você e eu não quero mais somente momentos, eles não duram.

Jimin podia sentir um incomodo em sua garganta, não tinha certeza por quanto tempo mais conseguiria segurar. Tinha a sensação de que já havia aguentado o suficiente, estar ali a fazia querer desabar pela primeira vez.

— Eu não paro de pensar em você, Minjeong. — Não era a primeira coisa que admitia aquela noite.

A morena caminhou a passos lentos em direção a Minjeong, em uma segunda tentativa de aproximar-se, essa que pareceu dar mais certo, afinal, a loira continuou parada apenas a observando. Não saberia dizer se a outra não queria ou não conseguia, mas quase sentiu um choque na ponta dos dedos quando tocou a mão da mais baixa em um singelo e quase imperceptível carinho.

— Ouvir aquela conversa foi... doloroso. — Minjeong permitiu-se dizer. Sentia o toque suave em seus dedos a causar calafrios.

Poderia desfazer o contato, mas não o desfez. Permitiu-se sentir o toque que tanto sentiu falta, ela sabia que não poderia fraquejar agora, mas infelizmente não via motivos para não o fazer.

Estava, mais uma vez, completamente rendida.

— Você entendeu tudo errado. — Jimin suspirou. — Eu estava tão confusa quanto você, ouvir aquela conversar me ajudou tanto quanto te ajudou falar sobre. Em um momento eu não via sentido nos meus próprios atos e no outro... tudo pareceu encaixar tão bem.

Naquele ponto, a morena pôde sentir um único e solitário fio escorrer por sua bochecha. Ela tinha certeza que estava avermelhada.

— V-Você 'tá chorando? — Minjeong definitivamente não esperava por aquilo.

Jimin, pela primeira vez, permitiu-se chorar, baixo e de forma praticamente tímida.

Não desabou na frente de Giselle, não desabou na frente de Ningning, mas ali... na frente de Minjeong, sabia que não conseguiria se manter tão forte quanto esperava.

Sentia-se frustrada e magoada, não diretamente, mas por aparentemente não ter passado pela mente da loira, nem por um segundo acreditar nela.

Ela apenas não sabia que havia sim passado. Diversas vezes.

Minjeong a encarou profundamente como se pudesse ver através de um simples olhar, não sabia exatamente o que fazer e se deveria fazer algo de fato. Em um ato impulsivo desvencilhou o toque e levou ambas as mãos ao rosto da mais alta, seu polegar deslizava suavemente por sua bochecha — agora molhada.

— No dia do luau eu me arrependi por ter te tratado daquela forma e te ver desabafando com a Shuhua me fez ficar incomodada de uma forma que nem eu sabia explicar. — O toque das mãos pequenas da loira queimava a sua pele, sentindo-se constrangida preferiu focar o seu olhar em qualquer outro ponto. — Quando eu fui atrás de você e servi como seu maior apoio...

O quão irônico era ela estar chorando agora, em papeis invertidos ao da noite que descobriu que não se importaria de ser o porto-seguro da loira. A morena respirou fundo e passou a língua entre os lábios sentindo o gosto salgado. Tentava conter as lágrimas, que embora tímidas, ainda assim eram presentes.

— Jimin... — Minjeong a chamou, tentando fazê-la lhe encarar.

A loira nunca a viu tão frágil.

— Sempre que eu estava perto de você eu fazia e dizia coisas rudes das quais me arrependo, mas eu sentia outras coisas boas que me assustavam. Gostar de você me assustou, mas eu não conseguia não o fazer. — Um sorriso tristonho preencheu os lábios cheios. — Eu insisti numa trégua por motivos que eu não sabia, mas que hoje entendo como um desejo inconsciente de estar perto de você. Ouvir você conversar com ela me chocou ao mesmo tempo que me fez pensar o tanto que você guardava para si. — As palavras apenas saíram em meio a uma respiração descompassada.

— Se sentiu culpada? — A pergunta da loira trouxe de volta o seu olhar de Jimin para os orbes castanhos.

Nunca.

Jimin negou com a cabeça sem hesitar, nem mesmo por um segundo.

— Não. — Disse convicta, porém com a voz embargada. — Nem por um momento eu senti culpa, algo que nascesse do sentimento de culpa jamais poderia ser considerado verdadeiro.

Minjeong tentou se manter firme desde que entrou no quarto, mas agora tinha a plena certeza de que havia sido em vão, assim como também tentou distrair a sua mente de diversas maneiras diferentes, mas tudo no final sempre levava a ela.

— E era? — A loira perguntou, mas no fundo sabia que não existia mais dúvida alguma.

Minjeong lembrou-se da conversa que teve com Giselle no carro enquanto voltavam e do quanto ficou pensativa após isso, sabia que deveria ter ouvido o lado da outra mais cedo, sabia que era direito dela, mas estava cegamente machucada.

Quando chegou em casa imaginou que aquela conversa que estavam tendo agora logo chegaria, mas os dias passaram e não teve sinal da morena, escolheu tentar esquecer mesmo sabendo que aquilo era quase impossível.

— Nunca me apaixonei até conhecer você. — Era a segunda vez que Jimin dizia aquilo. Minjeong suspirou pesadamente e encarou os seus olhos favoritos, parecia frágil, como se pedisse silenciosamente por cuidado.

— Eu também senti a sua falta. — Ela admitiu.

A loira aproximou-se ainda mais sem desfazer o contato das mãos no rosto da morena, mas agora suas testas estavam unidas.

— Todos os dias? — Jimin perguntou com um sorriso na voz e lábios trêmulos. Viu a loira assentir e sentiu como se um peso fosse tirado de suas costas.

Minjeong umedeceu os próprios lábios e alternou o olhar entre os olhos escuros e a boca da morena. Como sentia falta de tocá-los...

— Por que insistiu em não sair da minha mente? — Ela indagou em um sussurro.

Sentiu as mãos firmes de Jimin abraçarem a sua cintura.

— Porque você sente o mesmo que eu e eu consigo ver isso no seu olhar, por isso eu ainda insisto. — Durante os poucos dias que passaram, a morena cogitou que a outra estivesse mesmo disposta a deixar tudo para trás, mas ao cruzar com seu olhar na biblioteca sentiu que nem tudo estava perdido.

— Em mim?

— Na gente. — Jimin respondeu.

Os olhos fixos nos da outra, as respirações sendo trocadas assim como as palavras em forma de confissões.

— Existe um a gente? — Minjeong admitiria ali em voz alta, mas queria que sim.

— Pode existir. — A resposta da morena pareceu deixar a outra confusa.

— O que quer dizer com isso?

— Quero dizer que não estou mais disposta a apenas tentar. — Jimin estava cansada disso.

A morena cortou a distância entre elas e depositou um breve selar no canto dos lábios que tanto sentiu falta.

— Ji... — Minjeong suspirou rente aos lábios da mais alta.

— Porque quem tenta, deixa espaço para a dúvida. — Fez uma breve pausa. — E eu não tenho dúvida alguma do que sinto por você. — Foi a última frase dita pela morena antes da loira tomar a iniciativa e encerrar de vez o espaço entre elas.

Os lábios se encostaram delicadamente trazendo consigo um suspiro de alívio ao toque, as mãos da loira, antes no rosto da morena, deslizaram em carícias até a nuca da mesma onde pôde brincar com os fios escuros por entres seus dedos.

O toque causava arrepios por todo o corpo de Jimin, sentia-se em completo êxtase com o corpo da mais baixa pressionado contra o seu e o toque quente e aveludado de suas línguas em um beijo que gritava saudade.

Minjeong sentia como se pudesse desmanchar nos braços da morena. Sentiu falta de cada detalhe da outra, do beijo viciante e inebriante, do toque firme que a deixava em delírio e de todas as sensações que aquilo acompanhava. As respirações descompassadas misturavam-se em saudade, foram apenas poucos dias, mas sentiram como muitos.

A morena mantinha o toque firme na cintura da outra e a trazia cada vez mais para perto, mesmo que seus corpos já estivessem colados. Sentiu seu lábio inferior ser mordiscado suavemente e não segurou um suspiro.

— Salgado... — A loira comentou em sussurro sorrindo entre o beijo. O gosto das lágrimas da morena em seus lábios de nada atrapalhavam.

Jimin riu baixo.

— Senti falta do seu beijo. — A morena sussurrou em um misto de alívio e felicidade.

A ponta dos narizes roçavam em um carinho.

— Eu senti a sua falta. — Minjeong agora poderia gritar aquilo e sequer se importaria.

Nunca antes haviam experimentado o sentimento de saudade e ali, naquele quarto aconchegante, com o barulho da chuva que caia do lado de fora, trocaram não apenas aquele, mas diversos beijos durante um bom tempo.

[...]

— Quantos anos tinha aqui? — Jimin perguntou curiosa.

Ambas estavam sentadas sobre a cama da loira e um álbum de fotos antigo estava aberto sobre o colchão. Minjeong estava abraçada as costas da morena, com as pernas rodeando sua cintura, não queria e nem iria desfazer aquele contato.

— Hm... acho que dez. — Minjeong respondeu depois de tentar lembrar.

— E nessa? — A morena apontou para uma foto da loira em que ela estava com um chapéu de aniversário e um sorriso largo.

— Foi na festa de aniversário da minha prima, acho que eu tinha sete.

Minjeong estava adorando ver as reações da outra a suas fotos antigas de quando era pequena. Seu queixo apoiado sobre o ombro esquerdo da outra a possibilitava sentir o cheiro doce dos fios — agora completamente secos.

— Você sempre foi adorável. — Jimin comentou.

Um sorriso largo ganhou os lábios da loira.

— Sempre? — Perguntou de forma sapeca.

— É um segredo. — A morena virou o rosto, podendo sentir o contato da ponta do nariz da loira em sua bochecha.

— Quer saber mais um segredo? — Minjeong perguntou baixo, fechando os olhos com o contato breve. Jimin murmurou para que prosseguisse. — Minha mãe sabe sobre você.

O contato foi desfeito de forma abrupta, fazendo a loira rir a plenos pulmões por ter imaginado aquela exata reação por parte da outra.

— O que?! — Jimin agora estava sentada de frente para ela e a encarava incrédula.

Então ela sabia e não havia lhe dito nada...

— Contei quando cheguei de viagem, ela acabou notado que eu estava diferente. — A loira deu de ombros.

— Eu...

— Ela fingiu que não sabia, certo? — Minjeong conhecia bem a mãe, quando chegou e viu a garota com ela na cozinha não precisou pensar muito.

— Por isso ela não estranhou eu estar aqui até agora? — Jimin tinha razão.

Estava ali desde o início da tarde e sequer haviam descido para o jantar, o que particularmente ela achou falta de educação da sua parte, mas ficar com a loira e matar toda a saudade que guardava pareceu mais conveniente no momento.

E ainda teriam aula na manhã seguinte...

— E pretendia ir embora? — Minjeong fingiu estar ofendida.

— Talvez? — De fato a morena não sabia, lembrava de ter deixado as chaves com Ningning e imaginava que ouviria bastante quando a encontrasse.

— Eu quero você comigo. — A loira deixou claro, engatinhando para mais perto da morena e sentando-se sobre seu colo.

Minjeong tinha a visão perfeita da outra com as suas roupas e não admitiria naquele momento, mas havia descoberto mais uma coisa para sua lista de detalhes favoritos na morena.

Com as suas mãos sobre os ombros dela, deixou um selar sobre os lábios quentes.

— Jimin... — A loira a chamou.

— Hm? — Jimin apoiava o corpo com os braços sobre o colchão e tinha um sorriso desenhado nos lábios, além de estar de olhos fechados.

Seus olhos também estavam sorrindo. Minjeong notou.

— O que quis dizer com não querer tentar? — A pergunta fez com que a outra saísse de seu momento.

— Quis dizer que eu quero mais certezas.

— Como o que?

— Como a certeza de não dar mais espaço para insegurança, a certeza de poder te chamar de minha. — Minjeong sentiu as bochechas esquentarem. Aquilo era o que ela achava que era?

— Isso é um pedido? — Não conseguiu esconder o sorriso na voz. Ela precisava confirmar.

— Eu não quero mais perder nem um segundo com você. — Ouviu a morena dizer enquanto encarava fixamente seus olhos. Minjeong poderia se perder neles tão facilmente. — Sim, isso é um pedido.

— Uau... — Minjeong suspirou, com um largo sorriso nos lábios, ela não acreditava no que tinha escutado.

Jimin nunca pediu ninguém em namoro antes, mas não queria perder tempo com clichês e surpresas ou tudo aquilo que acompanhava normalmente um pedido de namoro. Para ela, a sua certeza bastava e esperava que para a loira também.

— Não era bem essa a resposta que eu esperava, mas... — Brincou.

Minjeong sorria como nunca antes havia sorrido, segurou uma das mãos da morena pôs sobre seu próprio peito, tinha certeza que seu coração estava em uma completa festa no momento.

— Isso te responde? — Aproximou o rosto da orelha da morena e sussurrou.

Jimin mordeu os lábios e sorriu de ladino. Também levou a mão da outra de encontro ao seu peito, sabendo que o mesmo não estava tão diferente.

— E isso responde todas as suas dúvidas?

A loira sorriu baixo e abafado contra a pele da morena, causando arrepios por todo o seu pescoço e nuca.

— Eu não tenho mais nenhuma. — Foi tudo o que disse.

Naquela noite, em meios a confissões, lágrimas, beijos e carícias, ambas não limitaram os próprios desejos e a saudade, se entregando emocionalmente e fisicamente ao que sentiam e ao que tanto já tiveram receio.

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