Macarronada e farpas trocadas.


Minjeong estava furiosa e muito, muito decepcionada. Com os braços cruzados de frente para janela do quarto que ficava no primeiro andar da casa, — quarto esse que ela havia escolhido para dormir assim que pisara no lugar — ela observava Giselle andar de um lado para o outro no gramado enquanto tentava convencer Jimin de destrancar o seu carro e sair.

Sim, Yoo Jimin tinha se trancado dentro do carro de Giselle e, segundo ela, só sairia caso a amiga concordasse em a levar de volta.

— Você não vai falar nada? — Ningning perguntou em um tom calmo. Ela estava sentada na confortável cama de casal que o quarto possuía. Havia seguido Minjeong até ali quando a mesma entrou furiosa ao ver Jimin chegar com a japonesa.

— Quem tem que falar é você, Ning Yizhuo. — Minjeong usou de um tom tão seco que fez Ningning arrumar sua postura. — Achei que seria apenas você e eu… — A Kim virou-se desistindo de presenciar as outras duas no gramado. — Se fosse apenas a Giselle eu não ligaria, sempre sou a que segura vela mesmo.

— Eu posso explicar…

— Estou esperando.

Kim Minjeong estava irredutível. Ningning sabia o quanto a amiga tinha um temperamento difícil, antes mesmo de esquematizar o plano ela já imaginava como seria a reação da loira, mas presenciar ela era bem diferente. Minjeong era assustadora as vezes.

— Bom… — Ningning iniciou receosa sob o olhar atento da loira que permanecia em pé a sua frente. — Sabe a última vez que você e a Jimin se viram antes das férias?

— Óbvio que sim, ela quase me esganou por ter fodido com o trabalho idiota dela. — Minjeong bufou ao lembrar.

— Nesse dia a Giselle e eu decidimos trazer vocês pra cá durante as férias, sem uma saber que a outra viria.

— E qual é o propósito disso?

— Ah, qual é, Minjeong! Você e ela parecem duas crianças irritantes que ficam de birra o dia inteiro. — A loira fez um bico que constatou o seu ponto de vista. — Minha paciência não é infinita, muito menos a da minha namorada.

— Se vocês acham que isso vai dar certo — Minjeong apontou para a janela. — Vocês estão muito enganadas.

Minjeong definitivamente não daria o braço a torcer por nada, nem mesmo por sua melhor amiga.

— Jeongie… Vem aqui. — Pediu Ningning, com a famosa expressão fofa que tinha efeito em todo mundo. E Minjeong estava incluída nisso.

A loira foi até a amiga e sentou-se ao seu lado sabendo que vinha conversa por aí. Era sempre assim que Ningning tratava das coisas quando fugiam de seu controle, muitas brigas das duas eram resolvidas pelas conversas que a doce garota de cabelos vermelhos iniciava. Ningning era muito boa com palavras e a Kim sabia muito bem disso.

Ela sabia que Ningning a tentaria convencer de que estava fazendo o certo.

— Eu nunca entendi o porquê de vocês duas se odiarem. — A chinesa disse sincera olhando nos olhos da loira.

— Nossos santos simplesmente não bateram, isso acontece sabia? — Tentou soar indiferente.

— Não vem com essa, vocês nunca nem tentaram.

Ningning tinha razão, ambas estiveram em guerra desde a primeira palavra trocada e nenhum dos lados sequer havia levantado a bandeira branca ao menos uma vez. Talvez porque haviam entrado na zona de conforto, mesmo que de confortável ela não tivesse nada. Aquilo era difícil de ser mudado, mas não impossível.

Pelo menos era assim que a ruiva pensava.

— Não é assim tão fácil, a Jimin…

— É difícil? Sim, isso todo mundo sabe. — Ningning a interrompeu. — Mas você também é. — Touché

Yoo Jimin não era a pessoa mais fácil de se conviver, mas se tem uma coisa que Kim Minjeong não podia negar, era que ela também tinha um temperamento muito forte e poucas pessoas sabiam lidar com ele.

— Ning…

— Pensa em mim e na Giselle, Jeongie. — Ningning apelou para o emocional, ela sabia que isso sempre funcionava. — Lide com isso como se fosse apenas uma viagem entre amigas.

— Você e Giselle são minhas amigas, aquela lá eu não faço a mínima questão. — Minjeong fez uma careta apenas por pensar na possibilidade de ser amiga da morena que tanto lhe tirava do sério.

— Ok, Jeongie… — Ningning suspirou. Se queria convencer a loira de que aquilo talvez não fosse tão ruim teria que dar tempo ao tempo e torcer para que Kim Minjeong e Yoo Jimin saíssem dali no mínimo, amigas.

Se bem que ela no fundo achava que seriam bem mais que isso e a sua intuição nunca falhava.

— Por favor, vamos tentar apenas manter o clima de paz? — A chinesa indagou sob o olhar atento de Minjeong.

— Eu prometo a ignorar o máximo que eu conseguir.

Não era o que Ningning queria, mas era o máximo que teria por aquele momento, então apenas assentiu dando-se por satisfeita. Ao menos a loira tinha aceitado ficar ali e aproveitar as duas semanas, mesmo que internamente o desejo fosse de ir embora.

— Isso já é um começo. — A ruiva disse sorridente. Ela tinha conseguido.

— É o começo e o final. Não vai passar disso.

Ningning quis rir com a resposta, mas não queria levar um tapa da amiga, então guardou o deboche apenas para ela.

— Como será que elas estão? — Ningning caminhou até a janela para ver as duas, mas nenhum sinal de Giselle nem de Jimin.

— Espero que a sua namorada tenha aceitado a levar de volta para o inferno de onde ela veio. — Minjeong não perdeu a oportunidade de zombar.

Havia se levantado e estava de costas para a porta nem notando a presença de duas pessoas ali.

— Não vai ser essa vez que vai se livrar de mim, idiota. — Jimin disse emburrada, arrastando a mala para dentro do cômodo.

Minjeong se assustou com a voz nas suas costas e virou-se para em seguida revirar os olhos.

Merda.

— Não acredito que conseguiu convencer ela! — Ningning foi até a namorada que estava encostada na lateral da porta e a abraçou.

— Não foi bem assim… — Giselle coçou a nuca e olhou para Jimin.

— Ela ameaçou quebrar o vidro e me tirar a força.

Minjeong arregalou os olhos e segurou para não rir.

A chinesa faria uma nota mental sobre ensinar a sua namorada a resolver os problemas na base da conversa e não da violência. Mas tinha dado certo, então ela deixaria passar apenas dessa vez.

— O que acha de ajudar ela com as malas, Jeongie? — Giselle perguntou para Minjeong que estava meio alheia a situação.

— Gi, eu aceitei ficar, mas isso já é demais.

— Exato! — Jimin diz assim que coloca a mala sobre a cama.

— Olha só, amor, elas já estão concordando entre si! — Foi a vez de Ningning falar fazendo as duas “inimigas” revirarem os olhos.

Aguentar aquilo seria difícil.

As namoradas decidiram sair do quarto com a desculpa de que teriam que resolver algumas coisas no andar de baixo e agora a loira e a morena estavam sozinhas no cômodo.

Jimin abriu a mala e passou a tirar algumas peças da mesma e as colocou sobre a cama ao lado da mala, sob o olhar da loira que não fazia ideia do porquê estar ali ainda. A viagem tinha sido cansativa e tudo o que a morena queria no momento era descansar e poder desfrutar de um sono gostoso, mas sabia que o casal da casa daria um jeito de não deixar ninguém dormir antes da hora.

— Não vai sair daqui? — Minjeong foi tirada do seu devaneio pela voz rouca de Jimin. A morena a encarava curiosa e por alguns segundos aquilo a deixou sem graça até porque ela estava inconscientemente ali.

Mas foi apenas por alguns segundos.

Minjeong bufou e fez menção de caminhar até a porta, mas as mãos gélidas da morena haviam segurado seu pulso fazendo-a encarar as íris negras da mais nova.

— Me ajude com a mala. — Jimin a encarava sem expressão, mas assim que viu o olhar de surpresa da loira não segurou a gargalhada que estava prendendo desde que notara que ela tinha ficado no quarto. — Eu estou zoando com você, idiota. Me deixe terminar isso aqui. — Voltou a sua atenção para as roupas.

— Você é insuportável! — Minjeong soltou antes de caminhar a passos pesados para o andar de baixo.

Jimin sempre foi de provocar Minjeong daquela forma, por algum motivo a loira parecia ter medo quando ela chegava muito perto e a Yoo se divertia, por isso vivia a tirando do sério. Quase sempre que tinha a chance não a desperdiçava.

Ela passou mais alguns minutos organizando as roupas em uma das duas cômodas que tinham no quarto para em seguida descer para o andar de baixo encontrando as três garotas na cozinha conversando sobre algo que parecia estar relacionado ao jantar. Durante o tempo que a morena havia passado no quarto, o entardecer deu lugar a noite e já havia escurecido.

O lugar era silencioso e além da conversa que estava sendo jogada fora na cozinha o único barulho que era possível ouvir era da correnteza do lago que ficava por trás da grande casa de campo.

— Ainda bem que chegou, Ji. Estávamos pensando em fazer macarronada para o jantar, o que acha? — Indagou Ningning ao ver a morena entrar no cômodo.

— Por mim tudo bem. — Jimin sentou-se em um dos bancos que ficavam ao redor do grande balcão de mármore no centro da cozinha.

Minjeong estava sentada a sua frente, Giselle e Ningning agora pegavam alguns ingredientes para fazer a macarronada.

— Quem quer me ajudar a fazer a massa? — Giselle perguntou erguendo um saco de trigo e o colocando na bancada.

— Achei que tivesse massa pronta. — Minjeong comenta.

— Infelizmente eu esqueci de comprar. — A japonesa fez um bico.

— Eu avisei antes de virmos. — Ningning a repreendeu enquanto procurava uma panela para preparar o molho.

— Então não posso ajudar, sou péssima na cozinha. — Minjeong deu de ombros e ouviu uma risada abafada vir da morena a sua frente. — Do que está rindo?

— De você. — Jimin foi direta e a loira uniu as sobrancelhas. — Onde já se viu não saber fazer um macarrão.

— Fazer macarrão não é tão fácil assim, Ji. — Ningning interveio defendendo a amiga e colocando um pote sobre o balcão ao lado do pacote de trigo. Giselle, por sua vez, foi até a pia para lavar as mãos e iniciar o preparo da massa.

— É fácil para mim… — Deu de ombros.

— Então vem me ajudar. — A japonesa disse sorrindo. Jimin atendeu com um sorriso cínico direcionado para loira e passou a ajudar.

As três garotas então começaram o preparo da macarronada naquela noite agradável. Ningning havia colocado sua playlist offline para tocar no celular e elas cozinhavam embaladas ao som das músicas animadas que a ruiva tinha como favoritas. Minjeong apenas observava, não podia se distrair no celular, até porque não tinha internet, então apenas observava as três se divertindo com a comida como se aquilo fosse a coisa mais engraçada do mundo.

— Entra no clima, Jeongie! — Ningning a chamou, fazendo uma dancinha esquisita enquanto mexia o molho. Como ela estava se divertindo tanto só fazendo comida? Ningning era uma maluca.

Minjeong estava ponderando, não queria colocar fogo na cozinha nem nada, mas também não queria ser a que não faz nada. Olhou para as outras duas que estavam fazendo a massa e se deparou com o olhar de Jimin sobre si, não era o típico olhar de quem provocaria ela, e sim, como se esperasse ela ajudar Ningning.

— Se eu queimar algo não coloquem a culpa em mim… — Minjeong então resolveu levantar, mas quando passou por Giselle, acabou tropeçando e ao tentar segurar nos braços da amiga viu toda a farinha de trigo cair sobre si.

Não tinha como ficar pior.

A gargalhada de Jimin ecoou por toda a cozinha e Minjeong até teria se levantando para bater na morena se as outras também não tivessem a  acompanhado. Agora a loira era o centro da atenção naquela cozinha. Maldito jeito atrapalhado que sempre a fazia passar vergonha. Ao menos aquilo serviu para mostrar que definitivamente, Kim Minjeong e cozinha não combinavam de jeito nenhum.

[...]

Era pouco mais das dez da noite e todas na casa já estavam se entregando ao sono. Após preparar o jantar e ter que tomar um banho para limpar toda a sujeira que havia feito, Minjeong saiu do banheiro do seu quarto para trocar-se e finalmente descansar.

A viagem cansativa de carro já estava fazendo efeito e não tinha uma que não estivesse sentido o corpo pesar. Mas ainda tinha um porém, a casa de campo tinha dois quartos de casal.

Obviamente Giselle e Ningning já tinham ficado com um, no final do corredor de baixo mais precisamente. E agora Jimin estava dentro do quarto com a loira que tinha acabado de sair do banho, mas a morena estava de costas para si tirando a mala  de cima da cama e a colocando em baixo da mesma.

— Você não vai dormir aqui. — Minjeong informou atraindo a atenção da morena que fez menção de a olhar, mas ao notar que a loira só estava de toalha virou para frente novamente.

Jimin já imaginava que teria que dormir na sala assim que soube que a loira tinha escolhido o quarto primeiro.

— Eu sei. — Jimin disse seca. — Só estou pegando uma roupa, vou tomar banho no andar de baixo e dormir na sala.

Ela dormiria na sala?

Não era muito desconfortável?

— Não tem outro quarto? — Minjeong perguntou naturalmente, mesmo sabendo a resposta.

— Se tivesse eu não estaria indo dormir na sala, idiota. — E lá estava o tom ácido presente na conversa de ambas.

— Espero que pegue uma gripe. — Minjeong disse emburrada. Se referia ao fato da morena ir dormir na sala e estar fazendo frio.

— É recíproco.

Foi a última coisa que Jimin disse antes de sair do quarto para dormir no grande e confortável sofá da sala.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top