Distrações e tempo perdido.
A biblioteca não era, nem de longe, o local mais frequentado durantes as férias, portanto estava quase vazia, não fosse por dois alunos — que sabe-se lá o que estavam fazendo ali — e outras duas figuras, mais preocupadas em organizar o acervo do que observar o movimento.
— Esses livros de arquitetura são enormes e pesados. — Minjeong suspirou um pouco cansada.
Estava ali há umas duas horas apenas, mas não imaginou que teria tanto trabalho. Ajoelhada sobre o piso polido, ela tateava alguns exemplares das prateleiras mais baixas.
— E ainda estão no lugar errado, queria entender qual o problema das pessoas em guardarem na sessão correta. — Heejin disse, a desorganização dos alunos com a biblioteca a irritava com frequência.
Ambas conversavam em um tom de voz moderado, afinal, não precisavam sussurrar em vista que apenas outras duas pessoas estavam ali.
— Sempre que venho aqui para estudar acabo arrumando um ou outro que vejo. — Minjeong comentou.
— Poucos alunos sabem valorizar essa biblioteca, quando formos organizar o acervo no depósito você vai notar isso. — Heejin fez questão de avisar, já havia visto de tudo no acervo.
Não era a primeira vez que se voluntariava para ajudar na biblioteca, diferente de Minjeong.
— Os livros estão tão ruins assim? — A loira tinha um tom de curiosidade na voz.
— Você não vai acreditar nas coisas que já achei entre as páginas. — Heejin pegou alguns exemplares dos livros de arquitetura e olhou para Minjeong que terminava de organizar a prateleira. — Pode trazer esses? — Ela apontou para o restante.
Minjeong apenas assentiu e logo levantou-se para recolher os livros da prateleira de cima. Precisou de um pouco de esforço nos braços para conseguir equilibrá-los, a outra tinha mais jeito para aquilo, mas ambas seguiram até o balcão a alguns metros dali.
— Você faz isso sempre? — A loira perguntou.
— Não, somente quando preciso de crédito. — Heejin suspirou em alívio quando pôs os livros sobre o balcão. Minjeong fez o mesmo. — Você não faz ideia do quanto esses créditos bônus já me salvaram em final de período.
— Eu imagino... — Minjeong não entendia bem, nunca precisou de crédito extra.
Não queria se gabar, mas sempre foi muito responsável com os estudos e não precisava se esforçar muito para tirar boas notas.
— Mas e você? Também precisa do crédito? — Não. Ela apenas pensou.
— Sim. — Mentiu. — Melhor ser voluntária aqui do que ter que ir para as palestras do começo do semestre. — Mentiu novamente. Ela adorava as palestras.
— Tem total razão, por isso eu prefiro a biblioteca. É calmo, principalmente nas férias, e se não fosse pelos esquecidos que veem devolver os livros antes que passe a contar multa, não teria movimento algum. — Heejin abaixou atrás do balcão e pediu para que Minjeong passasse os livros para ela, um por um.
A verdade é que a loira não estava ali por crédito, estava ali para fugir dos próprios pensamentos. Sempre durante a última semana de férias, a biblioteca disponibilizava créditos extras para os alunos que se voluntariavam a ajudar meio período. No últimos dias de férias era muito comum que alguns alunos fossem devolver livros usados no semestre anterior antes que a multa renovasse para o semestre seguinte.
Alguns alunos faziam aquilo avidamente para garantir sempre os créditos, outros se voluntariavam como última opção para não reprovar um período.
E tinha Minjeong... que estava ali para se distrair e parar de pensar tanto em uma certa morena. Desde que voltou da casa de campo, três dias atrás, tornou-se sufocante estar sozinha no próprio quarto, afinal, sua mente não dava um segundo sequer de descanso.
— Não os julgo. — A loira comentou divagando.
— De toda forma ninguém planeja nada para a última semana de férias mesmo. — Minjeong viu a ex-namorada rir baixo. — Por falar nisso, o que fez?
Ela ponderou por alguns segundos.
— Nada demais, o de sempre. — Se mentisse mais um pouco ela ficaria expert. — Minhas férias nunca são tão boas quanto as suas.
Tentou parecer mais convincente e ouviu uma risada baixa por parte da outra.
— Poderia ajustar o ar-condicionado? ‘Tá meio quente aqui. — Uma das pessoas que estava em uma mesa a alguns metros delas, as interrompeu.
Minjeong apenas assentiu e pegou o controle no balcão para diminuir a temperatura.
— Essas pessoas que estudam na biblioteca mesmo sem ter aula... — Heejin, ainda abaixada, resmungou.
A loira acabou rindo também.
— Eu prefiro estudar em casa, nada melhor do que o conforto do meu quarto. — A ironia que era ela estar fugindo daquele mesmo ambiente.
Heejin achava aquilo a cara da loira, haviam namorado por pouco tempo, mas ainda lembrava de algumas manias.
— Como andam seus pais? Faz um tempo que não os vejo. — Heejin perguntou.
— Eles estão bem, vez ou outra minha mãe pergunta de você. — Minjeong lembrou de algumas vezes que a mãe lembrou da ex-nora.
Não foram muitas vezes, mas sabia que a sua mãe tinha um carinho especial por sua primeira namorada.
— Eu fui a melhor nora que ela já teve. — Heejin gabou-se como se lê-se seus pensamentos.
Assim que terminou o que fazia, a mesma se levantou e ficou de frente para a loira.
— A única. — Heejin acabou rindo com a resposta.
— Por falar nisso, anda conhecendo alguém?
— É complicado. — Minjeong desviou o olhar da outra.
— Complicado mesmo ou complicado do tipo que a gente complica? — Sinceramente... nem ela saberia responder mais.
— Complicado tipo... — Seu olhar buscou um ponto de fuga, mas acabou encontrando uma certa pessoa cruzando pela porta. — Jimin? — Disse baixo.
— O quê? — Heejin demorou um pouco para entender, mas logo seguiu o olhar da loira. — Ei, Jimin! — Cumprimentou-a por trás do balcão.
Jimin havia entrado de cabeça baixa, parecia ocupada demais tentando pegar algo na mochila, mas não demorou muito parar notar a presença de Minjeong ali.
Ela realmente não esperava isso.
— Oi, Heejin... — Cumprimentou a garota de volta. Parecia hesitante em olhar para a loira, não tinha certeza se deveria mesmo o fazer.
— Veio devolver os livros?
— S-sim, acabei esquecendo na mochila. — Gaguejou, mas fingiu que não. Pegou os livros na mochila e colocou sobre o balcão.
Para Minjeong, aquela situação era completamente desconfortável. Estava cara a cara com a pessoa que menos queria encontrar e agora ela e a sua ex-namorada estavam frente a frente.
Por que essas coisas só acontecem comigo? Ela pensou.
— Vindo de você eu não me surpreendo, nem deve ter mexido na mochila durante as férias. — Heejin comentou simpática.
Se fosse em qualquer outro momento, Jimin não veria nenhum problema em Heejin, mas ali, sabendo que ela era a ex-namorada da garota que dominava sua mente... ela sentia ciúme.
Sim, ela admitia isso para si mesma.
— Eu meio que viajei. — Um sorriso forçado ganhou seus lábios. Esperava que ao menos não ficasse tão óbvio.
— Viajar é sempre bom! — Heejin recolheu os livros e comentou enquanto registrava a devolução no computador.
— Pois é... — A morena não fazia muito esforço para soar interessada.
— Minjeong, pode colocar esses livros naquela pilha? — Heejin pediu estendendo os livros para a loira.
Minjeong levou alguns milésimos de segundos para pegá-los e sair de seus devaneios. Nesse momento seu olhar cruzou com o de Jimin, ela precisava ser forte para fingir bem.
— E onde foi? — Heejin perguntou para a morena a sua frente.
— O quê? — Jimin voltou a sua atenção para a garota.
— Para onde você viajou?
— Ah... — A morena ponderou — Uma casa de campo.
Minjeong estava ouvindo a conversa enquanto guardava os livros.
— Não sou muito fã, meio que eu amo essa selva de pedra, mas confesso que se desligar do mundo é bom às vezes. — Tudo o que Heejin falou entrou e saiu pelos ouvidos de Jimin. — Tudo certo na devolução, nenhuma multa. Vou pegar o comprovante, só um segundo.
Nesse momento a garota falante foi até a sala da administração atrás de si e o silêncio pairou na área da frente.
— Eu não sabia que estaria aqui. — Jimin disse depois de alguns segundos reunindo coragem, mas não obteve resposta. — A Heejin...
— Precisa de crédito assim como eu. — Minjeong cortou-a sendo direta.
Jimin suspirou cansada, a mochila em seus ombros não tinha peso algum, mas podia sentir um grande incômodo ali.
— Minjeong...
— Você deveria apenas aguardar o comprovante e ir embora. — A frase saiu rasgando a garganta da loira.
— Sinto a sua falta. — Jimin admitiu, ignorando completamente a grosseria da outra.
Minjeong estava conseguindo manter a pose... até ali. Não conseguiu e encarou o olhar da morena.
Ficaram assim por breves segundos, tinham muito a dizer, a troca de olhares quase podia falar por elas, mas o momento durou pouco até serem interrompidas.
— Desculpa a demora, lá dentro 'tá uma bagunça. — Heejin havia voltado e entregou a nota morena.
Para a infelicidade de Jimin.
— Tudo bem, obrigada. — Jimin lançou mais um sorriso falso e guardou o papel na mochila.
— Te vejo na segunda? — A garota simpática perguntou, nem imaginando o fato da sua presença ali estar irritando a morena.
— Claro... — Jimin esperava que não. — Até mais Heejin, até Minjeong. — Foi embora sem muitas cerimônias, deixando ambas sozinhas novamente.
— Ela 'tá estranha. — Heejin acabou deixando o comentário escapar.
— Por que diz isso? — A loira ficou curiosa.
— Não sei... só senti. — Viu a ex-namorada dar de ombros.
Minjeong foi parar ali para tirar seus pensamentos da garota e agora tudo o que ela tinha em mente era as palavras ditas por ela.
Sinto a sua falta.
[...]
— Acredita que a ex dela também estava lá? — Jimin esbravejou no próprio quarto naquela tarde de sábado.
Com as mãos postas sobre o seu teclado e mouse, ela havia perdido a conta de a quantas horas estava jogando um de seus jogos favoritos. A chuva forte que caía do lado de fora, deslizando pela grande janela do seu quarto era um pouco barulhenta, mas não a incomodava, ela adorava climas assim.
— Tipo, sei que a Heejin é minha colega, mas não consigo deixar de pensar nela como a ex-namorada da Minjeong. — Ela prosseguiu, não menos irritada.
Usando seu headset, ela fazia questão de contar tudo para Lia, a morena havia voltado há poucos dias e assim que confirmou que a ex-vizinha também estava em casa tratou de manter o contato e agora aquela era a enésima partida que jogavam juntas.
— Você me falou isso cinco vezes. — Jimin notou um tom de voz risonho por parte da outra.
— Ela ainda me mandou embora! — Reclamou novamente e dessa vez a outra não conseguiu segurar o riso. — Do que está rindo? Não tem graça!
— Tem sim, vocês são complicadas demais. — Lia tentava se concentrar no jogo, mas desde que Jimin chegou contando sobre a ex de Minjeong ela não teve muita paz. — Na escada amarela tem dois. — Mudou de assunto e focou na partida.
Não demorou muito, a morena definitivamente não estava concentrada, sequer ouviu a call da amiga e logo sua personagem morreu em uma jogada burra.
— Porra... — Não segurou o xingamento.
Mais uma partida jogada no lixo.
— Eu avisei que estavam marcando a escada, você deveria ter entrado pela janela. — Lia disse como se fosse óbvio. E talvez fosse, ela que estava esquisita.
— Mas estava fechada! — Jimin tentou arrumar uma desculpa.
— Era só ter quebrado, Jimin! Destruição de cenário, já ouviu falar?
— Eu sou um fracasso... — Aquela já era a terceira vez que Lia ouvia aquilo somente naquela tarde.
— Azar no jogo e azar no amor. — Lia brincou, tentava vez ou outra animar a morena. — Desde quando se tornou tão dramática? Cadê a Jimin que me deu um fora na cachoeira?
— Você deveria estar me dando apoio moral e não zoando com a minha cara. — Jimin bufou. Em sua tela aparecia o seu saldo negativo.
Como pôde matar apenas dois e morrer sete vezes?
— Eu não posso fazer nada além de ser a sua companheira de jogos online no momento. — Para a sua infelicidade, Lia tinha razão. — Vai outra?
— Vou... — Chegou a arrumar a postura na cadeira para se preparar para mais uma derrota, mas ouviu a campainha tocar. —Espera um pouco, alguém chegou aqui.
Tirou o headset sem cerimônias e caminhou a passos lentos até a sala, não costumava receber muitas visitas e ainda não tinha pedido comida.
Estranho.
Ao abrir a porta, deparou-se com uma figura bem conhecida, mas que não esperava ali.
— Ningning? — Jimin disse surpresa.
A ruiva estava a sua frente, com ambas as mãos enfiadas no bolso de seu casaco de frio.
— Posso entrar?
Jimin levou poucos segundos para processar e logo deu espaço para a outra entrar.
— Atrapalho algo? — Ningning parecia tão desconfortável quanto ela.
— N-não, eu estava só jogando. — O clima entre elas ainda não estava dos melhores, não trocaram palavras desde a discussão. — Vem aqui. — Ningning a acompanhou até o quarto.
— Precisamos conversar. — A ruiva foi direta.
Jimin sabia que aquela conversa chegaria hora ou outra, mas o tom sério de Ningning a pegou de surpresa. Nunca havia discutido com a amiga por nada, então não precisou lidar com aquele lado dela antes.
— Só um momento. — Jimin pediu e pegou o headset para se despedir da ex-vizinha que ainda a esperava. — Vou sair aqui, Lia. Depois a gente se fala. — Não esperou uma resposta e logo desconectou do jogo.
— Lia? Não é aquela garota amiga da Giselle? — Ningning recordou-se brevemente do nome.
— Sim... — Jimin limitou-se a responder. Caminhou até a própria cama e sentou-se ali mesmo. — O que veio fazer aqui?
Ningning, pela primeira vez desde que entrou ali, relaxou a postura e observou a completa bagunça que estava o quarto da outra.
— Olha o tanto de lata de energético nessa mesa, isso 'tá uma zona. — Ela apontou para a mesa onde ficava o computador de Jimin.
Posta sobre a mesma, algumas latas de refrigerantes e energéticos que a morena tomou durante os dias.
— Veio aqui arrumar a minha mesa? — Jimin ironizou.
— Não, mas você parece que quer morrer bebendo tudo isso aqui. — Para a morena, Ningning soava como a sua mãe.
Jimin não estava com a menor paciência para enrolação, então decidiu ir direto ao ponto.
— Sobre o que quer falar?
— Você sabe muito bem. — De fato ela sabia.
— Ning, se for 'pra me acusar você perdeu o seu tempo. — Jimin não queria discutir novamente, estava esgotada.
— Eu não estou aqui como a melhor amiga da Minjeong. — Ningning fez uma pausa. Estava em pé ao lado da mesa e olhava a morena de forma acolhedora. — Eu estou aqui como sua amiga e como alguém que se preocupa com você.
— O que houve 'pra você mudar de ideia? — Jimin ainda estava na defensiva.
— Não mudei de ideia, só notei que eu errei naquele dia. — Não demorou muito para a ruiva notar aquilo, mas escolheu deixar a poeira abaixar para falar com a outra. — Não agi como sua amiga e falhei nisso, mas eu estou aqui disposta a te entender.
Um silêncio.
Jimin mordeu internamente a bochecha, fazia isso sempre que se sentia nervosa ou ansiosa, não guardava rancor da ruiva, apenas estava pensativa sobre tudo. Perguntava-se em que momento errou e permitiu que tudo aquilo acontecesse, a situação não era favorável e o pior, ela nunca tinha sentido isso antes.
— Eu não queria. — A morena disse baixo, seu olhar fixo em um ponto qualquer sobre o carpete.
— O quê? — Ningning perguntou.
— Machucar ela. — Jimin admitiu para a ruiva. — Eu realmente não queria. — Suas íris agora foram de encontro as de Ningning.
Esperava encontrar um olhar de julgamento, mas diferente do que imaginou, apenas encontrou um olhar de cuidado e compreensão.
— Você ouviu a conversa, certo? — Jimin assentou. Sabia que Minjeong havia contado tudo. — Acha que as coisas mudaram ali?
— Não. Ning, eu lembro de ficar chocada quando descobri tudo, mas em nenhum momento eu quis usar isso para tirar uma culpa de cima de mim. — Explicou-se.
— Não é o que ela acha. — Jimin sabia disso.
A morena suspirou pesadamente e prensou os lábios, queria poder dizer que não daria bola pra toda a situação e fingir que aquilo não a incomodava, mas não conseguia.
— Eu a encontrei ontem. — Contou, seu olhar perdido em algum ponto do quarto
— Ela me contou, você foi a biblioteca. — Ningning agora tinha os braços cruzados.
— Ela estava com a Heejin e aquilo me incomodou. — Jimin sabia que o que tinha sentido fora ciúme. — Ela fugia do meu olhar como se tivesse medo de mim.
— Ou medo do que sente por você.
Será?
Durante os dias que passaram, a morena se perguntou algumas vezes se Minjeong realmente ainda estava magoada ou se, assim como ela, não encontrava uma forma de resolver tudo. Jimin queria entender se em nenhum momento, nem por um segundo, a loira cogitou a possibilidade de dar uma chance para que conversassem.
Se Minjeong em algum momento não duvidou do que ela sentia.
— Eu disse que sentia falta dela... — Jimin sentiu as bochechas queimarem.
— E ela?
— Fingiu que não ouviu, mas sei que sim. — Repuxou os lábios nervosamente.
Ningning queria sumir ali mesmo, não entendia como duas pessoas podiam deixar tudo pior, em vez de esclarecer e resolver qualquer mau entendido causado.
— Por que vocês complicam tanto? — A ruiva quase esbravejou. Estava impaciente.
— Eu não sei o que fazer, Ning. — Jimin passou os dedos por entre os fios do cabelo escuro.
— Você chegou e se afundou em energéticos e jogos online ‘pra se distrair e ela decidiu ajudar na biblioteca na última semana de férias pelo mesmo motivo, o que ganham fazendo isso? — Ningning foi direta, estava cansada daquela enrolação.
— Ela disse que precisava de crédito... — A morena respondeu baixo. Não precisava?
— E você acreditou? — Ningning indagou desacreditada. — Jimin, ela procurou uma válvula de escape 'pra parar de pensar em você. — Acabou usando as mesmas palavras que a melhor amiga quando a contou sobre ficar meio período na biblioteca.
Jimin ficou em silêncio por alguns segundos, o barulho da chuva era o único ruído que cortava seus pensamentos.
— Eu não quero. — Disse firme.
— Não quer o que? — Ningning pareceu um pouco confusa com a resposta.
— Que ela pare de pensar em mim. — A convicção no tom de voz da morena quase assustou a si mesma.
— Bom... energéticos, jogos online e trabalhos voluntários para crédito não ajudam em nada. Quanto mais o tempo passa, mas vocês duas se machucam. — A ruiva suspirou por fim. — Sinceramente, você errou, ela errou e até mesmo eu errei, mas entre vocês duas... alguém vai ter que ceder.
— Por que precisar ser eu?
— Não tive essa conversa apenas com você, Ji. Não é sobre isso. — Ningning deixou claro. — Vocês se gostam e estão deixando que as inseguranças falem mais alto do que as certezas. — As palavras saem da garganta da ruiva, deixando a outra pensativa.
— Eu sou uma idiota. — A morena respondeu como se pudesse ouvir um estalo em sua mente.
Ningning quis dizer que a melhor amiga também era, mas ficou calada.
— Isso é uma certeza. — A ruiva pausou. — Mas sei que entendeu o que eu quis dizer.
Sim, a morena havia entendido. Sentiu-se insegura por sentir borboletas no estômago e por querer a outra sempre perto de si durante os dias que passaram na casa de campo. Sentiu-se insegura por perceber o que estava sentindo e não saber como lidar com aquilo, mas a sua insegurança em nenhum momento foi em relação ao sentimentos por Minjeong, e sim sobre como lidar com eles.
— A Giselle disse que... — A morena foi interrompida.
— Não importa o que ela disse, inclusive, eu vou matar a minha namorada por colocar na sua cabeça que esperar era a melhor opção. — Ningning faria uma nota mental sobre aquilo, com toda certeza.
— E não é?
— Jimin, vocês já perderam tempo demais. — A ruiva não sabia mais o que fazer.
Jimin pairou o olhar na grande janela ao seu lado, encarando a chuva, acabou por lembrar do dia que foi o porto-seguro da loira, lembrou-se perfeitamente das sensações e do calor que sentiu ao ter o corpo envolvido pelo da menor em meios a tempestade dentro da enorme casa de campo. Quase pôde sentir o descompasso de seus batimentos exatamente como naquela noite.
Ela precisava provar que aquele sentimento não nasceu do nada. Precisava correr atrás do tempo perdido, antes que fosse tarde demais.
— O que foi? — Ningning perguntou confusa, vendo a outra levantar bruscamente.
Jimin não pensava muito bem, apenas pegou a primeira jaqueta que viu pela frente e calçou o tênis de forma desajeitada.
— Não vou mais perder tempo. — Disse convicta.
Não levou mais do que um minuto para a morena sair do próprio quarto e cruzar a porta do apartamento, sem guarda-chuva, sem chaves, apenas com a pouca coragem que lhe restava.
Ningning não teve tempo de falar nada, foi deixada sozinha em um apartamento que não era seu e com a responsabilidade de trancá-lo e ainda levar as chaves. Ela não se importaria de fazer aquilo, contanto que tudo desse certo, seja lá o que a amiga havia ido fazer.
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