Cafuné e toque aveludado.
Muito obrigada por 1k de leituras e 200 votos!!! Muitos pediram por um certo momento, então aproveitem rs....
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Os olhos castanhos acompanhavam uma gota solitária escorrer no vidro da janela pelo lado de fora, a garoa trazia consigo um vento mediano, mas que era suficiente para fazer os galhos das árvores ao redor da grande casa chacoalharem um pouco. As almofadas postadas sobre o estofado da janela de sacada estavam intactas em seus lugares, enquanto a loira permanecia com os braços cruzados em frente a mesma, torcendo mentalmente para que aquilo não passasse de uma chuva fraca.
— Eu desliguei as luzes do andar de baixo. — Ouviu a voz da morena atrás de si e virou-se para ver a mesma encostada no batente da porta de seu quarto. — Precisa de algo?
Ambas notaram que seus moletons combinavam — os mesmos que ganharam de Ningning — e um rubor leve foi desenhado nas bochechas das garotas. Depois de um longo dia na floresta desfrutando das águas refrescantes do riacho, o fim de noite estava presente.
— Acho que... — Minjeong estava prestes a negar, mas lembrou-se da garoa que caia do lado de fora. Olhou de soslaio por cima dos ombros e notou algumas folhas soltando-se dos galhos. — Na verdade, será que poderia ficar aqui hoje? — A pergunta saiu de forma sincera.
Jimin pendeu a cabeça um pouco para o lado e observou a chuva caindo atrás da loira e logo entendeu o motivo, os lábios formaram uma linha fina, quase como um sorriso compreensivo e assentiu. Ela queria estar ali, mas não apenas porque a outra precisava, e sim porque simplesmente queria.
Mesmo que não entendesse exatamente o porquê ou se negasse a tentar entender.
A morena adentrou ao cômodo em passos lentos e com as duas mãos dentro do bolso do moletom, caminhou até sentar sobre a cama macia. Um sorriso sincero moldou os lábios de Minjeong, em um agradecimento silencioso por Jimin não a deixar sozinha naquela noite.
— O que quer fazer? — A morena indagou. — Tenho certeza que o seu programa favorito não é encarar essa janela. — Riu nasalmente.
Definitivamente não. Minjeong pensou.
— Podemos ver um filme qualquer. — Minjeong apontou para a televisão na parede em frente à sua cama. — Costumo dormir tarde e ela tem sido a minha distração esses dias. — Prosseguiu.
A loira caminhou até a mala posta sobre a sua cama e tratou de colocar algumas camisas que tinha espalhado sobre a mesma dentro do objeto, possuía a mania de não desfazer completamente a mala em suas viagens.
— Insônia?
Minjeong sorriu envergonhada e negou com a cabeça enquanto fechava a mala com um pouco de dificuldade.
— É um pouco constrangedor explicar... — O olhar da loira encontrou o da outra, ela parecia estar curiosa. — Sempre que chove muito forte, a Ningning corre para a minha casa porque sabe que eu não durmo muito bem, então ela me faz cafuné para que eu adormeça mais rápido. — Minjeong deixou sair.
Sentia falta da melhor amiga.
— Ah... — Fora tudo o que saiu dos lábios da morena.
Um breve silêncio instalou-se e a loira pode sentir suas bochechas esquentarem novamente, envergonhada, ela tratou de fingir que nada aconteceu e calmamente guardou a sua mala embaixo da cama para em seguida, apagar as luzes e ligar a televisão — sem esquecer de programá-la para desligar sozinha. Antes de deitar, notou que a morena parecia querer falar algo, mas a sua boca fechava, abria e nenhum som dela saia.
— Você está bem? — O tom de voz da loira era preocupado. Estava sentada sobre a cama e os dedos agarravam o edredom.
— E-eu posso... — Jimin praguejava-se mentalmente por não conseguir falar e ainda mais por aquela ideia ter passado em sua mente. — Posso...
— Pode... — Minjeong não queria admitir, mas achava a situação engraçada. — Pode o que?
— Eu posso fazer... — Anda, você consegue, Jimin. A morena pensou.
A loira encarou-a esperando pacientemente.
— O cafuné. — A última palavra saiu de sua garganta, a morena poderia jurar que estava entalada. — Eu posso fazer o cafuné. — Certo, a frase por inteiro soava ainda mais patética. Assim que falou, Jimin quis esconder a cabeça em qualquer buraco.
Se antes as bochechas estavam quentes, agora com toda certeza queimavam a pele alva da loira. A morena fugiu do olhar da mais baixa, o que não foi muito difícil, pois o ambiente estava sendo iluminado apenas pela luz que vinha da televisão. Jimin quis voltar no tempo para alguns segundos atrás e sequer tentar dizer algo, ao menos sabia o porquê propôs aquilo.
Na verdade, não só aquilo como muito do que vinha fazendo.
Nenhuma das duas ousou falar algo mais, um novo silêncio então fez-se presente dentro daquele quarto que agora parecia tão pequeno. Nervosas e envergonhadas demais para que qualquer palavra saísse de seus lábios, ambas deitaram sob as cobertas ao som baixo de um programa qualquer e dos pingos de chuva caindo sobre o teto, soando quase como uma bela melodia.
A morena engoliu em seco e focou apenas nas imagens passando a sua frente, talvez assim fosse mais fácil disfarçar o constrangimento que passou. Os braços repousando atrás de sua cabeça serviam como travesseiro, mesmo que já possuísse um.
Mas por que ela não disse nada? A pergunta circulava a sua mente.
Era simplesmente melhor negar e não me ignorar. Jimin pensou.
Não soube exatamente quantos minutos passaram-se, talvez um ou dois no máximo, mas em certo momento sentiu o movimento ao seu lado sobre o colchão, não tendo coragem o suficiente para ver o que poderia ser. Sua respiração tornou-se quase imperceptível quando sentiu o calor do braço da outra repousando em seu tronco e um leve arrepio percorrer a sua pele quando os fios dourados fizeram cócegas em seu pescoço.
Minjeong estava deitada em seu ombro.
Kim Minjeong.
Jimin soltou a respiração que sequer sabia estar prendendo, o perfume dos cabelos da loira a embriagava e ela sentia-se aliviada pela mais baixa não estar deitada sobre o seu peito ou escutaria os seus batimentos completamente descompassados.
— E-eu... — Perguntava-se por que diabos gaguejava tanto em frente a outra.
— Não diga nada. — Minjeong disse baixo, quase como se contasse um segredo. A mão trêmula permanecia repousada sobre o troco da morena, tentando a todo custo não ceder a vontade de acariciá-la por cima do grosso moletom cinza.
A frase saiu como um pedido silencioso que dizia:
“Por favor, não estrague esse momento.”
E a morena pareceu entender bem e apenas levou a mão — antes repousando atrás de sua nuca — para os fios dourados.
Um sorriso satisfeito desenhou os lábios cheios da garota.
— Você acha que vai chover muito? — Minjeong perguntou em um tom baixo enquanto sentia o toque carinhoso em seus fios.
— Eu não sei. — Jimin tentava não soar nervosa, mas sabia que as carícias feitas, mesmo que um pouco sem jeito, a denunciava. — Espero que não.
— O clima nesse lugar muda da noite para o dia. — A loira respondeu. Os dedos magros da morena deslizavam entre as suas madeixas de modo lento, causando-a leves arrepios.
Jimin apenas murmurou algo em concordância, sua mente longe demais para formar qualquer outra frase.
Seus dedos tocavam os fios macios, trilhando caminhos por entre as mechas de forma suave e lenta. Acariciava não apenas as madeixas, mas vez ou outra, seu toque triscava suavemente sobre a pele da loira, fosse na nuca exposta ou na ponta da orelha, causando arrepios que a mais baixa manteria em segredo.
— Ainda temos uma semana pela frente. — A voz de Minjeong tinha agora um tom ainda mais baixo, indicando a sua sonolência. — Tanta coisa mudou...
Jimin riu baixo.
— Como eu estar te fazendo cafuné? — A morena brincou. Com certeza aquilo era completamente inesperado. — Ou como eu estar dormindo aqui? Talvez também como não discutimos há alguns dias.
A loira escondeu o rubor sob o edredom e assente lentamente, não podendo ver o sorriso que foi desenhado nos lábios da morena. Não sabia se eram as carícias ou o perfume suave de Jimin, mas sentiu o sono chegar cedo pela primeira vez dentro daqueles tantos dias.
— Ou você estar me fazendo bem. — Sussurrou antes de adormecer nos braços da garota que era dona do seu mais secreto sentimento.
Jimin tentou por diversas vezes dormir depois de um tempo, as suas carícias cessaram assim que a respiração da mais baixa tornou-se pesada, mas a sua mente permaneceu trabalhando. A morena viu a televisão desligar-se sozinha, conforme programada, e a sua única companhia passou a ser a chuva — um pouco mais forte do que antes — e a respiração da garota que dormia profundamente.
Lado a lado com a loira, observava cada um de seus traços como se fossem a obra de arte mais rara que seus olhos já puderam ver. Não sabia quando aqueles efeitos começaram, quando as borboletas ganharam lar dentro de si ou quando seus batimentos se tornaram tão rebeldes e sem o menor controle.
Talvez fosse por todas as vezes que a loira ia para a faculdade com os seus cabelos presos em um rabo de cavalo, deixando-a com um ar adorável que a morena nunca teve coragem de admitir. Ou quem sabe os momentos que pegava a última maçã do refeitório quase sempre, apenas para ver a garota praticamente implorar pela fruta sob os olhos atentos das amigas.
Jimin nunca gostou de maçã, ela gostava apenas de ceder a mesma para Minjeong.
Lembrava-se perfeitamente do dia que a garota estragou a sua pesquisa antes das férias, ficou tão irritada que sequer mediu as palavras ao brigar com a mesma em pleno refeitório e seguir rumo a sala de aula. No final daquele dia, quando Ningning e Giselle foram embora, ela ficou na biblioteca até um pouco mais tarde e surpreendeu-se quando Minjeong apareceu em sua frente.
Aquele foi o dia em que ficou de recuperação, mas também fora a primeira vez que ouviu um pedido de desculpa sair dos lábios da mais baixa.
Sua mão trêmula foi guiada quase que automaticamente até o rosto sereno da loira, as pontas de seus dedos trilharam a pele macia em um carinho lento. Por um momento recordou da noite em que foi o porto-seguro da garota em meio a tempestade e ali estava ela novamente, disposta a passar quantas noites fossem necessárias ao lado da garota para que a mesma dormisse bem.
“E ela? Nunca notou o que você sentia?”
A voz de Jisoo ecoou em sua mente. O dia em que acordou durante a viagem de volta e ouviu a conversa que a loira tivera com a tatuada.
“Ela nunca me notou.”
Eu queria ter notado você.
Jimin pensou.
A verdade é que a morena realmente não lembrava da maioria dos seus colegas de classe, conheceu Giselle no primeiro ano e logo a amiga precisou mudar de escola por ser um pouco longe do novo trabalho da sua mãe, deixando-a sozinha durante os dois anos seguintes. Jimin passou a fechar-se em sua própria bolha e mesmo que muitas vezes não passasse despercebida por algumas pessoas, ela acabou apagando qualquer memória daqueles anos. Mas saber aquilo foi como um estalo em sua mente e ela notou o quanto foi cega e burra durante tanto tempo.
Se Giselle não tivesse ido embora no primeiro ano, talvez a amiga lembrasse da loira e as coisas poderiam ter sido diferentes.
O polegar tocou suavemente os lábios rosados da loira ao seu lado e seus olhos agora estavam presos naquilo que tanto desejou tocar mais cedo no riacho. Quando o seu olhar subiu novamente para o rosto da outra, buscando continuar admirando-a, foi surpreendida ao ser capturada pelos olhos recém-abertos de Minjeong.
A morena ficou sem graça por ter sido pega no flagra, mas não desfez o toque e muito menos quebrou o contato visual.
Elas estavam tão perto.
— Eu quero fazer algo e vai parecer loucura... — A frase saiu da garganta da morena em um sussurro, quase como uma confissão. E realmente era.
Jimin, pela primeira vez, não se sentiu intimidada ou envergonhada pelo olhar da outra sobre si, mas todas as borboletas agora davam um longo passeio em seu estômago e seu coração batia descompassadamente. A loira nada disse, apenas deixou um selar carinhoso contra o seu polegar — ainda depositado sobre os lábios de Minjeong.
Seus dedos trilharam o caminho até a mandíbula bem desenhada da loira e seu polegar agora repousava sobre o queixo da mesma. A morena encerrou a pouca distância que ainda existia entre elas, ficando tão próxima que suas respirações se misturaram em meio ao silêncio e a ponta de seus narizes roçavam carinhosamente.
O seu olhar caiu novamente para os lábios rosados e ela pôde sentir a mão quente e pequena da loira fazer carícias sobre a sua. Viu a garota fechar os olhos ansiando pelo contato e logo seus lábios trêmulos tocaram os da loira, fazendo todas as borboletas explodirem dentro de si e um suspiro escapar entre o ósculo. Jimin sentiu-se inebriada pela maciez dos lábios da mais baixa, um beijo que não passou de um breve toque.
Não existia nada além de um segredo sendo compartilhado através do toque mais sincero entre ambas. Um toque lento e suave, entre batimentos acelerados e como testemunha apenas a chuva forte que caía do lado de fora e seus desejos por tanto tempo escondidos.
Jimin não teve coragem de abrir os olhos quando, em um último selar demorado, encerrou o contato. Sua testa encostada carinhosamente na da loira e o hálito fresco da mesma contra o seu rosto foram as últimas coisas que sentiu antes de finalmente entregar-se ao sono naquela madrugada, deixando Minjeong, no mesmo estado, adormecer com a o gosto dos seus lábios sobre os dela — um toque repleto de tanto carinho e cuidado que poderia facilmente ser confundido com um sonho.
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