Piadas Sem Graça e Decisões Tomadas
— Essa é a última, eu prometo... — Yeri anunciou, em pé no meio da sala, vestindo um pijama laranja, ela tinha o olhar das garotas que assistiam ao show de piadas sem graça.
— O que eu fiz 'pra ter uma irmã assim? — Dahyun comentou baixo. A irmã mais nova as vezes era expert em passar vergonha.
Chaeyoung deu uma risada baixa.
A morena estava sentada entre Dahyun e Mina no grande sofá, uma latinha de cerveja quase vazia estava em suas mãos, mas não tomou sozinha, acabou dividindo com a loira ao seu lado, que não curtia muito bebidas alcóolicas, mas bebia socialmente. Chaeyoung e Mina estavam cansadas da viagem, mas não recusaram participar da pequena social de boas-vindas à Momo e agora estavam presas em um stand-up da mais nova entre elas.
— Hora de dormir, Yeri. — Jihyo anunciou colocando um fim no pequeno show. — Jisung já está dormindo e até mesmo o casal grudento já foi para o quarto delas.
— Você sabe que elas não estão dormindo, né? — Momo quase engasgou-se com a fala da garota.
Desde quando Yeri tinha aquele pensamento?
— Chega... Já para o quarto! — Jihyo levantou da poltrona e tratou de arrastar a mais nova escada a cima.
— Essa garota... — Somi riu.
— Bom, eu vou arrumar o quarto para dormimos, estou bem cansada. Você vem comigo, amor? — Momo chamou a namorada que logo assentiu.
— O que acha de esperamos a Jihyo para tomarmos um banho de banheira? — O volume da conversa foi distanciando conforme ambas subiam para o outro andar.
Dahyun suspirou pesadamente.
— Espero que elas estejam cansadas o suficiente para não passarem a noite transando, infelizmente meu quarto é colado com o dessas três. — A fala de Dahyun acabou fazendo as outras duas rirem.
— Boa sorte com isso, de verdade. — Chaeyoung fingiu um tom preocupado.
Dahyun levantou-se, pegando a latinha da mão da morena.
— Eu vou jogar isso no lixo. — Apontou em direção a cozinha. — E subir porque estou morrendo de sono, vocês podem usar o banheiro perto da cozinha caso precisem durante a madrugada. — Informou.
— Obrigada, Dahyun. — A loira assentiu e agradeceu.
Logo ambas ficaram sozinhas na grande sala, iluminada apenas pela lareira e pela luz da lua que adentrava pelas portas de vidro da varanda. Um grande colchão foi colocado no centro da sala por ideia de Momo. Chaeyoung e Mina não queriam incomodar, mas a ruiva insistiu que elas ficassem até mais tarde e que dormissem por ali mesmo.
De toda forma não era de todo mal, as vezes dividir uma casa enorme e dormir em quartos separados fazia com que ambas se sentissem um pouco sozinhas.
Não trocaram muitas palavras enquanto preparavam-se para dormir, não por estarem desconfortáveis, e sim por simplesmente estarem cansadas demais para qualquer coisa. Ao menos agora o silêncio já não era mais tão estranho entre elas e muitas vezes tornava-se necessário, principalmente em um momento que Mina tinha mil e uma coisas em sua mente.
O dia havia sido cansativo, viajar para outra cidade, voltar no mesmo dia e ainda participar de uma pequena social durante a noite foi suficiente para consumir toda a energia que Chaeyoung costumava ter diariamente. Ela esperava dormir como uma pedra e acordar apenas no dia seguinte, mas foi durante a madrugada que, depois de tanto remexer-se no colchão, notou um vazio ao seu lado.
A loira não estava mais ali.
Chaeyoung sentou-se sobre o colchão e ficou ali por longos dois minutos, esperando o cérebro processar as informações devido ao despertar inesperado, os olhos vagaram por toda a sala escura, vendo a lareira, agora apagada, e um silêncio pairar no grande cômodo.
A brisa fria bateu contra o seu pescoço, causando-a um arrepio que foi da nuca até a ponta dos pés, ainda confusa procurou por onde o frescor havia entrado e logo observou a porta da varanda aberta. Ponderou por alguns segundos, mas decidiu levantar, também precisava encontrar Mina que por algum motivo — qual ela não sabia — não estava ao seu lado.
O edredom grosso que dividia com a loira foi jogado sobre os ombros, ela estava disposta a levantar, mas isso não significava que iria passar frio. Caminhou a passos lentos em direção a grande porta de vidro, tomando cuidado para não esbarrar em nenhum móvel e acabar quebrando qualquer coisa. Ou talvez até mesmo bater o dedinho na quina de uma mesa.
Encontrou a loira na varanda, com os braços apoiados no parapeito de madeira e os cabelos loiros acompanhando a brisa, ela parecia desfrutar de um momento de paz.
Chaeyoung parou na porta, perguntando-se mentalmente se deveria ou não atrapalhar seja lá o que fosse aquilo, olhou para o colchão vazio na sala por cima do ombro e suspirou baixo. Não queria dormir sozinha, mesmo sem nenhuma razão lógica para aquilo, afinal, sempre dormiu desacompanhada.
E Mina poderia estar com frio...
Praguejou-se mentalmente quando sentiu a madeira fria sob os pés descalços, falaria um palavrão se aquilo não fosse assustar a loira que, até então, não tinha notado a sua presença. A morena tomou cuidado para não alarmar a outra e assim que se pôs ao seu lado, notou que a mesma mantinha os olhos fechados apenas sentindo a brisa contra o seu rosto.
— Mina... — Chamou baixo, de forma quase inaudível. A loira apenas abriu os olhos lentamente, como se já soubesse da sua presença.
— Eu não quis te acordar. — A loira proferiu, quase como um sincero pedido de desculpa.
— Não me acordou. — Estava mais para: a sua ausência me acordou. — Eu sei que a sensação de ter esse frescor no rosto é relaxante, mas você não precisa sujeitar-se a pegar um resfriado. — Chaeyoung disse enquanto cobria os ombros da loira, dividindo assim o cobertor.
— Preocupada com a minha saúde? — Chaeyoung ganhou o olhar da loira e viu um sorriso astuto desenhar os lábios da mesma.
— Também. Mas eu realmente não sei se temos remédios em casa, então pegar um resfriado não seria nada vantajoso no momento.
— Você consegue se sair bem das situações, Chaeyoung. — Mina empurrou-a levemente com os ombros e voltou a encarar o lago mais à frente.
Sequer notou quando um tom rosado ganhou as bochechas da mais baixa.
— O que faz aqui a essa hora? — A morena resolveu mudar de assunto antes que a outra notasse o rubor. — Insônia?
— Talvez... — Mina iniciou. — Acho que eu apenas precisava pensar sobre certas coisas. — A frase saiu carregada com mais significado do que aparentava.
Chaeyoung assentiu lentamente e passou a também encarar o lago, sequer notou em que momento perdeu-se observando Mina antes.
Um breve silêncio fez-se presente, mas não do tipo desconfortável, era mais como um silêncio que ambas consentiram mentalmente em compartilhar. Era possível ouvir o movimentar das águas calmas e a brisa cortar as folhas das grandes árvores ao redor, de fato aquela era realmente uma sensação relaxante.
— Espero que tenha conseguido pensar, esse lugar é perfeito para colocar as ideias no lugar. — Chaeyoung comentou, permitindo-se fechar os olhos.
Mina a olhou, admirando cada traço da morena e precisando segurar um suspiro que quase escapou por seus lábios. Pensou sobre o que a outra faria se soubesse tudo o que estava em sua mente naqueles últimos dias ou se pudesse ler os seus pensamentos e descobrisse tudo o que ela sentia.
Ela fugiria? Mina perguntou-se mentalmente.
Chaeyoung sentiu o olhar queimar a sua pele e acabou pegando a loira encarando-a, mas diferente do que imaginou, a mesma não desviou o olhar e aquilo estranhamente deixou-a envergonhada.
— Eu definitivamente consegui colocar as ideias no lugar. — Mina disse, mantendo o tom baixo da conversa, quase como se compartilhassem um segredo.
— I-sso deve ser bom... — Pare de gaguejar dessa forma, Son Chaeyoung!
Mina achou aquilo engraçado, mas preferiu não comentar sobre.
— A casa parece tão vazia daqui, não é? — Para a felicidade de Chaeyoung, a loira resolveu mudar de assunto.
— Talvez seja porque ela realmente está vazia. — A morena constatou o óbvio e logo sorriu, sabendo que estava apenas implicando com a loira.
— Chaeyoung... — Mina involuntariamente usou o seu tom manhoso, não queria implicar com ninguém em plena madrugada. — Eu quis dizer que gosto da companhia de todo mundo aqui e que normalmente me sinto sozinha naquela casa enorme.
— E eu? — De repente tornou-se importante saber se a sua companhia era apreciada.
— Estamos bem agora, Chaeyoung. Antes era um completo inferno ter que dividir o mesmo teto que você, eu me sentia sozinha e largada em um lugar qualquer. — A mágoa era presente na voz da loira e Chaeyoung não a culpava. Os primeiros dias realmente não foram nada fáceis, tanto pra Mina, quanto para ela.
— Nunca entendi bem esse lance entre a gente. Eu gostaria de saber como e porque tudo começou, mas eu não consigo... — A morena permitiu-se dizer.
Mina parecia disposta a conversar e se elas estavam em uma trégua, compartilhar da sua visão poderia ser uma boa ideia.
Um breve silêncio.
Um breve suspiro.
— Eu também gostaria. — Mina mentiu, ela sabia exatamente o porquê daquilo, mas ainda não era hora de falar sobre.
— Espero que isso dure, Mina. — Chaeyoung foi sincera.
Mina sentiu-se nervosa, pela primeira vez descobriu que a morena possuía expectativas sobre si.
— Sabe que isso não vai depender apenas de mim, certo? — A loira não queria, mas perguntava-se sobre a decisão que tomou e se realmente valia a pena colocar em jogo aquele momento de calmaria.
Por causa de Momo, decidiu dar-se uma chance de sentir tudo aquilo que por tanto tempo reprimiu, mas estaria mentindo se no fundo não temesse voltar à estaca zero. Mina não queria ser inimiga de Chaeyoung, todavia também não estava disposta a ser uma amiga.
— Eu estou disposta a tentar mudar essa situação. — Chaeyoung disse. — Por mais estranho que possa parecer não implicar com você o tempo todo e não te ter no meu pé acabando com minha paciência. — A morena revirou os olhos e ganhou um novo empurrão no ombro.
— Você não deixa de ser uma idiota.
— É um dos meus tantos charmes. — Mina adoraria concordar em voz alta, mas não o fez.
— Lembra quando eu me recusei a ir na festa da Jeongyeon porque você queria fazer na sua casa? — Uma risada escapou dos lábios da morena. Chaeyoung lembrava perfeitamente daquilo.
— E a Jeong não aceitava que você não fosse, então no final a festa acabou sendo na casa dela mesmo. — Sempre era assim, as maiores brigas pelos menores motivos.
Mina sorriu lembrando-se daquele dia, recordava-se de ficar muito irritada, mas sempre que parava para pensar tinha consciência que tudo não passou de uma birra.
— Foi nesse dia que eu tive o azar de dividir um colchão com você e acordei com o rosto pintado e uma foto vergonhosa no seu celular. — Chaeyoung completou.
— Eu tenho essa foto até hoje... — Mina acabou deixando escapar.
Merda. Não queria que a morena pensasse que ela era uma maluca.
— T-tem? — Chaeyoung não sabia onde enfiar a cabeça.
— É... Mas eu guardei caso precisasse usar contra você um dia. — Mina estava começando a dominar a arte de mentir tão bem. — Se quiser eu posso apagar.
— Não. — A resposta saiu abruptamente. — Quer dizer, eu não me importo. Não vejo problema, de verdade.
Mina ficou aliviada, não queria ter que apagar aquela foto de toda forma. O olhar da loira pairou sobre a mão de Chaeyoung segurando firmemente o parapeito, as ponta dos dedos estavam vermelhas, denunciavam o frio que a mesma sentia. Mina adoraria poder envolver os seus dedos com a da morena e esquentá-la, mas sabia que seria esquisito fazer aquilo agora.
Suspirou.
Seria realmente difícil tomar coragem para dar qualquer passo a partir daquele dia. Ela sentia que precisava de um bom descanso para renovar as energias e torcer muito para não mudar de ideia ou perder a coragem ao amanhecer. Mina queria sentir aquilo novamente, mas fraquejava ao pensar em ser machucada, definitivamente não estava preparada para as consequências.
Na verdade, nunca esteve.
Por isso passou a colocar o racional a frente do emocional muitas vezes, talvez fosse a hora de dar chance ao seu coração.
— A Nayeon ficaria orgulhosa de ver a gente assim. — Chaeyoung sorriu de forma automática. Não era segredo para ninguém que a ruiva era a principal responsável por tentar fazer a guerra acabar entre as duas.
— Eu sinto falta dela... — A loira sempre foi muito apegada a melhor amiga, mesmo com a ruiva aprontando, ela não conseguia não sentir saudade das risadas de Nayeon.
Chaeyoung suspirou pesado podendo ver a respiração a frente do rosto devido ao frio, a loira a observava de soslaio, imaginou que a morena também sentia falta da melhor amiga.
— Eu vou acabar com a Jeong quando ela aparecer e depois implorar para ela não sumir mais dessa forma. — Aquele era o jeito Son Chaeyoung de admitir que estava com saudade.
— Vamos dar um jeito nas duas quando elas voltarem. — Mina disse atraindo a atenção de Chaeyoung. — Mas agora posso dizer que me sinto bem com você aqui e já não sinto que estou tão sozinha como antes...
A morena desviou o olhar, parecia que o rubor nas bochechas logo tomaria conta de todo o seu rosto e já sentia as mãos começarem a suar. Desde quando se sentia tão nervosa daquela forma?
— Está com frio? — Mina indagou arqueando a sobrancelha. — Suas bochechas estão rosadas. — Não conseguiu segurar um riso baixo.
— E-eu... Sim. — Chaeyoung queria bater em si mesma agora.
— Quer entrar? Estou ficando com sono.
A loira mentiu mais uma vez, mas ver a morena nervosa acabou sendo mais divertido do que achou que seria. Chaeyoung estava gaguejando mais do que o normal e provavelmente era de frio, também não queria judiar da sua companhia.
— Acho uma boa ideia, vamos. — A morena estava tão nervosa que sequer pensou duas vezes antes de tocar a mão da loira para guiá-la de volta para a sala enquanto ainda dividiam o mesmo edredom.
O toque, mesmo que gelado, queimou a pele da loira de forma inesperada e estranhamente confortável. Lembrou-se de quando não teve coragem o suficiente para segurar a mão da outra quando a mesma a ajudou em sua crise, e agora podia sentir a pele macia na sua em um encaixe quase perfeito.
Dormir aquela noite foi algo extremamente difícil, a loira passou longos minutos encarando o teto e ouvindo a respiração da morena ficar pesada com o tempo. Ainda parecia surreal, mas esperava que quando o sol nascesse, ela não se sentisse covarde novamente. Naquela sala, em meio ao silêncio, ela entregou-se ao sono depois de um bom tempo e mais tarde naquela madrugada sentiu um braço envolver a sua cintura em um aperto quente e confortável.
Mina dormiu ao lado de Chaeyoung pela segunda vez em uma semana e ela adoraria estar acordada para lembrar-se do calor do corpo da outra perto de si, mas aquele momento teve apenas uma única testemunha.
Momo, que acordou sentindo um pouco de sede e acabou presenciando a cena ao descer as escadas.
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