Capítulo 63.

Violet e Lyanna na mídia.

Meg...

Respiro fundo quando o advogado de defesa diz sem mais perguntas e volta a se sentar ao lado do homem que tentou destruir a minha vida mais de uma vez, ele me olha com seus olhos pequenos mergulhados no mais profundo ódio, eu nunca tinha visto ele me olhar assim antes, nem mesmo quando tinha uma arma apontada em minha direção, era um olhar que me fez gelar a espinha mesmo sabendo que ele está algemado.

O juiz Cleimond me liberou e eu saí por uma porta lateral da sala de audiência, hoje é o segundo dia do julgamento de Patrick, Henry deveria testemunhar hoje também, mas seu depoimento foi adiado devido o acontecimento do primeiro dia. Durante o depoimento de Tulipa ela acabou se alterando com provocações e insultos de Patrick e gritou no meio do tribunal detalhes do que ele fez com ela, a garota estava transtornada, foi um burburinho dentro da sala e o juiz encerrou o dia de julgamento mais cedo.

Se antes eu já sentia nojo por ter me envolvido com ele, isso só cresceu quando ouvi o que ele fez a Tulipa, ela era só uma menina na época, tinha 19 anos, e ele destruiu parte dela. Me doeu muito vê como ela se culpava pelo que aconteceu comigo, ontem ela veio me pedir desculpas dizendo que era tudo sua culpa, que se tivesse me alertado nada disso teria acontecido comigo, eu me vi em seus olhos, pois a culpa que eu carrego em meu peito estava espelhada nela. “Eu vou ajudar ela a se reerguer, a não se culpar mais,  vou ajudá-la a seguir a vida".

Era incrível como eu me importava com ela, se antes eu não sabia o que fazia eu me aproximar dela, hoje eu sei que é a dor que sentimos, o que tivemos que superar, coisas que nos faram infringidas por outra pessoa.

Quando cheguei na sala das testemunhas, Franck era conduzido pelo caminho que eu tinha vindo, pois era o próximo a testemunhar, e a vi sentada em um banco.

- Como foi lá dentro? – Ela levantou os olhos em minha direção.

- Difícil, falar de tudo o que aconteceu, encarar ele. – Me sentei ao seu lado. – Pra você deve ter sido horrível.

- Foi, mas foi necessário também, pelo menos agora acabou. – Ela falou ajeitando os óculos de armação grande que usava.

- Sim, agora acabou, mas as marcas permanecem. – Eu toquei sua mão. – Temos que nos reerguer, que nos livrar do trauma, ele não pode ter poder sobre a nossa vida, nunca mais.

- Eu sei disso, eu venho tentando. – Ela levantou os olhos em minha direção e eu vi uma profunda tristeza refletida neles. 

- Eu estou aqui e vou te ajudar. – Sorri a encorajando. – Olhe toma o meu número. – Abri a bolsa peguei um cartão da editora e anotei meu telefone pessoal. – Me liga amanhã ou mais tarde, você pode conversar comigo sobre como se sente e  eu posso te indicar a minha psicóloga, faço sessões com ela faz uns três meses, ela é muito boa, nos deixa muito a vontade, tem me ajudado muito. – Sorri lhe encorajando.

- Obrigada Meg. – Ela me abraçou. Ficamos abraçada por um tempo, uma coisa terrível tinha nos aproximado, mas eu usaria isso para a ajudar, para ajudar nós duas na verdade, e talvez uma amizade saísse daquilo tudo.

Quando saímos da sala John, Tyler e Natalie estavam a minha espera, pedi a Iam e Carol que não viessem, pois quis evitar uma situação complicada caso o Patrick fizesse comigo o que fez com Tulipa no dia anterior, eles vieram em minha direção me abraçando e dizendo palavras encorajadoras. Uma garota com cabelo azul turquesa acinzentado e piercing no lábio inferior se aproximou abraçando Tulipa apertado e dizendo que tudo ia ficar bem, ela parecia gostar muito dela.

Caminhamos lado a lado em direção à porta, enquanto passávamos pelo saguão Isabel Thompson surgiu na nossa frente, com os cabelos loiros soltos, os olhos escuro e cheios de raiva e uma roupa elegante, ela nos analisou dos pés à cabeça com seu sempre presente olhar de julgamento, eu lembro até hoje das vezes que ela falou que eu era um mulher interesseira, do dinheiro que ela me ofereceu para voltar a vida do seu filho, ou para ficar calada sobre o que aconteceu, era uma mulher mesquinha e arrogante. Seu marido era um tipo ainda pior, mas graças aos céus convivi pouco com ele, ou talvez se eu o tivesse visto mais teria percebido antes o quão ruim é seu filho.

- Obviamente vocês estariam juntas. – Falou nos olhando com desprezo. – As duas vadias. – Eu vi Tulipa ficar tensa ao meu lado e se encolher perto da amiga.

- Não ouse falar delas... – John começou, mas foi interrompido.

- Você foi muito esperta em se associar a pessoas importantes e levar a vagabunda junto. – Ela falou olhando pra mim.

- Eu não me associei, diferente de você eu não baseio minhas relações pessoais em puro interesse e conveniência. – Disse entre dentes.

- Claro que não, namorar o dono da editora do seu livro foi uma feliz coincidência. – Ela falou irônica e John segurou meu braço quando eu me balancei para a frente. – E quanto a você garota não pense que seu tio vai manter o emprego junto a minha empresa depois do que você está fazendo com meu filho, eu vou demiti-lo e garantir que ele não consiga outro trabalho. – Seus olhos eram frios. – Vocês devem estar muito felizes com a derrocada do meu filho, mas talvez não sorriam por tanto tempo. – Tulipa deu um passo para trás e se encolheu nos braços da amiga.

- Isso foi uma ameaça senhora Thompson? – Tyler falou a encarando. – Pois saiba se algo acontecer eu saberei de quem ir atrás. – Seu tom de voz era firme. – Por que o seu marido é juiz a senhora se acha imune? Veja o exemplo do seu filho.

- Eu não ameacei ninguém Moore, simplesmente sei que o mundo dá voltas. – Ela desconversou.

- John leve Tulipa e sua amiga pra casa por favor. – Ele assentiu, abracei ela e lhe disse que ficaria tudo bem. – Vai ficar tudo bem, estarei ao seu lado, me ligue.

- Tudo bem. – Ela sussurrou. Vi os três saindo pela porta e me virei para a mulher a minha frente.

- Protegendo a vadia? Sabia que ele fodia ela enquanto corria atrás de você garçonetezinha. – Aquilo me atingiu em cheio, pensar que eu beijava a boca do homem que horas antes estava estuprando uma garota ou que ia fazer isso depois de ver me deixava enojada, fazia eu me sentir suja e culpada.

- Ela não é uma vadia, ele não fodia com ela, ele a estuprava.  – Gritei em sua direção atraindo olhares. – Você é um ser humano desprezível, você e seu filho, se ele é assim a culpa é sua que nunca o ensinou a ser homem, sempre passou a mão na cabeça dele, pra tudo que ele fez de errado.

- Meu filho é muito homem, ele sempre teve o que quis.

- Isso não é ser homem, isso é ser criminoso, ser desprezível, horrível, escroto e tantos adjetivos que eu nem vou me dá ao trabalho de listar. – Minha raiva estava em níveis elevados e a mão de Natalie no meu ombro era o que me impedia de voar nela. – O seu filho quase destruiu a minha vida, do Henry, da Tulipa e Deus sabe de quem mais. – Fui irônica. – Se eu estou contente por vê-lo algemado? Claro que estou, por que ele finalmente vai pagar pelos seus crimes, ainda que não por todos eles, e se a senhora continuar falando essas coisas a polícia pode chegar à conclusão que é cúmplice dos crimes dele. Que o acobertou e o ajudou por todos esses anos.

- Isso foi uma ameaça? – Ela me olhava incrédula.

- Não senhora, isso foi uma constatação. – Antes que ela falasse mais alguma coisa me virei para sair.

- Senhora Thompson se voltar a proferir ameaças ou algo que pareça uma para a Meg ou para a senhorita Albuquerque eu entrarei com um processo. – Tyler falou se dirigindo a ela em um tom ameaçador e grave. – Passar bem. – Se virou deixando a mulher perplexa para trás.

Nos dirigimos para a saída do tribunal e uma chuva de repórteres correu ao nosso encontro fazendo perguntas sobre o testemunho, sobre Henry, sobre minha vida  eu olhei pra Tyler e com um olhar ele sabia que eu não estava no melhor momento para uma avalanche de perguntas e disse que eu não tinha nada a declarar e junto com Natalie me conduziu até o carro onde August aguardava com a porta traseira da SUV aperta, assim que entramos Natalie me abraçou dizendo que tudo ficaria bem agora, que Patrick nunca mais ia me machucar.

**

Tulipa...

Assim que eu entrei no carro do amigo de Meg eu me permiti chorar, não foi fácil passar pelos jornalistas parados na porta do tribunal e toda a enxurrada de perguntas que eles despejaram sobre mim, pois depois que ontem vazou a informação de que havia uma acusação de estupro contra o Patrick junto às demais e como meu nome saiu na lista de testemunhas eles logo descobriram a relação dos meus tios com os Thompson e as especulações começaram, ainda que não tivessem uma comprovação e no que depender de mim não terão.

Todos os flashes e perguntas direcionadas a mim, me transportaram ao ponto a partir do qual minha vida começou a ruir, quando tudo começou a dar errado, a morte dos meus pais, quando eu ainda morava no Brasil, eu deveria ter morrido naquele atentado ocorrido duas ruas depois do campus do Itaperi da Universidade estadual do Ceará em Fortaleza quando saíamos de um encontro sobre vidas marginalizadas, eu tinha apenas 16 anos na época e quando uma chuva de tiros atingiu o carro onde estávamos, das 4 pessoas presentes eu fui a única sobrevivente.

Desde então parece que a vida está me punindo por ter ficado viva, sabe em Premonição quando eles evitam a morte e ela vem atrás de cada um deles depois? Eu me sinto assim, só que parece que comigo ela agi diferente, não quer me matar, mas sim me mostrar diferentes maneiras de sofrer. Eu espero que finalmente agora eu consiga seguir em frente, mesmo que o medo ainda me corroa como ácido no isopor. Estava tão entretida em dor e autopiedade que nem percebi que o carro já tinha parado em frente ao prédio onde eu divido apartamento com Lyanna e Violet.

- Obrigada pela carona. – Lyanna falou me acordando do transe.

- Obrigada. – Falei tentando parecer mais animada.

- Não precisa agradecer. – John falou sorrindo.

- Ainda assim obrigada John. – Lyanna falou e eu a encarei me perguntando como eles se conhecem. – Nos conhecemos enquanto esperávamos vocês. – Ela explicou e acenou para ele saindo do carro.

- Tulipa. – Ele me chamou quando eu sai do carro. – Não se preocupe, nada de ruim vai acontecer com você, se algum Thompson ou alguém ligado a eles lhe importunar fale com a Meg imediatamente. – Eu não entendi o motivo da sua preocupação, na minha experiência pessoas não fazem bondade de graça. – Você e Meg tem uma ligação, nós cuidamos dos amigos. – Ele me deu um sorriso verdadeiro.

- Obrigada. – Com um aceno de acabeça ele ligou o carro e se foi.

Subi ainda tentando entender tudo que tinha acontecido hoje e o porquê de tanta preocupação, meu celular tocou, olhei para a tela e vi que era minha tia, desde que soube de tudo ela me liga constantemente, está se sentindo horrível por ter sido tão negligente e não ter percebido o que acontecia em baixo do seu nariz, não me levem a mal eu  gosto da minha tia, entendo como ela se sente e agradeço que se preocupe,  mas no momento eu não estou em condições de faze-la se sentir melhor, por que eu estou uma bagunça e por que parte de mim se recente por ela nunca ter notado como eu estava diferente, ela achou que era apenas uma recaída por causa da morte dos meus pais e eu não podia contar a ela por temer por sua vida, mas outra parte de mim entendia que foi melhor que ela nunca tenha descoberto, por tudo isso eu não estava em condições de falar com ela momento. Desliguei a ligação e mandei uma mensagem dizendo que estava cansada e ligaria mais tarde.

- Que bom que vocês voltaram. – Violet falou correndo em nossa direção, ela me abraçou apertado. – Eu devia ter ido com vocês.

- Você sabe que eu prefiro que não escute as coisas que eu tinha pra falar. – Violet não sabia de nada que tinha acontecido comigo, nós a conhecemos depois, por isso ela só ficou sabendo de tudo depois do dia do lançamento do livro, eu contei uma parte e Lyanna outra, e pedi que ela não falasse com ninguém a respeito, não é algo que você fale por ai. Lyanna era minha única amiga na época e acompanhou todo o meu drama pessoal, ela esteve sempre comigo, é minha amiga desde que cheguei em Londres, éramos as duas meio esquisitas no ensino médio, talvez por isso nos demos bem logo de cara. – Eu estou bem.

- Você chorou eu estou vendo. – Violet analisou meu rosto.

- O testemunho não foi fácil e a mãe do traste apareceu por lá e deixou Tulipa ainda mais abalada. – Lyanna falou com raiva na voz.

- Agora que eu devia ter ido mesmo. – Violet falou colocando as mãos na cintura, eu sei bem do que essa louca é capaz.

- E de que isso ia ajudar? – Falei rindo apesar de tudo.

- Chatas. – Ela deu de ombros. – Eu fiz comida para aliviar nossos ânimos. – Deus nos ajude, pelo menos ela não colocou fogo no apartamento, já é um avanço, por que dá primeira vez que essa louca foi cozinhar queimou a comida e inutilizou parte do apartamento, foi assim que ela terminou vindo morar com a gente. – Nem virem a cara que meu macarrão está ótimo, eu segui a receita direitinho. – Permanecemos em silêncio. – Ah Tulipa o professor gostoso apareceu aqui.

- O que o senhor Clarke queria? – Perguntei com uma sobrancelha erguida. Violet e Lyanna apelidaram Andrew de “professor gostoso”, “armário que fala”. “professor crosfit” e outras coisas do tipo, elas criaram a fantasia de que nós vamos nos envolver, que tem algum tipo de romance acontecendo, mas é óbvio que isso não vai acontecer. 1 ele é um homem recluso que não se interessa por aluna alguma, na verdade ele não é visto com uma mulher desde que ficou viúvo, sabe como é o campus uma fofoca só. 2 eu não consigo deixar que um homem me toque, sempre me apavora se deixo algum chegar perto o suficiente, na verdade eu não gosto sequer de ficar sozinha com um. 3 pelo pai celestial olha o tamanho daquele homem, eu pareço uma mosca perto dele, não dá encaixe.

- Estava preocupado, disse que tentou te ligar e não conseguiu, queria saber do julgamento. Saber como você está. – Ela falou com um sorriso nos lábios. – Eu disse que você ligaria pra ele.

- Certo, obrigada. – Falei caminhando para o meu quarto. E pude ouvir as duas rindo atrás de mim.

Tirei toda a minha roupa, tomei um banho lavando meus cabelos, quando eu estava me sentindo limpa desliguei o chuveiro, penteei meus cabelos amassando em seguida para dar forma aos cachos e os deixei secar naturalmente, me sequei e vesti um short curto sobre uma calcinha confortável, e coloquei uma blusa dos vingadores. Peguei meu telefone que estava sobre a cama e disquei o número de Andrew que atendeu no quarto toque com sua voz grossa.

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E o julgamento começou, podem pegar as suas tochas e forcados para a gente ajudar no julgamento. Kakakkaka

Parece que a família Thompson é toda podre não é mesmo? A desgraçada da não dele ainda tem coragem de ameaçar as duas.

Tulipa tadinha teve de ficar frente a frente com o homem que a estuprou para falar sobre isso. Nem imagino como foi difícil pra ela.

E o Andrew hem? Todo preocupado com a Tulipa?

Até amanhã.  😘😘😘

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