Capítulo 59.



Meg...

A primeira sensação que tive quando recobrei a consciência foram vozes ao meu redor, não consegui identificar quem falava, nem ao menos sabia onde estava, não sentia meu corpo direito, parecia dormente, tentei abrir meus olhos, mas o esforço foi em vão, por fim acabei novamente sendo abraçada pelo vazio, o torpor levando meus sentidos lentamente até nada restar.

Luz, uma forte luz branca ofuscando a minha visão foi a primeira coisa que eu vi quando finalmente consegui me manter consciente e abrir meus olhos, eles doíam com a forte luz, minha cabeça estava zonza e eu não fazia ideia do motivo, um bipe próximo não melhorava minha situação  e eu sentia cheiro forte de material de limpeza e algo mais enjoativo como remédio. De início eu não lembrava onde estava e o que tinha acontecido, então como um tapa na minha cara as imagens do acontecimento invadiram a minha mente, Patrick, disparos, Henry inconsciente no chão, uma angústia tomou conta de mim.

“Henry”. – Era meu único pensamento.

Tentei me mexer e percebi da pior maneira que tinha acesso venoso no meu braço direito. Pisquei os olhos para conseguir enxergar corretamente e virei a cabeça, em uma poltrona ao lado da minha cama minha vó estava adormecida, com a mão sobre a cama, em um sofá próximo Ellen dormia com a cabeça no ombro de John que tinha um braço em volta da sua cintura a abraçando de maneira protetora, do outro lado dela Natalie tinha a cabeça no abdômen de Iam que estava sentado no braço do sofá com a cabeça encostada na parede e uma mão pousada nas costas dela como se tivesse adormecido enquanto lhe fazia carinho. O som de vozes baixas me fez virar a cabeça e do outro lado do quarto, perto de uma janela Carol e Tyler conversavam baixinho.

- Carol. – Consegui falar depois de umas três tentativas, minha voz pouco rouca, baixa e muito arrastada devido aos remédios e a eu ainda estar fraca pela perda de sangue. – Carol. – Dessa vez ela olhou em minha direção e quase correu não se jogando sobre mim por pouco.

- Meu Deus Meg, você acordou. Que bom. – Sua voz saiu um tanto esganiçada pela emoção e surpresa.
Nessa hora minha mãe entrou no quarto com um celular na mão, todos acordaram ficando em pé de um salto, percebi Natalie verificando discretamente se havia bêbado em Iam e tive que me segurar para não rir. Todos ficaram em volta da minha cama, perguntando se eu sentia alguma dor, como eu estava o que eu queria eu não conseguia nem pensar direito com todos falando ao menos tempo, dizendo como era bom me ver acordada.

- Eu vou chamar o médico. – Tyler declarou saindo pela porta.

- Henry. – Falei ignorando o que eles me perguntavam, minha boca estava seca em um nível que doía, a garganta reclamava por água. – Como ele está?

- Vivo. – Minha mãe respondeu. – Nathan o operou e ele está sedado na UTI. – Isso era pouco eu queria mais respostas.

- Eu quero o Nathan, chame-o aqui. – Falei ainda com dificuldade.

- Vou encontrar ele. – John falou assim que eu me calei. – Ele foi até o refeitório tentar fazer com que a Grace coma alguma coisa, ela esteve entre o seu quarto e de Henry o tempo todo. – Não me surpreende que Nathan quisesse ajudar, ele sempre foi um homem bom, sempre gostou de cuidar das pessoas.

- Obrigada. – Sem dizer mais nada ele saiu. – Quanto tempo eu dormi? – Sabia que não tinha sido mais que algumas horas, pois todos ainda vestiam as mesmas roupas do evento.

- Quase oito horas. – Ellen disse depois de olhar no celular.

- E quanto tempo durou a cirurgia? – Eu precisava me atualizar de tudo.

- Sua cirurgia durou pouco mais de três horas senhorita Taylor. – Uma médica de óculos e jaleco branco falou, só então eu percebi que Tyler havia voltado para o quarto acompanhado da mulher. – Sou a doutora Karev, cirurgiã responsável pelo seu caso. – Ela era jovem, mas demonstrava responsabilidade.

- A extensão dos ferimentos foi grave? – Perguntei receosa.

-Não atingiu nenhum órgão vital, mas, você teve hemorragia interna, conseguimos controlar o sangramento. – Ela começou a falar termos médicos que não me traziam boas lembranças, mas que eu entendia o que ela falava. – Agora você só precisa de repouso.

- Ela terá doutora. – Ellen falou séria.

- Vocês já viram ela acordar e a polícia vai querer ouvir o depoimento dela em breve então eu gostaria que saíssem, farei alguns exames e ela voltará a descansar. – Doutora Karev falou calmamente. – Mais tarde poderão tornar a vê-la.

- Eu vou ficar com a minha neta. – Dona Eva sabia ser teimosa quando lhe era conveniente.

- Não vó, a senhora está cansada e abatida, vai voltar para o hotel e descansar. – Falei segurando sua mão. – Faça isso por mim. – Foda-se se isso chantagem, ela não é mais jovem e precisa descansar, foi coisa demais para um dia.

Depois de um pouco de insistência ela aceitou e saiu com Carol, cada um na sala falou comigo e se dirigiu para a porta em seguida, a médica fez alguns exames em mim, verificando se estava tudo em ordem, ela olhava a cicatriz dolorida em minha barriga quando John, Nathan e Grace entraram no quarto. A médica se afastou lhes dando espaço.

- Vejo você mais tarde ruiva. – John beijou minha testa e saiu.

- É muito bom ver você acordada Meg. – Grace me abraçou.

- Me perdoa, é minha culpa. – Falei chorando abraçada a ela. – É minha culpa. – Repeti.

- Ei, não é sua culpa não. – Ela passou uma mão em meus cabelos. – Você não tem culpa.

- Tenho sim, se eu nunca tivesse entrado na vida de vocês isso nunca teria acontecido. – Lágrimas não paravam de rolar pelo meu rosto, meu peito se apertava e a cicatriz doía mais devido meu movimento.

- Se você nunca tivesse entrado em nossas vidas, meu filho nunca teria descoberto o que é o amor. – Levantei meus olhos na direção da voz e vi Marianne encostada na porta com uma expressão abatida. – Ele vai se recuperar, ele tem pelo que viver, tem uma família que o ama e amigos. – Ela se aproximou de mim. – Não se culpe pelo que aquele homem doente fez menina. – Tocou meus cabelos em um gesto de carinho.

- A senhora não me odeia? – Perguntei em dúvida, claro que eu não tinha culpa diretamente, mas se o Henry não se envolvesse comigo ele não estaria em uma UTI.

- É claro que não menina, não pense uma coisa dessas. – Ela se abaixou e beijou meus cabelos. – Agora descanse, você passou por muita coisa.

- Ainda não, Nathan. – O chamei e ele aproximou.

- É bom vê-la acordada Meg. – Ele me olhou com carinho. – Você sente alguma dor? – Ele perguntou olhando de mim para a médica.

- Obrigada pela preocupação, e não estou sentindo dor. – Menti e o olhei esperando respostas.

- Eu não posso lhe dizer que ele vai se recuperar completamente Meg, você sabe que ainda não tem como saber. – Ele começou a detalhar o que aconteceu na cirurgia, como ele retirou a bala alojada na língua. – A cirurgia foi um sucesso, ele está sedado para se recuperar, acorda-lo agora só o traria dor, ele pode ter algum problema com a fala, o maxilar está bem inflamado, de resto só temos como saber quando a medicação for retirada. – Ele tocou meu ombro. – Meg o rastro limpo da bala nele é o que se pode chamar de milagre, se aquilo não for milagre, nada mais é, meio centímetro para o lado e teríamos problemas.

- Quando a medicação vai ser retirada?

- Em 4 ou 5 dias.

- Eu quero vê-lo. – Falei olhando dele para a minha médica.

- Não é uma boa ideia você sair agora, precisa descansar. – A médica falou.

- Eu não vou descansar até vê-lo. – Falei olhando nos olhos dela. – Nem que seja pelo vidro, eu preciso olhar pra ele respirando, por favor. – Peguei a mão de Nathan pedindo ajuda.

- Só um pouco doutora. – Grace falou olhando para a médica que parecia irredutível.

- Eu a acompanho o tempo inteiro. – Nathan falou e eu sorri para ele.

- Não é necessário doutor Wood, eu mesma a levo. – Ela falou se aproximando da cama.

Nathan a ajudou a me colocar em uma cadeira de rodas, meu braço com o acesso venoso ligado a um tubo de soro foi deixado sobre o braço da cadeira, uma manta foi colocada sobre minhas pernas de modo que eu sustentasse minha dignidade vestindo aquele avental ridículo de hospital.

Ao vê-lo eu senti alívio e dor, ver os monitores indicando que seus sinais vitais estavam fortes e o seu peito subindo e descendo mostrando que ele respirava sozinho era ótimo, mas vê-lo desacordado em uma cama de hospital, com fios saindo de ambos os braços, o braço direito com um curativo  e uma faixa envolvendo seu maxilar inchado me destruiu, não pude deixar de chorar.

Contrariando a médica fiquei de pé e me aproximei dele, puxando o tripé do soro, passei a mão livre em seus cabelos, me debrucei beijando sua testa. “Eu sou uma pessoa horrível se naquele momento tiver tido uma ideia para acrescentar a sequência do meu livro? Um spin-off talvez? Por que eu tive.”

- Eu te amo Henry, por favor volta pra mim. – Sussurrei em sua direção. – Eu te amo demais, preciso de você comigo.

**

Meg...

Faz um dia que a medicação do Henry foi suspensa e ele ainda não acordou, eu convenci todo mundo a colocar uma cama pra mim no quarto para o qual ele foi transferido anteontem, queria estar ao seu lado quando ele acordasse, essa espera estava acabando comigo, a incisão em minha barriga quase não doía mais, porém o aperto no peito não me deixava.

Minha mãe e minha vó ainda não voltaram para Manchester, elas resolverem ficar aqui até que eu estivesse recuperada, meu pai apareceu aqui no dia seguinte ao acontecimento, seu semblante era preocupado, mas ele não perdeu a oportunidade de dizer que isso foi fruto de mais uma escolha errada que eu fiz na minha vida, o que só serviu para piorar meu estado de culpa constante, por isso eu não me senti nem um pouco com remorso por mandar ele voltar pra casa. Lisa sequer apareceu, ontem ela me ligou perguntando como estou e só. Apesar de já esperar esse tipo de atitude dela me magoa, não que eu a queira aqui, se não veio para o meu lançamento, não precisa vir pro meu tiro. A magoa é por não termo uma relação de irmãs e por saber que se fosse ao contrário eu estaria com ela nas duas ocasiões, independente dos nossos desentendimentos.

Ellen se recusou a voltar para Mumbai com o meu atual estado, Nathan também ainda está por aqui, tirou uma licença do hospital que trabalha em Manchester para acompanhar de perto o caso de Henry, disse que só volta quando ele estiver recuperado. Diariamente meus amigos vem me vê, saber como eu estou e reforçar que a culpa não é minha, em alguns momentos eles quase me sufocam de amor.

Prestei depoimento para a polícia, soube pela detetive Griffin que Patrick deixou o hospital ontem em direção a prisão, onde vai permanecer até o julgamento que deve acontecer daqui a mais ou menos um mês. Descobriram que Pietro o sobrinho de Franck fora o responsável por ajudar Patrick a entrar na livraria, ele conhecia os protocolos de segurança por já ter trabalhado com o tio, depois de ver notícias sobre a tentativa de homicídio no jornal ele se sentiu culpado e se entregou a polícia. Ninguém da família viu Franck desde então, ele entregou uma carta de demissão a Tyler e sumiu tomado pela vergonha.

Sai dos meus devaneios quando senti um aperto em minha mão, estou sentada na ponta da cama de Henry, ignorando o desconforto em minha cirurgia, com sua mão nas minhas traçando suas veias com os dedos. Olhei para o seu rosto e o vi de olhos abertos. Eu nem acreditei naquilo, meu coração pareceu que não cabia mais no peito eu quase comecei a hiper ventilar.

- Meu amor. – Falei com a voz embargada e percebi que ele fazia força pra falar. – Não tente falar, seu maxilar foi machucado, você me entende? Se me entende aperta minha mão uma vez pra “sim” e duas pra “não”, entendeu? – Um aperto. – Você sabe quem eu sou? – Um aperto. Sorri aliviada. – Lembra do que aconteceu? – Um aperto, ele soltou minha mão e balançou a sua como se dissesse mais ou menos. – Sente dor. – Um aperto, aquilo machucou, queria poder tirar a sua dor e colocá-la em mim, fazer com que ele não sofresse nem mais um minuto. – Tudo vai ficar bem, vou chamar o Nathan. – Me levantei e me inclinei sobre ele. – Eu te amo. – Beijei seu rosto. Ele não quis soltar minha mão. – Eu volto logo, prometo. – Ele enfim soltou e eu saí em busca de alguém que pudesse comunicar a Nathan, enquanto ele está aqui o hospital está aproveitando os seus serviços já que ficou recentemente sem um dos neurocirurgiões do seu quadro.

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Olha quem acordou. Graças a Deus, agora é rezar pra não ter ficado sequelas e esperar a recuperação.  😬

Franck tadinho se sentiu tão culpado e envergonhado que se demitiu. 😢

Nathan ajudando a Grace por que ela estava se recusando a comer, não é mesmo um fofo? 😍

Até amanhã. 😘

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