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Horas foram necessárias para que Taehyung se acalmasse. Jimin tinha sido chamado por Aileen algumas horas antes, para que ele conseguisse convencer Taehyung a tomar um calmante e descansar até que o pai conseguisse se livrar de absolutamente tudo que os ligava à cena do crime. Todas as roupas e calçados usados pelos três durante toda aquela noite já tinham tomado um caminho desconhecido. Ele não sabia se se sentia pior ou mais aliviado por isso.

Quando ele acordou, Jimin e Jungkook já tinham ido embora e ele não se sentia nem um pouco mais calmo.

Todos os canais de televisão pareciam estar reprisando o mesmo noticiário durante o dia inteiro. E não era como se ele conseguisse se livrar do assunto, todos os grupos da faculdade falavam sobre o caso, e è claro que o juízes e detetives do Twitter já estavam dando suas sentenças e criando suas teorias.

Ele tentou não olhar aquele circo, dar atenção só poderia piorar a situação para ele, mas no fim, se deu conta de que já estava a um minuto lendo tweet atrás de tweet.

A linha do tempo inicial destacava os tweets que mais tinham interações e um em especial chamou a atenção de Taehyung.

“ Meu irmão estava no Acampamento Pine Creek, o chalé dele ficava próximo ao do Sr. Pine e ele disse que era insuportável estar lá por causa das brigas daqueles dois.”

Logo abaixo, ele respondeu o próprio tweet com a própria opinião.

Eu não sei vocês, mas eu tenho quase certeza que o Sr. Pine tem alguma coisa a esconder.”

Uma garota respondeu embaixo.

Não tá meio óbvio? Achei que só eu tinha percebido o quanto ele tá agindo muito esquisito. Parece calmo demais pra alguém que está com um filho à beira da mort3.”

Enquanto Taehyung rolava a tela para baixo sem parar, se deparou com um vídeo cortado de uma reportagem. Era muito difícil não cair na tentação e não apertar para ouvir o que a mídia tinha a dizer.

Agora, ele não era apenas Taehyung filho do futuro prefeito. Ele e os amigos carregavam o fardo de um crime e dentre todas as opções, ele achou que era melhor aproveitar as últimas horas livres se informando, precisava saber o quão perto da verdade estava a polícia.

O volume do celular estava alto demais, parecia que a repórter estava gritando com ele.

Taehyung leu a chamada enquanto a ouvia.

Crime de Agressão em Acampamento: Polícia ainda investiga”

Nas últimas horas, um grave incidente de agressão ocorreu em um acampamento situado na região [inserir nome da região], levantando preocupações sobre a segurança das atividades recreativas. O caso, que envolveu ferimentos sérios a uma vítima já identificada como Luke Pine, filho do dono do acampamento, está sendo investigado pelas autoridades locais.

O acampamento, que acolhia dezenas de crianças e adolescentes, transformou-se em cenário de uma tentativa de homicídio, levando a polícia a considerar a hipótese de que o agressor possa ser um dos próprios participantes. Segundo fontes próximas à investigação, a polícia está planejando ouvir todos os jovens que estavam presentes no momento do incidente, na tentativa de esclarecer os fatos e identificar o responsável pela agressão.

O responsável pelo acampamento ainda não se pronunciou oficialmente sobre o ocorrido, mas medidas de segurança adicionais foram imediatamente implementadas para proteger o local investigado e evitar novos incidentes.

Enquanto a investigação avança, familiares dos jovens e crianças que estavam acampados expressam preocupação e buscam respostas sobre como um crime de natureza tão brutal pôde ocorrer em um ambiente que deveria ser completamente seguro e supervisionado.

A polícia solicita que qualquer pessoa com informações relevantes entre em contato, garantindo o anonimato dos denunciantes. As autoridades reforçam que a colaboração da comunidade é fundamental para a resolução rápida e justa do caso. A vítima está em estado gravíssimo e não poderá receber visitas.”

O vídeo foi cortado quando ela estava prestes a se despedir.

Taehyung pensou em bloquear a tela do celular e ir passar o tempo restante de liberdade com a família, mas por algum motivo, pensou que seria bom conversar um pouco com os amigos.

Hoseok estava desesperado para falar com Taehyung e a esse ponto, ele pensava que o amigo já tinha descoberto tudo. No fim das contas, todos só queriam saber quem entre eles iria dar um depoimento.

Yoongi e Namjoon disseram que não havia nenhum motivo para ninguém daquele grupo falar absolutamente nada. Jungkook e Seokjin concordaram. Por outro lado, Taehyung conseguia se lembrar perfeitamente do que Jimin estava fazendo um pouco antes do crime acontecer, eles seriam julgados por uma coisa ou outra.

— O que você tanto vê nesse celular? — Aileen apareceu sem fazer nenhum barulho, assustando Taehyung.

Ou talvez ele realmente estivesse sendo assustado por qualquer coisa, ele não tinha certeza se isso tudo era mérito da mãe.

— Tentando falar com eles. Não sei o que fazer.

Ele sentiu que estava prestes a chorar feito um bebê novamente.

— Nada. Nenhum de vocês vai fazer nada.

— Eu deveria me entregar.

— Meu filho não vai para a cadeia — Aileen disse firme e Taehyung soube que se entregar não era uma opção — Legítima defesa, era ele ou um de vocês e eu acho que você ia preferir matar qualquer um à perder Jungkook e Jimin.

Do jeito que ela falava parecia tão fácil.

— Como é que eu vou provar? Nós destruímos o vídeo que eles tinham de nós.

— Seu pai vai dar um jeito e a justiça será feita.

Ele achou melhor não perguntar o motivo para a mãe parecer tão confiante. Ninguém mais parecia estar entendendo a gravidade da situação. Conversar com a mãe estava tendo o mesmo efeito de conversar com um robô programado para falar frases positivas. Nada estava bem e nada ficaria bem. Se ao menos ele tivesse Jungkook ali com ele. Taehyung só queria entrar no abraço de alguém que o entendia e chorar até cair no sono novamente. Infelizmente ele não podia mandar mensagem ou ligar para perguntar como o namorado se sentia depois de ser cúmplice do pior crime dos últimos dez anos.

— Quer que eu chame o Jimin para dormir aqui hoje? Posso inventar uma boa desculpa para os pais dele, sou muito boa nisso.

Ela sorriu e ele se sentiu a pior pessoa do mundo por não ser capaz de retribuir o sorriso mais sincero que ela tinha dado desde que ele entrou de férias, mas esperava que ela entendesse que, a última coisa que uma pessoa no estado que ele estava era incapaz de sorrir.

Quando a mãe saiu do quarto para usar o telefone fixo, percebeu o quanto era perturbador ficar sozinho.

Será que Jimin e Jungkook também se sentiam da mesma forma? Bem, era mais fácil para Taehyung e Jimin, já que os dois moravam no mesmo condomínio, em menos de dez minutos ele sabia que não estaria mais sozinho.

Ele não pensou duas vezes antes de abrir o chat privado com Jeon e mandar algumas mensagens junto com o link do Tweet que ele tinha visto minutos antes.

As mensagens foram visualizadas bem rápido, mas Jungkook não era conhecido por responder rápido, então, Taehyung deixou o celular de lado e sem perceber que estava andando de forma automática, entrou no banheiro e se despiu.

Ele entrou no chuveiro com passos pesados, a água quente escorreu pelo corpo, mas não trouxe nem um pouco do alívio esperado. Ele segurava a bucha com força, quase como se estivesse em uma luta. As cerdas que eram macias acabaram ficando ásperas, ele não percebeu que não tinha colocado sabonete e moveu freneticamente sobre sua pele, que logo começou a ficar vermelha com a força do atrito. Ele esfregava cada centímetro do corpo, como se tentasse apagar algo que não já não estava mais ali. Apesar de já ter tomado banho mais cedo, a sensação de estar sujo não o abandonava. Cada movimento era impulsionado pela urgência de se purificar, mas ele sabia que não era apenas a sujeira que tentava remover. A água escorria pelo ralo, levando com ela o desespero, mas a culpa permaneceu presa em sua mente, enquanto ele continuava a esfregar, como se quisesse arrancar a pele e junto dela, as lembranças da coisa horrível que ele tinha feito.

Ele se enrolou na toalha e foi checar o celular. Jungkook não estava mais online e não tinha respondido. O melhor a ser feito era dar tempo a ele, aquela situação não era fácil.

Pouco tempo depois, Jimin chegou, sem dizer uma palavra. Passaram a noite inteira sem tocar no assunto, e quando Taehyung acordou, Jimin não estava mais na cama.

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Jimin estava todo arrumado quando Taehyung o encontrou na cozinha com Jungkook.

— Bom dia, meu amor. Como você está se sentindo? — Jungkook perguntou delicadamente enquanto caminhava até ele.

Diferente das outras vezes, Jungkook deixou um beijo carinhoso em sua testa antes de puxá-lo para um abraço. Apesar de ser algo que ele almejava desde o momento em que deixaram o acampamento, aquilo não tinha sido um ato diferente no bom sentido.

— Um grande pedaço de merda, é assim que eu me sinto. Não tem como fugir disso, quando ele acordar nós vamos dividir uma cela.

Jungkook e Jimin se entreolharam, como se soubessem de algo que ele ainda não sabia e ficaram sério por um tempo que pareceu longo demais.

— O quê aconteceu?

— Você é o amor da vida dele, as chances de ele te matar são menores — Jimin disse.

Ele só percebeu a péssima escolha de palavras quando Jungkook lançou em direção a ele o pior olhar que Taehyung já tinha visto.

— Me perdoa, eu não quis dizer isso no sentido literal, foi tipo…

— Eu entendi.

— Quer que eu faça seu café? — Jungkook perguntou.

Durante todo o tempo que eles se conheciam, Jungkook era prestativo, nada exagerado. E como namorado, nada menos do que um namorado perfeito. Eles se conheciam bem o suficiente para Taehyung conseguir identificar quando uma ação dele era movida pela tentativa de se esquivar de alguma coisa.

Prestando mais atenção em Jungkook, ele percebeu que não era só Jimin que estava apresentável demais para irem apenas para a casa dele. Os dois tinham ido em algum lugar sozinhos.

— Não quero café coisa nenhuma. E eu espero, do fundo do meu coração, que vocês dois não tenham ido tentar visitar o Luke.

Mais uma vez, os dois se olharam e ficaram em um silêncio que estava começando a irritá-lo.

Jimin foi o primeiro que se sentou em um dos bancos altos que ficavam em volta da ilha da cozinha.

— Ele morreu de madrugada. Já era de se esperar, os ferimentos eram graves.

Taehyung engoliu seco. Ferimentos que ele tinha causado.

— Não precisa dar mais detalhes. A polícia confirmou e o velório será em dois dias — Jungkook chegou mais perto dos dois.

Taehyung estava dividido entre se sentir aliviado e se sentir a pior pessoa do mundo.

Agora ele era definitivamente um assassino procurado e era para ele começar a entrar em pânico, mas saber que Luke estava morto lhe causava uma certa paz. Com a única testemunha morta, a chance de ser pego já diminuía significativamente.

E parando de pensar somente em si, ele começou a ter noção do perigo que os amigos também estavam correndo, já que pelos olhos da justiça, os dois não seriam nada além de cúmplices.

— Fala de uma vez, Jimin — Jungkook pediu.

Ele pigarreou antes de abaixar o tom de voz e falar com a voz mais calma que poderia usar naquela situação.

— Conversei com o seu pai hoje cedo, um pouco antes de você acordar — Jimin começou.

Taehyung fixou os olhos no relógio da parede, tentando decifrar os ponteiros que pareciam teimar em se mover devagar demais. Após alguns instantes, concluiu que já passava de uma e meia da tarde. Se ele estivesse certo, o “hoje cedo” mencionado por Jimin com certeza já havia se transformado em "há muito tempo".

— Eu também chamei o Jungkook e nós três achamos que era melhor se déssemos nosso depoimento. Decidimos que será melhor para todos se a polícia pudesse ter um suspeito sólido antes de começar a desconfiar de nós três.

— A gente prometeu não abrir a boca — Taehyung falou.

— Tarde demais para pensar nisso. Abrir a boca foi a primeira coisa que você fez quando saímos do acampamento, mesmo depois do combinado — Jungkook disse em um tom nada agradável.

Jimin olhou incrédulo para ele e os dois puderam ver o arrependimento instantâneo no olhar de Jungkook.

Tarde demais para pensar nas consequências.

— Talvez eu devesse ter deixado ele matar vocês dois. Se era isso que vocês queriam deveriam ter me falado antes de eu abrir a cabeça de alguém para essa pessoa nao matar nós três — Taehyung gritou.

— Não foi isso que ele quis dizer. E fala mais baixo — Jimin tentou apaziguar, mas já sabia que não ia adiantar.

— Ou melhor, deveria ter deixado você pegar a tesoura e matá-lo, exatamente como teria feito se não estivesse quase morrendo no chão — Taehyung apontou o dedo na direção do namorado.

— Eu não pedi para você matar alguém para me salvar. Você acha que eu gostei de ver você se transformar em um monstro por minha causa?

Jungkook colocou a mão na boca, mas outra vez, era tarde demais para pensar no que ele havia dito.

— Sentem. Os três. —  Os três viraram para trás ao ouvir a voz firme de Aileen entrando na cozinha.

Taehyung pensou que voltaria a chorar pela milésima vez em vinte e quatro horas. Porém, o que aconteceu a seguir foi ainda pior, já que ele sabia exatamente o que tinha que ser feito, e para ele, pouco importava se aquilo tinha sido dito da boca para fora. A boca dele jamais tinha dito algo que ele nunca tinha pensado e muito menos algo que ele nunca tinha sentido.

Aileen se sentou ao lado de Jungkook. Jeon, por sua vez, não conseguiu encarar nada além de um pano de prato que estava em cima da mesa.

— Como foi lá? — Levou um tempo até Taehyung perceber que a mãe estava falando com os dois e não com ele.

— Do jeito que combinamos — Jimin respondeu.

— Que tipo de perguntas eles te fizeram?

— Perguntas padrões, do jeito que o sr. Kim disse que fariam.

— Isso é bom, o que mais?

— Eu introduzi o assunto das câmeras e levei a carta que o sr. Pine me mandou. Eles ficaram olhando uns para os outros e perguntando se eu tinha certeza que as câmeras funcionam, mas acho que a carta valeu como prova no fim das contas, eles acreditam que as câmeras pararam de funcionar no dia seguinte à nossa chegada no acampamento. Eu me fiz de bobo e disse que achei que a polícia já tinha olhado as câmeras para ver se tinha algum estranho rondando o acampamento antes das câmeras pararem de funcionar, mas eles insistiram que as câmeras não estavam funcionando nos últimos meses e eu mostrei os e-mails que recebi quando estava em treinamento. Claro que mostrei  carta que recebi quando eles me dispensaram por último, só aí eles acreditaram em mim e pegaram como evidência. Exatamente como conversamos, plantei a sementinha e deixei o resto pro Jungkook.

Aileen e Taehyung olharam para Jungkook enquanto ele se preparava para contar a experiência.

— Não me perguntaram muita coisa, eu disse o que sei que os outros alunos vão dizer, Luke e o pai estavam brigando demais e não se importavam de brigar na nossa frente. Ele perguntou o que eles diziam nas brigas e eu disse coisas que sei que os outros alunos e funcionários do acampamento também ouviram, tipo aquela vez que ele disse que se ele não seguisse as ordens ia fazer o Luke ir morar com a mãe, mas todo mundo sabe que a mãe dele faleceu. Não teve nada de especial, meu pai estava lá e não deixou ninguém me forçar a dizer nada. Bom, foi isso.

— Ótimo. Meu marido já fez o que era preciso, ninguém vai chegar até vocês. O Jimin nos contou com mais calma ontem e nós já sabemos o que vocês acharam nas câmeras. Se o filho não tivesse morrido, ele jamais pagaria pelo que fez com as vítimas. O celular de Luke foi achado na cena do crime e os contatos do seu pai disseram que a polícia vai fazer uma análise, em alguns dias terão respostas.

Ela disse as últimas frases olhando para o filho e logo em seguida se levantou.

— Tenho uma reunião em uma hora e meia, preciso estar com o seu pai para discutirmos a reta final da campanha. Eu gostaria muito de poder ficar com você, meu filho, mas infelizmente tenho que sair.

Taehyung deu de ombros. Preferia ficar sozinho a ter que aguentar a mãe fazendo mais perguntas sobre a estadia deles no acampamento, como se contar tudo a ela fosse mudar o que ele fez.

— Pode ir, talvez eu durma na casa dos Cho, a Miyeon está me mandando mensagem desde ontem e eu ainda não respondi. Tenho que agir normalmente se não quiser levantar mais suspeitas.

— Você não levantou suspeitas e não vai levantar. Agora, preciso ir, se comportem e parem de brigar, não suporto vê-los assim.

Ela beijou a bochecha de cada um antes de deixar a mesa.

Taehyung não levantou, os três continuaram exatamente onde estavam e ele fixou o olhar em um ponto indefinido, enquanto o silêncio pesado pairava no ar. Qualquer coisa era melhor do que falar com Jungkook naquele momento.

Jimin, sempre sensível às emoções dos amigos, notou o desconforto entre os dois. Percebendo que era melhor deixá-los a sós, ele se levantou discretamente, arrumando uma desculpa rápida.

— Vou ao banheiro, e quando eu voltar, espero encontrar a mesma cena ridícula que eu encontro quando deixo vocês sozinhos por cinco minutos —  disse ele, tentando manter um tom leve, embora soubesse que não enganaria ninguém.

Taehyung e Jungkook mal reagiram, presos em seus próprios pensamentos, mas Jimin esperava que a sua saída os ajudasse a se entenderem.

Assim que Jimin saiu, o silêncio se tornou ainda mais desconfortável. As palavras pesadas que Jungkook tinha cuspido na cara dele mais cedo, principalmente a palavra "monstro", ainda ecoavam em sua mente, deixando uma ferida invisível. Taehyung sentia o peso da dor e da incompreensão, enquanto percebia que Jungkook, arrependido, buscava uma forma de corrigir o erro que tinha cometido.

E então, ele resolveu esperar, queria ouvir o que Jungkook diria e o que ia usar para tentar se justificar.

Não demorou muito para Jeon finalmente levantar o olhar e começar a falar.

— Eu não te acho um monstro, Taehyung.

— Sorte a minha, então — Ele respondeu com sarcasmo — Imagina que estranho seria se eu ouvisse a palavra monstro saindo da boca do meu namorado enquanto ele fala de mim.

— Sim, eu falei, não tenho como dizer que não falei. Eu sinto muito por ter dito isso. Está na sua cara o quanto eu te magoei e eu não gosto de te ver desse jeito.

— Foi por isso que você me ignorou ontem e mal olhou na minha cara hoje? Estava com medo de mim?

Jungkook cobriu o rosto com as duas mãos antes de passá-las pelo cabelo.

— Eu não te acho um monstro, preciso que você entenda isso.

— Eu também não te acho um monstro, e é exatamente por isso que eu nunca disse isso para você. O Jimin nunca esqueceu que faz parte disso, mas você… parece que nunca esteve lá e está agindo como se não fosse o autor do plano que me levou a ter que nos defender.

— Eu fiz isso pensando em você, foi tudo para proteger a sua imagem, para proteger você! — Ele gritou.

— E eu fiz o que era preciso para proteger vocês dois, me explica como é possível que só haja um monstro nessa história?

Aquela era uma ótima hora para Jimin aparecer e entrar no meio dos dois para tentar apaziguar e dizer que tudo ia ficar bem desde que eles tivessem uns aos outros.

Infelizmente, não foi o que aconteceu.

— Eu não pedi por isso. Não pedi para ninguém salvar a minha vida, se isso te custou tanto, poderia ter me deixado morrer.

Taehyung riu incrédulo.

— O que você planejava fazer quando pegou a tesoura? — Taehyung perguntou e não ouviu nenhuma resposta — Ah, sim, é claro! Se eu não tivesse lá,  você teria feito o que eu fiz e então, o monstro seria você, não é?

Jungkook engoliu seco e ficou em silêncio.

— O que foi? A escolha de palavras foi forte demais para você? Bem-vindo ao clube.

Jeon levantou e trocou de assento para um onde ele pudesse ficar mais perto de Taehyung. Logo em seguida, segurou a mão dele.

— Eu não deveria ter dito isso, me desculpe.

Taehyung negou com a cabeça.

— Não importa. De qualquer forma você teria pensado e isso é o que mais me machuca. Não dá para viver ao lado de alguém que está pensando que eu sou um monstro e que tem medo de mim.

Taehyung observou com o canto do olho enquanto Jimin voltava do banheiro, quase correndo. O rosto não escondeu a decepção ao olhar para os amigos e perceber que era melhor não ter deixado os dois sozinhos. Taehyung sentiu um leve peso no peito ao notar o olhar de Jimin, como se ele já soubesse que a troca de farpas com Jungkook tinha ido longe demais.

— Não é melhor vocês conversarem depois que tudo isso for resolvido e o homem estiver atrás das grades? — Jimin perguntou em uma tentativa desesperada de ajudar.

— Não vai funcionar.

— O que não vai funcionar é vocês ficarem brigando de cabeça quente. Essa situação é uma grande merda do caralho, mas vocês tem que entender que ninguém é inocente, antes eles do que nós. É uma perda horrível, Luke era jovem, mas sabe quem também é jovem? — Jimin perguntou, claramente não esperava nenhuma resposta além do silêncio dos dois — A garota que ele assistia tomar banho todos os dias. Ela tem dezessete anos e as outras são ainda mais novas. Assim como eu e o Yoongi também somos vítimas dele e nunca vamos poder contestar porque o Luke está morto e até o momento esse país inteiro está pensando que ele é inocente. O Taehyung fez o que tinha que ser feito, se ele não tivesse feito, um de nós dois teria acabado com aquele desgraçado no lugar dele. Supondo que vocês queiram ter um futuro fora do xadrez, o melhor é não tocar nesse assunto.

— Ele tem razão. Não vou tocar mais no assunto, porém, não vou fingir que não estou notando seu afastamento repentino. Eu não consigo ficar com você sabendo que está com medo de mim. Talvez você precise de um tempo para assimilar as coisas, o que eu fiz não tem volta e você vai ter que me aceitar sabendo do que eu fiz.

Jungkook balançou a cabeça.

— Quem disse que eu quero um tempo?

— Querer e precisar são coisas diferentes.

Ele lançou um olhar para Jimin, esperando por algum tipo de auxílio. Mas Jimin apenas deu de ombros, sabendo que, se tentasse intervir ou ajudar qualquer um dos dois, a situação se transformaria em uma bola de neve descontrolada, e ele acabaria sendo o culpado. As coisas já estavam desmoronando, e a última coisa que ele queria era se envolver ou tomar um partido.

— EU NÃO QUERO DAR UM TEMPO! — Jungkook falou alto e se arrependeu no mesmo instante.

Eles não eram acostumados a gritar um com o outro em nenhuma ocasião. Aquilo só fez Taehyung ter certeza de que a decisão que era mais apropriada para a situação.

— A gente precisa desse tempo. Eu te amo, mas nós não podemos continuar assim.

Taehyung viu a boca de Jimin abrir e fechar rápido, como quem ia dizer algo e desistiu.

Jungkook parecia não acreditar no que estava ouvindo.

— Você está terminando comigo? — Os olhos dele encheram de lágrimas e isso quase fez Taehyung dizer que aquilo era um mal entendido e que eles iriam tentar de novo.

— Sim, eu estou. A gente pode tentar de novo, vou esperar o tempo que for para quando você estiver pronto.

Jeon tentou esconder as lágrimas que começavam a cair, mas secá-las com a manga do moletom não estava ajudando a esconder absolutamente nada. O rosto já estava todo vermelho e a voz vacilava.

Ele respirou fundo antes de dizer:

— Quando eu passar por aquela porta, não tem amor que me faça voltar.

Jimin estava desesperado ao lado de Taehyung.

— Então isso é um adeus.

Jungkook não fez questão de ficar mais nem um segundo ali. Quando Taehyung deu a palavra final, ele aceitou o veredito e apenas pegou o casaco antes de sair.

Taehyung e Jimin o acompanhavam com os olhos, traçando o caminho até a porta. No momento em que ouviram Jungkook bater a porta com força, Taehyung finalmente desabou.

Estava explícito olhos de Jimin o quanto ele não concordava com aquela situação e o quanto ele sabia que aquele não era o caminho certo, mas como um bom amigo, ofereceu o ombro para Taehyung chorar.

— Vai ficar tudo bem — Ele disse enquanto tentava limpar os olhos de Taehyung em vão.

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Quando a noite chegou, os pais de Taehyung já tinham voltado sem nenhuma intenção de fazer silêncio e respeitar o momento do filho, que parecia estar de luto.

Ao que parecia, eles estavam com pressa e procurando por algo.

— Não é pra acordar o Taehyung por isso — Ele ouviu o pai dizer.

A voz soava tão longe que ele não tinha certeza se estava sonhando ou se aquilo realmente estava acontecendo, até o momento em que sentiu Jimin sacudindo seu corpo de leve, com cuidado para não acordá-lo no susto.

— Ele tem essa mania de perder o controle, já falei mil vezes para não tirar da sala mas ele insiste.

— E vai acordá-lo por isso? — A voz do pai agora parecia mais perto enquanto ele despertava por completo

Ao ouvir três batidas na porta, Jimin levantou para abrir.

— Vocês estão acordados, que ótimo. Tem algo que precisamos mostrar aos dois, mas antes eu preciso saber cadê o controle da televisão?

Com o pai de Taehyung resmungando da sala, Jimin e Aileen encontraram o controle na gaveta da penteadeira e partiram para a sala, enquanto Taehyung tomava coragem para levantar da cama.

Ele gostava de quando estava dormindo. Era a parte mais reconfortante do dia, porquê tudo o que ele tinha feito naquele acampamento adormecida junto com ele, era triste acordar e se lembrar do motivo que o fazia tomar remédios para dormir. Agora ele tinha motivos, no plural. Arrependimentos também.

Taehyung se levantou devagar e fez corpo mole para lavar o rosto, cada movimento era executado de forma exageradamente lenta, ele realmente não queria saber o que Jimin e os pais estavam vendo na sala, não precisava ser um gênio para saber que era algo relacionado ao crime que ele cometeu.

— Taehyung? — Ele escutou o pai chamar.

Agora sim ele sabia que não tinha escapatória. 

Secou o rosto devagar para ganhar mais tempo, mas não foi o suficiente. A ansiedade fez com que ele caminhasse rápido demais e chegasse logo à sala.

Ele não precisou perguntar o que estava acontecendo, o rosto do Sr. Pine estava cobrindo toda a tela e embaixo havia uma linha que indicava números de telefones que os civis deveriam ligar caso vissem o foragido.

— Eles morderam a isca sobre filmagens das câmeras, o Sr. Pine agiu de forma esquisita, ele não quis entregar o celular para dar andamento às investigações. A polícia desconfiou e acharam o celular do garoto. Eles me ligaram quando eu estava na reunião e me disseram que a polícia tinha vídeos antigos do meu filho, isso quando você e o Jungkook tinham dezessete anos. Claro que eu pedi para não vazarem essa informação, mas vamos seguir com processos. Ele pode não ter cometido um assassinato, mas a pornografia é proibida nesse estado e ele vai pegar muitos anos.

Não era tão fácil assimilar as palavras do pai enquanto a jornalista repetia a série de crimes que o Sr. Pine cometeu durante muitos e muitos anos. A voz dela se sobressaiu quando os crimes relacionados ao Acampamento Pine Creek começaram a ser citados.

— A polícia confirma que mais de quinze HDs externos foram apreendidos, cada um com mais quinhentos gigabytes em conteúdo criminoso, contendo entre eles videos de pornografia infantil que ele e o filho usavam para vender, atendendo pedidos específicos de usuários da deepweb.

O estômago de Taehyung embrulhada conforme a repórter continuava listando os crimes, pela primeira vez em dois dias ele não se sentia mais tão culpado pelo que tinha feito.

Era óbvio que o maldito velho seria procurado e ia acabar atrás das grades em algum momento, ele só tinha acelerado o processo.

Taehyung quase ficou aliviado por ter sido o maior responsável pela exposição, já que a repórter continuava falando e agora mencionava algo sobre vítimas de chantagem terem dado o depoimento contra o pai e o filho no começo da tarde.

Ele teria se sentido ainda mais aliviado se William Pine já estivesse na cadeia. Entretanto, estava confiante de que o pai tinha influência o suficiente para fazer de tudo para encobrir os três, não só Taehyung.

Apesar de ter terminado um relacionamento de forma trágica e em uma péssima hora, ele não duvidava por nem um minuto da lealdade de Jungkook e poderia dormir em paz todas as noites sabendo que era ele e Jimin que estavam guardando aquele segredo.

E finalmente, depois de muito tempo sem pensar em qualquer outra coisa, Taehyung sentiu que estava a salvo e poderia descansar.

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Chegamos na parte final dos flashbacks, a partir de agora tudo é no tempo atual da história. Obrigada por esperarem tanto tempo e espero que tenham amado a capa nova tanto quanto eu amei. Não se esqueçam de votar e comentar se estiverem gostando da fanfic, isso ajuda bastante Vejo vocês no próximo capítulo ❤️💋

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