O amargo do chimarrão te traz...

Inverno no meio oeste Catarinense amanhece com geada...

Levanto cedo com o cantar do primeiro galo porque tenho um dia cheio pela frente...

Nos poucos alqueires do meu sítio, construí uma casa de madeira que representa o saudosismo de outrora e que lembra a casa onde cresci quando tinha meus pais nessa "estância". Hoje apenas boas lembranças que me surgem enquanto cevo o mate. O hábito do chimarrão lembra amizade e a "quentura", o calor humano. Seu amargo é doce pra eu, pois aguardo aquele que vem compartilhar algumas cuias desse mate antes de ir para sua lida.

Logo o calor do fogão a lenha toma conta do ambiente, a água na chaleira ferve sobre a chapa preta de ferro, anunciando a hora que tu devias estar aqui pra compartilhar as primeiras cuias.

Parado à porta aberta do meu rancho, junto com os goles quentes da bebidas, me perco olhando para a linha do horizonte sobre as pastagens que cobrem as áreas planas, como um tapete verde, esbranquiçado pela geada fina que o sol logo desfaz.     

Observo o meu belo parreiral de uvas, ressecado e marrom como os olhos do meu guri. Meu companheiro de tantos anos, além do mate do inverno, me acompanha na colheita da uva no verão para compartilhar a doçuras das frutas entre prosas divertidas e nosso romantismo simples.

Na segunda cuia já me preocupo, pois não és de te atrasar. Hoje deve ter ficado enrolado nas cobertas e pelo que sei de ti, é um dos poucos motivos que te fazem perder as horas, e isso muito raramente.

Junto com um raio a mais de sol, tu me apareces com o sorriso largo no rosto barbudo, apeias do cavalo e se dirige a mim para compartilharmos um doce, mas gelado beijo de bom dia. Depois disso, toma de mim a cuia e te serves como gostas, mas não sem antes tirar teu chapéu para numa brincadeira antiga coloca-lo sobre minha cabeça.

— Que houve que te atrasou, compadre?

— "Ela" não quis me soltar nesta manhã, pois quase que durmo outra vez...

Meu guri se refere a coberta quente e pesada, que abraça nossos corpos nas noites mais frias.

— Sabes que tem um rancho de porta aberta aqui. — Eu lhe digo e ele apenas me sorri me dizendo que estou vencendo suas resistências...

Meu companheiro assim como eu, vive uma vida mais solitária, não sendo sozinho por isso. Temos um ao outro e compartilhamos nosso mate amargo em todas as manhãs de inverno gelado ao verão quente, que rega nossas conversas e nos mantém tão próximos.

Antes de sair pra tua lida, mais um beijo e um afago no rosto. O doce de teu beijo com o amargo que nos mantém unidos é a promessa que amanhã na mesma hora tu vens para os meus braços.

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Um pouco de romance mais sugestivo nesse pequeno texto. A cultura é sulista, mas não exatamente gauchesca, ou vocês teriam um texto ainda mais rico.

Um grande abraço a todos!





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