TREZE - TOME DECISÕES

𝙲𝙰𝙿𝙸𝚃𝚄𝙻𝙾 𝚃𝚁𝙴𝚉𝙴

𝕋𝕆𝕄𝔼 𝔻𝔼ℂ𝕀𝕊𝕆𝔼𝕊

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Julho, de 2058 — Manhattan, Nova Iorque.

Roger depositou um beijo na testa da filha ao passo em que ele ia se distanciando do quarto de hospital, mexia no celular de forma calma para se manter informado sobre o desenvolvimento dos assassinatos. Seus passos pararam ao ver a figura masculina do rapaz que deveria estar junto de Bellatrix, porém, estava acompanhado de um médico. Pensou ser a respeito da saúde da mãe do menino, que a cada dia estava mais comprometida.

A fisionomia do garoto demonstrava puro descontentamento e os punhos estavam fechados – o que evidenciavam a raiva – fazendo Roger estranhar a atitude vinda dele por conhecê-lo a bastante tempo.

Notou ter algo de errado, aproximando-se de modo lento sem que os dois notassem a sua presença. Talvez fosse algo envolvendo a família do menino e a situação financeira pela hospitalização da matriarca da família.

— Você tem certeza disso? — questionou o doutor. Roger espremeu a visão buscando a identificação do médico, encontrando-a com os dizeres: Oliver Jenkins, lembrando-se de que já havia sido apresentado para ele em uma das visitas de Bellatrix ao hospital.

— Sim, absoluta! — o menino falou exasperado. — Eu vi os dois juntos! E ele claramente disse o nome dela! — a voz estava atônita, extremamente preocupado — e se ele fizer algo para ela? — perguntou horrorizado.

O policial tentava entender sobre quem estavam falando.

— Ele não irá. — Afirmou Oliver, sorrindo calmo. — Eu já disse o que você precisa fazer, apenas se livre do velho. — O garoto encarou o doutor aterrorizado.

— Eu não posso matar o meu pai! — disse aflito, Roger ficou surpreso com o rumo da conversa.

— Bom... — Oliver levou as mãos ajeitando o jaleco no corpo. — Então continue vendo o seu pai foder com a sua futura sogra, isso se a garota realmente gostar de você, ou pode fazer como eu durante a minha adolescência e se livrar da amante e do seu pai.

O choque atingiu Roger que se escondeu atrás da pilastra ao ver o médico passar os olhos pelo local, analisando-o, contudo Oliver o tinha visto e agora sorria friamente.

— E talvez, também precise dar um jeito no seu sogro. — Completou baixo, olhando fixamente para a parede branca aumentando a confusão no olhar do rapaz.

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Abril, de 2070 — Manhattan, Nova Iorque, dias atuais.

Os dedos de Volker batiam contra a mesa focalizando o olhar na tela do notebook, sentia a ansiedade corroer cada célula em seu interior. Fixou os olhos no relógio em frente á mesa e inspirou fundo tentando manter a mente apenas no trabalho, mas seus pensamentos lhe traiam o levando para ela.

Ela que estava na casa de outra pessoa.

Volker apertou o estofado da cadeira sentindo a raiva crescente em seu ser, transparecendo o quão frustrado se sentia, tinha aquela sensação estranha de que havia algo de errado naquele lugar, algo de errado na sua casa. Passou as mãos pelos cabelos expirando pesadamente, tentava entender o motivo de não se sentir confortável na própria casa.

Levantou, largando os papéis em cima da mesa e se retirou do escritório, precisava espairecer. Aquela situação estava levando qualquer sinal de sua sanidade embora.

Principalmente ela, Bellatrix que estava o enlouquecendo.

Desde que pregou seus olhos na mulher sabia que ela seria sua fraqueza, o primeiro sorriso lançado em sua direção o desarmou por completo. Criou aquela barreira entre eles durante todos aqueles anos, dormindo com diversas mulheres apenas para esquecê-la e estava funcionando até Bella voltar.

Pela primeira vez em muitos anos sentia algo diferente, uma felicidade que não combinava com ele, mas só de tê-la por perto foi como se toda a tensão sumisse, mas saber que a atenção dela não estava apenas nele fazia o sangue do policial ferver. Só de pensar no maldito "Sanders" sentia suas veias pulsarem em ódio.

Aquilo era culpa dele, afastando a mulher durante todo aqueles anos, Volker tinha noção que uma hora ela simplesmente se cansaria daquele jogo que o próprio havia imposto entre ambos, mas agora com Bellatrix vivendo no mesmo teto que ele as coisas fugiam de seu controle. A tentação de ter apenas eles dois, sozinhos e naquela imensidão fazia sua cabeça latejar e seu pau pulsar em desejo.

A campainha tocou chamando a atenção do tenente que com passos firmes girou a maçaneta encontrando Bellatrix do outro lado virada sorrindo, seguiu o olhar dela encontrando Devon que possuía o mesmo sorriso, isso aumento o incomodo em seu peito.

— Vai entrar ou ficar parada aí fora? — indagou encostado no batente e recebendo a atenção dela, percebendo a feição de Bella se fechar e ela entrar sem dizer nada.

Subindo as escadas, Bellatrix sumiu de sua visão e um suspiro pesado saiu por seus lábios enquanto ele se jogou no sofá. Ficou um tempo apenas olhando para a tela desligada da televisão, tentando organizar os pensamentos, entretanto, o barulho do chuveiro despertou a tensão acumulada o fazendo levantar frustrado.

Retornou para o escritório passando as mãos pelo compartimento que apenas ele conhecia no qual retirou o notebook de trabalho, o pegando. Focaria todo aquele estresse no serviço. Precisava encontrar o culpado daqueles crimes e não conseguiria dormir sabendo que mais alguém poderia ser atacado.

Repassava as imagens de segurança repetidas vezes a procura de qualquer evidência, mas o desgraçado era inteligente demais ficando em pontos cegos. Nenhum vizinho, pedestre ou comerciante tinha notado alguém diferente, não havia provas, evidências, ou qualquer sinal que pudesse ligar ao verdadeiro culpado. A pessoa era simplesmente um fantasma.

Volker sentia a sua sala abafada, retirando a camiseta preta que usava e focando os olhos em um dos vídeos, quando fixou em alguém específico. Um homem, aproximadamente com um e oitenta metros e de boné preto trajando um moletom da mesma cor, próximo do bar onde a vítima havia sido vista pela última vez.

Ampliou o vídeo não conseguindo ver a fisionomia dele, mas sentia que tinha algo naquele homem, pulou para mais tarde tentando encontrá-lo de novo o que foi completamente em vão, o vídeo estava do mesmo modo durante todas aquelas horas seguintes.

Algo piscou em sua mente, estava igual, simplesmente igual. Sem que nenhuma pessoa passasse pela rua.

Pegou o celular do bolso abrindo a conversa com Gaspar, digitando rapidamente a respeito sobre mudanças de cenários e exclusão em vídeos de segurança.

O barulho de algo caindo o fez olhar para a porta e se levantar ágil, saindo em direção a cozinha e encontrando Bellatrix abaixada tentando recolher os cacos de vidros do chão.

— Você vai se cortar! — a voz dele a assustou fazendo a mulher quase dar um pulo e se levantar. — Me d-desculpa... Eu não... Queria assustar você, é só que... — Apontou na direção do vidro, tentando explicar. — Deixa que eu limpo! — sentenciou, aproximando-se.

Volker reparou o olhar dela sobre ele, descendo sobre seu corpo e parando no abdômen exposto. Sabia o efeito que causava em Bellatrix, ele fixou os olhos nos dela que estava corada pela situação e abriu um sorriso sacana encarando o corpo escultural da mulher a sua frente, as pernas expostas pela camisola azul acima de suas coxas, os seios fartos deixando evidente a falta do sutiã e os cabelos claros que estavam molhados caindo pelas costas dela. O incomodo começou a surgir entre suas pernas levando a mão para a calça moletom tentando suavizar aquela sensação, mas percebeu o olhar de Bella seguir seu movimento e a viu morder os lábios.

Ela passou por ele sem dizer nada, prestes a se retirar da cozinha.

— Você deveria se decidir, Trix! — Volker murmurou o apelido que apenas ele costumava usar, observando o corpo dela travar e seus olhares se encontrarem.

— O que? — ela indagou transparecendo a confusão em seus olhos.

— Você sabe sobre o que eu estou falando, eu sei o que atrapalhei quando fui te buscar no Sanders, eu vi nos seus olhos! — o olhar dela tornou-se surpreso, suas bochechas tomaram um tom avermelhado e a boca se abriu apenas confirmando o que Volker imaginava.

Quando os olhos do tenente focaram nela na casa de Devon teve a certeza ao ver os cabelos bagunçados dela e a roupa amassada junto dos lábios inchados, além do olhar de reprovação de Devon sobre o policial e Volker não se sentia nem um pouco incomodado em saber que tinha atrapalhado. Sentia-se satisfeito.

— Eu não sei do que você está falando! — Bellatrix exclamou atordoada.

O policial caminhou em direção a ela, deixando seus corpos próximos um do outro, sentindo a respiração de Bellatrix tornar-se pesada. Ela desviava o olhar e com a mão ele tocou suavemente o queixo dela, o erguendo para que pudesse encará-lo.

— Você tem que se decidir! — repetiu, mantendo o olhar firme nos cristalinos dela. — Eu não entro nisso para perder e não vai ser o Sanders que irá me parar, só você tem esse poder. — Ele passou o polegar sobre os lábios de Bella sentindo a vontade de tê-los mais uma vez. — Estou disposto a levar isso adiante.

Volker inclinou o rosto próximo ao dela, mordendo o lábio inferior de Bellatrix apenas em provocação antes de se afastar e sair para buscar a vassoura, a deixando sozinha.

As mãos de Bella foram aos cabelos sentindo-se atordoada, ela se recusava a sentir algo pelo policial, mas o sentimento parecia martelar em seu coração. A passos largos saiu da cozinha subindo para o quarto e fechou a porta se jogando na cama. Odiava estar dividida.

[...]

Do outro lado da tela, o homem sentia a raiva crescer, seus dedos pressionavam firme a cadeira enquanto observava as câmeras da casa e aquela cena patética.

Levantou ao perceber que Bellatrix havia dormido saindo pela porta do escritório a batendo violentamente, observou Max o encarar preocupado, mas o menino nada disse.

O garoto viu no olhar do homem o clima sombrio, sabendo que não era o momento para tentar manter qualquer conversa que fosse. Voltou sua atenção para o livro que possuía em mãos, porém o barulho de algo caindo o fez erguer os olhos, assustado.

Reparou nos objetos sendo jogados ao chão e os pratos quebrados. O sangue escorria pelas mãos dele, que não parecia se importar com a dor.

— Você limpou o porão? — escutar aquilo dava calafrios em Max, o porão, o pior lugar que poderia ficar naquela imensidão

— Sim, senhor. — Respondeu firme, tentando não gaguejar.

— Perfeito, não saia do quarto essa noite e não ouse entrar no porão sem a minha permissão! — bradou, fazendo o rapaz concordar em prontidão sem questioná-lo.

Max sabia que algo ruim acontecia, mas não sabia dizer exatamente o quê, somente limpava o lugar e a cada dia via os traços de sangue pelo piso. Pensava que poderia ser algum animal morto que o homem trazia para casa, porém no seu interior sabia que isso ia muito além. Não o questionava, não depois dele ter sido a única pessoa a ajudá-lo, o tirando daquele orfanato infernal.

Observou os passos do outro saírem da sala e o barulho da porta batendo que anunciou a sua saída, seria mais uma noite sombria. Max levantou-se entrando no quarto e trancou a porta atrás de si. Caminhou calmamente para o closet, o abrindo e afastando a roupa para entrar no único lugar que poderia chamar de seu.

Passou os olhos pelo local, as prateleiras com suas vestimentas e repletas de livros, a poltrona onde passava horas lendo sem ser importunado e o mural de fotos e notícias. Andou em direção a tela analisando a mulher loira, sentia aquela necessidade de conhecê-la, mas sabia que ele nunca deixaria. Ergueu a mão tocando a fotografia, perguntando o motivo de sentir aquela ligação tão forte.

Releu o noticiário, focando seus olhos em um específico, Oliver Jenkins, já havia escutado aquele sobrenome saindo da boca do homem ao conversar no telefone com alguém. A curiosidade aguçada fazia o garoto salvar cada uma das informações.

Precisava descobrir o que estava acontecendo e o porquê daquele homem que para Max possuía tantos nomes diferentes queria mantê-lo por perto e impedir o menino de conhecer os arredores daquela casa, impossibilitando-o de viver. Mantendo Max trancafiado naquela vastidão solitária e vazia onde tinha apenas sua própria companhia.    

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