TRÊS - VISITAS
𝙲𝙰𝙿𝙸́𝚃𝚄𝙻𝙾 𝚃𝚁𝙴̂𝚂
𝕍𝕀𝕊𝕀𝕋𝔸𝕊
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Março, de 2070 - Manhattan, Nova Iorque, dias atuais.
Uma semana tinha passado, sem existir qualquer rastro a respeito do paradeiro de Oliver Jenkins, ele continuava desaparecido e as dúvidas cresciam gradativamente a cada dia em conjunto do desconforto presente com a falta de informações. Não existiam rastros, nenhum deslize ou pista que auxiliasse nas investigações, estavam à mercê do vazio.
Foi encontrado um corpo, afogado, em meio ao rio perto de Rikers Island indicando ser de Oliver, porém não existia confirmação, apenas mais uma hipótese empilhada em meio a tantas outras. Bellatrix desconfiava de que realmente pudesse ser ele, Jenkins sempre foi sagaz o suficiente.
A semana estava sendo longa, atendendo todos os tipos de pessoas possíveis, o sono estava desregulado e o corpo implorava por descanso. Bellatrix não conseguia pregar os olhos durante a noite, a mente não permitia que ela tivesse boas noites de sono sem que os pesadelos a tomassem, levando-a para lembranças obscuras que queria esquecer.
Estava evitando procurar John, fazia o possível para não ir ao departamento, todavia era como se cada ação conspirasse para que ela cedesse a sua teimosia. Aquele dia não estava sendo diferente.
— Caleb onde está a pasta do caso da Senhora Margorit? — aquela foi a quinta vez que perguntava sobre os documentos ao seu assistente, não obtendo resposta alguma.
Respirou fundo tirando os olhos da tela do computador e ergueu o rosto na direção do homem que a olhava cauteloso, sabia que tinha algo acontecendo. Considerava Caleb prestativo o suficiente para resolver todas as papeladas necessárias, entretanto, aquela estava demorando mais do que gostaria.
— Me desculpe senhorita Mitchell, mas eu liguei para perguntar por qual razão não estamos com ela e me informaram que a pasta está com o supervisor do departamento de homicídios, já que o mesmo também atua em relação a proteção à pessoa e que o único modo de tê-la é indo buscar, pois eles não entregam e apenas o nosso supervisor pode retirá-la, no caso é a senhora. — Bella respirou fundo tentando não revirar os olhos frustrada, aquilo deveria ser uma grande piada, não teria como fugir e evitar não ir.
— Certo, então vamos! — falou firme, observando o rapaz de cabelos cacheados e loiros assentir envergonhado, as bochechas tomaram tons rosados e os olhos desviaram envergonhados.
Após pegar a bolsa e o sobretudo preto se direcionou ao elevador acompanhada por Caleb, o homem tímido a auxiliava em todos os seus compromissos sempre com um sorriso solidário nos lábios. Bella o comparava como um anjo, os cabelos loiros com cachos a traziam essa sensação, a forma angelical do rosto o tornava atraente mesmo que fosse alguns anos mais novo além do aroma adocicado de flores que lhe dava uma sensação de paz.
— Quero que você me informe todos os horários para hoje e quero que cancele o encontro com a Ava não há condições de falarmos com ela, já que o caso da Margorit é mais urgente, diga que semana que vem marcamos um horário. — Caleb balançou a cabeça em concordância fitando a mulher com seus encantadores olhos azuis, de uma pureza intrigante anotando rapidamente em seu celular, antes de sumir para resolver toda a situação.
Bellatrix tinha apenas um único destino, aquele que havia ignorado durante todos aqueles anos.
Estava parada em frente ao edifício, observando as paredes cinza fosco com pequenas descamações pela velhice e os anos passados, o que era surpreendente diante da evolução tecnológia o ambiente continuar daquela forma. A rua não movimentada trazia um ar sombrio com o tempo nublado e o ar gélido passando por seu corpo. As lembranças pareciam invadir sua mente, causando arrepios na coluna, respirou fundo apertando a bolsa contra si e tomou coragem para entrar, não permitiria ser tomada por aquelas emoções.
Adentrou o térreo receosa, as mãos tremiam o que a obrigou segurar mais firme a bolsa e respirar tentando se manter calma.
Ergueu a cabeça passando por todos que estavam presentes, notou os olhares sobre ela e as conversas paralelas a seu respeito, possuíam pessoas novas, mas os olhares curiosos deixavam explícito que sabiam quem era Bellatrix. Aquilo a incomodava, emitindo sua fisionomia ainda mais amarga e tentava não se importar em ser simpática com os sorrisos direcionados em sua direção, apenas os ignorando.
O saguão não havia mudado, as paredes bege continuavam as mesmas com as cadeiras pretas e mesas espalhadas para atender as pessoas ao chegarem, os policiais de prontidão esperando os chamados para enfim saírem, as marcas de arranhões e balas perdidas pelas paredes, muitas histórias vividas por cada uma daquelas pessoas. Histórias que nem sempre possuíam um final feliz.
Caminhou a passos calmos até a secretária observando a mulher com longos cabelos loiros, tingidos de rosa em suas pontas e olhos tão negros quanto a noite, mascava chiclete causando um barulho irritante. O olhar morto se direcionou para Bellatrix deixando evidente o desgosto por ter que trabalhar.
— Vim pegar os documentos destinados a promotoria. — Anunciou calmamente esperando que a mulher entregasse a pasta para poder ir embora.
A moça que Bellatrix pode ler no crachá preso a camiseta social lilás se chamar Wendy apenas a encarou pegando o telefone e discando alguns números, sua voz estridente e insuportavelmente aguda conversou com a pessoa do outro lado para receber a pasta.
— "É a promotora, ela veio pegar os documentos."
Uma careta amarga formou-se entre os lábios da jovem ao desligar o telefone.
— Quinto andar, o elevador fica ao fundo no fim do corredor e a sala é a ultima do corredor.
Bellatrix não possuía a pretensão de entrar, mas ao cogitar falar qualquer coisa para Wendy sabia que nada adiantaria, a mulher não moveria um músculo para sair de sua cadeira. Deu um breve aceno se retirando e andando pelos amplos corredores até chegar ao elevador, rumo a sala que sabia muito bem a quem pertencia.
Suspirou fechando os olhos ao adentrar o elevador, o prédio era grande e cheio de andares, para cada um tinha uma sala destinada aos superiores, as reuniões investigavas e análises de perícias. Quando saiu a sensação ruim tomou seu interior, ao relembrar os passos que antes fazia em direção a sala do pai.
Parou em frente a porta de madeira descascada, respirou fundo batendo duas vezes e escutou a voz masculina do outro lado dizendo para entrar. Abriu avistando John mexendo em algumas pastas, que ergueu os olhos para ela e sorriu em seguida.
— É muito bom te ver aqui Bella, sente-se, por favor. — Disse sereno estendendo a mão para a poltrona marrom a sua frente.
A sala continuava igual, as estantes abarrotadas de livros espalhadas pelas paredes cinzas, a mesa preta cheia de papéis e casos que deveriam ser os de mais urgência a serem resolvidos, a enorme janela ao fundo coberta pela cortina azul royal deixando apenas uma fresta do dia adentrar o recinto. As fotografias de sua família o relembrando que deveria voltar para casa no final da noite após um dia tortuoso de trabalho.
— Vim pegar os documentos sobre o caso da Senhora Margorit. — Um suspiro saiu dos lábios do mais velho, concordando, ele pegou a pasta e entregou.
Percebeu o olhar preocupado que John mantinha em sua direção.
— Aqui está tudo relacionado a ela, mas eu queria conversar com você Bellatrix. — Comentou, cruzando os braços sobre a mesa cristalina enquanto mexia os dedos nervosamente. Havia chegado o momento. — Acredito que você tenha visto os jornais e já saiba sobre a fuga de Oliver, quero que saiba que independente de qualquer coisa você sempre será bem-vinda aqui e pode contar com nosso apoio em todo momento, não quero que se sinta com medo, nós vamos encontrá-lo. — Sua voz saiu firme e decidida, no olhar refletia a sinceridade de suas afirmações. As palavras fugiram da boca de Bella ao abri-la para responder, a garganta estava seca e sua voz perdida, guardou os documentos em sua bolsa dando um breve aceno com a cabeça e um breve sorriso torto, se sentia sufocada por estar naquele lugar com toda aquela situação acontecendo, o peito se apertava cada vez mais, o ar falhava miseravelmente precisando focar sua respiração de modo a não transparecer a crise que se iniciava, querendo apenas ir embora.
— Obrigada John, eu não hesitarei em ligar para o senhor caso algo venha a acontecer, agora se me der licença eu preciso ir estou atrasada, nós conversamos depois. — Respondeu rápido, não querendo prolongar o assunto.
John a olhou de forma terna dando um breve aceno com a cabeça, ela se levantou e se retirou. Olhando uma última vez na direção dele e deu um sorriso em despedida.
Precisava ir embora antes que encontrasse determinada pessoa, porém ao chegar próxima a saída escutou a voz que em tempos de guerra foi a sua calmaria que estava tão próximo e ao mesmo tempo tão longe. Bellatrix abaixou a cabeça a fim de que ele não percebesse a sua presença, mas aquilo foi apenas mais uma ilusão e ao estar perto da saída escutou seu nome sendo chamado e o poder que ele exercia sobre ela parecia não ter fim, pois virou-se e o encontrou parado. Apenas alguns metros longe, o semblante dele tornou-se surpreso ao vê-la.
O homem caminhou em sua direção tocando seu braço levemente para ter certeza de que aquilo não era uma miragem.
— Você realmente está aqui... — A voz saiu em um sussurro baixo.
— Há quanto tempo Volker. — Os olhos avelãs ainda estavam firmes nela, ele tinha tantas coisas para falar, mas ao mesmo tempo não sabia como e nem por onde começar.
— Você está indo embora? — perguntou parecendo decepcionado, mas para Bellatrix aquele pequeno gesto não passava de uma simples educação por revê-la.
Notou a aproximação de Savannah que antes a observava ao longe demonstrando o desgosto em sua face, refletido nos olhos esmeraldas.
— O bom filho à casa torna não é mesmo? — A ruiva disse transbordando ironia no tom de voz.
Bellatrix precisou respirar fundo para não responder grosseiramente, apenas dando de ombros.
— De qualquer forma estou indo embora, foi bom ver vocês. — Falou exibindo um sorriso forçado.
Virou-se, desejando fugir o mais rápido possível, mas, sentiu o braço ser segurado e a corrente elétrica percorrer por cada parte de seu corpo com o simples toque dos dedos de Volker e ao olhar para trás seus olhos se encontraram com os dele, encantadoras esferas âmbar.
— Nós precisamos conversar e eu não aceito um não como resposta, me espere, nos encontraremos em dez minutos no café onde costumávamos ir e se você não estiver lá eu vou atrás de você! — Volker possuía o semblante sério e a voz firme, Bellatrix sabia que ele falava estava falando sério.
Durante todos aqueles anos era notável a diferença que o homem havia adquirido.
— Tudo bem eu estarei lá. — respondeu fingindo serenidade, deu um breve aceno com a cabeça em forma de despedida e se retirou daquele lugar que a aprisionava em seus temores.
Dez minutos desde que estava sentada naquela mesa, esperando ele aparecer. Havia formulado todos os tipos de perguntas que Volker poderia fazer, não sabia como reagir aquele encontro ainda mais quando se tratava dele.
Passou os olhos por todo o café brotando o sorriso em seus lábios com as lembranças, o estabelecimento havia mudado passando por reformas desde a morte de Sheyla, a antiga dona. Sua filha havia herdado o lugar e reformado, as paredes que antes foram em tons azul claro, agora estavam cobertas pela cor alaranjada, as mesas deixaram de ser redondas passando a ser retangulares com bancos almofadados. O balcão foi a única coisa que continuou o mesmo; com as máquinas de café atrás e a porta para adentrar a cozinha.
Fazia muitos anos que não entrava naquele café, um lugar que havia passado por tantos momentos bons que agora estavam apenas no seu passado.
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Junho, de 2058 — Manhattan, Nova Iorque.
Bellatrix voltava da escola caminhando para o trabalho do pai, estava marcando os dias daquele ano onde finalmente se formaria e poderia ir para a faculdade seguir os mesmos passos do pai e com o seu aniversário próximo poderia ter sua própria liberdade, ao completar seus dezoito anos.
Parou para comprar algo para comer no Gorgeous, adorava os bolos que vendiam no lugar – principalmente a torta de chocolate, não demorou a chegar e andou até a mesa mais ao fundo onde gostava de ficar próxima a janela, admirando cada pessoa que por ali passava.
Era um novo costume que a garota havia adquirido, reparar nos outros foi algo que herdou do pai, adorava ver o jeito e a maneira de cada pessoa além de notar as diferenças.
Avistou Sheyla parar ao seu lado com o doce em mãos e um café, fazendo a menina rir, aquilo estava virando rotina.
— Obrigada Shey! — a mulata lhe abriu um lindo sorriso, afagando seus cabelos.
— Disponha Bels, se precisar só me chamar. — Disse se retirando para atender um casal ao lado.
Estava tão concentrada em saborear o doce de modo desatento que não notou a aproximação do rapaz sentando ao seu lado, percebeu apenas ao ver o mais velho pegar um pedaço do doce para si.
— Ei! Isso é meu Volker! — sua expressão emburrada fez ele rir antes de apertar suas bochechas com um estonteante sorriso em seus lábios.
— Você fica linda quando está zangada. — Todo o autocontrole dela acabava de ir pelos ares com um simples comentário, sentiu as bochechas esquentarem e a raiva se dissipar com seu coração preenchido, abaixou o olhar balançando a cabeça em negação timidamente.
— E você é desnecessário. — Murmuro contrariada.
— Não para você, Trix. — Ele piscou um olho em direção a ela divertido.
Bellatrix reparou Sheyla ao longe fazer um sinal com a mão em concordância erguendo os dois polegares, o que queria dizer que ela aprovava o jovem ao seu lado fazendo-a rir, chamando atenção dele para si.
— Você veio sozinha hoje? — perguntou passando o olhar por todo o estabelecimento.
— Sim, Devon tinha treino do time e me deixou na mão. — Respondeu indiferente.
Ao citar o nome do melhor amigo, Devon, percebeu Volker revirar os olhos. Sabia que ambos tinham certa implicância um com o outro, mas não entendia o porquê.
— Você poderia ter me ligado, iria te buscar na hora. — Volker comentou desviando o olhar da garota.
Rápido e freneticamente acelerado, assim que seu coração batia naquele exato momento, uma hora ela faria uma loucura e não responderia pelos seus atos, apenas balançou os ombros e se levantou, sem demorar para que ele a acompanhasse e ambos fossem juntos para a delegacia.
Sabia que estar perto dele, mexia com todos os seus sentimentos e gostava da sensação que isso lhe causava, mesmo que fosse uma mera ilusão em seu interior.
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