QUINZE - PLANO EM PRÁTICA

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Junho, de 2058 - Manhattan, Nova Iorque.

O olhar de Oliver estava radiante, mantinha um sorriso leve nos lábios passando por entre os enfermeiros deixando pequenos acenos, porém seus passos pararam ao ver a figura miúda do garoto e o olhar assustado em direção ao homem à sua frente, este que mantinha a mão erguida para o mais novo e logo após desferiu um tapa certeiro contra o rosto do menino.

- Nunca mais repita isso! - disse firme para o menino. - Eu já deixo você vir visitar sua mãe, não me obrigue a impedi-lo! Você sabe que eu posso fazer isso! - riu zombeteiro ao ver as lágrimas fortes entre os olhos do adolescente.

- E você vai manter isso até quando? - o rapaz perguntou em um sopro baixo quase inaudível. - Você não pode continuar levando à senhora Mitchell para nossa casa enquanto a mamãe está internada no hospital...

- Quem disse que não posso? - perguntou debochado, o menino desviou o olhar para Oliver que mantinha a fisionomia inexpressiva, escorado na parede branca. Os braços cruzados, apenas escutando a conversa.

- Mas ela é casada! E você também! - falou mais exaltado, olhando com raiva para o pai - e eu gosto da Bellatrix! Você sabe disso, e ela é filha da Eleonor! - a voz dele parecia aumentar cada vez mais o tom.

O homem grisalho encarou o menino com fúria, estava prestes a acertar outro tapa em seu rosto quando escutou a voz grossa atrás de si.

- Algum problema aqui? - Oliver questionou saindo de onde estava e recebendo assim a atenção dos dois.

Podendo analisar melhor a fisionomia do outro homem, os olhos claros, os cabelos em tonalidade ruiva que agora estavam levemente brancos. O conhecia, era o marido de uma de suas pacientes com câncer terminal.

- De forma alguma doutor! - ele sorriu falsamente olhando para o filho que apenas acenou em concordância. - Eu vou trabalhar, depois continuamos nossa conversa! - declarou se afastando.

- Eu posso te ajudar, garoto. - Oliver falou firme sentindo o olhar assustado do menino sobre si - se quiser que isso acabe, posso te mostrar como fazer. - Sorriu confiante, aproximando-se dele.

- C-como? - perguntou curioso.

- Venha comigo, te levarei até um lugar e ensinarei o que você precisa saber. - Jenkins saiu andando, sentindo os passos fracos do menino ao seu lado que o analisava, intrigado. - A propósito, sou Oliver Jenkins. - Completou, estendendo a mão para o rapaz que a apertou firme.

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Abril, de 2070 - Manhattan, Nova Iorque, dias atuais.

A cabeça de Bellatrix latejava e seus dedos tremiam. O envelope ainda permanecia intocado, lacrado, trancou a porta atrás de si e se sentou no sofá, apreensiva. Desdobrando a folha, atenta ao conteúdo.

"Os anos se passaram e continuo com meu assunto inacabado, você me deve algo, tenho certeza que tem muitas perguntas e elas só serão respondidas quando nos encontrarmos pessoalmente. Marcarei uma data, esteja lá no dia, caso contrário eu irei atrás de você.

Não leve ninguém, apenas você e eu saberei se levar.

Nos encontramos na Rua Montreal, número 305, às 22 horas do dia 07 de abril. Te espero lá, do seu amável...

Oliver Jenkins."

Os dedos dela pressionaram firmemente o papel sentindo-o amassar entre sua palma, uma ideia tomou sua mente. Seria o momento de colocar em prática o plano que havia criado com John e pegar Oliver, descobrindo toda a verdade.

Guardou o envelope e o conteúdo dentro da bolsa, pegou algumas roupas as jogando de qualquer maneira dentro da mala que tinha separado, tomando uma ducha rápida apenas para limpar o corpo e após se trocar juntou mais alguns pertences e a caixa que guardava consigo de recordações. Chamando o táxi para retornar à casa de Volker.

Depois que organizou suas coisas no quarto ela decidiu ir para a delegacia encontrar John. Podia sentir a dor em sua costela, mas não poderia deixar para outro momento, pois precisava falar com ele o quanto antes. Faltavam apenas dois dias para a data marcada na carta, seria imperdoável se perdesse aquilo e cada segundo era valioso demais para ser jogado no lixo.

Mandou uma mensagem para John, sem correr o risco de ser vista entrando na delegacia. Sabia que poderia estar sendo vigiada e ter essa mera noção fazia o medo fluir em suas veias, combinaram de se encontrarem no café algumas quadras antes.

Estava sentada no estabelecimento em uma mesa mais afastada, reparava em quem entrava e saía daquele lugar, seus olhos cravados em cada silhueta e ações. Não confiava em ninguém, nem mesmo em sua própria sombra.

Avistou John chegar a procurando com o olhar, mas logo fixando-os em Bellatrix. O homem arrastou a cadeira à sua frente se sentando, ele estava apreensivo. Sabia que o momento tinha chegado e esperava que nada acontecesse a ela, Bella era como uma filha para ele e a possibilidade de vê-la machucada ou ferida o assustava, o mesmo medo que Roger possuía há anos.

- Acredito que temos muito o que conversar. - John murmurou observando-a concordar.

- Eu recebi isso! Estava nas cartas entregues para a minha casa. - Bellatrix estendeu o papel sobre a mesa e John pegou a folha lendo o conteúdo, a fisionomia se manteve indecifrável.

- Ele quer um encontro. - A voz grossa do homem se fez presente após alguns segundos em completo silêncio. - Você confia nisso? - arqueou a sobrancelha em dúvida.

- De forma alguma, mas é a única maneira que temos de encontrá-lo! - sentenciou. - Eu irei e o senhor conseguirá pegá-lo! - disse decidida.

- Não temos certeza sobre isso, pode acontecer imprevistos! - afirmou sério, relendo o conteúdo. - Contudo, tenho que concordar e talvez seja nossa única chance. Mas, precisamos planejar com cuidado e minúcia. Não conte isso para ninguém, ficará apenas entre nós dois e chamarei as pessoas que mais confio para essa operação. - Decretou. - Levarei o papel comigo para ver se encontro algo, sairei primeiro. Espere alguns minutos antes de ir. - Proferiu e Bellatrix concordou nervosa.

Suas mãos transpiravam por baixo da mesa, apertando suas pernas até sentir os dedos dormentes e as unhas pinicarem sua pele.

John se retirou a deixando sozinha, perdida em seus próprios pensamentos. O coração parecia bombear contra o peito ao passo que a ansiedade lhe corroía por dentro. Precisava fazer aquilo, por um ponto final naquele ciclo sem fim.

Ergueu as mãos chamando a garçonete pedindo um café forte, aproveitaria aqueles últimos minutos onde poderia respirar e apenas desfrutar aquele momento de paz antes que toda a sua vida se tornasse um completo inferno.

Ao parar em frente à casa de Reed um peso parecia aumentar em seus ombros, fitando a fachada. As escadas que levariam para a entrada chegando à porta branca, as paredes em tijolos alternando o tom marrom, o pequeno jardim que a cercava com algumas flores de variadas cores, o que era um costume herdado da mãe.

A mesma sensação de estar sendo observada a atingiu, focando seus olhos na imensidão da rua praticamente vazia, segurava firme a bolsa rente aos braços. Inspirou fundo e andou para entrar ao fechar a porta olhou uma última vez para a rua antes de trancá-la.

Subiu as escadas, o corpo parecia pesar e o cansaço a atingiu, precisava descansar ou teria outro desmaio por causa do desgaste físico e emocional. Caminhou em direção ao banheiro preparando a banheira onde passaria boas horas apenas relaxando, desceu as escadas pegando a garrafa de vinho na geladeira. Volker não se importaria com aquilo.

Quando a água quente abraçou seu corpo a sensação de calmaria invadiu cada uma de suas células, tomou um longo gole da taça que segurava. A música do celular ecoava pelo ambiente, a porta ficou entreaberta, estava sozinha em casa e sabia que o policial só retornaria pela noite.

Fechou os olhos apenas desfrutando daquele momento, não se sentia dessa forma há dias. Passou as mãos na espuma pela banheira cobrindo seu corpo, estava leve como uma pluma. Sua mente vagava pelas profundezas de sua própria escuridão.

As memórias dançavam por seus pensamentos, os flashs piscavam candentemente e ela podia escutar as risadas, os ecos de lamúria, choros e gritos estridentes que a culpavam por estar viva e não enterrada a sete palmos como todas as outras vítimas. Ela era apenas uma adolescente na época que todo aquele cenário fúnebre foi montado e colocado em prática e no fim Bellatrix tinha se tornado apenas uma sobrevivente mesmo que se considerasse morta por dentro.

Um barulho a fez abrir os olhos focando na porta que agora estava aberta, seu peito subiu e a respiração tornou-se pesada ao fixar os olhos em Volker. Seu corpo estava escorado contra o batente e o olhar firme nela, incendiando-a.

A língua dele passou pela boca formando um sorriso devasso em sua direção, a passos firmes ele andou parando em frente à banheira. Bellatrix sentia o desejo crescer com o olhar arrebatador que ele a lançava. As mãos do homem foram para a camiseta preta que usava a retirando, abrindo o zíper da calça observando o tecido cair por suas pernas torneadas, seus olhos fixaram no volume avantajado coberto pela boxer.

Bellatrix ergueu o olhar firmando no corpo do policial, os músculos evidentes, os braços malhados, a barriga trincada, ansiando tocá-lo.

O barulho da água e a sensação dela se movimentando, despertou sua atenção - sentindo o corpo dele próximo, tocando o seu, as mãos de Volker a puxaram unindo ambos. As respirações se misturaram em uma só.

- O que você quer Bellatrix? - a voz dele sussurrou contra a sua orelha, distribuindo beijos pela extensão de seu pescoço, a fazendo arfar. - Você precisa me dizer. - As mãos do homem apertaram suas coxas e ela sentiu o corpo ser posicionado no quadril dele, roçando seus sexos, um gemido escapou por seus lábios.

Volker segurou firme em seus seios, os massageando, a cabeça de Bellatrix se inclinou. A respiração falhou e desejava que ele a tocasse cada vez mais.

- Me diga Bella. - Ele repetiu, mordendo o lóbulo de sua orelha. Os dedos de Volker desceram pelo tronco dela, chegando em sua intimidade.

- Eu quero você, quero você dentro de mim Volker! - respondeu firme, o olhar dele incendiava.

Quando pode senti-lo lhe tocar, um estalo a despertou. Bellatrix ergueu o corpo que estava afundado na banheira de maneira assustada passou as mãos pelos cabelos úmidos, o calor emanava de seu corpo.

Havia dormido, seu cansaço tinha a tomado e sua mente lhe pregara uma peça, sua respiração se tornava intensa. Precisando inspirar e expirar tentando se recompor daquele sonho, ainda podia sentir as mãos do homem sobre o seu corpo. Estava ficando insana.

Terminou o banho levantou-se apressada, enrolando-se na toalha e saindo pela porta. Seus olhos fixaram na escada ao escutar passos, encontrando a figura masculina subindo, Volker, a mesma sensação de calor a preencheu, o olhar dele se encontrou com as orbes cristalinas de Bellatrix deslizando por todo o corpo da mulher.

- Tudo bem? - sua voz rouca a fez comprimir os lábios e unir as pernas, apenas acenando com a cabeça e se retirando para o quarto, trancando-se lá.

Jogada na cama Bellatrix observava o teto branco, sua mente a traía levando seus pensamentos para aquele sonho. Queria ter mais uma vez aquela sensação ao ter o homem tão próximo de si. Poder sentir novamente os lábios dele firmes nos seus.

Suspirou pesadamente passando as mãos pelo rosto, se trocando e decidida a permanecer o restante daquela noite dentro do quarto. Sabia que se saísse não responderia por seus atos, não quando o tinha tão perto de si.

Entre a razão e a tentação, seus pensamentos sempre a levariam a escolher o desejo impregnado em seu coração, o seu interesse que a levava por caminhos estreitos e com uma única chegada, um lindo par de olhos castanhos.

Volker fixou o olhar na porta antes de continuar seu trajeto para seu quarto, a imagem da mulher apenas de toalha estava fixada em seus pensamentos. Tirou as roupas aproveitando a água gélida escorrer por suas costas, respirando pesadamente.

Saiu com a toalha enrolada na cintura, vestindo apenas a bermuda e desceu as escadas para comer algo. Tinha a sensação que Bellatrix não desceria tão cedo, a mensagem de John martelava em sua cabeça.

"Reunião apenas entre a equipe" foi o que o superior havia enviado, aumentando aquele sentimento ruim cravado em seu peito que se alastrava.

A cabeça do tenente parecia explodir, os diversos corpos pareciam refletir em sua mente, repetidamente. Imaginar a sensação de dor e agonia que cada uma daquelas mulheres sentiram aumentava o enjoo em seu estômago e pensar que Bellatrix poderia estar entre elas só piorava a situação.

Apoiou o rosto entre as mãos levando aos cabelos, o ar pesado saia por seus lábios, ele estava frustrado e cansado em não ter nenhuma pista. A cada dia novos corpos apareciam, parecia que a pessoa estava sempre a um passo à frente, mas como? Questionava se em algum momento tinha deixado algo passar despercebido.

Volker retornou para o escritório, trancando-se em seus pensamentos com um único foco: encontrar o verdadeiro assassino de todos aqueles crimes.

Do outro lado da tela, o homem permanecia com um sorriso grandioso firme entre seus lábios, rasgando as bochechas. Apenas observando o tenente correr contra o próprio tempo.

Tempo esse que estava se acabando aos poucos.


Parece que um certo encontro vem por aí, o que acham que irá acontecer? Bella conseguirá as informações que tanto deseja sobre a morte do pai?

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