ONZE - MODUS OPERANDI
O capítulo contém teor violento e cenas sensíveis, com descrições explícitas de violência.
𝙲𝙰𝙿𝙸𝚃𝚄𝙻𝙾 𝙾𝙽𝚉𝙴
𝕄𝕆𝔻𝕌𝕊 𝕆ℙ𝔼ℝ𝔸ℕ𝔻𝕀
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Abril, de 2070 — Manhattan, Nova Iorque, dias atuais.
Os diversos passos pelo quarto demonstravam a apreensão por estarem tão próximos e aos mesmo tempo tão longe de Jenkins. Como alguém procurado por todo o estado conseguiria entrar e se deslocar tão facilmente por entre as ruas sem sequer ser notado? A cada segundo os policiais sentiam a tensão crescer, tentando evitar o próximo passo dado pelo assassino.
Sales havia examinado a carta e a colocado dentro de um saco plástico para ser posta em análise, realizando o mesmo com as rosas. Esperava encontrar algo, sabia que Oliver estava sendo cauteloso demais em suas ações.
— Por hora é o que temos para fazer aqui, mandarei para o laboratório o quanto antes. — Levantando-se do chão, Sales recolheu os sacos e pegou sua maleta.
— Vamos ver com o Gaspar o que ele conseguiu com as câmeras do escritório de Bellatrix e dos comércios próximos na região. — Proferiu Scott.
O barulho do celular ecoou pelo quarto, Scott pegou o aparelho em mãos atendendo-o, mas a expressão fechada que se formou no rosto dele declarava o que os outros já esperavam com a ligação. Ao desligar o telefone o silêncio presente aumentou a tensão instalada.
— Acharam outro corpo, temos que ir para lá agora.
— Desgraçado! — Volker bradou irado sentindo as veias pulsarem em seu pescoço.
Saíram a passos firmes do hospital adentrando os carros em direção a Midtown, a mídia logo começaria a cair em cima deles em busca de respostas que até aquele momento pareciam perdidas em meio ao caos que se instalava na cidade.
Pararam em frente ao hotel onde diversos carros da polícia já se encontravam, Volker andou à passos firmes apenas acenando com a cabeça tentando o mínimo de contato para não entrar em conversas que não o levariam a lugar algum. Precisava pegar Oliver e acabar com aquelas mortes, ainda sentia na pele o que havia acontecido anos atrás e saber que tudo estava voltando o deixava apreensivo, ainda mais ao imaginar que Bellatrix poderia ser o próximo alvo nas mãos do assassino.
Adentrando o local o tenente sentiu o corpo tenso, mas mantinha a expressão apática e seus olhos inexpressivos, as lembranças estavam cravadas dentro do peito, entretanto, não permitiria que o pior viesse a acontecer. Para isso a pessoa teria que passar por cima dele e estava disposto a fazer de tudo pelo bem estar de Bellatrix.
[...]
Do outro lado da rua em meio às sombras das árvores a figura masculina continha um sorriso firme nos lábios e ao ver o policial passar por entre os outros com a expressão fechada e os punhos cerrados, a sensação de satisfação cresceu. Deu-lhes as costas entrando no carro, pronto para continuar com o seu plano.
Dirigiu pelo trajeto que tanto conhecia e parou algumas ruas antes da casa, pegando a mochila no banco de trás.
Saiu do carro, colocando o boné preto apenas para esconder o rosto e caminhou pela rua deserta parando em frente a casa branca. Um sorriso surgiu em seus lábios ao observar atentamente as câmeras de segurança e a escuridão presente por cada cômodo.
Subiu os degraus parando em frente ao sistema de entrada, analisando cuidadosamente suas próximas ações, passou meses estudando cada procedimento para conseguir adentrar a residência. Tinha noção que aquele sistema de segurança era um dos melhores no país e qualquer passo em falso dispararia o alarme, coisa que não queria ter que enfrentar.
Retirou a mochila das costas pegando o notebook em mãos e a pequena caixa abrindo o compartimento, conhecia o Tenente bem o suficiente para saber que ele não deixaria sua própria casa à mercê de senhas e utilizaria tanto a biometria quanto o leitor de íris, segurou o objeto em mãos colocando sobre seu polegar direito contemplando sua obra prima com a perfeita impressão digital do policial. Levou as mãos ao dispositivo encaixando o polegar, sentia o nervosismo tomá-lo mesmo sabendo que todas as suas tentativas anteriores haviam funcionado.
O barulho da porta se abrindo indicou o sucesso de seu plano, adentrou a casa pegando a mochila e o notebook. Fechou a porta, passando os olhos pelo local.
A entrada era simples, possuía apenas alguns quadros nas paredes de tons pastéis que não lhe cativaram, nada que vinha do policial o agradava.
Caminhou por entre os cômodos analisando meticulosamente cada parte, a sala não possuía nada que lhe interessasse, apenas o sofá com a mesa de centro e a televisão fixada na estante. Aproximou-se observando os porta-retratos sentindo um amargor em sua garganta ao reparar em uma foto do tenente com ela, sua Bellatrix, a raiva tomou seu interior querendo arrancar tal atrocidade, mas qualquer modificação levaria seu plano a ruína abaixando a mão antes que tocasse o objeto.
Saiu pelo corredor e parou em frente a porta de madeira, aquele era o escritório do policial. Entrou passando os olhos pelo local mirando os livros nas prateleiras, a mesa transparente em frente e a poltrona preta, os telões espalhados demonstravam a segurança que Volker possuía, sinalizando as ruas ao redor de sua casa e até mesmo alguns quarteirões antes e depois.
Sentou-se na poltrona abrindo o notebook ao lado do dele e iniciando o real motivo de estar naquele lugar imundo. Abriu o outro aparelho enquanto invadia os sistemas de segurança desligando um por um com um sorriso triunfante entre os lábios.
— Vamos ver até quando você ficará seguro. — Exclamou em contemplação.
Levantou saindo da sala percorrendo o restante da casa e subiu as escadas indo exatamente para o único lugar que havia o obrigado a ter que estar ali. Seus pés pararam analisando a porta branca antes de entrar e assim que adentrou foi preenchido pelo perfume adocicado fazendo-o inspirar fortemente. Locomovendo-se pelo quarto abriu os guarda-roupas, fixado nas roupas da mulher e puxou uma das blusas trazendo-a para suas narinas sentindo o cheiro ainda mais forte lhe fazendo delirar, mas não poderia demorar naquela casa.
Ergueu os pulsos fitando o horário e o tempo estipulado para ficar, notando que ultrapassaria o período desejado se continuasse dessa forma, precisava colocar sua mente em foco para que no fim Bellatrix estivesse somente com ele e mais ninguém.
Retirou a escuta de sua mochila ao lado da microcâmera pousando o olhar no abajur ao lado da cama e o relógio sobre a cômoda, ali seria perfeito. Conectou ambos, observando-os se adaptarem as cores dos objetos de forma que quem estivesse próximo não os achariam, antes de sair parou em frente a uma gaveta e puxando-a revelou as peças íntimas da mulher, logo pegou uma para si colocando dentro da mochila e se retirou a passos firmes para os outros cômodos implantando os outros objetos.
Voltou para o escritório pegando seu notebook e colocando tudo em seu devido lugar, deixando do mesmo jeito que estava antes de entrar e ao retornar para o carro abriu o computador apenas para apagar as imagens das câmeras que o mostravam dentro da casa e reativar o sistema como se nada tivesse acontecido.
Agora seria ele quem controlaria toda a situação e estava se divertindo para saber qual seria o próximo passo do policial.
[...]
Volker encontrou o superior em frente a porta e parou ao lado de John para enfim adentrar o quarto.
— Está ficando cada vez pior, ele realmente está sendo brutal. — John murmurou encarando o policial.
— Farei minha análise sozinho, não deixe os peritos entrarem enquanto eu não terminar. — Volker disse firme, precisaria ficar atento a qualquer mínimo detalhe e fazer isso com outras pessoas no quarto não o ajudaria em nada. Não queria distrações, ou um emaranhado de vozes criando suposições.
— Já dei as ordens, faça o que tiver que fazer e assim que terminar avise Sales, deixe na mão dele com os outros peritos. — O tenente concordou e passou pela porta do quarto sem olhar para trás, ouviu o barulho da mesma se fechar atrás de si, começaria seu trabalho.
Seus olhos passaram pelo local que parecia impecável, caminhou parando em frente a cama encontrando o corpo de Isabelle Morris, sem vida, afastou-se brevemente abrindo a maleta de trabalho ao lado utilizando do borrifador selante. Projetando-o contra seus sapatos e mãos para protegê-los de maneira que não deixaria digitais ou qualquer resquício de seus trajes na cena do crime.
Retirou o gravador segurando entre os dedos, escutando o barulho do dispositivo ao ligá-lo.
— Tenente Volker Reed, na cena do assassinato. Nome da vítima: Isabelle Morris.
Ele analisou as janelas fechadas e cobertas pelas cortinas escuras que impediam qualquer raio de sol adentrar, mantendo o ambiente escuro e o breu tomou cada parte do local. Reparou que não havia nenhum sinal de defesa, não demonstrada no quarto, mas que era nítido nos pulsos e tornozelos da vítima.
Seus olhos passaram por todo o quarto, mantendo a atenção apenas em Isabelle, avistando o copo de café em cima da bancada da cozinha, com passos firmes Volker se aproximou observando a marca de batom refletida no mesmo.
— Possivelmente a vítima foi drogada, dando a oportunidade para o assassino amarrar seus pulsos e tornozelos sem que houvesse resistência. Ela o trouxe para cá. — Constatou ao analisar que havia outro copo próximo a pia.
Colocou ambos objetos dentro de sacos plásticos que levaria para análise e determinaria se Isabelle teria ingerido alguma droga.
Aproximou-se do corpo da mulher analisando atentamente.
— Sua calcinha foi arrancada à força e jogada para longe de si. — Declarou alto observando a peça íntima ao pé da cama.
Os lençóis estavam bagunçados, desalinhados e caídos pelo chão isso demonstrava o quanto ela lutou tentando se soltar das amarras contra os pulsos que estavam em carne viva, a saia preta rasgada e com marcas firmes contra a pele branca de Isabelle destacando-se nas coxas, declarando a violência do estupro.
O tenente inclinou o corpo notando a fita presa nas mãos dela e o sangue seco entre os lábios da mulher que evidenciavam as mordidas fortes neles, analisando a fronha manchada de sangue jogada ao lado do corpo.
— Há evidências de resistência, ela não cedeu facilmente, algumas contusões indicam socos violentos e as marcas rentes ao pescoço indicam estrangulamento realizado com algum objeto, ao dizer pelas marcas, possivelmente algum tecido.
Volker ligou a lanterna segurando a lupa, abrindo a boca da vítima.
— Possui alguns restos de tecidos e fios entre os dentes e a língua, há sangue entre os lábios e os dentes, ela os mordeu com força. A fronha ao lado de seu corpo possuí marcas de sangue e possivelmente saliva, o assassino utilizou o travesseiro para sufocá-la. As roupas não foram arrancadas, é notório os ombros rasgados da blusa, mas possuí alguns botões faltando, ele arrancou da vítima. — Volker murmurou observando atentamente. — Não estava interessado nas preliminares, as tirando de seu caminho.
O tenente sentiu o ar faltando em seus pulmões o obrigando a respirar e inspirar repetidas vezes, tentando manter o foco, por mais que aquilo embrulhasse seu estômago.
Fixou os olhos na rosa espinhosa costurada na garganta da mulher e na marca em seu tornozelo direito, os cinco pontos que declaravam o número de assassinatos até aquele momento, maldita mensagem.
— Ao dizer pelo estado da vítima, ele repetiu o ato diversas vezes, constatando os arranhões e hematomas deixados ao redor do corpo, principalmente via vaginal e anal. — Volker precisou inspirar novamente, sentindo como se as coisas ao seu redor fechassem sobre ele analisando aquela cena brutal que passava por sua mente copiosamente.
Endireitou o corpo dando mais algumas respirações profundas, não poderia parar o gravador e se deixar abalar pela cena que via, precisava encontrar provas que pegassem o desgraçado que havia feito aquilo.
Pegou o seu registrador para determinar o momento exato da morte.
— Hora da morte: cinco e meia da madrugada. O homicídio por asfixiamento e violação ainda deve ser confirmado pelo médico legista, Dr. Sales Petragon.
Estava tão envolvido no caso que não reparou a entrada de seu parceiro parando ao seu lado, Scott tinha os olhos fixos na vítima e podia sentir o desgosto crescente do melhor amigo ao analisar a cena diante de seus olhos.
— Conseguiu algo? — Scott indagou, fitando-o.
— Ainda não tenho certeza, o procedimento é o mesmo de anos atrás, exceto pela rosa branca na garganta, ele não costumava fazer isso, deixava uma flor vermelha ao lado de cada vítima. — Volker murmurou indicando o local para Scott.
— Ele mudou o método, antes não havia um padrão nas mulheres, mas agora tem, todas são loiras e beiram aos trinta anos. — O colega constatou.
— Isso é o que mais me preocupa O'donell, chegando cada vez mais perto da Bella.
— Nós mudaremos isso, conseguiremos pegá-lo! — o tenente sentiu o aperto no ombro vindo do amigo em conforto, mas nada o faria se sentir bem, não enquanto o assassino ainda estivesse solto e próximo demais de Bellatrix.
— Mande a perícia entrar! O meu trabalho aqui acabou, nos encontramos na conferência para tratar melhor sobre isso. — Volker pegou a maleta no chão e se retirou do quarto sendo seguido por Scott.
Avistou Sales parado há alguns metros do quarto no corredor com outros legistas, assim que ambos os olhares se encontraram, Volker sinalizou com a cabeça para que Sales pudesse continuar o restante das análises e avisar aos outros para entrarem no quarto. O perito esperou Volker se aproximar para poder se retirar em direção ao quarto.
— Leve isso para o laboratório e análise, acredito que ele drogou a vítima antes de prendê-la. — Volker entregou a maleta nas mãos do loiro que confirmou.
— Mandarei o quanto antes para podermos agilizar no processo, mas sabemos que ele se protege utilizando o borrifador selante e isso evita que qualquer partícula do seu corpo seja exposta ou contamine o local.
— Não podemos desanimar, uma hora ele cometerá um erro. — Scott murmurou contrariado, a raiva refletia no tom de voz dele e os punhos cerrados.
— Vou fazer meu trabalho, vejo vocês mais tarde na conferência. — Sales se retirou deixando os dois sozinhos.
— Vamos verificar com o Gaspar o que ele encontrou nas câmeras de segurança e encontrar as pessoas próximas as vítimas, em algum momento ele teve que fazer contato direto com ela para trazê-la até aqui, talvez alguém tenha visto algo. — Scott concordou com Volker e ambos se retiraram atrás de Gaspar.
Os pensamentos do tenente dançavam por sua mente, as diferenças dos crimes gritavam em seus ouvidos. Tinha algo de estranho, o modus operandi era o mesmo, mas os detalhes haviam mudado. Oliver antes não utilizava o borrifador selante, o assassino vestia roupas de látex para esconder os vestígios, ter aquela ferramenta era algo que somente policiais tinham completo acesso.
Ele olhou para o colega, Scott, que estava um pouco mais a frente e o sentimento ruim percorreu seu interior ao cogitar que alguém dentro do departamento poderia estar envolvido na situação. Escondendo-se atrás do distintivo e utilizando do seu poder, mas quem seria capaz de trair a própria equipe depois de todos os acontecimentos.
Roger havia tentado alertá-lo, mas quando os dois pensaram estar perto de prender o culpado, Oliver Jenkins apareceu e destruiu qualquer prova que existisse deixando apenas mais dúvidas e questionamentos. O policial passou os doze anos tentando encontrar as pequisas do ex-superior, se tornou tenente do departamento para poder ter um cargo maior e mais respeito onde poderia se infiltrar sem que os outros questionassem suas intenções.
Avisou Scott que passaria em sua sala antes de encontrar com o resto da equipe, ao se sentar diante da mesa espalhou as fotografias dos cenários e assassinatos, os recentes e aqueles que aconteceram a doze anos. Precisava se atentar aos detalhes, sentia que algo em meio aquilo poderia levá-lo ao que tanto procurava.
Precisava começar a se colocar um passo a frente do assassino.
Volker não perderia um segundo sequer, tinha que encontrar o culpado antes que este chegasse até Bellatrix, não permitiria que o passado se repetisse.
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