DEZESSETE - OLIVER JENKINS, O REENCONTRO.
AVISO: Este Capítulo contém teor violento, menção de gatilho, depressão e tentativa de suicídio.
Quem luta com monstros deve velar por que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti.
— Friedrich Nietzsche.
•°• ✾ •°•
Agosto, de 2058 – Manhattan, Nova Iorque.
A menina chorava copiosamente, seu coração parecia apertar contra o peito enquanto a culpa incendiava cada célula em seu ser. Os joelhos estavam pressionados rente ao chão gélido e o cimento que pinicava sua pele, prostrada em frente a lápide.
Seus olhos completamente inchados e o rosto tomado pelo vermelho, entregando o quão devastada ela se encontrava.
Teve que se obrigar a levantar e retornar para casa, por mais que não quisesse, ela precisava. Abriu a porta escutando o completo silêncio engoli-la e subiu as escadas lentamente, seu corpo parecia pesado e a qualquer momento cederia ao cansaço.
O barulho de algo caindo despertou sua atenção, caminhando para o quarto dos pais onde encontrou a mãe jogando as roupas dentro de uma mala grande e fechando-a em seguida. Eleonor ao se virar deparou-se com Bellatrix e a encarou inexpressiva.
— O que a senhora está fazendo? — a menina pergunto relutante.
— Estou indo embora! — Eleonor falou, decidida. — Não vou continuar morando nessa casa nem mais um segundo! — completou.
— Você ia embora sem mim? — Bellatrix a olhou chocada, seu peito parecia ser comprimido e o ar ser retirado de seus pulmões, suas pernas tremiam precisando segurar a maçaneta da porta com força.
Eleonor desviou o olhar, incapaz de encarar a própria filha.
— Mãe... — Bella a chamou, sendo ignorada.
A mulher passou pela garota puxando a mala em direção a porta, descendo as escadas e a deixando para trás. Bellatrix correu até ela, desesperada.
— Você não pode me abandonar aqui! — Bellatrix gritou, esticando os braços em frente a porta, impedindo Eleonor de sair.
— Você ficará bem! — a mulher falou com indiferença.
Seus braços puxaram o corpo fraco da menina e a empurrou para longe, Bellatrix se desequilibrou caindo no chão. Seus olhos estavam inundados por lágrimas.
— Mãe! — berrou, mas se sentia fraca demais para tentar impedir.
Eleonor parou, olhando para a garota pela última vez.
Sabia que estava agindo como uma covarde, fugindo de seus medos e abandonando a própria filha, mas ela entendia que a pessoa que havia matado seu marido e Michael – seu amante – poderia cogitar a hipótese de ir atrás dela, por isso precisava ir o mais longe possível e sobreviver, não queria levar a adolescente junto o que dificultaria sua viagem de última hora e seria um enorme tempo perdido atrás de documentações que a mais nova ainda não possuía diferente de Eleonor que mantinha o passaporte em mãos.
— A partir de hoje você morreu para mim Bellatrix junto de seu pai. — A voz saiu fria, como lâminas cortantes que perfuraram o coração da menina que abraçava o próprio corpo.
— E-eu não fiz aquilo por querer! — falou em desespero. — Eu não queria que o papai morresse! — gritou assustada, a culpa remoendo cada parte de si conforme as pesadas lágrimas escorriam por suas bochechas rasgando seu peito que tornava-se pesado impedindo-a de conseguir manter a respiração calma.
— Mas ele está morto, Bellatrix! — disse apática. — E você também deveria estar! — completou.
Seu coração esmagou ao dizer aquilo para a filha, mas Eleonor precisava fazê-la a odiar ao ponto que Bellatrix a deixasse ir embora.
O silêncio ensurdecedor tornou a casa ainda mais sombria, os raios refletiam pelo céu nublado declarando a tempestade que estava próxima a chegar. Bellatrix apenas ergueu os olhos ao ouvir o estalar da porta se fechando, encarou por fim a sombra da mãe passar pela lateral da casa e se levantou apressadamente rumo ao próprio quarto.
Ela se sentou em frente a escrivaninha pegando dois pedaços de papel, suas lágrimas caiam por seus olhos respingando na folha enrugando-as, enquanto escrevia aquelas cartas direcionadas apenas para duas pessoas. Colocando-as sobre a cama, saiu em direção ao quarto dos pais adentrando o banheiro e recolhendo todos os medicamentos que tinham dentro do compartimento do espelho levando-os para o seu quarto e sentou-se sobre o tapete felpudo.
Abriu os frascos engolindo-os de uma vez, repetindo o processo nos próximos cinco potes de diversos medicamentos.
— Eu deveria ter morrido... — Sussurrou para si, sentindo a cabeça latejar e o corpo se tornar fraco. A visão ficou escura e a partir daquele dia independente do que acontecesse Bellatrix já estava morta.
•°• ✾ •°•
Abril, de 2070 — Manhattan, Nova Iorque, dias atuais.
O coração de Bella parecia bombear, batendo forte dentro do peito. Ela esfregava as mãos na calça jeans que usava, tentando conter o nervosismo que impregnava sua mente e a ansiedade que corroía seus ossos, além das lembranças horrendas que refletiam como flashs em sua mente.
Estava dentro do carro dirigindo para o local marcado, havia se encontrado com a equipe utilizando uma micro-escuta presa no colar e outra em sua orelha perto do brinco adaptado a cor dourada do objeto que a possibilitava de escutar John, de modo imperceptível. Volker tinha pego uma cópia das papeladas contidas na pasta de seu pai e a deixado com a original, ambos trabalhavam em conjunto para retirarem o máximo de informações possíveis.
Seus sapatos fincavam no chão buscando manter o corpo firme e sem demonstrar qualquer sinal de medo ou intimidação. Ela precisava ser forte, viu o painel que necessitava mostrar a identidade para que pudesse adentrar, esticou a tela do celular que logo conectou ao dispositivo revelando a sua foto do outro lado com sua idade, nome e profissão. Entrou no bar sentindo os olhares caírem sobre si, ignorando-os completamente.
A luz iluminava o ambiente enegrecido, com listras coloridas, os hologramas femininos se movimentavam com a música que ressoava pelo local. Para aqueles que estavam sentados em mesas mais afastadas do bar possuía um dispositivo conectado no centro para que pudessem realizar o pedido desejado após ser anotado pela voz virtual que transmitia-o para os funcionários na parte detrás do balcão que preparavam os drinks e os aperitivos através da inteligencia artificial que foi programada exclusivamente para isso.
Caminhou até o balcão sentando-se em uma das banquetas apenas esperando, tentava não olhar a sua volta. Ergueu a mão em busca de chamar o barman e pedir qualquer bebida, porém, pode sentir a presença em seu lado direito.
Seus olhos cravaram nos braços que foram apoiados, musculosos e fortes, um deles tomado por tatuagens com os dedos entrelaçados à sua frente. Percorreu subindo em direção a pessoa que usava um moletom azul marinho erguendo o olhar encarando as orbes tão escuras como a noite, era ele. Seu coração pareceu rodopiar contra o peito e a cabeça girar, engolindo em seco, o homem tinha o olhar fixo nela, impassível, sem demonstrar qualquer tipo de reação.
Oliver estava diferente, os cabelos castanhos estavam maiores e mais escuros, com a pele estritamente mais pálida do que costumava ser e a barba tomava grande parte de seu rosto que uma vez foi tão jovial, agora ele aproximava-se quase de seus quarenta anos. Na época Oliver era apenas um rapaz, possuía vinte e sete anos, mas poderia ser explicitamente cruel quando queria e não media esforços para deixar isso bem claro.
Por mais diferente que estava ela o reconheceria, aqueles olhos, eles ficaram cravados em sua mente como brasa quente. Um sorriso perfeitamente branco e de dentes alinhados surgiu na face dele.
— Achei que não fosse vir. — Murmurou, a voz grossa fez cada parte de seu corpo se arrepiar. — Você mudou bastante desde a última vez que nos vimos, minha flor. — Ele sorriu sacana recebendo um revirar de olhos dela.
— Não estou aqui para conversas furadas, você disse que te devo algo, o que é? — Bellatrix disse sem rodeios observando o sorriso dele se alargar, mordeu o interior da bochecha, buscando manter a respiração calma e apertando os dedos para que suas mãos não tremessem.
— Parece que as coisas realmente mudaram. — Riu erguendo o braço chamando o barman que se aproximou. — Um uísque e você? — ele perguntou, virando-se para ela com a sobrancelha arqueada.
— De você eu não quero nada! — Oliver riu, mordendo o lábio inferior em contentamento.
— Se eu soubesse que se tornaria essa mulher, não teria me dado o luxo de ser preso naquele dia só para levá-la até ele. — Ela o encarou confusa, Oliver balançou a mão em um breve agradecimento tomando um gole do drinque. — Sabe eu não sou tão estúpido a ponto de ir em uma delegacia onde me procuram.
— Sério? Porque foi exatamente o que eu pensei. — Disse sarcástica, observando-o sorrir e virar o corpo na direção do dela. As mãos dele se aproximaram da cadeira de Bellatrix a puxando para perto de si fazendo ela arfar em surpresa e assustada com a ação.
— Você esqueceu quem eu sou? — perguntou debochadamente. — Cuidado com a maneira como fala comigo, não é porque estou aqui que irei aceitar o que você diz, eu não mudei nada. — Sussurrou próximo dela, com um sorriso maldoso entre os lábios.
— Então por que estava lá? — Bellatrix se afastou sentindo o enjoo em seu estômago com a aproximação repentina.
— Eu fiz um acordo, costumo não quebrá-los, mas confesso que quando te vi parada em frente à sala de seu pai naquela noite... Realmente quis ir contra essa promessa estúpida, porém, fui preso antes de fazer isso. — A amargura na voz do homem era notória, ele tomou em um gole o restante da bebida e pediu mais. — Você é corajosa, não? Vindo até esse lugar no meio da noite se encontrar com um cara que mata mulheres. — A risada sombria ecoou pelos ouvidos dela trazendo a ânsia para a sua boca.
— Eu tenho perguntas para fazer, se não tivesse nem estaria aqui! — falou indiferente, mantendo seu olhar preso para frente, se recusava a encarar a figura masculina.
— Então as faça, quem sabe meu humor esteja bom o suficiente para respondê-la? Isso antes que eu termine o que comecei. — Bellatrix o encarou, pasma, notando ele sorrir sacana e passando a mão pela barba descendo o olhar do rosto da mulher para todo seu corpo — ele é um cara de sorte, você ficou bem gostosa, não é? Uma pena eu precisar ser discreto se não já teria te arrancado a força daqui. — Ela engoliu em seco, precisava manter a pose, aquele papel ridículo e se controlar em não ir para cima de Jenkins.
Volker mantinha o maxilar travado e as mãos fechadas em punhos, sua veia do pescoço estava saltada e a qualquer momento se levantaria daquela mesa.
— Você precisa relaxar, ou vai foder com tudo! — Lucca murmurou com raiva, acertando um soco no braço de Reed cujo o olhar fulminava.
— Relaxar? Aquele filho da puta está do lado dela, eu quero arrancar a cabeça daquele desgraçado! — bradou levando o copo a boca em um longo gole sentindo o líquido da água gelada descer por sua garganta.
— Se ele fosse fazer algo com ela, já teria feito. — Lucca rebateu recebendo a devida atenção do outro. Ele tinha razão, se Oliver realmente quisesse fazer algo para Bellatrix já teria feito sem pensar. — Siga com o plano, já conseguimos saber que há outro. — Um suspiro pesado saiu pelos lábios de Volker, atônito. Outro, tinha outro igual a Jenkins e esse estava atrás de Bellatrix.
— Mas o que você quer perguntar? — a voz surrada de Jenkins despertou os dois policiais, voltando a atenção total para a conversa.
— Por que você matou o meu pai naquele dia? — Bella sentiu a garganta secar e as lembranças atormentarem novamente a sua mente, o sangue, o corpo quase sem vida, o grito a mandando fugir. A respiração parecia se fechar lentamente.
— Ele me pediu, geralmente não mato pessoas sem um propósito, mas seu pai sabia demais. — Oliver cruzou os braços mantendo o olhar fixo nela que por sua vez o mantinha bem longe das esferas escuras, daquele vazio que parecia puxá-la.
— Quem é ele? — perguntou sentindo-se estúpida por não saber o real motivo de tudo aquilo.
— Não posso dizer. — Ela olhou para Jenkins que mantinha a mesma expressão apática e o olhar cravado aos dela. — Você sabe, pessoas costumam guardar mágoas e rancores de outras, você deve ter lido minha ficha. — Oliver sorriu, derramando o conteúdo da garrafa que havia pedido em seu copo. — A primeira pessoa que eu matei, a amante do meu pai. — Ele riu com certa satisfação, seu olhar parecia reluzir ao se lembrar. — Eu peguei os dois na cama, minha mãe trabalhava o dia inteiro para manter a casa, enquanto a amante dele a xingava de todos nomes horrendos possíveis. Como se ela fosse um lixo, ele a colocou dentro de nossa casa e me fez conviver com a amante sem contar para a minha mãe, pessoas assim não merecem viver. Ela destruiu a minha família e eu destruí a vida dela, simples. — Respondeu passando a língua pelos lábios olhando para Bellatrix.
— Isso não te dá o direito de tirar a vida de alguém, você matou várias mulheres, entre elas adolescentes! — sua voz mostrava o desprezo e em seus olhos refletiam a raiva e o ódio acumulado durante todos aqueles anos. Oliver conseguia notar isso e sentia prazer em vê-la daquela forma.
— Mulheres infiéis à própria família, elas não mereciam estar entre nós, as mais novas eram as mais depravadas e não se importavam com os sentimentos dos outros. — Deu de ombros, esperando o momento que ela explodiria.
— E você se importa? — Bellatrix riu levando as mãos aos olhos. — Não seja hipócrita, você é alguém podre, você quem não merecia respirar o mesmo ar que muitas pessoas! Deveria ter sido morto no dia que foi preso.
— Me sinto lisonjeado em ouvir isso, me pergunto como é toda essa sua raiva na cama. — Pronunciou malicioso, observando a mulher fechar os punhos, contudo ele sentiu o olhar travar ao ver a figura masculina afastada observando-os e o semblante perverso não agradou Jenkins. Oliver endireitou a postura e se afastou minimamente de Bellatrix. — A questão é, por mais bizarro que seja, ele possuía os mesmos motivos que eu, encontrou a amante com o pai, mas isso você já sabia, não é? — perguntou presunçoso, apoiando o rosto na mão. — Inclusive, já sabe quem é a amante, você não é burra, sempre soube só preferiu não acreditar. — Ela engoliu em seco, sentindo certa tontura por aquelas informações despejadas. — Diferente de você, ele fez algo, mas ele ainda quer você. Fiquei até sabendo que toda essa traição familiar gerou um fruto. — Riu balançando a cabeça em negação. — Depois eu que sou o lunático, o psicopata, sua família é tão podre quanto a minha, Mitchell e você só não sabe disso ainda, o nome dele é Max sabia? Um adolescente bem interessante, se parece com a irmã. — Bella ergueu os olhos fitando Jenkins que mantinha um sorriso indecifrável nos lábios.
— Eu não tenho irmãos. — Rebateu enfurecida.
— É o que você pensa, mas ele disse que a partir de agora não preciso mais fazer nada, uma pena porque eu adoraria ter esse rostinho bonito mais vezes para mim. — Disse segurando o queixo da mulher.
— Por isso você está aqui... — Ela falou baixo, recebendo a atenção dele. — Ele armou tudo isso, para te trazer aqui e fazer exatamente o que queria e te jogar novamente na toca do lobo. — O sorriso de Oliver morreu e o aperto se tornou firme, doloroso.
— O que você quer dizer com isso? — Oliver rosnou enraivecido.
— Você achava mesmo que eu viria sozinha até aqui? Sabendo quem você é? — perguntou notando o olhar dele se tornar ainda mais escuro, a expressão antes passível agora era feroz. Oliver levantou em um sobressalto passando o olhar pelo local.
— Vão agora! — Bellatrix ouviu a voz de John gritar pela escuta, atenta a aproximação de Volker e Lucca que se aproximaram.
Oliver a fuzilou dando passos em sua direção.
— Ele pode ter me traído, mas não vou deixar que ele ganhe o que tanto quer, a preciosa rosa! — esbravejou fugaz indo para cima de Bellatrix que se esquivou rapidamente.
Jenkins tentou acertá-la desferindo um soco em sua direção, ela abaixou sentindo a perna bater em uma das cadeiras do estabelecimento. Oliver ergueu a arma em mãos mirando em Bellatrix, as pessoas ao perceberem saíram correndo do lugar em busca da saída, impedindo que Lucca e Volker chegassem mais próximos dos dois. O tenente sentia o coração acelerado e o medo crescer ao não conseguir enxergar Bellatrix em meio às pessoas.
Ela chocou o corpo contra o dele violentamente, fazendo a arma cair ao chão. Tentou pegá-la, mas as pessoas que tentavam se retirar desesperadas acabaram chutando o objeto para longe de suas mãos.
A dor veio ao sentir o corpo bater forte na parede e o soco no estômago, indo para o lado ao ver o punho mirado ao seu rosto, notando a parede se esfarelar próximo de sua cabeça, Oliver tinha as veias saltadas e a raiva cravada em seus olhos indo para cima dela. Ele estava focado em seu ódio, não percebendo quando Bellatrix puxou a cadeira acertando-o em cheio, batendo contra as costas dele, ouviu o grito de dor do homem. Oliver caiu ao chão pelo impacto, contudo ele a puxou pela perna a fazendo ceder e bater a cabeça forte no piso, sentindo as coisas ao seu redor girarem por segundos.
O corpo dele prendeu os braços e pernas dela, Oliver tinha o dobro do tamanho de Bellatrix, um perfeito brutamontes. Uma de suas mãos segurava as de Bella, enquanto com a outra ele desferiu um tapa latente no rosto da mulher que retraiu os lábios.
— Eu não vou voltar para aquele maldito lugar! — esbravejou. — Vou te levar comigo para ter certeza que não irei retornar nunca mais! — vociferou.
— Você matou todas essas mulheres novamente! Você tem que apodrecer naquela inferno! — ela gritou tentando se debater e encontrar uma saída. Oliver a encarou e riu, sua risada ressoou por entre as paredes de forma macabra.
— Eu? Não fui! Estava ocupado demais fugindo da polícia para ir atrás de alguém! — Oliver gargalhou ainda mais. — Vocês são tão burros, ele faz tudo debaixo dos seus olhos, ele sabe cada um dos seus passos e sabia que você estaria aqui, você não é nada perto dele! — o medo tomou suas veias, desde o início a pessoa sabia exatamente o que ela planejava.
— Quem é ele? — perguntou sentindo o olhar cravado de Oliver, a mão dele segurava firme o pescoço dela e o ar sumia de seus pulmões, esvaindo sua existência aos poucos.
— Você quer mesmo saber? — Bella o encarou tentando formar um sim, mas não conseguia respirar, seu rosto se tornava cada vez mais vermelho. — Nós dois iremos morrer de qualquer forma, que se foda! — exclamou, ele afrouxou a mão sendo o momento que Bella puxou o máximo de ar que conseguia para seus pulmões. Elevou as pernas tentando manter a força em seu corpo para empurrá-lo, jogando o dele para o lado e se levantou apoiando a mão na mesa dando passos para trás, Jenkins se ergueu com o olhar firme, a íris negras e o sorriso demoníaco entre os lábios, ela havia se tornado a presa. — Ele vai te encontrar Mitchell e nem o seu namorado será capaz de impedi-lo, ele irá morrer no processo!
Oliver deu um passo para onde ela estava. — O nome dele! — falou entre gargalhadas. — O nome que tanto quer saber... — Contudo o barulho ensurdecedor de um tiro ecoou pelo estabelecimento, rente ao peito de Jenkins. O homem deu um passo para trás levando a mão que agora era tomada pelo vermelho escarlate, suas pernas fraquejaram e o corpo cedeu ao chão, desabando. Bellatrix virou para onde o tiro foi disparado encontrando Volker correndo em sua direção e Savannah com a arma mirada na direção de Oliver.
— Não... Não! — Bellatrix exclamou em pânico correndo em direção a Oliver, levando a mão ao lugar onde a bala havia perfurado. — Você não pode morrer! — gritou sentindo aquela mesma sensação de anos atrás. — Quem ele é? Você precisa me dizer! — disse agoniada, enquanto o homem sorria, o sangue escorria por seus lábios engasgando em meio ao vermelho que tomava sua boca. — Desgraçado! — ela bateu forte contra o rosto dele.
— Você já está presa no jogo que ele quer! — Oliver gargalhou de maneira perversa, ela sentiu o corpo ser puxado e braços a envolverem enquanto se debatia de todas as formas.
— Bellatrix você tem que se acalmar! — a voz firme de Volker e o aperto em seus braços a obrigaram a encará-lo. — Vem, preciso te levar para cuidar desses ferimentos! — ele segurou a mão dela tentando afastá-la daquele lugar.
— Eu não quero! — exclamou exaltada, puxando o braço forte. — Ele ia falar! Ia dizer o maldito nome e vocês atiraram nele! — Ela se virou para onde o corpo de Jenkins estava, percebendo os paramédicos tentando estancar o sangue e a reanimação, os olhos fechados, o rosto sem vida e o lábios empalidecidos cercado pelo sangue que se espalhava pelo piso e tomava seu corpo. Provando o que ela imaginava.
Oliver Jenkins estava morto.
[...]
Bellatrix estava deitada naquela cama de hospital novamente, sentia a raiva correr por suas veias e a frustração estampada em sua fisionomia. Com o desgosto eminente e se recusava a falar com qualquer pessoa.
Ficou tão próxima em acabar com aquele inferno, quando tudo ruiu diante de seus olhos. Estava novamente no zero e sem nenhuma pretensão de descobrir. Escutou batidas firmes na porta que foi aberta e revelou John que parecia sereno, ele se sentou na poltrona livre ao lado da cama.
— Eu sei que está sendo difícil para você, mas não desista Bella, nós iremos pegar o verdadeiro culpado. — Ele segurou a mão dela, colocando a bolsa de Bellatrix que havia ficado dentro do carro ao lado da cama. — Eu mandei o restante do pessoal para casa, estão todos bem, mas preferi não deixá-los virem aqui, você terá alta ainda hoje ou amanhã. Eu conversei com o médico apenas descanse, as enfermeiras irão te ajudar no que precisar. — John se levantou depositando um beijo na testa de Bella, lançando um sorriso paterno para ela antes de se retirar.
Bellatrix sentiu todo o ar preso escapar por seus pulmões, fechou os olhos fortemente, sentindo a náusea em seu estômago. A imagem da pasta refletiu em sua cabeça levantando o corpo rapidamente deixando-a alguns segundos zonza. Sentia cada parte de si doer.
Sua visão estava um borrão, retornando aos poucos. Bellatrix esticou o braço com dificuldade e pegou a bolsa onde colocou a pasta original de seu pai.
Retirou o conteúdo abrindo e folheando os papéis, parando até onde tinha lido com o tenente. A palavra traição teve sua atenção, segurou a foto onde estava ela e Devon tentando entender o que aquilo significava. Não poderia ser ele.
Seu coração afundou quando o nome Max veio em sua mente, Max, era o mesmo nome do irmão mais novo de Sanders, os olhos dela se tornaram marejados. A dor parecia latente e impregnada em cada célula e existência de seu ser. Devon era seu melhor amigo, seu companheiro de todas as horas, ele não poderia ser alguém tão cruel.
Ela se recusava a acreditar e aceitar aquilo.
Sua mão tomou seu rosto, escondendo-o, enquanto as lágrimas caiam dolorosamente abraçando os próprios joelhos, os soluços se tornavam cada vez mais altos e audíveis pela imensidão do quarto. Sua vida era uma completa mentira, uma farsa bem planejada e a única pessoa que sabia a verdade era seu pai, esse que estava morto.
A imagem do melhor amigo veio em sua mente, o sorriso puro e angelical, a inocência de quando se viram pela primeira vez, os tons rosados na bochecha dele ao ouvir Bellatrix o chamar para brincar e segurar as mãos dele impedindo o menino de fugir e se esconder, o puxando para desenharem juntos na aula de artes. Criando uma amizade tão única e verdadeira, sem diferenças, apenas eles.
Enquanto as outras crianças evitavam fazer contato com ele, o garoto adotado da família Sanders, o esquisito e calado que não fazia amizades com ninguém, exceto com ela.
Maya Sanders, não conseguia engravidar, resolvendo adotar uma criança. Devon havia perdido os pais em um acidente de carro após uma viagem, sendo o único sobrevivente foi levado ao orfanato com seus nove anos e adotado aos dez, ele era retraído, introvertido e calado, apenas falava o necessário. A única relação que mantinha era com os pais adotivos que o receberam com todo amor e carinho que poderiam dar para uma criança.
Bellatrix apareceu no mesmo ano após ele ser adotado, ambos estudavam juntos, ela escutava as piadas e ofensas relacionadas ao garoto e não ficava calada ao ouvir tais atrocidades, até aquele dia em específico. Quando Evan Lirson, três anos mais velho, encurralou o menino em frente a quadra vazia, Bella estava indo para o vestiário naquele momento, para a próxima aula que seria de educação física, os notando.
O garoto encolhido com as mãos rentes ao corpo enquanto o mais velho ria e o chutava, em um impulso de coragem Bella pegou a bola de basquete jogando na cabeça de Evan que se virou com raiva, fuzilando a garota com o olhar, esta que sorriu com as mãos firmes rente ao corpo miúdo.
— Você não deveria ter feito isso! — o menino gritou raivoso, indo para cima de Bella que o derrubou no chão da forma como o pai havia a ensinado para se defender, escutando o gemido de dor de Evan.
Ela se afastou calmamente estendendo a mão para Devon que a olhava surpreso, após segurá-la Bellatrix o puxou para cima. O garoto fixou os pés no chão a olhando incerto e com receio.
— Eu sou Bellatrix Mitchell, quer ser meu amigo? — ela perguntou sorridente, notando um pequeno sorriso se formar no canto dos lábios dele.
— Devon Sanders, eu a-acho, que sim. — Falou inseguro, aumentando o sorriso largo da menina que se inclinou e depositou um beijo na bochecha dele, feliz.
— Agora somos amigos e nada vai mudar isso! — falou eufórica o puxando para retornarem para a quadra.
O ar parecia fugir de seus pulmões, sua cabeça latejava, sua mente parecia perdida e seu coração vazio. Continuou folheando aquelas malditas páginas em busca de algo que não levasse para Devon, contudo, quanto mais lia menos certeza tinha. Ela queria acreditar e confiar nele, mas não sabia se possuía forças para isso.
A porta foi aberta revelando uma figura feminina, a mulher com longos cabelos castanhos e olhos azuis, a mesma altura de Bellatrix e fisionomia tão semelhante. As poucas rugas que marcavam a idade e o sorriso fraco lançado em direção a mais nova.
— Eu posso entrar? — a voz que antes acolhia seu coração e espantava os monstros de seu quarto, se tornou a sua pior lembrança e o seu pior pesadelo. Bellatrix balançou a cabeça em um aceno, observando a mulher se aproximar lentamente e se sentar ao lado de sua cama.
— O que você quer mãe? — ela perguntou impaciente, passando a manga da blusa pelo rosto molhado.
— Eu voltei, voltei por você, e o principal: retornei para te contar toda a verdade e o motivo de tudo estar se repetindo. — As mãos de Eleonor seguraram as de Bellatrix, apertando fortemente. — Estou aqui para me libertar dos meus demônios e dos erros que cometi no passado e impedir que eles também te afetem, eu vou te contar toda a verdade, a verdade que o seu pai foi incapaz de te dizer.
Oliver saiu de cena, mas ainda há alguém além dele. Será que com o retorno de Eleonor respostas serão dadas?
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