DEZESSEIS - TRAIÇÕES
Há duas coisas que você pode obter através da dor: Pode deixar ela te destruir, ou pode usá-la para ficar mais forte.
— Taylor Swift.
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Abril, de 2070 — Manhattan, Nova Iorque, dias atuais.
Estava parada em frente ao edifício com seu olhar atento à sua volta, Bella segurou a mochila contra o braço para adentrar o ambiente. John havia passado as instruções de que pretendia prepará-la antes de irem para o lugar marcado por Jenkins.
Entrou sentindo aquela ansiedade dominá-la, caminhava pelos corredores acinzentados como ele tinha indicado e parou em frente a porta de metal. Aproximou seu rosto em direção ao leitor de íris que destravou o trinco possibilitando-a de adentrar e ao girar a maçaneta focou nas pessoas que estavam no local, todos da equipe de John.
Seu olhar fixou nele, Volker, que estava sentado na cadeira com as pernas esticadas e os braços cruzados salientando os músculos pelo tecido esportivo, ele parecia atento em outra pessoa. Ela firmou a concentração no novo membro, no qual ainda não possuía nenhum contato, o homem estava escorado na parede em frente ao saco de boxe.
Os cabelos castanhos contrastavam com os olhos verdes, a pele levemente bronzeada e a cicatriz em sua sobrancelha. O rapaz virou-se, observando-a com atenção deixando Bellatrix envergonhada por estar o analisando a tempo demais desviando o olhar do dele timidamente.
— Bella! — escutou a voz animada de Gaspar que se aproximou dela e a cumprimentou alegre. Sales que parecia atento á leitura, ergueu o rosto focalizando nela ao ouvir seu nome e sorriu de lado em seguida, sinalizando um breve aceno com a mão em recepção.
Sentiu as mãos de alguém tocarem seu ombro e ao virar encontrou John que sorria paterno, refletindo nos lábios dela.
— Venha comigo Bella! — ambos saíram passando pelo corredor em direção a uma sala, John abriu a porta dando espaço para Bellatrix entrar, notando as divisórias por pilastras pretas contornadas pelas paredes cinzas escuras que davam espaço para exatamente cinco pessoas. Observando ao fundo do local os bonecos em formatos humanos. — Quero treinar a sua pontaria. — Murmurou olhando para ela. — Tive que fazer minhas pesquisas e descobrir o que tem feito durante esses doze anos. — Bellatrix riu, balançando a cabeça.
— Ligou para Devon? — perguntou recebendo um sorriso do mais velho em concordância.
— Só ele poderia me informar o que eu tinha interesse em saber. — John declarou.
— Você poderia ter me perguntado! — ela comentou, olhando para as armas sobre a mesa.
— Você não contaria, é teimosa que nem seu pai costumava ser, ele era um cabeça dura! — Bellatrix gargalhou, sentindo-se acolhida por estar ao lado de John.
As lembranças tomaram sua mente sorrindo ao recordar-se da pessoa mais importante de sua vida. O homem que considerava como um herói em todos esse anos vividos, a razão de se manter em pé durante tudo o que lhe tinha acontecido. Era e sempre será por Roger.
Podia escutar o grito animado como se ele estivesse ao seu lado, ver sua fisionomia acenando contagiante para a garotinha ao ir buscá-la na escola, enquanto ela corria com um sorriso enorme nos lábios em direção aos braços do mais velho que a abraçava como se Bellatrix fosse a mais preciosa das rosas para si. Colocando-a em cima de seus ombros e saindo pela rua perguntando como tinha sido suas aulas.
Lembra-se claramente do dia que Roger a levou pela primeira vez no departamento, ela tinha oito anos e sua animação despontava de todo seu corpo com a euforia de conhecer a delegacia. Onde o pai prenderia os caras maus e salvaria o mundo. Agora sorria ao se lembrar da frase que ele repetia com afinco.
"Nem todos que estão aqui fizeram algo ruim, minha rosa." Ela não conseguia entender na época o que aquilo significava, mas agora após anos em sua profissão tinha consciência disso.
Não poderia condenar alguém e gravar um alvo em suas costas sem antes conhecer sua história e saber o que tinha levado a pessoa até o cenário onde se encontrava. Era o trabalho dela buscar a verdade e a justiça para aqueles que não conseguiam realizá-la sozinhos e estava determinada a ser igual o pai, mesmo que tivesse aberto mão do seu sonho em tornar-se policial como ele e seguido em outra área.
Mas, sempre levaria em sua memória as lembranças dos dias que esteve com ele ao seu lado escutando a forma apaixonada como Roger falava sobre o trabalho ou o seu dia, as pessoas que tinha ajudado e as que estavam por vir a ajudar. Havia brilho e paixão, e era desta forma que ela queria exercer sua profissão, da mesma maneira que o pai realizava.
— Eu aprendi a me defender durante esses anos, eu precisei! — afirmou, após aquela pequena memória sentia como se a presença do pai sempre a acompanhe-se. — Depois do que houve, comecei a ter aulas de defesa pessoal e a treinar. Fazia aulas de muay thai, karatê e box, ainda as mantenho por achar necessário. Já as aulas de tiro... Tem um tempo em que não prático. — John sentia a evolução da garota à sua frente que agora havia se tornado uma grande mulher.
— Hoje iremos colocar isso em prática, quero ver se Roger a ensinou bem durante a adolescência. — Ela arregalou os olhos em surpresa. — Eu sei que ele te ensinava a atirar Bella, o conhecia bem para saber que ele te deixaria preparada para qualquer coisa que pudesse ter que enfrentar e no lugar dele teria feito o mesmo, Roger estaria orgulhoso de você! — falou tocando levemente os ombros dela. — Agora vamos ver, coloque o abafador e os óculos, para se proteger! — ordenou.
Ela colocou os acessórios e segurou a arma em mãos, o óculos se ajustou a sua visão focalizando nos bonecos mostrando nitidamente suas curvas e áreas no qual poderia ser fatal o tiro, visualizando pontos certeiros e as veias que seguiam cada parte da anatomia humana. Os manequins possuíam dispositivos que davam a capacidade de se moldarem de acordo com uma pessoa, indicando com precisão seus órgãos internos e a região que mais afetaria o indivíduo podendo matá-lo ou apenas machucá-lo. Ela mirou para os objetos em sua frente, mantendo o foco em cada detalhe repassado pelas lentes.
— Serão cinco balas, quero que você acerte duas contra a cabeça e o restante no peito. — A voz de John se fez firme com o tom ríspido evidente, dando lugar ao superior do departamento. Tudo deveria estar bem arquitetado e a segurança dela era uma das prioridades para ele.
Bellatrix inspirou fortemente mantendo sua concentração no alvo, deixou que sua mente neutralizasse a mira à sua frente, impedindo que os barulhos a atrapalhassem. Seus olhos se firmaram na figura disparando, repetidamente, em cada manequim. Colocou a arma sobre a mesa e retirou os protetores de sua orelha, analisando a fisionomia de John que parecia satisfeito ao aproximar-se dos bonecos.
Retornaram para a sala principal onde todos estavam, ela reparou os olhares evasivos de Savannah, a ignorando.
— Por que ainda não estão treinando? — John perguntou firme, passando o olhar por cada um.
— Sales não larga esse maldito livro! — Gaspar reclamou, recebendo um revirar de olhos do loiro. — Ele parece esquecer que precisa saber se defender! — falou debochadamente.
— Eu sou legista, preciso aprimorar minha mente, meu corpo já está em perfeita forma para ter que treinar mais! — rebateu contrariado.
— Quero os dois treinando juntos, agora! — John murmurou acenando para uma sala, Gaspar levantou vitorioso com um sorriso ladino, enquanto Sales guardava o livro a contragosto. — Savannah, você precisa melhorar a sua mira, Scott vá com ela! Já utilizamos a sala, podem ir! — a ruiva olhou para Bellatrix com desgosto antes de se levantar e sair do local. — Volker leve Bellatrix para treinar, terei uma conversa com Lucca.
Volker encarou Bella acenando para que ela o seguisse.
Ambos caminhavam em completo silêncio, quando pararam em frente a uma porta. Ao adentrar Bellatrix reparou no amplo espaço do lugar, as paredes nos mesmos tons claros, porém, quase completamente vazia se não fosse pelo ringue no centro e a mesa no canto, onde possuía cerca de quatro computadores para que reprojetasse as táticas de lutas que os membros da equipe utilizariam para treinar que seriam refletidas diante deles como uma espécie de holograma que indicaria as posições corretas e as probabilidades de cada ataque ou avanço serem errôneos.
— Quem é aquele? — perguntou curiosa.
— Lucca Morrow, do FBI, foi transferido para cá e consequentemente terá que fazer parte da equipe mesmo a contragosto. — Falou indiferente, caminhando para perto dos tatames. — Não pense que vou pegar leve com você! — ela revirou os olhos largando a mochila que carregava contra o chão, passando pelas cordas e adentrando o ringue.
— Você não vem? — questionou para ele. Volker arqueou a sobrancelha sorrindo sacana, subindo. Aproximou seu corpo de Bellatrix, ficando apenas a alguns metros de frente para ela.
Bellatrix se posicionou em defesa, esperando o primeiro avanço do policial enquanto olhava desafiante para Volker que por sua vez não parava de encará-la. Aproveitou-se disso impulsionando o corpo contra o dele, entretanto, sua perna foi segurada impedindo-a de chutá-lo. Ela forçou o braço em direção ao abdômen do tenente com a mão fechada e em punhos, determinada a acertá-lo. Volker a soltou, afastando-se brevemente e em um impulso ela tentou novamente avançar na direção dele, porém Volker prendeu os braços de Bellatrix na frente do corpo dela, cruzando-os rente aos seios e a mantendo firme em seu peitoral.
— Cuidado com as brechas Trix, um passo errado e você está no chão! — sussurrou no ouvido dela, observando o corpo da mulher se arrepiar e afrouxando as mãos.
Bella aproveitou daquele momento para impulsionar o tronco para frente derrubando Volker e levando-o ao chão. Colocou as pernas contra os quadris do homem e segurou firme as mãos dele de modo a não tocá-la.
— Acho que você que está com a guarda baixa, Reed. — Murmurou debochada, observando-o sorrir e passar a língua pelos lábios. Ela sentiu o corpo dele se inclinar selando suas bocas, Bellatrix soltou as mãos completamente surpresa pela ação e quando menos esperou ele a empurrou invertendo as posições e ficando por cima dela.
— Nunca diminua a atenção. — Volker disse roçando os lábios aos dela, unindo-os em um beijo ardente, ela o puxou pela nuca mantendo-os ainda mais próximos. As mãos dele desceram pela lateral do corpo de Bellatrix adentrando a regata que ela usava e ao sentir o toque em sua pele ela espalmou as mãos sobre o peitoral de Volker.
— Acho melhor pararmos! — o afastou, sentindo-o ceder e se sentar ao lado dela. Volker passou as mãos pelo cabelo suspirando pesadamente.
— Eu não te entendo... — Ele disse de forma baixa. — O que te deixa com medo? — os olhos dele a fitaram intensamente, instalando aquele frio em seu ventre.
— Nós... Eu e você, nunca demos certo antes, por que agora? Passaram tantos anos Volker, eu não tenho mais os mesmos sentimentos que costumava ter por você. — Sussurrou, desviando o olhar.
— Não é isso o que o seu corpo diz, pare de mentir para si mesma Bellatrix! — falou com o olhar fixo nela — e não venha me dizer que é por Devon, você pode gostar dele, mas nunca o amou dessa forma. — Ela o olhou incrédula, desacreditada em suas palavras.
— Você não sabe disso! — disse exaltada. — Não venha falar o que eu sinto ou deixo de sentir! Você teve muito tempo para fazer isso funcionar e não pense que só pelo motivo de ter voltado para a minha vida que eu irei me entregar a essa atração estúpida entre nós! — seus punhos estavam fechados e o coração parecia bombear forte no peito com aquele sentimento tomando todo o seu interior.
— Eu nunca fui a lugar algum, sempre estive aqui, você quem foi embora! — Volker rebateu, descontente. — Você preferiu fugir! E se quer tanto saber o motivo de eu nunca ter tentado nada, talvez você tenha esquecido a nossa diferença de idade, ainda mais naquela época. — Murmurou enfadado, jogando o corpo no chão e olhando para o teto. Seus braços passaram por trás da cabeça salientando os músculos, Bellatrix desviou o olhar com a vontade de querer tocá-lo.
— O que tem isso? Eu sempre soube muito bem o que sentia por você, diferente do que você demonstrava! — ela passou a mão pelo rosto frustrada, odiava ter que discutir sobre aquilo. Ainda mais naquele lugar.
— Não diga o que não sabe! — ele ergueu o olhar para onde ela estava. — Eu sempre senti algo por você, eu só... Eu só procurava não deixar evidente e descontava isso procurando outras mulheres. — Bellatrix o encarou perplexa, antes que respondesse ele ergueu o braço a impedindo de proferir qualquer palavra. — Você era uma garota, uma adolescente, e acima de tudo menor de idade, não era simples, sem contar que o seu pai era meu chefe! — resmungou contrariado percebendo o mínimo sorriso no canto dos lábios dela.
— Você poderia ter falado comigo! — ergueu a sobrancelha, notando ele revirar os olhos.
— Claro, você estava sempre sozinha não é? Ah, não, o Sanders parecia grudado em você! — falou debochado, Bella mordeu o lábio contendo a risada. — E não, isso não é ciúmes! — Volker concluiu antes que ela dissesse algo.
— Se você diz. — Bellatrix ergueu os braços em rendição, arrancando um sorriso dele.
— Nós precisamos confiar um no outro, eu não quero mais esconder as coisa de você! — Volker levantou esticando o braço para ela que o pegou, sentindo seu corpo ser puxado e ficando de pé, próximo demais dele. — O seu pai sabia de algo Trix, mas ele não teve tempo de me dizer o que, eu encontrei uma carta direcionada a mim depois de buscar informações nos pertences antigos dele que guardei. Eu não contei por não confiar nas pessoas a nossa volta, sinto como se estivéssemos sendo vigiados a todo momento e não confio nem em minha própria casa. — Declarou enfezado com aquela sensação angustiante que crescia em seu peito. Bellatrix o encarava inexpressível, o pai havia deixado uma carta para Volker, deveria ela acreditar pelo menos nele?
— Eu conheço um lugar. — Comentou recebendo a atenção dele — vamos para a minha casa. — Volker a olhou confuso.
— Seu apartamento não é seguro! Por que acha que te tiramos de lá? Existia escutas em sua casa. — Bellatrix o fitou surpresa, tinha noção que Volker escondia diversas informações dela, mas não esperava escutar aquilo. — Me desculpe se não conversamos sobre isso, eu gostaria de dizer tantas coisas para você, mas parece que estamos sempre encurralados e não quero que você se machuque por um descuido meu. — O tenente desviou o olhar e um suspiro pesado saiu por seus lábios. — Quando tudo isso acabar nós iremos conversar e eu não vou permitir que você fuja, não de novo. — Ele ergueu a mão tocando a bochecha dela com o polegar e aproximou ambos os corpos — eu nunca disse em voz alta o que realmente sinto por você, Bellatrix, e acho que já perdi tempo demais em não falar que eu sou e sempre fui completamente apaixonado por você. — Bella ergueu os olhos aos dele que pareciam queimar como brasa quente, as chamas irradiavam as íris castanhas e a respiração tornou-se pesada, principalmente ao vê-lo inclinar o rosto em direção a ela e unir seus lábios em um selinho demorado, como se apenas sentissem o toque de suas bocas. Um novo sentimento despertava dentro dela e engolia todo seu interior.
Volker encostou a testa na dela e mordeu o lábio inferior, fixando os olhos nela.
— Eu realmente quero fazer isso dar certo, mas não consigo se não souber o que você quer, eu não pretendo invadir o seu espaço até que me diga e para isso você tem que falar. O que você realmente deseja, Bella? — Bellatrix espalmou as mãos nos ombros do tenente e fixou o olhar nele, podia sentir a tensão que exalava dos músculos do policial.
Bella não queria mais esconder seus sentimentos.
— Eu quero estar ao seu lado — sussurrou baixo — quero poder ter você somente para mim. Os anos podem ter passado, mas o que eu sinto em relação a você nunca mudou. — Evidenciou, notando o sorriso tomá-lo. Em um movimento rápido Volker puxou Bellatrix para perto de si e as mãos do tenente tomaram o rosto dela, beijando-a com voracidade, a paixão exalava de ambos os corpos e a intensidade alastrava-se por seus corações que batiam descompassadamente a cada nova sensação ao estarem juntos, um sentimento que ficou guardado e que agora explodia tão ardentemente que nada mais parecia importar desde que estivessem juntos.
Volker sentia-se completo ao escutá-la, não perderia um segundo sequer afastado de Bella e faria de tudo para mantê-la segura. Estava completamente e perdidamente apaixonado por ela e faria questão de deixar aquilo bem claro, o vazio que sentia tornou-se preenchido e não abriria mão de tê-la em sua vida.
— Você sempre esteve em meus pensamentos, durante todos esses anos — contou, mordendo os lábios dela, afastando-se para ver as esferas cristalinas de Bellatrix brilharem e um sorriso grandioso tomá-la.
— Você é um sedutor, sabia disso? — exclamou com diversão — mas, quando nos reencontramos não pensei que você sentia algo por mim, principalmente por ver você e Savannah ainda tão próximos. — Uma careta se formou na fisionomia do tenente.
— Eu não tenho nada com Savannah há anos Bella. — Ela arqueou a sobrancelha, duvidando das palavras.
— Podia jurar que vocês tinham um relacionamento, ou algo assim e até cogitei de terem se casado. — Falou insegura, desviando os olhos do policial, porém a gargalhada que escutou a fez encará-lo novamente. Volker ria de suas palavras, Bella revirou os olhos, mas ele mantinha o sorriso largo.
— Eu me casar com Savannah? Acho que seria mais fácil se isso tivesse acontecido entre você e o Sanders. — Falou desgostoso ao imaginar a possibilidade — a única pessoa com quem eu quero me casar é você, Bellatrix. — Ele sorriu sacana, beijando-a — você sempre teve o meu coração, só não sabia disso e agora que te contei, eu estou totalmente entregue e em suas mãos. — Bella mordeu os lábios e sorriu, sentindo seu rosto esquentar com a declaração.
— Ainda precisamos falar sobre o meu pai. — Comentou, mudando o assunto que martelava em sua cabeça. Precisou inspirar fundo para focar no que precisavam fazer e não se perder nos olhos avelãs que a fitavam com tanta intensidade — eu não quis dizer o apartamento, mas minha verdadeira casa, a da minha adolescência e acredito que as informações no qual procuramos esteja lá, escondidas para que somente eu possa encontrar. Eu também recebi uma carta, nela ele deixou claro que existia outra pessoa, o que tinha na sua? — perguntou intrigada.
— Instruções, para encontrar os documentos e isso quer dizer que não estamos apenas atrás de Oliver, há outra pessoa, alguém do lado dele que pode estar mais perto do que imaginamos. — Volker proferiu, mas dizer que existia mais alguém envolvido, trazia a sensação de impotência por ainda não saber quem era. Bella sentiu a respiração pesar com a conclusão.
— Um outro assassino? — perguntou temerosa.
— Talvez, e essa pessoa pode ser qualquer um de nós. — Ela engoliu em seco, escutou o barulho de passos. — Aqui não é seguro, vamos conversar sobre isso na sua casa, quando estivermos sozinhos. — Volker decretou, Bella concordou e se afastou para pegar a mochila.
— Vamos voltar, ver o que John decidiu. — Ela disse por fim e ele a seguiu para saírem da sala.
Os dois se retiraram voltando para a sala principal onde todos estavam. John fez um sinal para que ambos se aproximassem.
A tela desceu pela extensão do teto revelando o bar onde Bellatrix se encontraria com Oliver, com as marcações dos pontos onde cada membro estaria posicionado.
— Nos encontraremos amanhã uma hora antes do combinado na carta para ter certeza que tudo está como planejado, Bellatrix usará uma escuta, Volker, Lucca e Savannah ficarão em um local distantes o suficiente de maneira que não sejam percebidos. Sales ficará com Gaspar na Van e eu com Scott no carro próximos a esquina, quero todos atentos e bem descansados, amanhã será nossa chance de conseguir qualquer informação e prender Jenkins, não podemos falhar! — John disse firme recebendo a atenção de todos. — Por hoje é isso, estão dispensados!
Bella despediu-se rapidamente de todos, seguindo Volker rumo ao carro.
— Nós nos encontraremos na janela do seu quarto, você descerá pela árvore que tem ao lado a meia noite. Não acenda as luzes e apenas pegue o necessário! — Volker abriu a porta para ela, dando a volta ao carro.
— Mas por que pela janela? — encarou ele confusa.
— Se existir mesmo alguém nos vigiando, Trix, essa pessoa saberá se sairmos pela porta da frente e se descobrir que você anda indo para sua antiga casa provavelmente colocará escutas no lugar e não queremos isso. — Ele respondeu firme, mantendo o olhar atento na rua.
— Você acha que fizeram isso na sua? — Volker maneou a cabeça em concordância — como?
— Eu acredito que a pessoa tenha grande acesso e facilidade com tecnologia, como Gaspar, talvez até melhor e não seria qualquer um a quebrar o sistema da minha casa, porém não é impossível. — O tenente decretou.
— Como pode ter tanta certeza? — ela questionou, analisando a fisionomia dura que ele mantinha em sua face.
— Eu sou observador Bella, por mais que as coisas estivessem em seu perfeito lugar nem tudo estava como deveria. — Sorriu sacana, ele sabia que alguém havia adentrado e teve a certeza ao ver a forma que estava a fotografia dele e Bellatrix deixada sobre a estante, tal recordação foi proposital, aquilo poderia ser o suficiente para que a pessoa a tocasse mesmo que minimamente. Não possuía digitais, ele tinha verificado, agora precisaria encontrar as escutas deixadas.
Volker estacionou o carro na garagem e olhou uma última vez para Bella.
— Faça o que eu disse, estarei te esperando.
— Mas a árvore? Sério? — o olhou aflita — e se eu cair?
— Eu vou estar lá para te segurar, agora vamos Trix, quanto antes tivermos essa conversa, melhor. — As mãos dele afagaram os cabelos loiros, inclinando o rosto e depositando um beijo carinhoso sobre a testa dela.
O barulho da porta batendo a fez suspirar, saindo e nada disseram ao entrar apenas desejando boa noite com ambos indo para seus quartos.
As mãos dela pareciam tremer em nervosismo, colocariam as cartas na mesa durante aquela noite. As mentiras e omissões entre eles acabariam.
Apagou a luz se deitando, manteve o quarto em completo breu e apenas esperando o horário marcado. Armou o amontoado de travesseiros ao seu lado de forma a parecer estar dormindo, odiava a sensação de estar sendo vigiada. Convivia com ela durante toda a sua vida, mas agora tinha certeza de que alguém espreitava cada um de seus passos em meio as sombras.
Sentiu o celular vibrar abaixo do travesseiro, desligando-o, levantou-se tentando fazer o menor movimento possível para sair da cama. Atravessou a cortina, colocando uma perna de cada vez para fora da janela que manteve aberta, sentia o vento frio bater em seu corpo e bagunçar seus cabelos.
Bellatrix precisou inspirar fundo e se segurar firmemente nos tijolos do telhado, sentando-se e engatinhando para chegar próximo à árvore.
O nervosismo crescia por cada célula de seu corpo ao ver a distância do galho mais próximo para o telhado, mataria Volker se sobrevivesse àquilo, ela inspirou fundo esticando a perna tentando alcançar. Levou o corpo para a borda, seu pé tocou o galho e preparou-se para pular, Bella fechou os olhos por alguns segundos tomando a coragem necessária ao se jogar rente a árvore. Seu corpo colidiu contra o tronco agarrando firme ao enlaçar os braços, tentando se equilibrar.
— Você já foi melhor nisso, não acredito que está com medo de descer uma árvore! — a voz masculina ecoou, Bellatrix desceu o olhar furiosa para ele, contudo ela se arrependeu amargamente ao ver a altura.
— Eu odeio você! — exclamou irada escutando a risada dele.
— Vamos Bella, eu disse que qualquer coisa te seguro! — Volker estendeu o braço sorrindo maliciosamente.
— Eu sei me virar! — rebateu, esticando a perna para chegar ao outro galho segurando a mão firme no que estava, descendo aos poucos. — Não acredito que me fez concordar com uma loucura dessas!
— É por um bom propósito!
— Espero que seja, ou não pensaria duas vezes antes de ir para cima de você! — ela reclamou, sentindo finalmente o chão tocar seus pés, suspirando aliviada.
— Não foi tão ruim assim. — Bella o encarou desacreditada, recebendo um sorriso presunçoso. — Vamos logo!
Volker saiu na frente, andando para um ponto mais afastado da casa sendo seguido por ela.
— Onde está seu carro? — perguntou, buscando-o com os olhos.
— Na garagem. — Bellatrix o encarou confusa. — Não vamos com o meu carro.
— Como então? — ele sorriu ladino, parando.
— Assim! — o tenente disse divertido ao ver a expressão de Bellatrix que analisava a moto ao seu lado.
— Eu vou ter que subir nisso? — perguntou incrédula.
— Vai. — A observou revirar os olhos. Volker pegou o capacete colocando-o em Bellatrix e ajeitando. — Assim é melhor. — Ele segurou o dele, encaixando e se sentando na moto.
— Não tem outra opção? — ela insistiu, mesmo já sabendo a resposta.
— Se depender de mim, não! — sorriu maliciosamente. — Vamos Bella!
Bellatrix mordeu o interior da bochecha passando a perna por cima da moto e se posicionando atrás de Volker, segurando a lateral do corpo dele.
— Segure mais firme! — ele puxou os braços dela de forma a envolver sua cintura. — Vai precisar. — Completou, dando partida.
O abraço se tornou forte, unindo o corpo dela rente ao de Volker quando sentiu a velocidade, contendo o grito preso em sua garganta. O vento ricocheteava contra os corpos de ambos.
— Apenas relaxe, a cidade pode ser linda vista de noite. — Escutou a voz dele sair abafada, virando o rosto minimamente para observar.
Os prédios e casas passavam em segundos por seus olhos, a rua parecia se tornar um borrão. As árvores em flashes, contudo, as luzes iluminadas tornavam o ambiente lindo e a sensação de liberdade parecia queimar em suas veias.
Pararam em frente ao casarão, Bellatrix saiu na frente sentindo Volker acompanhá-la, colocou o dedo para que a porta se abrisse e quando entraram passou os olhos rapidamente pelo local certificando-se de que estava do mesmo modo que antes. Escutou o barulho da porta ser trancada e sentou-se no sofá à espera de Volker e ao fazê-lo ambos se olharam procurando as palavras certas a serem ditas.
Ele retirou o papel onde continha a carta de Roger entregando para Bellatrix que fez o mesmo com a que possuía. O olhar dela se direcionou para a letra do falecido pai.
"Descobri informações valiosas a respeito do caso de Jenkins, escrevi esta carta por não confiar em dizer pessoalmente, estava analisando o caso individualmente. Ao estudar os corpos e a forma como foram realizados os assassinatos eu encontrei uma diferença em relação a costura, no tornozelo das vítimas sempre há uma costura com o número que indica o total de assassinatos, contudo, ela é diferente da rosa costurada na garganta.
No tornozelo eu analisei e descobri ser uma pessoa canhota, Oliver Jenkins, é canhoto, mas a rosa foi feito por alguém destro, há dois assassinos. Talvez eles trabalhem juntos, encontrei informações que podem nos levar para o segundo, as deixei no cofre atrás da parede no quarto de Bellatrix, a proteja com a sua vida, isso pode ir muito mais além do que imaginamos!"
— Outro assassino... — Sua voz saiu em um sussurro quase inaudível, ergueu o olhar encontrando Volker a observando. — Vamos pegar o que ele encontrou! — ela levantou seguindo para o quarto, sentindo ele segui-la. Sem ambos proferirem nenhuma palavra, não era necessário.
Seu corpo parecia esfriar andando por aquela casa, o ranger das escadas ao subirem, os quadros familiares pendurados nas paredes e os sorrisos firmados nos lábios de seus pais. As lembranças pareciam um tornado sem fim.
A casa onde tinha passado grande parte da infância e o restante da adolescência, possuía tantas marcas em seu coração. Se fechasse os olhos escutaria claramente a risada do pai, ou as discussões da mãe, os encontros e as visitas de Devon, além da antiga amizade com os vizinhos, porém não tinha prazer em se recordar de sua vida e os momentos solitários que passou após a morte do pai.
Pararam em frente ao quarto, adentrando enquanto a ansiedade corroía seu interior.
Verdades estavam prestes a serem expostas e aquilo aumentava o seu medo, algumas verdades podem destruir as pessoas.
Suas mãos tocaram a porcelana sobre o criado-mudo, abrindo o compartimento escondido em sua parede e revelando o cofre. Seus dedos tremiam ao tocar o metal gélido inserindo a senha e colocando a íris para que este destrancasse, escutando o clique que sinalizava a sua abertura. Seus olhos focaram na pasta azul do lado de dentro, a mesma pasta de anos atrás.
Após pegá-la sentou-se na cama sentindo o colchão afundar quando Volker o fez, ficando ao seu lado.
O silêncio parecia predominar no local, segurava o objeto com tanto apreço e inquietação e ao abrir a pasta as fotos dos corpos de todas as vítimas estavam expostos, apagados pela velhice. Anotações marcadas estavam presentes no decorrer, além de informações sobre o envolvimento de alguém com Oliver, contudo duas fotos chamaram a atenção dos dois.
Na primeira estava Bellatrix e Devon, tiradas na escola com alguns alunos ao fundo ambos estavam abraçados e sorriam largamente, na segunda havia outro menino, ela o conhecia.
— Quem é esse? — Volker analisou a fotografia lendo as marcações.
— Éramos vizinhos, ele morava na casa ao lado, mas simplesmente sumiu após a morte dos pais. — Ele segurou a foto onde estava Devon virando-a e lendo o que tinha escrito em voz alta.
— Ligações familiares, próximo demais de Bellatrix, um amigo ou um inimigo. — Ergueu o olhar fitando a mulher perplexo. — Devon? — disse acusatório.
— Ele nunca faria isso, você não pode afirmar nada! É apenas uma foto! — Bellatrix rebateu enfurecida.
— Claramente quer dizer algo! — ela encarou a imagem, o pai não poderia estar acusando Devon, de todas as pessoas ele nunca faria isso.
— Vamos ver o restante! — decidiu retirando as papeladas.
A pasta continha diversas anotações, possuía fotos, endereços, números, mas nenhum nome concreto. Uma informação chamou sua atenção, a palavra traição destacada sobre a foto de sua mãe.
— Um caso? — perguntou perplexa, Volker leu apenas meneando a cabeça.
— Talvez sua mãe tivesse um amante, um filho fora do casamento? Ou alguém que estava sempre em sua casa. — Por um momento a família de Devon passou pela mente dela, mas a ideia lhe parecia insana demais para ser real. — Vou levar isso comigo, investigarei a fundo para ter mais certeza. — O tenente declarou, guardando o documento na mochila que tinha levado consigo.
— No seu escritório?
— Não, na delegacia, na minha sala onde tenho certeza que não há nada! — respondeu firme. — Quanto a casa, mandarei Gaspar verificar e ver se encontra alguma interferência. — Ela concordou olhando para as mãos, sua cabeça parecia explodir. — Não temos certeza de nada Bella, vamos descobrir algo, não se cobre tanto! — as mãos dele seguraram as dela, confortando-a, sentindo um peso sair de seu peito.
— Obrigada... — Proferiu baixo, Volker sorriu a abraçando de lado, afagando os cabelos loiros em carinho.
— Vamos para casa, amanhã será um dia longo e precisamos estar descansados. — Bellatrix se levantou saindo do quarto e observando sua antiga residência, seu peito se comprimia ao se lembrar do passado.
Naquela época seu coração podia ser considerado aconchegante e completo, mas agora parada diante daquele corredor analisando fotografias envelhecidas e manchadas percebia que tinha construído em sua cabeça memórias que considerava felizes naquela casa, mas que estavam longe de serem assim. Tinham se tornado devaneios de sua cabeça, uma esperança vazia que tinha cultivado durante aqueles anos. Pensamentos que passaram a assombrá-la e queria acreditar que não estava sendo enganada por falsas palavras ou usada por aqueles que amava.
Volker parou ao lado dela e segurou a mão de Bellatrix entrelaçando seus dedos, aquela sensação de paz os preencheu com o mínimo toque. Não disseram nada durante a volta, presos em seus próprios pensamentos.
O policial ajudou ela a retornar para o quarto e indo para o seu. Os corpos estavam pesados e sedentos por descanso, mas as descobertas os deixavam inquietos, nenhum dos dois sabia no que acreditar. Porém, cada um tinha sua própria opinião e talvez alguém estivesse drasticamente errado.
E esse mínimo erro poderia levá-los à ruína, um passo em falso e seriam destroçados, jogados ao chão e massacrados.
A rainha protege o rei até o fim, mas seria ele capaz de protegê-la?
Bellatrix respirou fundo se obrigando a dormir, amanhã seria a noite que determinaria como aquele jogo seguiria, mas estavam sempre um passo atrás.
As cordas amarradas em seus braços e pernas, apenas agindo como as marionetes nas mãos daquele que estava a sorrir do outro lado. Analisando qual seria sua próxima cartada.
Agora eu fiquei curiosa para saber, o que vocês acharam dessas novas descobertas? Parece que Devon está na berlinda.
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Beijos, Amalia Di
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