CINCO - MARCAS CRAVADAS
𝙲𝙰𝙿𝙸́𝚃𝚄𝙻𝙾 𝙲𝙸𝙽𝙲𝙾
𝕄𝔸ℝℂ𝔸𝕊 ℂℝ𝔸𝕍𝔸𝔻𝔸𝕊
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Março, de 2070 — Manhattan, Nova Iorque, dias atuais.
A noite deu lugar ao dia amanhecendo a agitada manhã de Manhattan. O sol entrava pela janela do quarto batendo contra o rosto de Bellatrix que se revirou na cama cobrindo-se, tentando evitar a claridade que atingia sua visão e como um filme o que aconteceu na noite anterior passou por sua cabeça.
Um suspiro pesado saiu pelos lábios, aquilo não deveria ter acontecido, sentimentos que estavam trancados dentro do peito estavam voltando à tona. Colocou o travesseiro sobre o rosto e gritou, a voz abafada pelo tecido macio.
Perguntava-se se aquilo havia significado algo para ele, como tinha significado para ela, tantas dúvidas passavam pela sua cabeça, mais e mais questionamentos. O que vinha evitando por anos agora a jogava contra a parede.
A sensação do peito subindo e descendo tão rápido, permanecia, as imagens vivas martelavam sua cabeça. A respiração acelerada clamando por ar e Volker não estava diferente. O corpo dela estava queimando, a pele quente e as bochechas coradas sabia que se continuasse o beijando as coisas não ficariam apenas naquilo, ela mordeu os lábios ao vê-lo olhá-la como se pudesse despi-la.
Depois que se beijaram pela primeira vez foi como se simplesmente não pudessem parar, entretanto, com toda aquela chuva tiveram que correr para o lugar mais próximo que estivesse coberto. Como adolescentes correram de mãos dadas, debaixo da chuva que se intensificava, até encontrarem abrigo em uma sala nos fundos do café que parecia um velho estoque no qual estava abandonado há algum tempo, mas Volker não se importou com a poeira do local quando a puxou para dentro do estabelecimento, fechando a porta em seguida.
Antes que pudesse raciocinar, os lábios macios dele já estavam colados aos dela novamente, suas costas bateram contra a parede fria. Volker levou as mãos para os cabelos de Bellatrix, os puxando, juntando ainda mais seus rostos.
As mãos dela foram de encontro aos ombros dele, apertando-o e passando por toda extensão de suas costas, adentrando por debaixo da camiseta e com o toque gélido pode senti-lo se contrair fazendo-a sorrir ao romperem o beijo.
Quis puxá-lo para perto mais uma vez, mas os lábios dele se concentraram no pescoço da mulher fazendo um gemido escapar por sua boca, no mesmo instante sentiu uma das mãos dele descer por toda lateral do seu corpo arrepiando-se com o contato dos dedos na sua pele. A cada toque todo o corpo dela queimava em chamas, adentrando a blusa social de Bella, as mãos de Volker continuaram subindo acariciando a barriga e chegando ao tecido do sutiã apertando os seios arrancando mais um gemido dos lábios dela que arfou.
A essa altura arranhar as costas do policial e apertá-lo não parecia o suficiente, ela precisava dele, precisava senti-lo e como se Volker lesse seus pensamentos uniu suas bocas furiosamente, as línguas dançavam em perfeita sintonia se deliciando na união de seus lábios. Quando os olhares se encontraram era como se uma explosão de sentimentos fosse exposta.
Com um aperto forte na bunda dela, Volker ergueu o corpo de Bella, a fazendo entrelaçar as pernas em torno da cintura do tenente, as mãos hábeis dele voltaram a agir de forma ainda mais voraz. Ela não queria pensar no que aquelas ações iriam gerar ou no fato de estarem em um local público, onde a qualquer momento tinha a possibilidade de alguém entrar, apenas deixaria acontecer.
Viveria aquilo sem arrependimentos, fechou os olhos quando Volker massageou o seu seio direito voltando a beijá-la no pescoço, soltando um gemido mais alto dos lábios de Bellatrix.
— Olhe para mim Bella. — A voz dele transbordava desejo.
Ela mordeu os lábios, sentiu sua intimidade pulsar e ao ouvir a voz rouca de Volker isso fazia ela querê-lo mais, abriu os olhos erguendo-os para observá-lo. Sentiu todo o corpo se contrair ao sentir a mão dele adentrar por debaixo de sua saia tocando o tecido molhado de sua calcinha, foi impossível conter o gemido de prazer.
— Cacete! Você está tão pronta para eu te fazer ser minha. — Ele murmurou contra os lábios dela, o arrepio tomou cada parte do corpo dela.
— Então me faça sua! — falou firme com seu corpo em chamas, ansiando por mais.
Viu o brilho no olhar do homem, às mãos do policial tocaram sua intimidade por cima do tecido de renda. Bellatrix jogou a cabeça para trás mordendo os lábios, mas algo começou a vibrar no bolso dele, estridentemente, ele ignorou quando então tocou mais uma vez e outra.
— Deve ser importante. — Ela comentou incerta do que dizer.
— Não mais do que você. — Volker disse bufando.
O olhou compreensiva notando ele pegar o celular murmurando coisas desconexas, mas ao desligar e ver o modo que Volker a olhava... Bellatrix sabia, desenlaçou as pernas da cintura dele se firmando no chão, ao mesmo tempo em que sentiu suas pernas vacilarem por alguns segundos.
— Você tem que ir. — Constatou.
— Sim. — Um suspiro pesado saiu dos lábios dele.
— Tudo bem. — Sorriu, ele a olhou intrigado. — Eu vou pegar um táxi para ir pra casa. — Disse calmamente, embora seu interior estivesse explodindo.
— Eu deixo você lá. — Ela mordeu os lábios pensando se aquilo seria uma boa ideia, mas desistiu dando de ombros e seguindo-o até o carro.
Durante o percurso nenhum dos dois disse nada, do mesmo jeito que ela não o fez ao sair do carro e entrar no prédio chegando ao seu apartamento. Constatou que já se passavam das 20h e se jogou na cama fechando os olhos, pensando em como as coisas haviam chegado naquele ponto.
Levantou da cama indo para o banheiro tentando esquecer tais lembranças da noite passada e se analisou no espelho, sentia como se ela não estivesse em seu próprio reflexo, as olheiras profundas embaixo dos olhos, a pele extremamente pálida. Apertou a pia até seus dedos começarem a doer, respirando fundo, parecia como se outra pessoa a olhasse, não reconhecendo a mulher parada à sua frente, fraca demais, constatou.
— Você irá erguer essa cabeça e não pensar, apenas faça o que tiver que ser feito! — bradou consigo, não poderia se deixar levar mais uma vez por aquelas emoções, precisava manter o controle como fez durante todos aqueles anos.
Lavou o rosto e se preparou para mais um dia que viria.
Visitou Margorit, tendo que morder a língua para não ser desrespeitosa aquilo mais parecia uma conversa sobre ela do que sobre o caso da mulher e do marido que havia a agredido por estar bêbado, o que se tornou cotidiano. O medo de Bella era a situação chegar em algo extremo após as ameaças proferidas pelo cônjuge para a senhora que havia sentenciado a decisão de divórcio, mas ao recordar do sobrenome de Bellatrix e associar ao noticiário que passava diariamente sobre a fuga de Jenkins toda a conversa virou uma consulta sobre sua vida pessoal e a curiosidade da mulher.
Ela só queria terminar seu trabalho e ir embora.
— Mas você não soube querida? — perguntou preocupada, observando-a com seus apagados olhos verdes, a pele que uma vez tinha seu bronzeado tão lindo e chamativo agora dava lugar para a palidez e profundidade de suas dores que refletiam em seu olhar completamente vazio.
— Sim, senhora Margorit. Eu já acompanhei tudo o que foi relatado na televisão, mas ele não teria como chegar até a cidade e há indícios de que possa ter se afogado durante a fuga. — Disse impassível.
— Não querida! A polícia já confirmou que não era ele e sim, talvez, alguém que tenha estado de frente com esse monstro e de acordo com as notícias ele já deve estar muito longe de Rikers Island. — Bellatrix observou alarmada a fisionomia desgastada da senhora de cabelos cacheados e pretos que possuíam alguns fios brancos, aquilo não poderia ser verdade.
— Bom... Senhora Margorit, tenho certeza que a polícia tomará as devidas medidas sobre isso, agora eu preciso ir, retomaremos o caso da senhora em outro dia. — Deu um breve sorriso e se levantou, apertando a mão calejada da mulher, sendo acompanhada até a porta.
— Tome muito cuidado querida, esse mundo de hoje está tão perigoso, digo isso por experiência própria. — Falou terna com a amargura refletida.
— Tomarei, obrigada pela preocupação e se cuide também. — Respondeu lançando um último sorriso para a mulher.
Acenou com a cabeça virando-se e indo em direção a seu carro, assim que viu a porta da casa de Margorit se fechar e bateu a cabeça no volante. Sentia a garganta arder, queria fugir e largar sua vida para trás, ir embora para o lugar mais longe possível e parecia a opção mais viável para toda aquela loucura, escutou o celular tocar e atendeu sem nem sequer ler quem era.
— Você está ocupada agora? — escutou a voz rouca do outro lado e como resposta seu coração faltaria para sair do peito.
— Depende do que você estiver planejando. — Respondeu tentando manter sua sanidade.
— Venha para a delegacia, estarei te esperando! — Volker disse desligando sem dar tempo para ela formular uma resposta, perguntando se deveria ir.
A noite passada havia sido uma das melhores em muito tempo, por mais que negasse aquilo. Mas, com ela, grandes dúvidas surgiram em sua mente.
Bellatrix estacionou em frente à delegacia ficando insegura, ela não sabia o que lhe esperava do outro lado e rezava para que fosse algo bom, mesmo que em seu subconsciente soubesse que não era. Saiu do carro adentrando a delegacia observando a mesma secretária, mas ao ver Bella a garota apontou para o elevador fazendo o número cinco com as mãos, a menina balançou as mãos para que ela fosse logo.
— "Isso não é normal!" — pensou por alguns segundos.
Caminhou em direção ao elevador e cogitou a hipótese de voltar atrás, uma covarde, respirou fundo ao descer no andar e ir até a sala batendo na porta. Esperou alguns segundos escutando um ''entre'' e ao fazê-lo sua expressão tornou-se surpresa ao reparar em todos os presentes na sala, passou os olhos por toda extensão do local avistando Scott, Gaspar, Sales, Savannah, John e por fim ele, Volker.
— Espero não estar atrapalhando, eu volto outra hora. — Falou incerta se deveria dar as costas para todos ou adentrar.
Bellatrix não possuía ideia de como agir com aquela situação, não cogitava que iria encontrar todos. Eles estavam em alguma reunião, tinha certeza. Quis ralhar com a secretária por não tê-la avisado. Teria ficado do lado de fora ou viria em outra hora, seus pensamentos foram cortados ao ouvir a voz de John.
— Parece que algumas coisas nunca mudam. — Ela deu um sorriso envergonhada colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha e jurou ter visto Volker sorrir, mas não deveria ser para ela, não existia motivo para tal. — Mas, estávamos esperando você.
— Eu? — o encarou confusa.
— Sim, sente-se, por favor. — John respondeu indicando os lugares vazios.
Ela andou em direção a uma das cadeiras, porém, o mais longe possível de Volker, ficando entre Gaspar e Sales.
Arriscaria dizer que ambos pareciam mais bonitos do que costumavam ser. Gaspar possuía cabelos castanhos na altura de seus ombros com uma pequena franja sobre suas sobrancelhas, os olhos avelãs em contraste com a pele continuavam marcantes, motivo para fazer qualquer mulher suspirar. Ele era a pessoa mais extrovertida do grupo, buscava sempre manter os outros motivados, como se soubesse o momento certo para isso.
Sales era o seu oposto, diferente de Gaspar – que fazia amizades facilmente – o loiro evitava fazê-las, estando sempre com algum livro em mãos ou pensando em alguma ideia que seria de grande utilidade para a equipe. Seu cabelo agora possuíam cachos médios, trazendo um ar angelical, os olhos verdes intensos e vívidos, mas cobertos por seus óculos de grau que lhe davam um ar intelectual que Bellatrix sempre adorou.
Parecia que o tempo havia feito bem para todos eles, ela estava esperando que John prosseguisse, entretanto não foi ele que o fez e sim Volker.
— Certo, antes de começar quero que você preste bastante atenção em tudo o que eu falar e não surte. — Bella franziu o cenho, não entendendo o porquê ela surtaria.
— Você não está falando com nenhuma criança, Reed. — Disse de forma séria, cruzando as mãos em cima do colo. — Agora vá direto ao assunto. — Volker apenas concordou com a cabeça e ela pode ver com o canto dos olhos a expressão de satisfação de John.
— Todos nós sabemos que Oliver Jenkins fugiu e tudo indica que ele não está mais próximo de Rikers Island e provavelmente está mais próximo do que imaginamos. — Ela sentiu a garganta fechar, tentando ao máximo não demonstrar qualquer tipo de reação, mordendo o interior da bochecha. — A questão é que nós encontramos um corpo e ao lado dele tinha uma flor, uma rosa branca, Jenkins quando matava suas vítimas deixava uma rosa vermelha e não branca, entretanto, a questão aqui é que com essa flor branca havia um bilhete, um bilhete endereçado para você Bellatrix... — Percebeu a voz de Volker sair mais baixa ao dizer o final.
Sua visão se tornou um completo borrão, aquilo não poderia ser verdade depois de anos tentando superar e enterrar todas as malditas lembranças em sua mente buscou viver sem ter que recordar todo o ocorrido e agora eles jogavam essa bomba sobre ela. Perguntava-se o que eles queriam com aquilo, levando-a para aquele lugar que por mais que tivesse lhe dado lindas lembranças não se comparavam em nada com as piores que havia adquirido.
Volker tinha o olhar fixo em sua direção esperando o momento que ela fosse desabar, porém aquilo não viria a acontecer. Bellatrix havia se preparado psicologicamente durante anos para o pior e a situação era ainda maior do que tudo que se passou pela sua cabeça.
— O que dizia no bilhete? — perguntou intrigada.
Sentia-se estranha, afinal, a flor ser branca tinha um motivo, sabia disso pelo simples fato de aquela ser a sua cor favorita, mas como Jenkins poderia saber disso? Não havia como, pelo menos foi nisso que ela queria acreditar.
— Acho melhor você não ver. — Savannah a encarou retraída a deixando mais perplexa.
— Discordo, eu quero ver, eu tenho o direito de ver. — Falou decisiva.
— Bel... — A voz preocupada de Sales fez seu coração se apertar contra o peito.
Sales lhe encarava complacente, Bellatrix apenas manteve o olhar firme em sua direção que levantou-se vencido caminhando em direção a uma gaveta e tirando de lá um saco transparente com um envelope dentro se sentado no seu lugar novamente.
— Há luvas na gaveta ao lado. — Sales murmurou contrariado.
Ela as pegou colocando e segurando o saco, abrindo-o, retirou o envelope. Sentia que ao ler a mensagem seria como se algo de muito ruim pudesse lhe acontecer, como se a sua vida a partir daquele momento voltasse a ter o seu inferno particular. Ao tirar a folha de dentro e abri-la, sua respiração falhou e naquele pedaço de papel estava o que ela vinha evitando durante todo esse tempo.
"Queria deixar um presente para a mais linda de todas as flores no qual pude ter um vislumbre de ver pessoalmente, espero ter acertado na cor da rosa branca, afinal, era o que eu me recordava. Da última vez lembro-me de vê-la colhendo flores brancas, tão linda e tão graciosa. Esse momento nunca saiu de minha mente.
O Jogo está apenas começando, estou ansioso para dar o próximo passo, aguardo ansiosamente por nosso reencontro.
Para minha rosa, Bellatrix Mitchell."
Ao terminar de ler ficou encarando a folha por alguns segundos até guardá-la e entregar a Sales que a encarava preocupado, tirou as luvas ficando absorta em seus próprios pensamentos despertando ao escutar a voz do tenente.
— Você sabe o que ele quis dizer com o fato de se lembrar que flores brancas são as suas favoritas? — Reed perguntou.
Volker a analisava de forma inquisitória, mas ela sabia muito bem o que o assassino queria dizer, contudo não conseguia imaginar que naquele dia Oliver estaria lá a observando, questionava-se sobre o que mais ele sabia sobre ela.
— Sim. — Ela murmurou baixo, mas audível, viu a surpresa nos olhos de Sales — mas, eu estava sozinha nesse dia. — Completou, olhando para as mãos suspirando, ela se sentia uma idiota ao imaginar que aquele homem estava próximo o suficiente dela sem ao menos imaginar.
— Pode nos contar que dia foi esse? — John a olhou preocupado, ela meneou a cabeça se recordando.
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Junho, de 2058 — Manhattan, Nova Iorque.
Bellatrix havia acabado de sair do colégio e caminhava ao lado de Devon em direção ao ponto de ônibus, quando uma garota os parou no meio do caminho para falar com o amigo. Cinco minutos acabaram sendo o suficiente para ela ver que estava de vela e continuar seu trajeto sozinha.
Pensava nos últimos dias e sabia que as coisas estavam difíceis em casa, seu pai ficava até tarde no trabalho e sua mãe atolada com as coisas do hospital. Dona Eleonor era médica, cirurgiã para ser mais exata, isso tomava todo o tempo da matriarca e às vezes Bellatrix tinha que ficar sozinha em casa, mas desde o caso do serial killer conhecido como o assassino da rosa seu pai lhe obrigava a ficar com ele até irem embora para casa. Bellatrix entendia a preocupação do mais velho, porém às vezes sentia-se sufocada e ao mesmo tempo cansada como se não dormisse bem há dias.
Encurralada em seu próprio medo e pesares só de imaginar que algo de ruim poderia acontecer ao pai, ou alguém próximo dela.
Enquanto caminhava para o ponto de ônibus avistou uma roseira tão linda que não pensou duas vezes em pegar algumas rosas brancas para levar, não era a época daquelas rosas estarem florescendo e mesmo assim no meio de toda aquela tempestade elas traziam sua beleza consigo para todos verem. Sorriu extasiada e arrumou a mochila nos ombros para ir para casa, mas uma sensação estranha atingiu seu corpo como se alguém a observasse passou os olhos por todo o local, todavia não encontrou ninguém, deveria ser coisa de sua cabeça.
Retornou a andar em direção ao ponto, mas não demorou para escutar Devon gritar seu nome ao longe e observá-lo correr até sua direção passando os braços por cima dos ombros dela, sorrindo divertido.
— Pensou que eu fosse te abandonar, né? — perguntou maroto a fazendo rir. — Isso jamais! Por garota alguma! — piscou para a menina que balançou a cabeça sorrindo sentindo as bochechas levemente coradas.
— Você não existe mesmo. — Disse ainda com o sorriso entre seus lábios, estar com Devon era assim, acolhedor e aconchegante.
Os dois foram juntos naquele dia para suas respectivas casas.
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Março, de 2070 — Manhattan, Nova Iorque, dias atuais.
Silêncio, assim se seguiu, como se todos pensassem em uma explicação para aquilo buscando chegar em alguma conclusão do motivo de Oliver estar interessado em Bellatrix, mas não existia algo concreto ou plausível o suficiente para arquitetar alguma ideia, não até o momento.
— Você ainda mantém contato com Devon. — John comentou com o tom de voz feliz, ela entendia o motivo, afinal havia se afastado de todos conhecidos relacionados à sua vida naquela época, mas não de Devon — e vocês se encontram com frequência? — perguntou curioso.
— Quase todos os dias praticamente, depois que terminamos o colegial fomos para a mesma faculdade e por incrível que pareça fizemos o mesmo curso. — Sorriu, Bella gostava de relembrar dessa época, Devon havia feito um bem enorme para ela. Como sua própria âncora, o farol em meio a escuridão lhe guiando em meio a todos os seus medos.
— E ele sabe sobre a fuga de Oliver? — Bella balançou a cabeça em confirmação.
— Ele me procurou assim que ficou sabendo e me ofereceu para ficar em sua casa alguns dias até a poeira abaixar. — Comentou ao se lembrar do desespero na voz do amigo depois de assistir ao noticiário.
Bellatrix olhou apenas para John sentindo-se estranha, principalmente com os olhares de Volker sobre ela sendo perceptível a expressão fechada do policial e observou ele fechar as mãos duramente com o olhar nem um pouco amigável ao escutar o que ela acabara de falar.
— Isso é bom. — Savannah comentou com um sorriso de escárnio nos lábios. — Assim ela não ficaria sozinha em casa e não correria risco algum. — Bellatrix quis rir com aquela falsa preocupação vindo da ruiva.
— E você acredita mesmo que indo para casa dele ela estaria segura? — Volker tinha o olhar firme, o maxilar travado e o tom de voz extremamente raivoso, ela se questionava o porquê da súbita mudança.
— Sim, eu acho, antes na casa de alguém do que sozinha. — Savannah respondeu irritada.
— De qualquer forma. — Bella interferiu, cortando a conversa e recebendo a devida atenção de todos. — Eu continuo no meu prédio e acredito que a segurança dele seja boa e outra, eu não fico sozinha o tempo todo, caso não saibam eu trabalho e ele me ocupa grande parte do meu dia volto para casa apenas para dormir e não vou sozinha também. — Respondeu por fim, tentando controlar a raiva em sua voz, achava ridículo estarem a tratando como uma adolescente.
Preferiu omitir a parte que voltava quase todos os dias com Devon e que este depois de saber do ocorrido sobre Oliver se prontificou a ir buscá-la no trabalho, inclusive dormia em sua casa em algumas noites, mas ao notar a fisionomia séria de Volker evitou citar o nome do melhor amigo mais uma vez.
— Acredito que por hora o que devemos fazer é nos mantermos atentos a qualquer mínimo detalhe que for e caso ele tente se aproximar de Bellatrix tomarmos as devidas prevenções, mas não acho que esse seja o caso agora, ele está voltando à tona e não irá dar as caras assim tão fácil. — John encerrou o assunto e levantou-se se direcionando a ela — se acontecer qualquer coisa não pense duas vezes antes de me ligar! — O mais velho falou de forma firme e direta, ela concordou vendo-o se despedir e sair da sala. Ela faria o mesmo, se levantou pronta para ir embora o que foi em vão ao escutar aquela voz esganiçada.
— Você não me parece muito preocupada. — Savannah comentou, aproximando-se sorrateiramente.
— Você queria que eu fizesse o que? Saísse por aí gritando ou me trancasse em casa? Convenhamos, Savannah, você já foi melhor nisso. — A olhou inexpressiva, era incrível como a mulher ainda se dava ao luxo de tirá-la do sério em meio a tudo acontecendo.
— Podíamos sair para beber! — A voz animada de Gaspar cortou o ambiente pesado chamando a atenção para ele. Scott e Sales explodiram em gargalhadas e Bella teria rido ao perceber a intenção dele de acabar com aquele clima. — O que? Ah, qual é! Faz tempos que não vemos a Bella e olhe só! Agora ela tem idade para encher a cara com a gente! — exclamou divertido, ela balançou a cabeça rindo, céus sabia que sentia saudades daquilo.
— Eu não vejo motivos para não irmos. — Scott afirmou e Sales acenou de forma positiva.
— Que seja. — Savannah falou carrancuda saindo da sala.
— Por mim não há problema algum, só ver algum dia e me avisar que irei. — Bellatrix sorriu doce e viu o sorriso de Gaspar se alargar — como Sales dizia: é sempre bom pôr as paranoias em dia. — Sales riu concordando e feliz por ela ainda se lembrar daquilo. — Agora eu tenho que ir estou atrasada, mas Scott tem o meu número, não hesitem de ligar. — Todos balançaram a cabeça confirmando e ela se despediu saindo.
Passou pela porta caminhando tranquilamente em direção à saída quando sentiu alguém empurrá-la para dentro de uma sala abafando seu grito com a mão, ouviu o barulho da porta sendo trancada atrás de seu corpo e ao perceber quem era seus olhos mudaram de assustados para enfurecidos. Ela queria acertá-lo de qualquer maneira, cerrando as mãos em punhos e distribuindo-os sobre o peitoral do tenente, Volker a soltou.
— Seu idiota! — Exclamou enfurecida. — Quem você pensa que é para fazer isso?! — continuava a batê-lo, mas suas mãos foram presas pelas dele de forma tão fácil. Volker a puxou em sua direção colando seus corpos. A respiração dela ficou descompassada.
— E quem você pensou que seria? — perguntou ladino fazendo-a bufar, tentou se soltar das mãos do homem, o que foi completamente em vão. — Como você está se sentindo? — perguntou transparecendo preocupação no olhar.
— Eu estou bem Volker. — Falou baixo, desviando os olhos para o chão. Os dedos dele tocaram delicadamente o rosto de Bellatrix o erguendo.
— Mesmo? Você sabe que pode conversar comigo. — Ele declarou, Bellatrix prendeu a respiração ao sentir a proximidade de seus corpos.
— Mesmo, não precisa se preocupar comigo. — Disse firme, Volker mordeu o lábio inferior analisando o rosto dela.
— Mas eu me preocupo. — Confidenciou — acho que precisamos conversar sobre a noite passada, não? — Volker falou com um sorriso no canto de seus lábios carnudos, lábios que pareciam tão convidativos a serem beijados.
— Conversar? Sobre o que? Seja mais específico Reed, eu ainda não sei ler pensamentos. — Bella murmurou contrariada notando o sorriso se formar nos lábios do moreno que os mordeu, ele abaixou o olhar para a boca de Bellatrix. Sentia a tensão sexual entre ambos, sendo o fim para toda a sanidade dela tê-lo tão próximo novamente.
— Você tem certeza que não sabe Mitchell? Quer que eu refresque a sua memória? — perguntou enquanto a guiava para trás até Bella sentir as pernas baterem contra uma mesa sentando-se nela.
— Por favor, acho que você terá que me dizer do que se trata. — Sussurrou mordendo os lábios e um sorriso de satisfação se fez nos lábios de Volker.
— Vou fazer melhor do que isso, vou te mostrar. — Exclamou voraz.
Volker a beijou fervorosamente, assim que seus lábios se tocaram foi como estar no paraíso, ela ansiava por aqueles lábios contras os seus, sentiu o corpo ser pressionado para trás ao mesmo passo que ele se inclinou sobre ela, a beijando intensamente. Bellatrix levou as mãos para a nuca do homem puxando alguns fios de cabelo e arranhando-a.
Um suspiro saiu dos lábios dele a estimulando ainda mais. Desceu suas mãos abrindo os botões da blusa social que ele vestia dedilhando o peitoral tirando o tecido dali, do mesmo modo que o sentiu puxar sua blusa para cima, esta que foi jogada em qualquer canto da sala. As mãos dele foram até o fecho do sutiã, mas ao tentar abri-lo ela escutou seu celular tocar.
— Deixa tocar. — Volker sussurrou distribuindo beijos por todo pescoço dela dando leves chupões, porém mais uma vez o aparelho tocou e outra, só poderia ser o universo conspirando para que nada acontecesse entre eles.
— Eu preciso ver quem é. — Falou sem jeito ouvindo-o suspirar e concordando enquanto se levantava.
Ela pegou o celular lendo o nome de Devon, quis rir daquela situação. Mordeu o interior da boca não sabendo se deveria atender na frente de Volker, contudo não tinha outra opção senão fazê-lo.
— Alô? — falou tentando controlar a voz ofegante.
— Céus Bels, onde você está? — perguntou preocupado.
— É... Estou resolvendo alguns assuntos. — Olhou para as unhas desviando a atenção do moreno que a fitava intensamente. — Aconteceu algo? — evitava dizer o nome do amigo sentindo o olhar curioso de Volker sobre ela.
— Vamos nos encontrar no Roosevelt, estarei lá em 15 minutos. — Ela percebeu que havia algo em seu tom de voz, mas conhecendo Devon tinha conhecimento que este não falaria enquanto Bella não estivesse de frente para ele.
— Tudo bem, estou indo. — Respondeu decidida a ir encontrá-lo.
— Ok, amo você Mitchell! — Devon murmurou com seu tom doce, arrancando um sorriso dela.
— Também amo você Sanders. — Ela amava o jeito que ele a tratava, sempre priorizando sua amizade sem se importar de dizer as coisas apenas para fazê-la feliz. Devon deixava claro que Bellatrix poderia contar com ele a qualquer momento.
Guardou o celular na bolsa e ao se virar para Volker a expressão dele agora estava séria.
— Era o Devon? — Volker questionou, a fazendo notar certo incômodo no tom de voz.
— Sim. — Respondeu tentando se manter passível.
— Ah claro, ele é a prioridade como sempre, por que seria diferente agora?! — uma risada saiu de seus lábios, enquanto balançava a cabeça em negação.
O olhar de Volker foi cortante, Bellatrix não compreendia o comportamento aborrecido dele, não seria ciúmes, ou poderia? Ao pensar na ideia seu coração se aqueceu e um sorriso tomou conta de seus lábios o fazendo franzir o cenho confuso.
— O que foi? — ele a olhou incerto, estranhando o comportamento repentino dela.
— Você está com ciúmes! — afirmou rindo em seguida — eu não acredito que Volker Reed está com ciúmes, para tudo que eu tenho que gravar esse momento. — Exclamou enérgica, ele continuava enfezado deixando as coisas melhores, mais divertidas.
— Você está delirando, não estou com ciúmes. — Contrapôs sério, cruzando os braços.
— Se você diz, então não tem problema eu ir até ele agora não é mesmo? — se abaixou pegando sua blusa e vestindo-a, alisando e arrumando os cabelos com os dedos. — De qualquer forma, obrigada por ter refrescando minha memória foi de grande utilidade, tenho certeza que Devon irá adorar terminar o que começamos aqui. — Lançou um sorriso zombeteiro, piscando em direção a ele e indo para a porta, mas ao tocar a maçaneta sentiu seu corpo ser pressionado contra a mesma.
— O que você pensa que está fazendo? — A voz atordoada do policial exclamou próxima a orelha de Bellatrix arrepiando o corpo dela.
— Testando o seu autocontrole. — Virou-se para ele com um sorriso triunfante — parece que eu não estava delirando tanto assim. — Volker mordeu os lábios e riu balançando a cabeça.
— Você me deixa louco Mitchell. — Disse colocando as mãos em torno do corpo da loira.
— Essa sempre foi minha intenção Reed, te deixar louco por mim. — Sussurrou a última palavra no ouvido dele depositando um beijo em seu pescoço.
— Que se foda o meu autocontrole! — vociferou puxando-a para si grudando os lábios nos dela.
Bellatrix sabia que precisava ir, espalmou as mãos sobre os ombros de Volker afastando-o, sua respiração estava descompassada.
— Eu preciso ir... — Ela pegou a bolsa abrindo a porta e se arrependendo amargamente quando seu olhar encontrou com o de Savannah que ergueu a sobrancelha analisando a loira até seu olhar focar na figura masculina logo atrás.
— Combinamos de nos encontrarmos aqui, mas não sabia que tinha trazido ela junto. — Savannah falou debochada olhando para Bellatrix — estava querendo saber o que fazíamos nessa sala Bella? Quando estava apenas nós dois? — perguntou maliciosamente, fazendo o sangue da loira ferver — afinal você é só mais uma.
— Savannah! — Volker exclamou firme, alargando o sorriso da ruiva que se aproximou do ouvido de Bellatrix.
— Você nunca chegará aos meus pés querida! — murmurou baixo, para que somente Bellatrix escutasse — e nada entre Volker e eu mudou, continuamos os mesmos desde que você foi embora e não deveria ter voltado. — Completou.
Bellatrix não falou nada, apertou a bolsa contra o corpo e se retirou daquele lugar, sentindo o peso das palavras de Savannah que carregaram seu coração. Era um erro estar se deixando levar, a raiva caiu sobre ela ao pensar que tinha se permitido ter qualquer relação com Volker.
Escutou seu nome ser gritado ignorando-o completamente e indo embora.
[...]
Bellatrix ao chegar em Roosevelt avistou Devon sentado em uma das mesas mexendo em seu celular tão absorto que não reparou quando ela se sentou na frente dele tendo que pigarrear para chamar a atenção do homem.
— Você chegou. — Constatou feliz fazendo-a rir e meneando a cabeça em concordância. — Me desculpe não percebi, andam acontecendo tantas coisas, eu não sei mais o que estou fazendo da minha vida. — Murmurou baixo, com a voz e fisionomia exaustas, ela sorriu terna segurando as mãos dele por cima da mesa. — Só senti que precisava ver você.
— Você sabe que para o que precisar pode contar comigo certo? — os olhos do homem se abaixaram até suas mãos e ele entrelaçou seus dedos aos dela.
— Não sei o que faria sem você. — Falou fazendo Bellatrix sorrir concordando.
— Eu também não sei o que você faria sem mim. — Escutou a risada dele, o que foi o suficiente para saber que ele ficaria bem.
Ambos fizeram seus pedidos e almoçaram conversando sobre o seus dias, o trabalho e alguns casos, por mais que Devon e Bellatrix fossem opostos em suas áreas eles se davam tão bem que nada estragaria aquilo.
— O que você estava fazendo antes de vir para cá? — perguntou curioso.
Bella mordeu os lábios sabia que se falasse sobre Volker provavelmente ele ficaria enraivecido, achou melhor esperar para tocar no assunto nem ela sabia o que estava acontecendo entre eles, quem diria ter que explicar aquilo ao melhor amigo que conhecia toda a história da paixonite secreta dela pelo policial.
— John me ligou, queria conversar comigo sobre Oliver. — Devon endireitou o corpo ficando alarmado — eles encontraram um corpo e perto desse corpo tinha um bilhete que foi direcionado para mim. — Falou de forma lenta e pausada, ainda processando a informação, contou todos os detalhes do que haviam falado naquela reunião e a expressão dele não foi uma das melhores.
— Por isso que você deveria ficar lá em casa, é perigoso Bels e eu não sei o que faria se algo acontecesse com você... — Confidenciou passando as mãos pelos cabelos suspirando fortemente.
— Mas Devon... — Ele a olhou firme e ela se calou, expirando, tinha noção que o amigo estava certo, entretanto não queria ter que deixar suas coisas de lado para viver com medo.
— Só pense sobre, está bem? — perguntou acariciando os dedos da loira e ela concordou.
Deu carona para o rapaz deixando-o em sua casa voltando para o escritório e passou o resto da tarde lá, lendo e relendo casos novos que havia pegado e não se deu conta com o horário, estava cansada. Esticou os braços e bocejou seus olhos começaram a pesar e ao ver as horas ficou surpresa percebendo que já se passavam das 22h da noite.
Pegou a bolsa caminhando para o elevador apertando o botão para ir ao estacionamento, saiu do mesmo indo em direção ao seu carro, colocando o cinto e ligando-o para ir embora. Passaria em algum lugar para comer depois de sentir sua barriga doer de fome, ligou o rádio e sorriu escutando uma música mais animada tocar precisava daquilo para relaxar e ao parar para comer acabou pedindo para viagem indo rumo a sua casa.
Subiu para o seu andar entrando no apartamento e jogando suas coisas no sofá apertou o botão do telefone para ouvir sua caixa de mensagens que não havia nada muito urgente ou que lhe chamasse atenção, foi para seu quarto e pegou uma caixa olhando algumas coisas que ali possuíam.
Mordeu os lábios olhando para uma foto, seus dedos tocaram o rapaz que a abraçava e ela sentiu o ar faltar fechando os olhos com força como se aquilo pudesse fazer tudo voltar há anos atrás. Desejava que as coisas não tivessem tomado o rumo que seguiram, mantendo pessoas que a faziam bem ao seu redor. Mas, sempre quando recordava daquela foto o pior de seu íntimo gritava para que ela fizesse algo.
Guardou tudo e caminhou para o banheiro, afinal, pretendia tomar um banho quente. Estava precisando espairecer e colocar a cabeça no lugar. Sentiu o corpo afundar contra a água, dentro da banheira, tomando cada parte de sua pele e manteve os olhos e a respiração presa até não aguentar mais e se levantar respirando profundamente.
Passou as mãos pelos cabelos úmidos fixando o olhar para a porta entreaberta, aquela sensação de estar sendo observada crescia, se retirou do banheiro jogando o corpo contra a cama ainda molhada e pegou o pote de remédios sobre os lençóis. A insônia lhe impedia de dormir enquanto sua mente a levava para os lugares mais tenebrosos de seus pensamentos, esses que pareciam consumir cada parte de seu ser. Levou a boca os engolindo e esperando o efeito da droga, os olhos pesaram e em seus sonhos as íris claras refletiram intensas, cercada do sorriso manipulador.
— Eu amo você, porque não consegue enxergar que tudo o que faço é para o seu bem? — A voz doce sussurrou próxima demais, e por um instante Bella não tinha certeza se estava sonhando ou se o toque que sentiu em sua pele foi real.
O corpo foi entregue àquele sono profundo e às lembranças de anos.
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