C A P I T U L O 0 1

Acordo assustada e sem fôlego. Tem sido assim desde que os sonhos começaram. Levo minha mão ao peito e sinto meu coração disparado por baixo da camada de tecido, está tão acelerado que parece que acabo de correr uma maratona.

— Sonhou com seu namorado de novo, Angel? — Minha melhor (e única) amiga ri enquanto me pergunta.

— Pare de ser idiota. É só um sonho, City, não tenho como namorar alguém que não existe. Além disso… — Fico quieta e sinto meu rosto corar. — Isso não é certo, não seria assim se eu namorasse de verdade.

— Estes sonhos podem ser desejos reprimidos, Angel. Freud explica. — Ela me cutuca com suas unhas longas de gel — se você arrumasse um namorado no mundo real, seu cérebro não precisaria fantasiar com um que não existe.

— Não quero um namorado no mundo real e nem no mundo dos sonhos, na verdade. Sabe o que eu quero? Quero apenas viver minha vida. Quero que as pessoas me tratem como uma jovem adulta normal.

— Angel, seu nome significa Anjo, seu pai é o ministro da igreja, a mesma igreja que a sua mãe ajudava antes de morrer diga-se de passagem. Você tem cinco tios e todos são padres ou pastores, além do seu primo Ashton, que é exorcista. Você simplesmente não é uma jovem adulta normal. É por isso que anda tendo esses sonhos. Tenho certeza de que, assim que perder a virgindade, os sonhos irão sumir.

— Felicity, você é nojenta. — Rolo os olhos. 

— Nojenta ou não, você precisa concordar que esses sonhos são alguma coisa. Não é normal sonhar toda noite com o mesmo homem desconhecido, durante o quê? Dois meses? Mais? Seu cérebro está desesperadamente tentando dizer algo… — Felicity faz uma pausa e eu olho para ela, esperando que ela continue. Estaria mentindo se dissesse que não acho isso no mínimo esquisito, e talvez o ponto de vista de Felicity possa me ajudar… — ele está gritando: oh, pelo amor de Deus, livre-se desse hímen! Precisamos foder, por favor!

Reviro os olhos, eu estava louca se realmente achei que Felicity ia ser útil. Não me entenda mal, amo City, somos amigas desde que eu me entendo por gente, praticamente grudei nela aos nove anos, quando ela era a única criança que não fazia bullying comigo por causa da minha família. Mas, eu estaria mentindo se dissesse que, ao menos uma ou duas vezes na semana, não penso em cometer um crime contra ela.

— City, será que você conseguiria manter as palavras Deus e... você sabe, longes da mesma frase, pelo menos até o fim do dia? Eu seria TÃO grata! Além de que, meu cérebro não está falando nada disso, meu cérebro sabe muito bem que só vou me entregar quando for para a pessoa certa e quando estiver casada!

— Pelo amor de… — Olho para Felicity com cara feia — … Fred Mercury Angel, é por isso que pessoas como Dylan falam o que falam. Em primeiro lugar, Deus não está preocupado com sua virgindade.

— Agora, você vai dizer que a culpa é da vítima? — Dou um grito, irritada.

— Não foi isso que eu quis dizer, você sabe que não, só… Precisa sempre ser tudo tão extremo? Você tem 20 anos, Angel, pode agir como uma jovem… Às vezes. Até a sua mãe agia, sabe, como uma pessoa normal…

— Tanto faz City. Estou indo nessa — digo, e apesar de ainda estar de camisola e ela claramente já estar praticamente pronta para sair do quarto, Felicity não faz nenhum movimento até que eu termine de me arrumar e bata a porta do quarto atrás de mim.

Nosso quarto é uma coisa pequena, com duas camas, duas escrivaninhas e um banheiro pequeno no dormitório da faculdade, todo em cores neutras. Em dias normais, saímos dele juntas e caminhamos até a lanchonete, conversando e rindo. Hoje não é um dia normal, não quando City fala coisas como essas. Aperto a pedra vermelha presa em uma corrente ao redor do meu pescoço e quase sinto calor irradiando dela, como se minha mãe estivesse ali, me mostrando que está comigo.

As lágrimas turvam meus olhos, e tento afastá-las antes que comecem a escorrer. Falar da minha mãe ainda tem esse efeito sobre mim. Faz exatamente 23 meses, 12 dias e algumas horas que perdemos a batalha contra o câncer. Ainda dói como no primeiro dia. 

Entro na lanchonete e o barulho alto dos jovens rindo e discutindo entre si toma o ambiente. Mantenho meus olhos nos meus pés, enquanto caminho até a fila. Se eu pudesse, me tornaria invisível nesse momento, mas, claro, que eu não me torno invisível e não demora até que eu sinta a presença incomoda ao meu lado.

— A paz de Cristo, irmã — diz Dylan cheio de provocação, me cutucando no braço.

Nem me dou ao trabalho de responder ou olhar na sua direção. Sempre imaginei que, quando finalmente fosse para a faculdade, eu me livraria de Dylan, o garoto que sempre fez da minha vida um verdadeiro inferno. Mas, claro, que era um sonho idiota. Sou capaz de apostar que o maldito deve ter dado um jeito de descobrir em quais universidades eu me candidataria só para me seguir até aqui e não perder sua principal fonte de zombaria diária.

— O que foi anjinho? Está irritada? — Dylan pega uma mecha do meu cabelo entre os dedos e a puxa de leve — Quantas ave-marias você vai precisar rezar por ficar brava, hein?

— Vai à merda, Dylan — digo fechando os olhos e tentando juntar toda a paciência existente no meu ser, apesar de já ter gastado grandes doses dela com Felicity mais cedo.

— Olha só, está ficando muito tempo afastada da igreja, irmã. Deus não gosta de crianças que falam palavrão. Cuidado para não ir para o inferno. — Dylan diz sobre o inferno balançando os dedos e fazendo uma voz cômica, como quem conta uma história de terror para uma criança.

— Nossa, Dylan, você é tão divertido. Deve ser o principal centro de atenção no circo onde você é um palhaço — rolo meus olhos e puxo meu cabelo de sua mão. 

— Escuta, Angel — ele tira de repente todo o riso de sua expressão — pergunta séria agora. Quando você transa com alguém, você fica chamando o nome de Deus ou fica rezando que nem a beata que você é? Tenho certeza que você fica gemendo o pai-nosso em cada estocada. Você geralmente goza quando chega no amém? 

Minhas bochechas coram involuntariamente, a fila estende atrás de mim e tenho certeza de que todo mundo está prestando atenção na conversa. Maldito seja o Dylan, tenho absoluta certeza de que ele está aproveitando que estou sozinha aqui, hoje. Geralmente, ele não é assim tão insistente ou descarado.

— Ai… Am... amém… AMÉM. Aleluia, que pau gostoso — Dylan continua sua provocação. Me segurando pelo ombro e gritando os gemidos.

Ouço as pessoas na frente de mim — duas meninas de cabelo colorido que devem estar no primeiro ano —, rindo baixinho.

— Você parece bem-acostumado a gemer assim, Dylan. — Digo, com toda a coragem que geralmente não tenho. Tive uma manhã ruim o bastante, não mereço passar por isso dessa vez.

O rosto de Dylan trava e ele aperta o maxilar. Seus dedos agarram a gola da minha camiseta e eu fecho os olhos quando vejo seu punho vindo em minha direção. Legal, tudo o que eu realmente precisava era levar uma surra.

Fecho os olhos, esperando pelo soco que não vem. Quando finalmente abro os olhos, vejo que um rapaz que estava atrás de mim simplesmente segurou a mão de Dylan, como se ele não fosse nada.

— Ela falou a verdade? Por isso ficou tão irritado? Por que não mexe com alguém do seu tamanho? Ou os caras, você só mexe quando está no quarto? — O estranho começa a dizer, com uma voz rouca que me faz perder o ar.
 
Dylan fecha a cara e puxa o braço para longe.

— Conseguiu um merdinha para ser seu defensor, Angel? Patética do jeito que você é, não conseguiria lidar com um homem sozinha, nem nos seus melhores sonhos.

Ele vira as costas e simplesmente vai embora, estou arrepiada. Não sei o que fazer, os dizer. Olho para o estranho e seus olhos incrivelmente azuis me olham de volta. Seus lábios se abrem num sorriso simpático. 

— Você está bem? Desculpe me meter nos seus assuntos. Eu só… Não acho legal um homem batendo em uma mulher assim. 

— Não esquente a cabeça, estou acostumada a lidar com Dylan. Não é como se fosse a primeira vez. Mas, obrigada por… vir em meu auxílio. Acho que ele se aproveitou um pouco que eu estava sozinha — estendo a mão para ele — prazer, sou Angel, Angel Clark.

No momento em que nossas mãos se encostam, arrepios perpassam pelo meu corpo inteiro. Sinto como se tivesse tomado um choque, sei que estou vermelha e ofegante. Talvez seja porque nenhum rapaz — muito menos um tão bonito assim — foi legal comigo antes. Sinto a pedra no meu pescoço aquecer e vejo isso como um recado da minha mãe, acho que ela também foi com a cara dele.

— Zeth, meu nome é Zeth.

1522 palavras

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