Trinta

As aulas haviam acabado, e eu estava fingindo arrumar meu matérial – bem lentamente, vale ressaltar.

— Eu fiquei te esperando para lancharmos juntos. __ Lisa despertou-me de meus devaneios.

— Oh, eu... e-eu não sabia. Me desculpe. __ que tipo de ser humano eu sou? Deixei uma garota esperando, isso não é legal.

— Tudo bem, você não sabia. __ sorriu __ Então, __ disse levantando-se e arrumando sua mochila nas costas __ quer lanchar comigo amanhã?

— Claro. __ sorri _ Prometo que não vou te deixar esperando, eu juro, não é meu tipo fazer isso.

— Tudo bem, criança. __ Isso me deixou envergonhado.

— Aigoo, acho que minhas bochechas vão explodir. __ escondi meu rosto com as com as mãos.

— Não se preocupe, você fica fofo parecendo um tomatinho.  __ é incrível como ela não para de sorrir __ Bom, vamos?

Ferrou!

— É que eu tenho que passar na diretoria, sabe... acertar algumas coisas, sobre a transferência...

— Ah, __ sua expressão tomou uma forma triste __ eu até te esperaria, mas tenho uma entrevista de trabalho...

— Oh, sério? Boa sorte lá, espero que consiga. __ sorri verdadeiro.

— Valeu! Então... até amanhã? __ perguntou.

— Claro, até amanhã.

Ela se foi e eu terminei de guardar meus materiais.

Fiquei por mais uns cinco minutos na sala, até a professora finalmente aparecer.

— Annyong. __ ela entrou apressada deixando uma caixa sobre a mesa __ Vamos começar?

Eu assenti e fui em direção a primeira carteira, na fileira do meio – considerando que eu estava na fileira da janela, na quarta carteira.

— Bom. Me diga o quê você sabe.

— Eu sei que tenho "dons" e que quero muito ir para casa __ sussurrei a última parte a mim mesmo.

Ela revirou os olhos.

— Já vi que vou ter trabalho. __ fez uma expressão cansada.

Me encolhi um pouco na carteira, eu passaria pelo menos uma hora tendo que ouvir uma mulher até então desconhecida por mim, falar sobre o assunto que eu evitei por dois anos.

— Vou começar do zero, caso tenha qualquer dúvida, pergunte. É muito importante que você entenda cada coisinha que eu disser. Combinado?

— Combinado! _ respondi.

— Isso começou na idade média, no ano de setecentos e setenta e sete, __ ela escreveu isso no quadro negro. __ um homem estava andando pelo campo, colhendo trigo. Ele era um vassalo, que trabalhava arduamente para sustentar sua família, composta por mulher e dois filhos.

Levantei minha mão, indicando que eu gostaria de falar algo.

— Sim? __ perguntou.

— Então... isso tudo, teve origem, lá no feudalismo?

— Isso mesmo. __ arqueei as sobrancelhas realmente chocado. __ Continuando... ele estava colhendo trigo, quando uma cobra o picou.

Minha expressão de surpresa deve ter sido, novamente "maravilhosa".

— Esta cobra não era tão comum... ela era uma cobra... mágica? __ fez uma careta __ É, digamos que ela seja uma cobra mágica. Em suas escamas, era possível ver sete cores, sendo elas: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta.

As cores do arco-íris...

— Assim que a cobra o mordeu, o homem ficou muito doente, todos acharam que era por causa do veneno do animal.

Levantei meu braço novamente, e ela assentiu com a cabeça para que eu perguntasse.

— Ele morreu? __ perguntei, realmente curioso.

Eu poderia ter perguntado coisas como: "Qual o nome do homem" ou "O que ele fez assim que foi picado?" mas nada me pareceu mais interessante do que saber se aquele cara havia morrido. A vontade de aprender é grande, mas a curiosidade é maior.

— Não, __ ela riu provavelmente da minha da minha animação ao perguntar algo tão trágico __ ele não morreu, não deste jeito, pelo menos. Ele ficou de cama por alguns dias. Como a medicina não era tão evoluída, e também por não terem acesso, a única coisa que podiam fazer, eram dar-lhe chás de algumas ervas, __ a pronto! Agora vai dizer que deram maconha 'pro carinha? __ e rezarem muito, já que a força religiosa naquela época, era tão forte. Uma semana depois do ocorrido, o homem acordou totalmente revigorado, como se nada tivesse acontecido. Todos ficaram espantados, afinal, eles, assim como o próprio homem, esperavam nada mais, nada menos do que a morte. Isso serviu de gatilho para as pessoas da época serem ainda mais fiéis a igreja, já que achavam ter acontecido um milagre e talvez até tenha mesmo... quem sabe?

Quando foi que as aulas de história ficaram tão interessantes?

— Sete anos se passaram, seus filhos já estavam adultos e sua esposa havia falecido à três anos. Ele havia literalmente ficado sozinho, o que o levou a procurar por outra camponesa. E foi aí que ele descobriu o seu primeiro poder. A Sedução.

Ok, agora ficou tenso.

Ela anotou isso no quadro.

— A Sedução é o primeiro poder, caracterizado pela cor vermelha, que também é a primeira cor do arco íris. Seus poderes consistem em: __ ela virou-se para o quando, e começou a anotar em tópicos enquanto falava.

Cor do arco-íris: vermelho
• Ler mentes
• Telecinese
• Beleza (corporal, vocal e facial)
•Capacidade de mudar sua face (maquiagem) e cabelo
•Seduzir qualquer pessoa, de qualquer gênero, independente de sua opção sexual (os encantos não agem sobre outro peculiar)

— Esse é o mesmo "dom" que eu possuo. Isso explica meus olhos vermelhos e o jeito como agi mais cedo. __ ela sorriu sem graça e continuou __ Ele conseguiu conquistar a moça, porém, ela não a amava de verdade, apenas estava encantada por ele.

Eu, novamente ergui minha mão. Sério, eu nunca ergui meu braço tantas vezes em uma única aula, na verdade, eu não levantado o dedo em nenhuma, então...

— Hum?

— O "dom" da Sedução, tem a capacidade de deixar a pessoa encantada por quanto tempo ela quiser, ou somente momentaneamente, quando ela estiver, de fato, seduzindo alguém?

— Assim que você seduz a pessoa uma única vez, você tem o controle de deixá-la ainda encantada, ou não, por você. A pessoa com este dom, pode seduzir alguém por dois minutos e depois desencanta-la, assim como pode deixar ela encantada pela vida inteira. Mas, no caso, ele não tinha esse controle. Por isso, seu relacionamento não durou muito, pois enquanto encantada, ela dizia o amar, porém, quando desencantada, dizia com todas as letras que o odiava. Ninguém se apaixona por pessoas com este poder.

— Quer dizer que... pessoas com este "dom"... nunca poderão encontrar o amor verdadeiro? __ perguntei, desta vez, sem levantar a mão, e me praguejei mentalmente por isso.

— Não. __ ela falou triste, e automaticamente eu fiquei também. O brilho nos olhos dela se apagaram e eu fiquei com pena. Pena porque ela nunca encontraria o amor verdadeiro. Ela pode ter a pessoa que quiser bem na palma de sua mão, porém... não vai ser amor, vai ser ilusão.

— Eu... Eu sinto muito...

— Não sinta, está tudo bem... já me acostumei com isso.

Eu sei que não, ninguém se acostuma a não ser amado, apenas tenta acreditar que sim. Mas não queria entrar neste assunto, talvez depois, mas por agora, preciso focar em entender isso tudo.

— Depois de um tempo, já sem mulher, ele descobriu um outro poder, a Transparência. __ ela anotou no quadro os seguintes tópicos:

Cor do arco-íris: amarelo
Invisibilidade
•Transparência (qualquer coisas que lhe encoste pode atravessa-lo ao meio)

Espera, i-isso já aconteceu comigo...

Meu "dom" é a transparência? Mas, eu tenho telecinese, certo? E isso é da sedução. Sinto que vou virar uma bola de neve.

— É considerado o "dom" o mais puro, por ser o extremo oposto da Sedução.

Como ele descobriu esse poder?

— Ele descobriu seu novo poder, quando estava semeando os grãos que havia plantado. __ ok, ela invadiu meus pensamentos, vou fingir a egípcia e fazer de conta que nada aconteceu __ Bom, pelo menos era o que ele pretendia... Quando o mesmo o fez, sua mão atravessou direto a plantação. A invisibilidade ele descobriu depois de um tempo, mas não se sabe direito como foi.

O jeito como ela conta, parece ser tão... sei la, banal. Mas quando isso aconteceu comigo, eu literalmente entrei em desespero.

— Dois anos se passaram, e ele já havia aprendido a controlar seus dois poderes, isso já não era mais um problema para ele, vivia normalmente com isso. Então, foi quando ele descobriu três de uma única vez. Sendo: Sensação, Leveza e Estratégia.

Cor do arco-íris: laranja
•Capacidade de prever o futuro
Capacidade de prever o passado (ambos os dois não são controláveis)

Cor do arco-íris: verde
•Toque mágico (algo quebrado pode regenerar-se. Funciona apenas com objetos)
•Capacidade de criar e transformar
•Voar

Cor do arco-íris: azul
•Inteligência
•força
•raciocínio rápido (mais que o "normal")

— Infelizmente, ele não os descobriu da melhor forma possível, ele teve algo parecido com uma crise. Seu corpo inteiro doía, tudo se descontrolava. Objetos voavam, pensamentos alheios ecoavam em sua mente tão alto quanto uma caixa de som ligada ao máximo dentro de três metros quadrados. Era ensurdecedor.

Eu já passei por isso.

Não uma, não duas, não três.

E era realmente ensurdecedor. Era insuportável.

Meus dedos pareciam ter vida própria quando começaram a batucar a mesa em puro nervosismo.

— Como ele soube o nome de cada dom? Como ele soube que aquele poder, era daquele determinado dom? __ perguntei, assim que levantei minha mão.

— Ele não sabia, apenas inventou um nome para cada. __ ela riu __ Assim que um dom era "ativado", __ fez aspas com os dedos __ seus olhos mudavam de cor, assim como os meus, assim como os seus devem mudar.

Meus olhos já ficaram de diversas cores, inclusive colorido. Isso sempre me dava medo e ainda dá, na verdade. Mas isso ninguém precisa saber, hehe.

—Então, depois que ele teve um pouco mais de controle, ele foi até um lago, que tinha perto de sua moradia, e testava cada um dos seus dons, vendo que cor atribuía seus olhos, então, ele anotou tudo, por isso sabemos o que sabemos hoje sobre ele. Ele anotou tudo e escondeu. A um bom tempo atrás, peculiares descobriram, traduziram e revelaram.

Feche a boca Jeikei, vai entrar mosca.

— Depois de mais dois anos, ele descobriu um novo poder, que até hoje, é considerado pelos pouquíssimos peculiares, o dom mais fraco. Porém, eu o acho o mais forte de todos. Sendo ele a Ternura.

Cor do arco-íris: anil
•Cuidar de todos (animais, humanos, vegetais... todos os seres vivos) independente de sua personalidade.
•Cura (não total, apenas parcial)
•Bondade, vontade de ajudar o próximo.
•Capacidade de ter flashes quando alguém que tenha afinidade esteja tendo seus sentidos ameaçados (sendo esse, não controlável)

— Este dom, foi por muito tempo, banalizado, por ser algo tão... comum? É comum ajudar o próximo quando se é uma pessoa boa, certo? Embora, eu o considere o mais forte.

— Por que? __ perguntei.

— Porque este dom, sofreu uma maldição.

A única coisa em minha mão, era uma farpa que arranquei da carteira e meu ânus.

— Você se lembra daquela cobra, que o picou?

Assenti positivamente em resposta.

— Ela estava travando uma batalha com uma outra cobra, sendo ela das trevas. Quem ganhasse a batalha, teria os poderes da outra. Então, para evitar que o mal vencesse, a cobra de luz o picou, para que ele tivesse os poderes, então a cobra das trevas não poderia fazer nada. Sua implicância era mesmo com a tal, não necessariamente pelos poderes dela. Porém, aquela cobra das trevas, sentiu inveja do homem, no qual possuía os dons de sua tão odiada inimiga, e ao velo tão feliz, tratou de jogar-lhe um feitiço. Dias se passaram, e o tal homem estava ajudando um animal que estava com sua pata machucada, seus olhos brilhavam em anil, e foi exatamente neste momento em que a maldição o atingiu. Aquela cobra amaldiçoada o picou. Mas, diferente da vez anterior, nenhum efeito colateral o atingiu. Ele até pensou que essa "resistência", poderia ser um outro dom, ele fez testes como machucar-se propositalmente, porém, ele apenas ficou com dor e ainda machucado. __ ela riu um pouco e eu a acompanhei. __ Porém, depois, ele virou um posso de inseguranças. Ele tinha medos, ele tinha angústias, ele tinha ansiedade. A maldição deste dom, é a insuficiência interior, aquele sentimento de vazio e solidão, mesmo estando rodeado de pessoas.

É isso o que eu sinto, essa insuficiência, aquele sentimento de: se eu morrer, ninguém vai sentir falta.

E eu odeio isso. Odeio me sentir deprimido, odeio me sentir triste, odeio me sentir inseguro em relação a tudo e todos.

Na verdade, acho que ninguém gosta.

— Desde então, ele passou a ter depressão, crises de ansiedade e fobia social. Isso fazia com que seu dom forte, fosse soterrado por inseguranças, por medos e por tristeza. Diga Jeon. __ ela disse assim que levantei a mão.

— E... o que aconteceu depois? __ perguntei.

— Ele se matou.

Direto com flecha, dolorido como um tiro.

— O-oh, e-eu... Meu Deus. __ fiquei realmente sem palavras.

— Antes de falecer ele descobriu um outro poder, que na verdade, não era exatamente um poder... Ele é o mais forte de todos, porém, o mais fisicamente e mentalmente incômodos. O Eptá.

Cor do arco-íris: violeta
•Junção de todos os dons em um único ser vivo.

— Eptá, vem do grego, que significa literalmente: sete. É o sétimo "poder", o último do arco-íris.

Violeta, meus olhos brilham em violeta, mas também em outras cores. Como pode?

— Pessoas com este dom, geralmente tem mais dificuldade em controlar os mesmos, pois são muitos poderes de uma única vez. Neste caso, os olhos da pessoa podem atribuir a cor violeta, ou a cor dos outros dons, isso é, se ela estiver usando o dom da Transparência, por exemplo, seus olhos ficarão amarelos. Mas, qualquer tipo de emoção elevada, pode fazer com que a cor violeta brilhe em seus olhos. Como: alegria, raiva, chateação, tristeza, euforia, ansiedade, etc. Enfim, qualquer sentimento que esteje em um nível alto, pode fazer com que a cor de seus olhos mudem, podendo variar entre tons mais claros, chegando ao lilás quase imperceptível, até o púrpura mais quente de todos. __ fez uma pausa, olhou para quadro e mexeu os braços apontando tudo o que estava nele __ Então, é basicamente... isso. __ escorou-se na mesa. __ Alguma pergunta

Ela terminou explicação com um semblante completamente indiferente, enquanto eu lutava para que saliva não escorresse dos cantos da minha boca escancarada.

— C-como... Como estes dons chegaram a mim, a você e logicamente a outras pessoas? __ perguntei.

— Assim que alguém peculiar morre, seu poder é automaticamente dado a outra pessoa. Infelizmente não possui filtros quando o dom escolhe tal alma para abrigar-se. Ou seja, tanto pessoas boas, quanto ruins podem o ter.

— Então... Os poderes, estão ligados diretamente à alma, e não ao corpo?

— Exato, o único jeito de se livrar deles, e retirando sua alma, digamos. E o único jeito disso acontecer é: __ falou pausadamente para que eu completasse.

— Morrendo. __ completei.

— Mas alguma pergunta? __ perguntou novamente.

— Não, eu acho...

— Ótimo! Então me diga: depois de tudo o que eu expliquei, e o que está no quadro. Qual o seu dom?

Engoli em seco.

Meu dom era o Eptá?

Mas, como?

Ela se aproximou e eu levei um sustinho quando tocou meu braço.

Que constrangedor.

— Ei. Está tudo bem, ok? Não fique assustado. Eu já sei seu dom, só queria que você mesmo dissesse. __ ela sorriu sem mostrar os dentes.

— C-como a senhorita sabe? __ perguntei.

— Mais cedo, quando e acidentalmente "dei em cima" de você. Seus olhos ficaram violeta, porque estava assustado.

~(🌺)~

VORTIII!!

O maior capítulo até agora hehe.

Vocês preferem assim ou menores? Posso fazer maior também hihihi. Vocês que mandam.

Ficaram com dúvidas? Qualquer coisa perguntem viu (eu falo isso toda hora, devem estar enjoando kkk)

Qualquer erro desculpe.

Mas e issu!

Beijos do Jin (😥) 😘😘

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