Quarenta e três

- Que nojo, garoto!

- Eu aqui botando minhas tripas para fora e você com nojinho? Vai ver se eu 'tô na esquina.

- Exagerado!

- Bobona!

- O que você disse?

- Isso mesmo o que você-

- Parem os dois! - Esbravejei - Noona, deixa o hyung terminar de vomitar em paz, sim? - Me virei agora ao mais velho - E você, termine de jogar tudo para fora em silêncio.

Ouvi ambos bufarem e a mais velha saiu do banheiro, deixando apenas a mim e o moreno em frente a privada, com eu afagando as suas costas.

Hoje pela manhã, quando iriamos tomar café, senhora Choi pediu para que Tae provasse seu "novo prato". E parecia realmente apetitoso. Era - ou pelo menos parecia - uma torta de morango com bastante glace e demasiadamente lindo. Segundo ela, se o mesmo aprovasse, nós também poderíamos comer. O fato é que ele adorou o tal doce e todos nos sentamos a mesa para saboreá-lo. Hyuna ficou desconfiada e quando fui dar a primeira mordida, ela colocou seu braço na frente, fazendo com que eu parasse e então perguntou para sua adorável titia o que exatamente tinha naquele bolo e então, usando sua feição mais inocente, respondeu:"Patas de aranha, tripas de morcego e para ficar docinho lagrimas de crocodilo. O glacê fiz com com ovos de lagarto". De branco, meu amigo ficou verde na hora.

Meus músculos faciais deram pane de tanta careta que eu fiz só de imaginar se eu tivesse comido aquela gororóba. A mais velha revidou um belo "A senhora está louca?", bateu o guardanapo na mesa e me puxou para ir atrás de Taehyung que já se destripava naquele banheiro. Bom, o resto até aqui vocês já sabem...

- Gguk, aquela mulher me odeia. - Choramingou assim que dei descarga e o ajudava a se sentar na privada agora com a tampa fechada.

- Ninguém mandou chamar ela de Maria fumaça.

- Ei, ei, ei. Está do lado dela? Ela que queimou um charuto na minha mão. Não disse mais que a verdade. - Cruzou os braços sobre o peito e formou um bico.

- 'Tô sabendo. - Ri - Mas antes de tudo, hyung, ela é uma senhorinha e merece respeito. Porque o respeito... - Parei para que ele completasse.

- É a base de tudo. - Revirou os olhos.

- Isso mesmo. - Dei batidinhas em suas costas. Sei que isso o deixou ainda mais irado, convenhamos, é legal irritar de vez em quando aqueles que amamos - Agora fique aqui que vou pegar sua escova de dentes. Está precisando. - Abanei minha mão em frente ao nariz o ouvindo grunhir.

Assim que cheguei ao quarto, vi Hyuna sentada na cama, pensativa.

- Se está pensando no hyung, saiba que ele já terminou de morrer. - Disse enquanto abria a mochila.

- Não estou pensando nele. Bom, fiquei preocupada, mas ele ficará bem... Estou pensando no que faremos agora. - A vi brincar com seus dedos - Como iremos ao Rio Han sem que ninguém nos veja? Como conseguiremos a tal pedra violeta para entrarmos?

- Daremos um jeito. Demos um até aqui... Não vai ser agora que vai dar errado.

- Acredita mesmo nisso? - Virou-se para mim que ainda estava vasculhando a mochila a procura do objeto para Taehyung.

Parei por um instante para raciocinar melhor. A verdade é que eu não acredito, mas não posso dizer isso a ela. Viemos até aqui, não podemos desistir, não agora.

- Sim. - Dei o melhor sorriso forçado que tinha.

Não sei se ela acreditou, mas deve ter aceitado. Fizemos um acordo de não ler a mente um do outro (nem a de Tae), então, amenos que eu minta com os olhos, ela não saberá se estou dizendo a verdade ou não.

- Certo... - Olhou para minha mão e riu - Agora vá levar isso para ele, deve estar precisando.

Sorri - agora verdadeiro - e voltei a para lá.

De roupa trocada e bafinho - que já não era mais bafo - cheiroso, voltamos a cozinha.

- Gostou do bolo, querido? - Sínica. Ops, respeito.

- Sim, estava uma delicia. Da próxima vez, use língua de dragão, terei o prazer de experimentar. - A senhora o olhou com um ponto de interrogação flutuando sobre sua cabeça.

- E onde vou arrumar língua de dragão, moleque?

Ele se sentou no sofá e cruzou as pernas para então lhe encarar com um sorrisinho ladino e debochado.

- Ora, olhe no espelho que descobrirá.

Se a vida fosse uma animação, com certeza senhora Choi estaria pintada de vermelho com uma fumacinha desenhada no topo de sua cabeça.

- Acho que mereceu essa, tia. - Hyuna sentou-se ao seu lado e ambos deram um soquinho escondido - Esta comida não vai fazer mal depois, vai?

- Sou travessa, mas não cruel a ponto de matar alguém inocente. O máximo que o dará é uma dor de barriga se ele for sensível a essas coisas que coloquei na comida. Além do mais, como ele mesmo disse, está uma delicia, se quiserem tem na geladeira.

- Não, obrigado. - Cortei. Nem morto eu como aquilo.

A grisalha riu e ascendeu outro charuto que tirou de não-sei-aonde.

- É sério que a senhora vai tragar um às... - Olhou para o relógio que ficava pregado em cima da porta - Seis da manhã?

- Sério? - Arregalou os olhos enrugados - Nossa, comecei tarde hoje.

- Depois reclamam quando di-

- Cala a boca, Kim. Se você disser mais alguma coisa, é capaz que ao invés de comer lagrimas de crocodilo, ela te transforme em um. - Fez um sinal de "pare" com a mão - Tia, sabia que isso pode te render um pulmão? Isso se não for os dois.

- Sobrinha, eu já traguei tantas coisas, que se eu morrer de câncer e não de infecção, eu estou feliz. - Soltou a fumaça preta.

- A senhora tem noção do que acaba de dizer? - Perguntou pausadamente - Me desculpe, mas a senhora não tem trava nas línguas.

- Mas eu só tenho uma língua.

- Desculpe, é que considerei duas por ser bifurcada. - Meu Deus, elas não deixam passar uma sem se ofender.

- Está me chamando de cobra? - Levantou-se, vindo para mas perto, entretanto, a outra sequer se mexeu.

- Não sei porque a surpresa, achei que já soubesse disso a muito tempo. - Agora foi ela quem se levantou batendo as mãos no sofá para pegar impulso - Isso é por pregar uma peça no meu amigo e quase pregar na gente também. Vamos, meninos. Obrigada por nos deixar passar a noite aqui, mas agora temos que ir.

Pela primeira vez a senhora ficou quieta perante o que lhe foi dito. Acho que as palavras duras a machucaram e meu peito doeu por pensar nisso. Ela é uma senhora solitária que deve ter medo de se abrir por pensar que todos vão a abandonar. Não sei o motivo das duas não se darem bem, contudo, acho que todos merecem uma segunda chance.

Seguimos a ruiva até o quarto e ela começou a pegar nossas coisas.

- Para onde vamos? Nem plano temos ainda. - Tae bufou assim que fechei a porta.

- Vamos para o Rio Han. - Pegou os livros que estavam na cama e os guardou delicadamente dentro da mochila.

- Ah, claro. E ninguém vai perceber que somos nós na rua. Todos viram nossas fotos no jornal, vão perceber de longe que somos nós os "três adolescentes desaparecidos".

- Simples, Jungkook cria uma fantasia e maquiagens. Nos disfarçamos e pronto.

- Mas noona, e se as roupas começarem a desaparecer e a maquiagem também? - Perguntei.

- Ai você faz outras. Vai dar tudo certo.

Pelo semblante do mais velho, deduzi que ele não gostava da ideia, mas também não estava parecendo discordar.

- Ok, ok. E o que vamos fazer no Rio Han se não temos a pedra violeta? Nadar?

- Podemos ter uma conversa civilizada, sim? Parecem crianças tentando dar patadas sem sentido apenas para não ficarem por baixo e ganharem uma guerrinha que nem existe. - Eles estavam me deixando irritado.

- Certo-

- Calma que eu ainda não terminei. - Agora eu falo e eles escutam - Antes de sairmos, temos que pedir desculpa a senhora Choi.

- Desculpas? Por quê?

- Por que, noona? Nós só a respondemos atravessado desde que chegamos, sendo que ela nos deixou ficar sobre seu teto e até nos alimentou.

- Sim, com um bolo maravilhoso, inclusive. - Completou. Acho que ele não esquecerá disso tão cedo e só de lembrar me dá arrepio.

- Ok, mas depois ela nos deu comida de verdade. Sei que ela também não é a senhora mais doce do mundo que todos amam, mas cara, também não agimos certo. Quando devolvemos na mesma moeda, isso só nos torna igual a outra pessoa. - Caramba, acho que tirei um peso das minhas costas.

Ficamos em silêncio por um breve momento, mas que felizmente logo foi quebrado.

- Certo, concordo com o Jungkook. - Senti meu ombro ser rodeado e vi o que o aperto era do mais velho - Mesmo que me doa muito.

- Eu também, vai. Desrespeitar alguém, ainda mais nesta idade, é errado...

Terminamos de guardar nossas coisas e voltamos a cozinha vendo a mesma pensativa enquanto ainda fumava. A ruivinha revirou os olhos mas logo sentou-se no sofá.

- Se vieram para me insultar de novo, é melhor que são vão agora. - Disse sem nos encarar.

Olhei para os mais velhos que, pela primeira vez desde que chegamos, aparentavam um semblante arrependido.

- Olha, tia... Nós viemos pedir desculpas. Fomos grossos com a senhora e não deveríamos.

- Me perdoe pelas palavras ruins e pelos... Adjetivos nem tão agradáveis.

- Desculpa se também fiz algo que a chateou. - Por fim, falei.

A senhora pensou por um momento para então, pronunciar-se, mesmo que parecesse relutante.

- Acho que também agi de maneira errada, principalmente com você, garoto. - Olhou para meu amigo - Sinto muito por tê-lo julgado quando o vi. - Voltou sua atenção a nós - Me desculpem por tudo.

A mulher que até então parecia rabugenta e conservadora, deu um sorriso, daqueles que você sente um quentinho no peito.

- Bom, já nos entendemos e chegou a hora de partir. - A garota arrumou a mochila pesada sobre os ombros.

- Para onde vão?

- Seul. - Tae respondeu - Temos que procurar por uma tal de pedra violeta. Se o livro estiver certo e se tivermos esse negócio, conseguimos entrar no anexo.

- Pedra violeta... - Choi levou sua mão enrugadinha até o queixo, o alisando enquanto vagava seu olhar para os quantos da casa - Onde foi que eu guardei... - Sussurrava.

A ruiva parou o que fazia para observar melhor a reação da tia.

- A senhora tem essa pedra? - Perguntou.

- Uma vez, há muito tempo, eu achei uma dessas na mata quando briguei com uma amiga, mas isso não vem ao caso. - Adentrou a cozinha como se lembrasse de algo, nos entreolhamos e demos de ombro. Seguimos a mais velha e ficamos parados na porta.

A senhora vasculhava os potes que continham coisas que nunca vi armazenarem antes. Penas de urubu, asas de vespas, baba de lobo, cauda de esquilo... Foram coisas que consegui ler nas etiquetas pregadas ao redor dos potes.

Ela puxou um recipiente plástico vazio e empoeirado que parecia ter sido esquecido ali á pelo menos um ano. Qual ela o tirou de cima do armário, algo brilhou no fundo do compartimento.

- Sabia que ainda tinha você. - Ficou na ponta dos pés para agarrar o tal brilho e o guardou dentro de suas mãos.

Caminhou até nós com um sorriso nos lábios.

- O que tem aí dentro? - Hyuna perguntou.

A senhora passeou sua visão sobre nossas feições curiosas. Ela parecia adorar este tipo de coisa.

Voltou seu olhar para as mãos em concha e então as abriu de uma vez.

- Era isso que procuravam?

Nossos olhos brilharam e nem sei dizer se foi pela luminosidade que refletia de sua mão ou pelo tremendo alívio que sentimos.

- Tia... Você... Você tem a pedra! - A sobrinha deu pulinhos animada enquanto juntava suas mãos a lateral do rosto.

- Ao que tudo indica, sim. - Sorriu - Mas só tenho uma e vocês são três...

- Sem problemas. Daremos um jeito quanto a isso. - Estendeu a mão para que a senhora depositasse o metal sobre sua mão - Nossa, é realmente muito lindo. - Nos mostrou de perto.

- Sim... - Concordei - Obrigada, senhora. - Agradeci.

- Não por isso, garoto. - Fez um gesto simpático com a cabeça e me deu uma piscadela que me fez rir.

Voltamos para sala e guardamos a pedra preciosa de maneira segura dentro da mochila de Hyuna - que é mais responsável. Tae já ia sentar-se no sofá, mas a ruiva o segurou pelos braços o erguendo novamente. Lançou-lhe um olhar de repreensão que foi respondido com um emburrado e confuso do mesmo.

- Agora sim nós vamos, tia. - Soltou o outro que cruzou os braços.

- Mas já? - Para quem queria nos servir tripas de morcego mais cedo, está bem amável, diria - Não querem ficar mais hoje?

- Não! - Tae disse de prontidão - Digo... É que temos que chegar em Seul o quanto antes, né? - Coçou a nuca sem jeito.

Acho que ele vai ficar um bom tempo sem comer torta de morango.

- Certo, certo. - Riu do desespero do outro - Bom, se é assim. Desejo-lhes sorte. Seja lá o que forem fazer.

Pegamos nossas coisas e finalmente seguimos até a porta. Ela foi aberta pela senhora que sequer usou as mãos. Isso não me assusta mais.

- Cuide-se, tia.

- Digo o mesmo. Te conheço e sei que gosta de perigo, mas não vá pular da ponte só porque tem adrenalina. Lembra quando quebrou o braço por se jogar da árvore?

- Eu queria voar. - Choramingou.

- É. E quebrou a asa. - Tae segurou a risada e eu fiz biquinho para ela não sair - Desculpe, é costume, sabe?

- Sei. Sei, sim. - Foi até a mais velha e lhe deu um abraço que foi correspondido - Fique bem, eu volto para passar alguns dias com a senhora.

- Está bem, querida. Estou a sua espera. - Segurou as mãos da garota após soltarem-se do abraço.

Vi ela fazer um carinho nos cabelos da sobrinha. Percebi que mesmo se tratando daquela forma, elas sentem feição uma pela outra, mas o vício sem sentindo por manter a pose de durona de ambas as partes acaba encobrindo este amor.

Até Tae deu-lhe um abraço. Ele pareceu meio receoso quando ela o chamou para tal afeto, mas não recusou. Ele adora carinho e não recusa nunca.

- Sabe garoto, acho que já disse isso, mas eu gosto de você. - Revelou assim que se separaram.

- Eu também gosto da senhora. Quem sabe um dia eu venha provar sua torna de morangos. - Ergueu o indicador para enfatizar algo - Desde que ela seja apenas de morango.

- É justo.

O mais velho voltou ao meu lado e foi minha vez de despedir.

- Percebi que não fala muito. - Disse antes de me abraçar - Mas seus olhos falam por você. Não sei o que motivou você e seus amigos fazerem tudo o que fizeram, mas peço que não desista tão fácil até ter aquilo que deseja. Um guerreiro não desiste na primeira ferida. - Ouvi suas palavras com atenção e levei um susto quando ela rodeou seus braços em minhas costas e me apertou - Faça as escolhas certas e se for preciso, dê a vida àqueles que ama. - Cochichou em meu ouvido - Não desista enquanto não estiver à sete palmos do chão.

Um arrepio percorreu de meus cabelos até o dedinho do pé. É um conselho forte que vou carregar comigo. Farei o possível e o impossível para proteger quem eu amo e se minha vida estiver em jogo, ela que tenha sorte, porque enquanto estiver respirando, não vou permitir que machuquem meus bens mais preciosos, não enquanto estiver vivo.

~(🌺)~

Hiii

Tudo bem com vocês? Se cuidando direitinho?

Espero que sim, rum!

Momento surto em:

3

2

1

50 K de views!!!!!

AAAAAA MANO!!

Mal acreditei quando vi que atingimos essa quantidade de leituras.

Acho que obrigada é muito pouco para agradecer a vocês, é muito gratificante fazer algo que gosto e ter alguém que lê mesmo com todos os erros. Obrigada por terem paciência comigo, sei que não é fácil.

Vou melhorar e trazer futuras fics pra vocês.

Bom, é isso, xuxus.

Espero que tenham gostado.

Usem mascara e tomem cuidado.

Beijus do Jin

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top