Quarenta e oito
Muitas coisas acontecem em nossas vidas e acho que eu poderia dividir a minha, não muito originalmente, em duas partes: antes e depois.
O antes corresponderia a quando eu tinha uma vida de certa forma confortável. Não tinha problemas muito grandes onde eu precisasse de muito esforço para sair deles. Não tinha meus pais por perto e muito menos sanidade o suficiente para lidar com as coisas estranhas que eu fazia por achar que era um único e solitário ser defeituoso no mundo.
Eu surtava com isso várias vezes no ano. Mas tirando esta parte, eu poderia facilmente conviver com outras pessoas, sem andar com medo de algo furar meu pescoço a cada esquina que eu dobrar. Meu eu de antes era alguém que não arriscava a fazer nada que saísse de sua zona de conforto. Eu não me metia em problemas, porém, como consequência, eu apenas acordava e vivia na monotonia e rotina chata de um estudante de ensino médio com um emprego entediante que me fazia ter overdose de leitura por poder ler quadrinhos de graça escondido do meu chefe.
Em contrapartida, meu eu de agora teme dormir e acordar a sete palmos da terra. Talvez não morto — eu não acordaria se estivesse morto, certo? —, mas preso dentro de alguma coisa no qual eu não pudesse sair nem mesmo para fazer xixi.
O depois começa no exato momento em que Hyuna decide simular um incêndio no colégio. Até hoje me questiono como o eu daquela época conseguiu sair da sua zona de conforto tão rapidamente.
Não sei se posso dizer que mudei, da mesma forma não acho que posso dizer que sou o mesmo. Não acho que o Jungkook de um ano atrás teria a bravura — ou necessidade — de agir da mesma forma que o Jungkook de alguns meses e se o eu de agora teria coragem de agir como o eu daqui algum tempo, quem sabe?
Acho que tenho muito para evoluir ainda e temo que não consiga crescer tanto quanto espero. Quando olho para todos ao meu redor, eles parecem tão corajosos, mas tem que esperar que eu tenha coragem para algo. Ele apenas agem, enquanto eu ainda estou pensando se devo ou não fazer.
Eu poderia ter virado pó se Jimin não tivesse me salvado e eu teria o colocado em risco também se Namjoon não tivesse surgido do subsolo — literalmente — para nos ajudar. E eu poderia ter ferrado com o corpo dele da mesma maneira.
Então... sinto que o eu de depois, mesmo que tenha evoluído um pouco de certa forma, ainda necessita de muitas mudanças. Como por exemplo, ser capaz de amenizar o clima ruim de ambientes fechados.
Durante o café, todos estavam quietos demais e tensos demais. Jimin estava tímido, Tae o olhava feio quando esses se encaravam, Hyuna estava emburrada com alguma coisa, Namjoon tentava respeitar o espaço de todo mundo, meu irmão tentava soltar algumas piadas sem graça e eu não conseguia olhar para a cara do Park sem ter um ataque cardíaco e ficar parecendo um tomate vermelho e grande.
Eu estava extremamente envergonhado, como se estivesse escrito na minha testa que eu havia beijado o mais velho, ou ele me beijado, enfim.
O fato era que o clima estava tenso. Todos pareciam respirar com dificuldade, como se o ar estivesse pesado e talvez estivesse. O mais alto estava até mesmo com as sobrancelhas meio franzidas, talvez preocupado com o que fazer, contando que poderiam nos achar a qualquer momento.
Nós precisávamos agir urgentemente, mas ninguém parecia estar ligando para isto. Inclusive eu.
Eu estava ficando nervoso com a falta de diálogo repentina entre todos. Nem mesmo Hyuna e Tae estavam discutindo.
Todos se sentaram na mesa retangular de jantar. O único barulho ouvido eram dos talheres arranhando os pratos ou tigelas. Minhas mãos estavam suando e percebi que Tae ao meu lado também limpava as mesmas no tecido de suas calças. Teria acontecido algo que não estava sabendo?
Continuei comendo, mesmo sem fome, apenas para ganhar tempo até que alguém fizesse algo que eu pudesse copiar para fingir que estava tudo bem, até que, de repente, Namjoon se pronunciou, quebrando todo o silêncio.
— Eles sabem onde estamos. — Todos pararam o que estavam fazendo, largando seus talheres e olhando para si.
Sua fala acertou todos como um enorme tapa na cara. Minha barriga gelou de forma fugaz, sentindo todo o pouco café que havia tomado até então, revirar-se lá dentro.
— O quê? — Meu irmão foi o primeiro a questionar.
— Eles sabem onde nós estamos. — Ergueu o olhar para todos na mesa — Quando fui colocar o lixo para fora assim que acordei, vi um dos funcionários atrás de um dos carros da rua.
— E por que você só está nos dizendo isso agora? — Hyuna perguntou, usando um tom alto na voz — Por acaso quer ferrar com a gente? Não está do nosso lado?
Ele empurrou o pequeno prato em que comia e passou as mãos pelo rosto, descansando os cotovelos sobre a mesa, em seguida. Parecia angustiado e pressionado. O Kim era uma pessoa calma. Geralmente quando estava irritado sua expressão dizia tudo e dava um frio na espinha de quem recebesse aquele olhar. Mas quando estava triste ou passando por algo complicado, apenas mantinha-se em silêncio e se afastava, tentando resolver tudo sozinho.
Mas, por que Namjoon não havia dito nada antes? Não era uma coisa que ele pudesse resolver sozinho, pelo menos acho que não.
Jin olhava para si, ainda esperando uma resposta.
— Por que não adiantaria. Eles já sabem onde estamos. Não há o que fazer. Se sairmos daqui, eles irão atrás de nós, se ficarmos eles virão do mesmo jeito. — Finalmente tirou as palmas do rosto, sem coragem de erguer o olhar — Me desculpem. — Meu irmão murmurou algo como: nós vamos conversar mais tarde. Embora acho que nem mesmo ele acreditasse que o "mais tarde" chegaria, não como esperava, no caso.
Abaixei o olhar, digerindo que tudo que fizemos foi de fato mal pensado. Nós apenas fizemos o que deveria ser feito; trouxemos quem queríamos, nos escondemos e esperávamos que ninguém nos achasse. Como se os outros não fossem peculiares também e tivessem poderes da mesma forma que alguns de nós.
Um murmurinho começou. Todos falavam ao mesmo tempo, até mesmo Jimin, que estava quieto, participou da discussão.
Eu apenas observava tudo como se estivesse longe. Então... aquilo tudo acabaria ali? O que aconteceria depois?
— Eu não acredito que nós vamos desistir agora. — Hyuna continuou — Eles não podem nos pegar.
— Eles podem. — Eu disse alto. Todos calaram-se, parando com seus discursos otimistas — Olhem para eles, são muitos. Possuem armas e nós, o que temos? Jimin vai voltar para lá, meu irmão voltará para sua vida normal, Namjoon talvez fique lá para sempre fazendo armamentos, Tae voltará para escola, Hyuna arranjará uma forma de escapar ou terá o mesmo destino que eu. E vocês sabem qual é.
A ruiva me olhou sombria, com as orbes um tanto arregaladas, mas não disse nada.
Minha cabeça estava rodando, pensando em tantas coisas que poderiam ter dado certo, mas que graças a um mau planejamento e precipitação, foram por água abaixo.
Todos nos entreolhamos, acalmando os ânimos e voltamos ao silêncio, que daquela vez, era pensativo.
Ouvi alguns barulhos de fungadinhas baixinhas ao meu lado e quando me virei, vi lágrimas contidas escorrendo pelo rosto do meu melhor amigo. Sua cabeça estava baixa, escondendo seu rosto, porém ainda era perceptível que não estava bem.
Suas mãos tremiam sob a mesa e suas coxas estavam sendo apertadas pelos seus dedos compridos para aliviar a tensão que ele sentia.
Então, sem saber muito o que fazer, enjoado pelo fato de não conseguir prever o que aconteceria conosco, puxei o mesmo para um abraço lateral, o deixando encostar o rosto em meu ombro. Não havia muito o que fazer e não sabia se pedir para que ele segurasse as lágrimas ajudaria em algo. A verdade era que, qualquer reação que não fosse ficar paralisado, esperando alguma coisa ruim acontecer, seria muito bem vinda.
Hyuna estava revoltada. Ela sempre tinha uma chama dentro de si, mas agora parecia tão perdida quanto nós.
Todos estavam desanimados e confusos. Meu irmão ainda olhava para Namjoon, que tinha os olhos castanhos caídos sobre a mesa, sem encarar nenhum de nós.
Ele parecia estar chateado. O Kim sempre me pareceu alguém forte, talvez pelo seu físico muito saudável, mas só mostra o quanto eu o estereotipava por isso. Quando ele chorou igual um bebê no "velório" do meu irmão, percebi que ele também sentia tristeza e solidão. Mas ali, descobri que ele também era frágil e não sabia o que fazer de vez em quando.
Não sabia quanto tempo havia se passado desde que todos prenderam a respiração após ouvir barulhos na porta. O sangue do rosto de cada um parecia ter esvaído. Até mesmo os lábios grossos do Park estavam brancos. Nos entreolhamos assustados, embora já soubéssemos quem provavelmente estaria do outro lado.
Tae apertou minha roupa e senti seus ombros tremerem com mais intensidade assim que a segunda batida veio.
Minhas pernas pareciam ter morrido de tão dormentes. O bolo na garganta e formou pelo desespero e eu só queria fugir e me esconder em algum lugar que não nos achassem. Mas, onde? Não havia este lugar. Eles nos encontrariam mesmo que fôssemos para Marte, provavelmente.
— Vamos nos esconder. — Hyuna levantou-se, empurrando a cadeira atrás de si.
— Eles vão olhar por todos os cantos. Devem ter máquinas que detectam a presença de vocês, eu sei lá. — Namjoon exprimiu, avoado, sem saber como reagir, tão pálido quanto nós.
Segurei meu hyung mais forte. Não sei dizer se era para acalmar a si ou a mim mesmo.
— Nós vamos deixar eles vencerem? — Jimin começou, olhando para nós. Ele parecia pensativo durante todo o tempo — Eles são muitos, mas, e daí? Jungkook, os hyungs e eu saímos de lá inteiros, podemos dar um jeito agora. — Pela primeira vez, vi Hyuna lhe direcionar um olhar um pouco menos rancoroso.
— Ele tem razão. Podemos arranjar uma forma. Deve ter uma forma! — Eu simplesmente amava o espírito da mais velha, mas eu estava começando a duvidar dele, pensando se aquilo não era apenas otimismo misturado com frustração.
Após alguns segundos de silêncio, Jimin anunciou: — Se conseguirmos convencê-los de que não precisam dos dons do Jungkook, eles podem nos deixar em paz.
— E para que eles precisam disso?
— Por que eles querem ser mais poderosos que outras criaturas. — Olhou para a garota — Imagina o que eles poderiam fazer com um apenas o dom da Sedução dele. Fariam o que quisessem apenas manipulando as pessoas.
— Eles não vão levar ninguém. — Agora foi a vez do meu irmão — Não podemos deixar que eles vençam sem nem mesmo tentar fazer nada para impedir. — Voltou-se para seu namorado — Namjoon, use aquela arma, sim?
— E o que faremos- — antes que Hyuna pudesse terminar sua pergunta, ouvimos a porta da sala ser arrombada e todos ficamos em pé num ímpeto. Jimin foi o primeiro a sair dali, acompanhado por Hyuna. Meu irmão inflou o peito e saiu logo após, dando uma última olhada em mim. O outro Kim saiu correndo para o quarto, provavelmente pegaria a tal arma.
Percebi que Tae respirava com dificuldade do meu lado, ainda derramando lágrimas grossas enquanto soluçava.
— Calma, calma. — Proferi, manso — Eles não vão fazer nada com você. — Olhei para si, tentando sentá-lo novamente, puxando a cadeira logo atrás — Fique aqui, ok? Eu já volto. Se eles mandarem fazer alguma coisa, apenas faça e se ver que consegue fugir, não exite, tudo bem?
Ele negou freneticamente, abraçando o próprio corpo. Ele estava com medo. Eu também estava, mas tinha mais formas de me defender.
— E se eles levarem vocês? — Perguntou com dificuldade, passado as mãos pelos cabelos, puxando os da nuca. Me aproximei de si, ficando nervoso pelo que ouvia na sala e por ver meu melhor amigo tendo uma crise no qual eu nunca havia presenciado até então.
Não sabia se ficava com ele ou se ia até lá para tentar ajudar em alguma coisa. Estava dividido e pensar sobre pressão não era meu forte. Mas ali eu precisava.
— Eu não posso responder isso. — Disse a verdade — Por favor, não se machuque. — Segurei suas mãos geladas que arrancavam alguns fios da parte de trás de sua cabeça.
Assim que vi o mais alto correr de volta com a arma na mão e Hyuna gritar com alguém, corri para onde vinham os barulhos e antes de sair pela porta, acenei uma última vez para o mais velho.
Ao olhar para frente, vi que Jimin segurava os braços rente às costas de um jovem bem mais alto que si. Meu irmão estava com o próprio braço envolto no pescoço, sendo segurado por um garoto de cabelos compridos. Hyuna prensava uma menina e um menino no alto da parede usando telecinese e não parecia nem um pouco interessada em soltá-los até que Namjoon conseguisse mirar em cada um para que ficassem paralisados e nos dessem um tempo para agir de alguma forma.
— Ali está ele! — Ouvi outra pessoa gritar, o mais alto que estava concentrado em acertar o pobre menino de braço torcido, se assustou, o que levou ao mesmo se soltar do Park e dar-lhe um chute no meio das pernas. Eu fiz uma careta, mas não consegui mais nada quando alguém prendeu meu pescoço.
Segurei o braço do homem que desejava arrancar minha garganta fora, em instinto. Mas que coisa!
Com os pés, tentei alcançar a canela ou qualquer parte do corpo do sujeito, mas não conseguia encontrar nada. Eu estava com medo e certamente com cara de desespero.
Procurei por objetos no qual pudesse usar telecinese para acertar o ser atrás de mim e nada me pareceu tão bom o bastante quanto a mesinha de centro. Antes que a usassem para bater em mim ou em qualquer um de nós, seria muito mais vantajoso eu usar primeiro, certo?
Com uma das mãos — a outra ainda estava segurando o braço do infeliz — levitei o médio quadrado de vidro e puxei com força na direção pouco acima da minha cabeça, no intuito de bater aquilo na cara de seja lá quem fosse.
Assim que ouvi o barulho surdo, senti que meu pescoço não estava mais sendo apertado, então virei-me e vi o indivíduo de braços fortes cair com a língua bifurcada para fora. Seus cabelos eram verdes e estavam lambidos num topete tosco.
— Jungkook, afasta! — Nam exprimiu, apontando a arma para o carinha desacordado. A mesa de vidro sequer havia quebrado, embora estivesse rachada. Espero que o Kim não mande pagar aquilo. Dei um passo para o lado, e vi a gosma sair da arma do mais alto e engolir o "senhor cobra" ali.
— Droga, Namjoon! Apenas use isso aqui logo. — Hyuna gritou, ainda segurando com a força de sua mente os dois seres na parede.
O Kim manejou a arma em ambos, que despencaram envoltos pela gosma furtacor que os deixava paralisados por alguns instantes.
Livre deles, Hyuna foi atrás do outro cara que bateu no Park. Este estava indo para perto do mais alto, que parecia sem saber o que fazer. Quando o mesmo apontou a arma para o jovem, o garoto todo vestido de preto começou a esquivar-se rápido demais. Ele deveria ter algum poder relacionado à velocidade, até mesmo eu estava ficando tonto com aquele mexe, mexe.
Meu irmão estava tentando ajudar Jimin com a dor nas bolas e não viu que o garoto, que segurava seu braço em torno de seu próprio pescoço, estava pronto para bater-lhe com o cabo de uma vassoura. Pulei o sofá e segurei o mesmo atrás de si quando o moço estava preparado para descer aquilo na cabeça do mais velho.
O moreno pareceu confuso e só depois de alguns segundos é que virou-se para mim.
Arranquei a lenha das mãos do outro e apontei para si, ameaçando bater nele. Mas qual é, eu não sei nem matar formiga. Hyuna passou tanto tempo tentando me ensinar essa coisa de luta... Ela deve me achar um mané.
Ele me olhou esquisito, como se perguntasse que diabos eu estava tentando fazer. Encarou-me da cabeça aos pés com o cenho franzido, bravo, e simplesmente puxou de volta o pedaço de madeira e bateu o mesmo na minha cabeça.
Eu me senti um estúpido quando caí de bunda no chão, sentindo que um galo se formaria ali cedo ou tarde. Só depois de quase levar uma segunda vassourada, foi que Jimin segurou aquele maldito pedaço de pau.
— Você vai se arrepender por ter tocado nele, seu idiota! — Ainda segurando o cabo para trás da cabeça do homem cabeludo, o loiro deu um chute em sua bunda, que o fez cair para frente, a alguns metros de mim. Com a tal vassoura, o mais velho apenas assustou o outro batendo-a com força no chão ao lado de sua cabeça — Encoste nele de novo que eu não vou ter dó de enfiar essa coisa você sabe muito bem onde.
Ele parecia fervente, mas sua expressão se suavizou quando olhou para mim e me ofereceu a mão para que me levantasse.
Aceitei sua ajuda e mesmo que minha cabeça parecesse dividida em duas partes, sorri para si, agradecendo sua gentileza não tão delicada se vista pelo estado do homem. Me encolhi em si quando Namjoon disparou naquele que estava no chão. O encarei rápido, ele encolheu os ombros e sibilou um: "foi mal".
— Ele te machucou, não é?
— Eu estou bem, não se preocupe.
— Eu sempre me preocupo com você. — Me puxou para perto e subiu na ponta dos pés, passando os dedos pelos meus cabelos — Está vermelho... — Tirei suas mãos de lá e dei beijinhos em cada uma delas.
— Eu estou bem, de verdade.
— Por favor, não se machuque. — Levou meus fios compridos para trás da minha orelha. Seu toque me fez estremecer e fechar os olhos. Era incrível a calmaria que ele me trazia apenas com pequenos gestos. Quando estava prestes a levantar minhas pálpebras, senti um selar demorado em minha testa. Suas mãos passaram a segurar meu rosto, como se fosse algo quebrável.
Assim que seus lábios não mais me tocavam, abri os olhos devagar. Seus polegares acariciavam minhas bochechas. Ele parecia hesitante. Estava com medo, ele também sentia medo. Eu queria poder protegê-lo e ir para um lugar onde nada disso aconteceria. Onde pudéssemos viver em paz e ter a vida que merecíamos ter como meros adolescentes.
Outra coisa que era impossível de não sentir com sua presença, eram as famigeradas borboletas no estômago, que se concretizavam sempre que as sentia.
Mas desta vez, os pequenos insetos de asas batentes que apareceram não eram semelhantes às outras. Uma delas estava fraca e com as asas machucadas, enquanto a outra a ajudava a continuar voando até que pousassem sobre a mesa de vidro que havia rachado minutos antes.
As observamos passar, nos entreolhamos, confusos. Me perguntei o que tinha acontecido, Jimin parecia me olhar com um ponto de interrogação pairando sobre sua cabeça.
— Não deve ser nada. — Tentei tranquilizá-lo — Vamos ajudá-los, sim? — Segurei suas mãos que ainda apoiavam-se em meu maxilar.
Ele olhou para trás, relutante. Aquela seria a última pessoa no qual precisaríamos eliminar — com isso, quero dizer deixá-la desacordada por algum tempo até que encontremos uma maneira de resolver tudo (ou tentar, pelo menos). Ele deixou outro beijo casto em minha bochecha e proferiu um "tome cuidado" antes de se afastar até os três que brigavam desajeitadamente.
Olhei para baixo, vendo o que havia acontecido com o cara que Jimin havia empurrado e encontrei meu irmão sobre o mesmo empurrando seu rosto no chão e segurando seus braços para trás.
Eu iria dizer que não precisava se preocupar com ele, já que não era mais um problema para gente, não por algum tempo, pelo menos. Mas acho que ele queria deixá-lo com um galo na cabeça também, eu realmente não sei.
— Ele não vai fazer mais nada por agora, hyung. — Comentei.
Ele assentiu para mim, mas continuou o segurando. Balancei a cabeça em negação. Passei a mão em minha cabeça, tentando espantar a ardência.
Tudo estava uma bagunça naquele lugar. Coisas quebradas, tudo revirado. Um caos. Me perguntei como estaria Tae no outro cômodo ouvindo tudo sem saber o que estava acontecendo.
Estava indo atrás do loiro quando ouvi barulhos suspeitos vindo de fora e mais pessoas apareceram na porta. Todas — que não consegui contar exatamente quantas — estavam protegidas com armas grandes que fizeram um arrepio correr pela minha espinha apenas por imaginar o que elas eram capazes de fazer. Meu coração disparou e o desespero bateu de verdade. Nós iríamos perder.
Deram uma olhada geral na sala e assim que viram um de seus comparsas quase tendo a cabeça sendo arrancada fora do pescoço pelas mãos fortes de Hyuna, logo da porta, um deles mirou na ruiva, que estava de costas, com um armamento que parecia-se muito com um casulo colorido e bonito demais para ser tão destrutiva, acompanhado de uma mangueira, que parecia ser por onde o propósito dela deveria escapar até atingir seja lá o que fosse. Assemelhava-se muito aquelas mochilas ficcionais que são usadas em filmes caça fantasmas.
Eu gritei para que ela visse e desviasse, mas não daria tempo. De repente, tudo parecia ter sido engolido por uma edição de câmera lenta de filmes não confiáveis, tipo aqueles de terror, onde só serve para deixar quem está assistindo com mais medo e ansiedade.
Se perdêssemos ela, não teríamos ninguém com a sua bravura e força o suficiente para puxar nossas orelhas quando estivéssemos abaixando a guarda.
Então, sem pensar demais, usando minha velocidade pela primeira vez na vida para algo sério, corri até si. Não sabia o que aquela coisa faria. Ela estava com os olhos arregalados e com as mãos em frente ao corpo, como se aquilo fosse protegê-la de alguma forma.
Quando vi um feixe de raios azuis saírem pelo bico da mangueira, deixei minhas penas trabalharem o mais rápido possível.
O tempo passou a ser contado normalmente assim que os raios atingiram meu peito.
Três segundos. Foram os três piores segundos da minha vida. Aquela coisa queimava e ardia como o inferno dentro de mim. Eu poderia dizer que meu interior estava derretendo se isso fosse possível.
Senti um grito rasgar minha garganta, mas não ouvi nada. Senti o chão sob mim tão de repente em uma queda brusca e quase inconsciente.
Uma dor aguda ainda me deixava agoniado no peito. Senti as mãos de alguém em minhas costas e logo após essas mãos me encostaram no sofá, onde tentava entender o que estava acontecendo.
Com a visão turva e sem escutar praticamente nada, vi o garoto com a arma de Namjoon e outro o pressionando contra a parede o deixando sem saída. Hyuna ainda lutava com todos que estavam dispostos a irem para cima dela. Não conseguia ver onde Jin estava então tentei me levantar, ainda que praticamente não sentisse minhas pernas e mal conseguisse respirar sem parecer que estava me faltando um pulmão e meio.
Eu estava tremendo feito vara verde e meus sentidos não funcionavam tanto quanto eu precisava. Tentei usar algum dos meus poderes para ajudá-los em alguma coisa, mas nada acontecia.
Vi um cara que aparentava ter quatro olhos e duas cabeças — ou talvez era eu quem estava delirando demais. Ele se chegava cada vez mais perto. Não parecia estar com uma feição muito boa, nem que teria paciência o suficiente para lidar comigo naquele estado. Fechei os olhos quando levantou o punho para mim. Sequer consegui colocar minha mão em frente ao rosto como meus instintos mandavam.
Esperei por alguns segundos a pancada, mas não senti nada. Cogitei a ideia de já estar no céu, se existisse algum, ou no inferno, quem sabe?
Mas assim que abri meus olhos, vi a figura esguia de mais um garoto cabeludo com alguma coisa nas mãos que parecia muito bom em bater.
Tae estava lutando com duas pessoas ao mesmo tempo e estava se dando bem com isso. Acho que ele aprendeu muito mais com Hyuna do que eu.
Ele logo derrubou os dois grandalhões e foi ajudar os outros.
Tudo estava acontecendo à minha volta e eu não conseguir reagir a nada estava me deixando desesperado. A dor no meu peito estava ficando mais forte a cada instante e poderia jurar estar me sentindo afogado.
Tentei pedir por ajuda, mas a voz parecia não sair. Me sentia como em um pesadelo muito ruim, no qual você não consegue acordar e nem gritar. Eu estava ficando exasperado, mas não conseguia demonstrar da forma que queria.
Eu queria me livrar daquela sensação horrível. Tudo estava ficando confuso e eu não conseguia respirar, meu pulmão estava chiando.
Ok. Eu não deveria entrar em pânico, certo. Isso só iria piorar a situação.
Eles continuavam brigando. Namjoon pegou a arma novamente e vi de relance aquela gosma acertar algumas pessoas que se tornaram imóveis no chão.
Meus olhos estavam tão pesados quanto meu corpo. Poderia facilmente dizer que um caminhão havia passado por cima de mim e dado ré diversas vezes.
Jimin foi o primeiro a se aproximar, logo seguido por meu irmão e meus amigos.
Eles me olhavam preocupados e seus lábios mexiam no que parecia ser meu nome ou perguntas sobre como eu estava. Era como se estivesse dormindo, mesmo que acordado... Uma sensação estranha que eu apenas queria que sumisse e me deixasse respirar em paz.
O Park segurou meu rosto com as mãos e vi que suas bochechas estavam machucadas, bem como um pequeno corte na boca. Ele estava me analisando e parecia falar algo aos outros que eu não entendia. Namjoon e meu irmão saíram por um instante. A ruiva me balançava pelos ombros e parecia gritar alguma coisa para os mais velhos que já não estavam mais ali.
Os dedos do loiro atravessavam os fios do meu cabelo num carinho gostoso. Seus olhos estavam vermelhos e ora ou outra ele passava as costas da mão no rosto, limpando caminhos de lágrimas.
Foi somente quando ele passou o polegar sob minhas bolsas que percebi que estava fazendo o mesmo que si.
Tae parecia impaciente com uma parte da blusa vermelha de sangue no qual eu esperava muito que não fosse dele. Meu estômago ardia pela força inútil que meus pulmões exerciam para evitar que me afogasse dentro de mim mesmo. Meu diafragma deveria estar gritando por socorro e quase me mandando tomar naquele lugar por lhe fazer querer trabalhar tão rápido subitamente.
Senti as mãos quentes do loirinho massagearem meu tórax. Agarrei seu braço com os olhos apertados quando não conseguia puxar mais nem um resquício de oxigênio. Ele colocou as mãos em minhas costas, massageando de forma circular. Encolhi meus braços em seu peito, agarrando sua camiseta larga.
Assim que os mais velhos voltaram, meu corpo foi envolto por braços fortes e conduzido até o veículo que eu sequer sabia que havia ali. E foi assim, cobrindo meus lábios, tossindo igual um carro velho, que tive a última visão daquele dia;
Minhas mãos sujas de sangue assim que as retirei de minha boca.
~(🌺)~
Já dizia um sábio filósofo grego: quem é vivo sempre aparece!
Como vocês estão? Espero que bem!
Para quem foi fazer o Enem, como acham que foram? Eu fui só ladeira abaixo, principalmente na primeira semana que eu já tava vesga de ler tanto texto.
Er... queria dizer também, que a fic está acabando... Não sei dizer exatamente ainda quantos capítulos vão ter, mas provavelmente não serão mais que cinco restantes, imagino.
Eu não sei o que vou fazer da minha vida quando ela acabar... Talvez eu revise ela desde o começo e faça algumas alterações, embora outra parte de mim também queira deixar da forma como está para que eu veja as coisas que preciso melhorar nas próximas.
Mas já estou planejando outra fic para iniciar assim que acabar essa ou até um pouco antes talvez. Seria de fantasia também, mas com um foco um pouco diferente dessa.
Bom, é isso... Espero que tenham gostado e desculpem a demora e os erros.
Beijus do Jin😘😘
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