Na Lápide do Morto
Coloquei meu ouvido na lápide do morto
Era um dia de céu escuro, daqueles que causam arrepios
Surpreendi-me. A pedra falava
"Quem é que meu ouve aí de fora?"
"Faz frio aí embaixo?" me vi a perguntar, casualmente
A lápide riu. Era como se tomássemos nós dois um chá à tarde
"É claro que faz frio", murmurou a lápide, "a morte é fria, pobre tolo!"
E depois, com grande remorso, ela perguntara:
"Quem é que me ouve aí de fora?"
Resolvi puxar assunto sobre os vermes da terra
Talvez o morto conhecesse profundamente seus companheiros
de vida. Ou morte. Ou morte-vida. Ainda não sabia direito o que acontecia.
"Preferem se esconder na sombra a conversarem", disse o morto. Ri.
"De fato muito engraçado", disse eu, que achara muito engraçado
"Aqui também todos preferem ficar em silêncio de morte"
"Há pouco a conversar com o vizinho, senhor-morto", esclareci
"Só fofocas e tragédias. A morte parece espantá-los"
"E é por isso que fala comigo?", perguntou o morto, ensimesmado
"Oh, talvez seja", esclareci eu, "Qual seu nome, senhor-morto?"
"Pois não vê aí na placa?", disse ele rudemente, talvez magoado
A placa tinha o meu nome. Fiquei meio paralisado.
"Quem é que me ouve aí de fora?", perguntara por fim o morto
"Sou eu", respondi, sem ter certeza se era comigo
Vai que o morto era doido varrido e falava com pedras.
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