Do porquê do tempo ser como ele é


Não me prenderei aos ponteiros do relógio

Que ditam minhas horas vagas a que posso sorrir

Nem ao calendário gregoriano pregado na geladeira

Todo cheio de círculos e luas e números estranhos


O tempo a que me dirijo é a esta linha eterna

Que dá voltas em si mesma e se enlaça numa dança

Contorcido como novelo de lã


Quão cruel o tempo é


Demoramos demais para entendê-lo, é claro

Eu mesmo ainda não entendo, e espero demorar a entendê-lo

Por que quando se entende o tempo, se entende também a morte

E talvez isso seja uma das coisas mais assustadoras da vida


Temos todo o tempo do mundo quando pequenos,

Inocentes como só, acreditando que o tempo é qualquer coisa

Perdida em um sótão escuro que toca às sete da manhã

E que nos indica a hora do fim da escola e a finalização do almoço


Quando jovens, vemos no tempo um instrumento de agonia

Pois achamos que fomos todos tolos na infância, a gastar nosso nobre tempo

Em construir castelos de areia na praia ou a se lambuzar com sorvetes

E, como somos jovens tolos, mais tolos que uma tola criança,

Somos cegos e não vemos que estamos rasgando o nosso nobre tempo

Reclamando do tempo perdido, enquanto o tempo se perde


É porque o tempo é feito para ser gastado e rasgado

Nas lembranças do passado que são só histórias

E, também por isso, quando estamos alcançando o colapso

Paramos e pensamos: o que foi que fiz nessa vida toda?


E perdemos nosso tempo na nossa própria história,

Num ciclo infinito que não pode ser medido em calendários

Nem relógios de ponteiros ou digitais

Pois enquanto pensamos no tempo, perdemos tempo


Um bom tempo perdido, digo aqui de passagem, pois ansiamos, como os gregos

Que não caiamos no esquecimento

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