Lírio amarelo

Lacey contemplou o trabalho das próprias mãos por alguns segundos, permitindo-se sentir certa medida de orgulho. Todas as crianças brincavam unidas, os animais não estavam aborrecidos, os adultos interagiam entre si – após cobrir Lacey de elogios e deixa-la vermelha a ponto de ter de se refugiar com Twyla na sombra – e os visitantes que não eram da realeza não pareciam deslocados. Pelo contrário, Dash estava na companhia de Hadley, Isla e Spencer – esse, muitíssimo interessado nos contos do ofício da mineração – e Luke mostrava com avidez a Paul, Courtney e Julian os espécimes mencionados na estufa. Tudo ia a plenas gargalhadas.

— Deveria organizar mais eventos assim — a voz de Ashlyn fez-se ouvir ao seu lado, fazendo com que Lacey sorrisse com a fala. — Aí eu poderia ter mais dias de folga... Veja só, é um intercâmbio social!

— É mesmo. Já descobri qual é meu talento secreto: organizadora de eventos cotidianos.

Ashlyn gargalhou, indo beijar as madeixas loiras da irmã com carinho. Lacey sentiu um quentinho no coração, que quis registrar para o futuro.

— Fico muito feliz que tenha feito as pazes com você mesma, minha querida — Ashlyn assumiu o tom maternal que Lacey tanto amava. Ao passar o braço ao redor dos ombros da caçula, ela ainda acrescentou: — Se sente melhor?

— Foi uma boa experiência... Mas o que mais gostei foi de passar um tempinho a mais com vocês.

Ashlyn pareceu comovida com o comentário, já Lacey pegou-se perguntando como ficaria seu coração quando as altezinhas também alcançassem a adolescência. Provavelmente, seria uma comoção eterna.

— Ah, querida... — Ashlyn fungou, soltando-a finalmente. — Bem, eu... Vou deixar você curtir sua festa em paz.

— Já estou curtindo, tomei chá até ter de entrar em casa correndo com medo de fazer xixi nas saias...

Foi o suficiente para que Ashlyn gargalhasse até que chorasse um tanto. Beijando-a mais uma vez, Ashlyn deixou-a a sós para admirar a paisagem. Uma vez que Dash cruzou seu olhar com o dela, Lacey lhe ofereceu uma piscadela, encorajando-o a ir falar com a irmã mais velha. Como se tivessem lido sua mente, Hadley e Spencer trataram de se retirar para perto de Blair.

Suspirando, Lacey decidiu que era a hora de mais um gesto de coragem. Movendo-se no automático, Lacey rumou para a estufa.

Ainda faltava uma flor a ser entregue.

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— Você conseguiu plantar a orquídea!

Paul abriu um sorriso orgulhoso para a cunhada, bem no momento em que ela entrou. Sendo pega no pulo, Lacey não pode fazer muito mais do que sorrir e acenar com a cabeça.

— Oh, sim! Mas não fiz sozinha, Luke me ajudou!

Como confirmação, Luke abriu um sorriso acanhado. Courtney, que era a rainha da discrição, apenas sorriu de escanteio.

— N-não foi nada, Alteza. Só estava fazendo o meu trabalho.

— E o desempenhou muito bem — Lacey sorriu com gentileza. Em seguida, dirigiu-se ao pequeno Julian afagou seus cabelos castanho-acobreados. — Gosta de botânica, Julian?

— Muito, Alteza, mas gosto de geologia também! — o menino abriu um sorriso educado que derreteu tanto Lacey quanto Courtney. — Mas as flores vêm da terra, então acho que gosto dos dois...?

Lacey riu, com a caderneta em mãos. O coração parecia prestes a sair pela boca.

— Então, vai ter que me dar algumas aulas, Julian, porque não entendo nadinha de geologia.

Os olhos de Julian se iluminaram pelo reconhecimento. Porém, fosse como fosse, Courtney tratou de atalhar:

— Tenho certeza de que o Spencer possa te ensinar algo sobre geologia, querido. Quer dar uma voltinha para ver se o encontramos por aí?

— É verdade que ele é um pirata? — Julian sussurrou, segurando a mão que lhe era estendida.

— Acredito que não... Mas não desista de tentar achar a resposta na primeira tentativa.

Julian afirmou com muita seriedade. Lacey acreditava que, se ele tivesse papel e lápis em mãos, estaria fazendo anotações.

— Certo! Tchau, Luke! Tchau, Alteza!

Luke e Lacey acenaram, ao passo que Paul e Courtney saíram de mãos dadas com o garotinho. Foi impossível não sorrir com a cena. A distração foi tanta que, quando Luke pigarreou ao seu lado, Lacey demorou alguns instantes para retornar a si.

— Alteza — Luke realizou uma mesura, com as bochechas coradas. — Muito obrigado pelo... Hum... Convite. Foi muito divertido.

— Eu que agradeço por ter vindo, Luke. Não teria sido a mesma coisa se não estivesse aqui.

Luke abriu um sorriso caloroso, fazendo com que o coração de Lacey desse uma cambalhota involuntária. Certo... Talvez ela estivesse um pouco ciente dos perigos de permanecer ao lado dele. Mas, afinal, o que Lacey podia fazer a respeito? Colocar uma trave no coração? Fingir que não estava sentindo nada?

— Então... O que achou da última página? — Lacey indagou como quem não quer nada.

— Bem... Intrigante, para dizer o mínimo. Não consegui correlacioná-la com nenhuma de suas irmãs, Alteza.

Lacey riu com graciosidade, negando com a cabeça. Convidando-o a juntar-se a ela na bancada, Lacey abriu a caderneta e resgatou a pena e o tinteiro que eram seus melhores amigos enquanto estava na estufa. Enquanto Luke se aproximava, ela explicou:

— É porque não era para uma das minhas irmãs...

— Seus cunhados, então?

— Não! — Lacey gargalhou, quase borrando a escrita. — Ora, eu os amo, mas não iria compilar todos em um só!

— Hum... É, faz sentido. Não vou dizer dos seus sobrinhos, então.

— Piorou!

Luke permitiu-se rir por um instante, indo avizinhar-se dela para aguardar o resultado da escrita. No canto esquerdo, havia a prensa de um lírio amarelo, bem semelhante à sua própria flor favorita, o lírio branco. Do lado direito, vinha a descrição poética da flor:


Lírio amarelo

(Iris pseudacorus?)

Lilium sp

Verão/primavera

Sol e poda

A amizade que pode vir a se tornar um romance


Lacey aguardou com apreensão até que Luke lesse tudo com calma. Cada instante era uma agonia, mas a sensação se agravou quando ele começou a dar sinais de compreensão. Ele engoliu em seco, apenas para umedecer os lábios em seguida.

— Eu... Não entendo...

— O que? — Lacey usou um tom gentil na pergunta, olhando-o de soslaio. — O que não faz sentido?

— Você... Gosta de mim?

Lacey aquiesceu com timidez. Ah, droga!

— Mas por quê? Eu sou só... Só... Eu...!

Virando-se para ele, Lacey estendeu uma mão para que Luke a segurasse. Mesmo hesitando, quando ele o fez, toda a espera valeu a pena. O contato das mãos dele, tão delicadas e ásperas simultaneamente, era simplesmente divino. Lacey sentiu vontade de fechar os olhos e permanecer daquele jeito para sempre. No entanto, ainda não tinha terminado de dizer o que pretendia.

Por que você? — Lacey acariciou a ponta de seus dedos. — Você tem todas as qualidades que admiro em alguém, Luke... Você é gentil, é atencioso com tudo e com todos, é muito talentoso, engraçado, me entende e... Ah, Luke, você é o meu melhor amigo. Não considero esse o melhor lugar da casa apenas pelas flores...

Luke riu baixo, parando para admirar as mãos de ambos, unidas.

— Não me acha engraçado só porque fiz piada de você com a flauta, acha?

Lacey gargalhou, sentindo a tensão do momento se esvaindo. Já Luke sorriu com o gesto, relembrando o quanto a achava adorável.

— Não! Se bem que esse foi um fator agravante...

Luke riu um tanto abafado, olhando para ela com s gentis olhos castanhos.

— Por que não disse antes?

— Eu ia... Mas então eu vi você e a Kathleen juntos e... só consegui pensar que todo esse tempo estava sendo gentil comigo para se aproximar dela... Não tenho nada de especial, mas ela é toda linda e incrível...

Luke ergueu uma sobrancelha, aventurando-se a beijar as costas de sua mão. Lacey estremeceu um tanto, motivando-se a permanecer firme penas para ouvir o que ele tinha a dizer.

— Eu... Na verdade, eu queria algumas dicas do que podia fazer para agradar você... Não é porque suas irmãs são incríveis que você deixa de ser. Faz mais sentido pensar que você é incrível como elas, Lacey, e não que é a exceção à regra.

Lacey sorriu com as bochechas coradas.

— Você não me chamou de "Alteza"...

E Luke piscou em confusão pela aparente mudança de ideias.

— E-eu deveria?

Tomando uma lufada de ar e de coragem, Lacey colocou-se na ponta dos pés para lhe dar um beijo na bochecha, tendo o cuidado de não desmaiar no processo. Luke sorriu ao ponto de fechar os olhos, não se soltando de sua mão.

— Eu gosto mais quando me chama de Lacey.

— Seu pedido é uma ordem, Alteza!

— Ei!

— Estou começando por agora!

Lacey gargalhou, dirigindo a ele um sorriso doce em seguida.

— Sabe, Luke... Não precisava de tanto esforço para saber como me agradar. Você me agrada exatamente como é, e se mudasse qualquer coisa que fosse já não seria a mesma coisa.

— Sendo assim, Lacey, vou fazer um esforço terrível daqui em diante para ser eu mesmo.

E, enquanto Lacey morria de amores pela milésima vez de infinitas, ela também percebeu que havia subestimado a magia. Ela sempre estaria ali, pronta para ser usada

Era a vez de Lacey brilhar.

E ela não hesitaria por mais nenhum instante.

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