Capítulo 08
— O que faz aqui? – perguntei agora me recompondo do impacto que a presença dele causou em mim.
Ele sorriu, como fez da última vez que o vi. Me lembro do sorriso dele do mesmo jeito, com a mesma simpatia e com o mesmo brilho da última vez,Tom parece que não tem tempo para ficar triste.
Ele estava diferente desde a última vez que o vi, seu rosto tinha agora óculos graduados retangulares que o faziam parecer um adolescente de 17 anos.
Zion entrou no carro dando partida de seguida, mas até aquele momento Tom ainda não tinha me explicado o que estava fazendo aí.
— Vai me responder? – virei meu corpo na sua direção e cruzei os braços.
— Na verdade seu irmão está me dando uma carona – respondeu por fim — Tenho fisioterapia daqui a... – olhou para o relógio em seu pulso e de seguida para mim — exatamente 37 minutos.
Ainda não entendi porque o Zion estava levando ele, nem onde eles se encontraram.
— Pode me dar direção, Tom? – Zion perguntou para o Tom.
— Claro, é só virar na segunda esquerda e logo você vai ver a tabuleta bem grande com o nome do hospital, Santa Bárbara Medical center – até para explicar aquilo Tom sorriu.
Ou ele tem algum problema, ou ama sorrir de verdade mesmo.
— Alguém pode me explicar porque estamos indo levar o Tom para a fisioterapia? – falei um pouco alto causando um silêncio no carro.
Parece que Tom se sentiu mal pela forma que falei ou envergonhado, sei lá. Me senti mal por ter perguntado.
— Desculpa...eu não queria...eu não
— Não se preocupe – Tom disse, dessa vez não sorriu, mas não parecia estar bravo — Estava saindo do trabalho quando encontrei Zion na entrada da faculdade e ele me ofereceu carona, já que a minha mãe ia demorar um pouco hoje para vir me pegar.
O que ele fazia aqui?
— Espera, o que fazia na faculdade?
— Tenho um consultório dentro da faculdade, trabalho das 09:30 até 15:00, mas tem dias que são muitos casos e saio um pouco mais tarde, outros mais cedo.
Sua revelação me deixou surpresa, de todos os lugares jamais imaginei que ele tivesse um consultório aqui, e nem sabia que tinha um consultório de psicologia aqui.
— Que legal! – Exclamei sem esconder o quão surpresa estava — Você consegue me surpreender a cada palavra que sai da sua boca.
Suas bochechas coraram em menos de dois segundos, depois de eu dizer o quanto ele me surpreendia.
— Então, como foi a aula hoje? – mudou de assunto levando seus dedos até seus óculos, os tornando retos em seu rosto.
Depois da sua pergunta lembrei o dia chato que tive na faculdade e também de Michael me convidando para a festa da Sarah. Até foi legal da parte deles me incluírem nas suas coisas, mas prefiro não fazer parte delas. Já tenho muita coisa me perturbando, para ter que ir em uma festa e me culpar o tempo todo por estar em uma cadeira de rodas enquanto todo mundo está em pé se divertindo.
— Foi legal – menti, ele me olhou fechando um pouco seus olhos como se soubesse que estava mentindo.
— Quando entrou no carro achei que tivesse tido um dia péssimo.
E tive.
— Não foi nada de mais, é só o cansanso das aulas.
Ele não falou mais nada sobre isso, simplesmente assentiu e manteu sua atenção no celular em suas mãos.
Ficamos o resto do caminho calados, como se não estivéssemos lado a lado nesse carro. Não sei porque, mas aquele silêncio estava me incomodando. Normalmente Tom fala muito, tem sempre alguma coisa para dizer, mas agora ele está calado e isso está me incomodando.
Instantes depois chegamos no hospital.
Zion desceu para tirar a cadeira de Tom do carro e de seguida abriu a porta do carro para ajuda-lo a sair.
— Espera, eu consigo – Tom disse e de seguida, com alguma dificuldade, tirou os dois pés do carro, segurou a mão de Zion e mesmo eu não conseguindo acreditar no que via, Tom estava em pé!
Ele estava em pé!
Reto como se fosse uma pessoa normal e sem nenhuma deficiência.
Não sei explicar o que estou sentindo agora, sinceramente nao sei o que estou sentindo.
Zion ajudou Tom a caminhar, com alguma dificuldade ainda dele marcar os passos corretamente, mas logo ele estava sentado em sua cadeira como sempre.
Quando ele me disse que estava fazendo fisioterapia, não pensei que estivesse já conseguindo ficar em pé.
Meu Deus, até ontem não acreditava que isso era possível.
— Zendaya! – ouvi o grito do Tom e virei imediatamente meu olhar em seu rosto — Eu disse até amanhã.
— Para...onde vai?
— Para a fisioterapia...eu já disse para você no caminho, lembra?
— Claro...até amanhã então...
Queria poder explicar o que estou sentido agora, mas não sei. A única coisa que sei é que estou eufórica.
— Zen, não quer dar uma olhada no lugar? – foi Zion que perguntou — Tudo bem se não quiser.
Juro que se ele perguntasse isso antes de eu ver o Tom em pé, eu diria não sem pensar duas vezes. Mas vendo ele se levantar, embora que com alguma dificuldade, vi uma luz no fundo do túnel.
E se eu tentar e ter a minha vida de volta? E se eu conseguir andar se tentar a fisioterapia? Sempre me recusei a fazer porque não queria me iludir e depois tudo contribuir para que eu tenha uma frustração.
Mas e se haver alguma possibilidade?
— É melhor deixar que a Zen queira fazer isso por si só, Zion – disse Tom — Quando ela estiver pronta, tenho a certeza que...
— Eu quero!
— Quer? – os dois perguntaram juntos, parecendo não acreditar no que ouviram.
— Eu quero – repeti ainda dentro do carro. Nem eu mesma acreditei em minhas palavras.
— Você está falando sério? – Zion perguntou, dessa vez abrindo a porta do lado em que eu estava — Quer mesmo entrar?
— Eu já falei que sim, não me faça desistir com todas essas perguntas.
Ele entendeu na hora e não disse mais nada. Pegou a minha cadeira e num instante eu já estava sentada nela.
Tom e Zion pareciam felizes por eu estar sedendo a isso. Estou um pouco apreensiva, mas eu preciso fazer isso.
Entramos dentro do hospital e fomos para a ala de fisioterapia, havia muita gente. Adolescentes, crianças, adultos de todas as idades com várias deficiências. Uns com câncer, outros paraplégicos, outros com algum problema nos membros superiores e várias outras doenças.
A enfermeira do Tom veio até nós educadamente, conversou um pouco com a gente e de seguida levou Tom para a sua sessão. Ela até pensou que eu também faria, mas respondi que vim somente observar.
Tom já estava bem avançado, como ele mesmo havia me dito, provavelmente em pouco tempo ele voltaria a andar normalmente.
Já não tenho dúvidas, eu vou fazer fisioterapia!
•••
— Mas isso não é assim tão simples, Zendaya – disse o doutor me olhando através das lentes fixadas em seus óculos graduados.
— Como assim? – o sorriso em meu rosto morreu.
Passou um mês desde que estive no centro onde Tom fazia fisioterapia, demorei um pouco para procurar um médico. Mas finalmente tive coragem e pedi que meu pai me acompanhasse, para que eu falasse com um médico especialista.
— Você precisará fazer uma série de exames. Faz anos que sofreu o acidente e pelo que me contou, se recusou a fazer fisioterapia de primeira – assenti confirmando o que o médico acabou de dizer e ele continuou — Seu corpo se habituou a estar sentada nessa cadeira, seus nervos, seus músculos, tudo. Então, você terá que fazer exames, de seguida uma operação e só assim começar a fisioterapia, está preparada para tudo isso?
— Já esperei tempo demais doutor – falei convicta.
Meu pai segurou minha mão, aquilo me deu imediatamente o impulso que precisava para a ir em frente e não desistir no meio do caminho.
— Adoro pacientes otimistas – o doutor sorriu e se levantou em seguida — Vamos, minha secretária vai levar você para fazer os devidos exames e se tudo estiver nos conformes, daqui a duas semanas vamos preparar a operação.
Me senti muito feliz ao ouvir as palavras do doutor, fazia tempo que não me sentia desse jeito. Finalmente um motivo para me fazer ficar feliz de verdade depois de tanto tempo.
Depois de fazer todos os exames, eu e meu pai voltamos para casa.
Minha mente não para de imaginar minha vida longe dessa cadeira de rodas, eu vou dar tudo de mim na fisioterapia, eu vou conseguir voltar a andar igual ao Tom.
Nesse momento estou na sala vendo TV com a Zuri, meus pais foram jantar fora, Zion está no quarto dele. Zion disse que ia pedir uma pizza para nós, mas até agora não chegou.
Hoje é sexta feira, então não temos de nos preocupar em dormir porque amanhã é sábado.
A campainha tocou, nos tirando do nosso momento de paz.
— Quem será? – perguntei.
— Talvez o papai e a mamãe esqueceram alguma coisa – respondeu Zuri.
— Não acho, talvez seja a pizza que Zion pediu – ela ia levantar, mas Zion apareceu correndo.
— Eu vou! – gritou antes mesmo da Zuri levantar do sofá.
Ficamos expectantes olhando para a porta para ver quem era. Me surpreendi ao ver quem estava com Zion, não quis mesmo acreditar.
— Você? – falei assim que eles chegaram perto da gente com duas pizzas nas mãos.
— Oi... – ela falou, talvez envergonhada, não sei.
— Amor, essa é Zendaya e a Zuri, minhas irmãs – Zion disse, mas a única coisa que consegui gravar em tudo o que ele disse foi a palavra "amor".
— Amor? Como assim? – se pudesse me levantaria nesse exato momento, como assim meu irmão está chamando essa vadia de amor?
Como disse, meu irmão não tem muito gosto para escolher suas namoradas.
— Ela é a minha namorada – Zion disse, acho que um pouco incomodado com a minha reação — Parece que vocês já se conhecem...
— É claro que a gente já se conhece! – alterei um pouco a voz — ela fez da minha vida um inferno quando entrei na faculdade, como assim ela é sua namorada?
Zuri parecia perdida em meio a nossa discussão.
— Isso é verdade? – Zion virou para ela.
— É sim, mas eu só estava um pouco atordoada por conta do Michael – respondeu ela, não sei se fingindo estar arrependida ou se estava mesmo arrependida — Mas eu já expliquei isso para você Zion.
Zion pareceu pensativo.
Jamais podia imaginar que essa garota seria namorada do meu irmão, estou vendo, porém não consigo acreditar.
Sam Grey, namorada do meu irmão. Esses meses convivendo com as pessoas da faculdade, já consegui notar as diferenças que haviam entre Sarah e Sam. Sarah é muito reservada e já Sam é toda "cheguei".
— Zendaya, eu quero me desculpar, sei que fui muito rude – suspirou pesadamente — Mas estou muito arrependida. Eu estou gostando muito de estar com o seu irmão e não quero que haja nenhum mal entendido entre nós.
Baixei um pouco minha guarda, mas não totalmente. Se bem que ela nunca mais implicou comigo, mas já ouvi coisas não muito boas sobre ela.
Mesmo que me opor acerca desse namoro, Zion vai fazer o que ele quiser, sempre foi assim. Até quando toda a família ficava contra ele não desistia, continuava o namoro até quebrar a cara.
Então é só deixar até ele quebrar a cara novamente.
— O meu irmão já é bem grande para decidir com quem anda, e tudo bem, eu perdoo você e espero não mais ser o seu alvo.
— Você nunca foi Zendaya.
— Tá então, vamos comer? – dessa vez foi Zuri que falou — Estou morrendo de fome...
Eles pousaram a pizza na mesa e de seguida refrigerantes. Comemos a pizza falando de coisas aleatórias, bem aleatórias mesmo já que eu estava super incomodada com a presença da Sam, mas Zuri e Zion faziam aquele ambiente ser menos constrangedor.
○○○
Oi amadas, tudo bem com vocês?
Digam -me o que estão achando e não esqueçam de deixar o seu voto, pois me motivam muito a escrever.
Bjs e feliz sábado a todos e a todas.
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