Capítulo 07

Estávamos todos almoçando, quando digo todos estou querendo incluir Tom e a mãe dele. Minha mãe convidou e eles aceitaram. Não que ache algum mal nisso, só acho que minha mãe por vezes é um pouco...qual é a palavra mesmo?

Ah, sei lá.

Minha mãe não desiste quando quer alguma coisa, e sim, a palavra é persistente e muito chata também, na maior parte das vezes.

Meu pai e Zion também já haviam chegado em casa bem na hora que íamos começar a almoçar, só Zuri que ainda estava na casa da coleguinha.

— A comida está ótima – disse Elizabeth para minha mãe — Se continuar assim virei comer aqui todo final de semana – todos riram educadamente, todos menos eu porque estava concentrada demais em ver o Tom comendo, do que na conversa que eles estavam tendo.

Tom tem o rosto tão sereno, parecia que  ele não tinha problema com nada no mundo. Fiquei tão concentrada em seus movimentos que não tocava na minha comida.

— Eu ficarei muito feliz em recebe-la Elizabeth – minha mãe parecia muito feliz com todo mundo aí.

Faz tanto tempo que não sentamos para comer todos juntos, alegres e ainda com visitas em casa.

Admito que toda essa gente na mesa da uma sensação de paz, uma sensação de harmonia e um sentimento acolhedor. Parece que eles sempre fizeram parte da minha família.

— Filha... – mamãe tocou minhas costas de leve. — Não está gostando da comida? Quer que eu prepare outra coisa?

Olhei para o meu prato cheio de comida, peguei no garfo imediatamente desviando meu olhar daquilo que estava me fazendo não prestar atenção nas outras coisas, ou uma pessoa, para ser clara.

— A comida está ótima – sorri sem graça levando um pouco do arroz de polvo para a minha boca. — Eu só que não estou com muita fome.

Se fez um silêncio e o único som que se ouvia eram dos talheres colidindo com os pratos.

Tom olhava para mim de vez enquanto, como se quisesse me dizer alguma coisa, aquilo estava me fazendo não saber como agir. Me atrapalhei com o garfo algumas vezes e quase me engasguei com o suco de uva.

— Cuidado filha – papai deu palmadas leves em minhas costas. Eu tossia feito uma desesperada tentando normalizar a minha respiração. Todo mundo tinha os olhos concentrados em mim. — Bebe um pouco de água – papai estendeu o copo para mim que logo o peguei e bebi de uma vez só a água que nele tinha, já sentindo minha respiração voltar ao normal e o incômodo passar.

— Obrigada pai – falei num sussurro.

O resto do almoço foi calmo e só com conversas agradáveis. Tom e Zion pareciam dois amigos de infância, conversavam como se conhecessem a vida toda. Meu irmão não é de falar muito com estranhos, mas estava se dando tão bem com o Tom que só vendo para crer.

Depois de comermos o bolo de chocolate que mamãe fez, enquanto estávamos ouvindo um pouco da infância do Tom, basicamente as mesmas coisas que ele havia me contando sobre antes e depois do acidente, o telefone de Elizabeth tocou. Era o marido dela, ligou para avisar que estava esperando eles na porta da nossa casa.

— Foi muito bom tê-los em nossa casa, voltem sempre – disse mamãe satisfeita.

— Claro, mas pela próxima eu faço questão que seja em nossa casa – Elizabeth se levantou ficando atrás da cadeira do Tom.

— Combinado – sorriu mamãe. — Eu vou vos acompanhar até a porta.

— Até a próxima Zen, fique bem – Tom disse simpático, não disse nada, simplesmente sorri envergonhada e assenti.

Estou sentido como se tivessem borboletas brincando em meu estômago. Não sei porque estou me sentindo desse jeito, e para falar a verdade nem sei realmente o que estou sentindo.

•••

Finalmente a aula terminou e vou poder voltar para casa, estou me sentindo cansada.

Porque a segunda feira é tão entediante? Parece que as pessoas se desligam no domingo, porque na segunda parece que não têm força para absolutamente nada.

Quando passava maior parte do tempo no meu quarto, sinceramente nao ligava para a segunda feira até porque eu não fazia absolutamente nada a tempo inteiro. Agora com as aulas sinto um cansanso que nem vontade de levantar da cama dá.

— Está me ouvindo? – vi mãos abanando em meu rosto. Abanei a cabeça concentrando a minha atenção para o homem a minha frente.

— Oi Michael – falei sorrindo envergonhada.

— Parece que estava distante...

— Praticamente estava dormindo acordada. Então, o que disse mesmo?

— Estava perguntando se você quer ir para uma festa que vai se realizar na casa da Sarah hoje a noite – coçou a cabeça.

Claro que não!

— Hoje é segunda feira! – falei como se fosse óbvio. Mesmo que não fosse segunda feira eu não iria — Amanhã a gente tem aula.

— A gente estuda no período vespertino, temos muito tempo para recuperar as energias e vir para as aulas. Também não é uma grande festa, é só uma reunião de amigos.

Fiquei alguns segundos calada, talvez para o Michael pensar que estou cogitando ir nessa "reunião de amigos".

— Hoje não estou com muito ânimo para festas...

— É para isso que servem as festas, para nos animar – ele parecia empolgado, mas eu de jeito nenhum vou para essa festa.

— Deixo passar essa, mas obrigada pelo convite.

— Vai com a gente, vai ser legal.

— Hum hum – balancei a cabeça negativamente.

— Por favor...

— Eu falei não Michael! – minha voz saiu alta, ele deu dois passos para trás.

— Me desculpe, eu não queria...

— O que você acha que eu faria em uma festa? Ficar no meio de garotos cheios de vida dançando, se divertindo, enquanto eu estarei sentada no meio deles nessa cadeira de rodas? Me deixe em paz! – comecei a arrumar minhas coisas para ir esperar Zion na entrada da faculdade.

Michael não disse mais nada, pareceu assustado com a minha reação. Eu não voltei a olhar para o seu rosto, pois me sentia envergonhada. Não me sentia envergonhada pelas coisas que disse, mas sim por estar nessa cadeira.

Me sinto tão pequena, tão inútil.

Maldito acidente que destruiu a minha vida, eu nunca mais vou poder ser a mesma pessoa, eu nunca vou estar confortável em nenhum lugar que não seja o meu quarto.

Queria ser otimista como o Tom, ter a força que ele tem para lidar com a deficiência dele...enfim, sou um fracasso!

— Zen... – chamou, mas em nenhum momento olhei para ele. Mesmo assim ele continuou a falar — Sabe que você é perfeita?

Sua pergunta fez com que eu parasse de colocar meus pertences na bolsa e olhar fixamente para ele.

— Eu te conheço a tão pouco tempo e a única certeza que tenho é que você é perfeita, linda, a mulher mais linda que tive o privilégio de ver. Estar sentada nessa cadeira não te faz menos mulher, ou incapaz de frequentar sítios que outras pessoas frequentam. Tens limitações? Tens! Mas você não está isenta de viver porque não pode andar, você pode ser o que você quiser.

Ele terminou de falar e a única coisa que consegui pensar foi na conversa que tive com Tom. Ele disse quase a mesma coisa, só com palavras diferentes.

Não consegui dizer nada, ele continuou parado a minha frente, talvez esperando que eu dissesse alguma coisa, mas eu não vou dizer nada. Já ouvi esse discurso mil vezes, umas na minha mãe, Zion, as milhares de psicólogas que tive, do próprio Tom e agora do Michael.

Sinceramente, eu não preciso ouvir isso agora. Não me comove. Todo dia que lembro de tudo o que perdi com o acidente sinto raiva por não ter morrido.

Eu sei que sou linda, sei que posso fazer o que eu quiser, sei que posso ser o que quiser mesmo estando nessa cadeira maldita, mas eu não quero! Eu não quero ser nada sentada nessa cadeira, a única coisa que eu queria era poder desfilar novamente e isso nunca me vai ser devolvido.

Então não, dispenso as palavras motivadoras, não preciso delas.

Desviei o olhar dele e continuei arrumando minhas coisas. Depois de terminar, peguei no controle da minha cadeira pronta para sair da sala. Passei por Michael sem dizer nada, ele também não disse, só deu espaço para que eu passasse e sai sem olhar uma única vez para trás.

Todo mundo acha que não conheço as qualidades que tenho, mas eu reconheço todas! Minha mãe fica arranjando psicólogos o tempo todo para me ajudar, mas eu não preciso de ajuda porque tudo o que ouço já é do meu conhecimento.

Zion estava me esperando escorado no carro, como sempre. Assim que me viu correu até mim e pegou a minha bolsa do meu colo.

— Que cara é essa? – perguntou franzindo o cenho.

— Me leva para casa! – respondi passando por ele me aproximando mais do carro.

Ele não fez mais nenhuma pergunta.

Meu irmão me conhece o suficiente para saber que não deve perguntar mais nada para mim quando estou irritada com algo.

Colocou minha bolsa no banco de carona do carro, me pegou no colo, abriu a porta de trás e me colocou sentada no banco.

Hoje com certeza não é o meu dia, queria poder desaparecer por algumas horas.

— Droga! – resmungo baixinho dando um suspiro longo de seguida.

— Mau dia, Zen? – me assusto olhando para o lado imediatamente, que era de onde veio a voz.

A confusão em meu rosto era visível, estava tão inerte que não notei sua presença no carro.

Meu coração começou a bater acelerado, tanto que eu própria conseguia ouvir ele batendo desgovernadamente.

— O que...o que faz aqui? – pergunto sem entender

— Pensei que podia precisar de mim hoje...

Mesmo depois da sua resposta, a presença de Tom no carro do meu irmão ainda era confusa para a minha cabeça.

O que ele realmente faz aqui?

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