Capítulo 04
Mais um dia em que terei que enfrentar esse monte de gente, uma semana na universidade e mesmo assim não me habituei com nada ainda.
Mamãe me deixou na porta e voltou para casa, como sempre entrei sem chamar atenção de ninguém, me encaminhei para minha sala e me fiquei no lugar de sempre. Jogava no meu celular enquanto esperava que o professor chegasse. Esses dias na universidade têm sido suportáveis, felizmente não aconteceu mais nada depois de eu ter brigado com aquela tal de Sam e para minha sorte não voltei a ve-la.
E também o Michael Jordan não voltou a me dirigir a palavra, ele sempre chega atrasado na aula e por vezes sai antes que a aula acabe, ele parece ser bem estranho. Achei que fosse um tagarela de primeira, mas a uma semana que não ouço a voz dele na sala de aulas e nem para falar com os outros colegas que pelos vistos já o conheciam bem.
No fim de semana comecei a ver a casa de papel com a Zuri, e para falar a verdade já estou viciada nela. Estamos ainda no sétimo episódio da 1° temporada, decidimos que só íamos ver aos fins de semana por conta das nossas ocupações.
Entendi agora porque minha irmã falava da série com tanto entusiasmo.
O professor entrou na sala me tirando dos meus pensamentos e logo começou a aula. Fazer literatura até que está sendo bom, pelo menos tenho muitas coisas para ocupar minha mente já que antes não tinha e passava o dia todo pensando na desgraça que se transformou a minha vida, agora a matéria me ocupa e consigo não ter somente pensamentos negativos.
— Então, como já sabem as provas se avizinham – disse o professor no fim da aula. — Estudem todas as matérias que demos até hoje, não será nada de outro mundo, para quem estudar, é claro até semana que vem – pegou seu material e saiu da sala.
Como assim já teremos prova? Preciso que alguém me passe as matérias, mas quem? Eu não falo com absolutamente ninguém nessa escola.
— Eu posso passar – ouvi alguém dizer atrás de mim. Me virei automaticamente e dei de cara com o Michael.
— Não entendi – falei sem entender o que ele queria dizer.
— Eu posso passar as matérias para você – respondeu calmo. — Na verdade são alguns livros, tenho tudo no meu computador, se quiser eu posso passar todos para você.
Será que ele lê mentes?
— Como você...
— Imaginei – respondeu antes de eu terminar a minha pergunta. — Você acabou de chegar, imaginei que não tivesse as matérias.
Fiquei algum tempo o encarando tentando ler o que o rosto dele dizia, mas ele parecia bem fechado.
É só uma ajuda Zendaya, nada de mais.
— Tudo bem, eu quero sim a sua ajuda com a matéria – respondi depois de tanto pensar.
— Eu posso levar lá na sua casa – disse. — Se quiser, é claro.
Isso nunca!
— Não precisa, vou dar o meu HD para você – pensei rápido.
— Está aí com você?
— Não, vou só fazer uma ligação e pedir para o meu irmão trazer.
— Tem um irmão? – estreitou os olhos, mas logo fez uma cara como se tivesse dito algo que não devia.
— Tenho dois – respondi ainda sem entender porque ele estava perguntando aquilo para mim. — Um garoto e uma garota.
— Ah que legal, eu é que gostaria de ter irmãos. Meus pais faleceram e eu tive que... – parou de falar e sorriu sem graça. — Bem, isso não importa mais nê? Resumindo a minha história sou filho único e tenho a melhor avó do mundo, ela é tudo para mim e eu não sei o que seria de mim se ela não existisse. Mas e você, vive com os seus pais?
— Sim, meus pais, meus irmãos e uma gatinha linda.
— Sério que têm uma gatinha? E qual é o nome dela?
— Shine.
— Shine?
— Sim, é que ela é branca e brilhante – sorri ao lembrar do dia que minha mãe levou a gatinha para casa no aniversário da Zuri a um ano atrás. — Aí quando minha irmã colocou os olhos nela a chamou de Shine e ninguém teve mais dúvidas, decidimos que o nome dela seria Shine mesmo.
— Legal, a gente teve um cachorro a alguns anos, mas ele morreu.
— Ah, que pena – falei vendo que seu rosto ficou triste por ter falado aquilo.
— Pena mesmo, mas chega de falar de coisas más... Quer ir até a cantina comer alguma coisa? Lá vendem umas roscas, tenho a certeza que vai adorar.
Estava pronta para recusar o convite, mas uma voz interrompeu a nossa conversa.
— Mich, estou esperando por você – olhei para cima do ombro do Michael e vi a ex namorada dele parada na porta.
Eles voltaram?
— Melhor você ir, essa garota é louca e eu não quero problemas para o meu lado – falei assim que vi a garota se aproximar da gente. Ela parou do lado de Michael, seu cabelo loiro estava prendido em um coque no alto da sua cabeça, tinha um piercing pequenino no seu nariz, sua maquiagem era leve e sem muitos exageros como da última vez que a vi, resumindo ela é linda, muito linda.
Michael sorriu, olhou para ela e de seguida para mim.
— A Sam fez alguma coisa com você?
Olhei para a garota já sentindo receio de responder, juro que eu não quero brigar com ela agora.
— É melhor vocês irem, eu não quero atrapalhar e já deu minha hora de voltar para casa – falei já com o coração batendo acelerado. Comecei a arrumar minhas coisas rapidamente e me atrapalhando demais.
— Se acalme – dessa vez quem falou é a garota. — Isso já aconteceu várias vezes comigo, mas eu vou explicar, melhor, eu vou me apresentar para você – fixei meu olhar nela sem entender. — Meu nome é Sarah Grey, sou a irmã gêmea da Samantha. Gêmeas idênticas fisicamente, mas totalmente diferentes em questão de comportamento e essas coisas.
Isso é alguma brincadeira?
— Isso... é verdade? – perguntei não acreditando muito no que ela disse.
— É verdade – dessa vez foi Michael que respondeu. — Sarah é a minha melhor amiga, ela é praticamente meu eu no gênero feminino e me conhece como ninguém.
Agora entendo porque no outro dia eu vi ela com roupas diferentes em menos de dois minutos.
— Não precisa ter medo de mim, eu não faço mal á uma mosca.
— Ainda bem, desculpa ser franca, mas sua irmã não é lá muito... muito agradável.
— Eu mais do que ninguém sei disso, e só para te acalmar eu nem vivo com ela. Meu pai se separou da minha mãe quando a gente ainda era bem pequenas, e aí tivemos que escolher entre viver com o nosso pai ou com a nossa mãe e é claro que a minha irmã superficial ia escolher o meu pai por ele ser milionário, não que minha mãe não tenha dinheiro, mas meu pai tinha dez vezes mais e ela escolheu ficar com ele. Eu como era mais apegada a minha mãe fiquei com ela – aquilo foi mais como um desabafo, é o que parecia. — Eu e ela quase nem falamos, parecemos duas estranhas.
— Bem... que pena – foi a única coisa que consegui dizer.
— E então? Aceita o meu convite de ir até a cantina?
Porque não? Eles não parecem más pessoas.
— Sim, claro, vou só arrumar minhas coisas – sorri de leve.
Arrumei minhas coisas e seguimos até a cantina com Sarah empurrando a minha cadeira. Sarah é mesmo o oposto da Sam, ela é sorridente e extrovertida, sempre tem alguma coisa para falar.
A cantina não estava muito cheia, até porque era hora da saída e a maioria já estava voltando para casa. Nos sentamos em uma das mesas e Michael pediu as roscas que ele queria que eu provasse e três refrigerantes.
Pela primeira vez eu estava em uma ambiente com pessoas desconhecidas e para a minha surpresa eu não estava incomodada, pelo contrário, estava me sentindo bem avontade com eles, pareciam ser boas pessoas.
— Sabe, é tipo uma tradição a gente comer rosca todos os dias depois da aula – disse Sarah com uma quantidade enorme de rosca na boca.
— Não fala com a comida na boca! – Michael beliscou ela que deu um pequeno grito. — Estou cansado de falar isso para ela, Zen, as vezes ela parece uma criança ainda – explicou para mim me arrancando um sorriso.
— Vocês são uns fofos juntos.
— Somos não é? Pena que ele gosta de piranhas e ele... bem, ele não faz o meu tipo – disse Sarah e Michael riu.
— Não faço? Você sempre foi louca por mim, admite.
— Louca para te matar.
— Me matar de prazer ou assim?
— Não, com um tiro na cabeça mesmo.
Passamos tanto tempo conversando que nem notamos o tempo a passar, eles pareciam ter uma relação muito boa, muito além de amizade, eles pareciam irmãos.
Sarah contou quase toda a vida dela para mim, contou como não se dá bem com a irmã, como é feliz com a mãe, como o pai dela não dá a mínima nem para ela e nem para a irmã que vive com ele porque passa o tempo viajando, e mesmo assim a Sam insiste em viver com ele e de como a mãe sofre por conta disso.
— Meu amor – ouvi alguém dizer atrás de mim e quando me virei era o Zion. Olhei para o meu relógio e já passavam das 19:30, me esqueci completamente da hora.
Nossos olhares se concentraram no Zion que acabava de chegar. Ele estava lindo numa jaqueta preta, blusa branca, calça preta e um tênis branco.
Meu irmão é lindo mesmo, até eu me apaixonaria se não fosse irmã dele.
— Liguei várias vezes para o seu celular – se aproximou e deu um beijo leve em minha testa. Seu olhar estava concentrado em mim parecia que não via que pela primeira vez eu estava rodeada de pessoas desconhecidas e não estava surtando por conta disso. — Estava preocupado.
— Ah sim – peguei o meu celular que estava em cima da mesa e vi mais de 50 chamadas perdidas dele. — Eu coloquei ele no silêncio por conta da aula, e devo ter esquecido de tirar.
— Estava quase ligando para a polícia.
— Que exagerado – sorri de leve. — Só estava aqui comendo alguma coisa com os meus colegas.
Zion finalmente olhou para o Michael e a Sarah, e percebeu que eles estavam lá.
— Me desculpem – pediu ele coçando a cabeça. — Estava tão preocupado que não notei vocês, Zion, muito prazer.
— O prazer é todo nosso, Zion – Sarah respondeu sorrindo.
— Convidei ela porque a vejo sempre no seu canto e essas coisas, acabamos nos esquecendo da hora – Michael explicou.
— Fico agradecido por isso, na verdade toda a minha família agradece – Zion disse sorrindo. Provavelmente eles não entenderam nada e felizmente ele não explicou o porque das suas palavras.
— Obrigada pelo lanche – falei começando a organizar minhas coisas. — A gente vai indo, nos vemos amanhã.
— Não precisa agradecer querida, foi um prazer dividir o nosso momento mais íntimo com você, agora terá que vir com a gente aqui todos os dias.
— Eu não... – ia falar, mas Zion me interrompeu.
— Ela virá, ela ama roscas com refrigerante.
Olhei para o meu irmão querendo o matar, mas ao invés disso forcei um sorriso.
— Claro. Vamos? – olhei para o Zion
— Claro, meu amor – sorriu de leve.
— Até amanhã, gente.
— Até – os dois responderam, de seguida eu e o Zion fomos para fora da faculdade.
***
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