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Jungkook já tinha beijado antes. Honestamente, não tinha sido uma boa experiência, mas antes de perceber que o problema vinha de ter tido a experiência com a pessoa errada, realmente achou que a culpa era sua.
Acreditava que beijos eram coisa de ficção. Quer dizer, eles eram reais, bem reais, mas tudo o que se dava em volta deles era mentira. As borboletas, as cores, as batidas do coração aceleradas, era tudo mentira. Pelo menos era isso que ele achava.
Ao beijar Jimin, no entanto, teve a oportunidade de se provar errado. Claro que não sentira borboletas ou vira cores, mas quanto às batidas do coração... Caramba, nunca tinha mesmo sentido nada como aquilo.
– Jun?
– Eh, Jungkook! – chamou Yang a seguir, depois de descer do colo de Jimin.
Jungkook piscou os olhos algumas vezes e em passos apressados passou pelo amigo e pela irmã de rompante.
– Preciso de fazer chichi! – foi o que disse às pressas, correndo pela escada acima até o banheiro, fechando a porta e encostando-se nela instantaneamente.
A primeira coisa que fez foi puxar a manga do moletom para cima e beliscar-se na parte interior do cotovelo, embora não acreditasse fielmente que não fosse possível beliscar-se num sonho. Ainda desacreditado, aproximou-se do lavatório, abriu a torneira na água fria e atirou-a contra o rosto, se encarando depois no espelho. As mãos estavam pressionando as beiras do lavatório e os olhos em si mesmo no reflexo, semicerrados e em julgamento.
Quando finalmente aceitou que era verdade, voltou a ir contra a porta, deixando o corpo deslizar pela mesma enquanto mordia o lábio, ainda sem conseguir expressar tudo o que sentia.
E, de repente, foi atingido pela vergonha. Tinha beijado Jimin e, logo a seguir, tinha fugido dele. Como iria agora encará-lo depois de... dizer que tinha de fazer... chichi?
Quando começou a descer as escadas, depois de verificar no espelho que não estava vermelho, disse para si mesmo que podia agir de uma forma normal. Podia mesmo.
– Sim, ele estava mesmo babando. – Yang dizia da cozinha – Quer leite? Jungkook costuma preparar meu lanche, mas agora ele está ocupado fazendo um chichi do tamanho do rio Nilo.
Ao ouvir aquilo, Jungkook apressou o passo até a cozinha, encontrando Yang em cima de uma cadeira para alcançar o armário e Jimin sentado à mesa, a olhando com um sorriso no rosto.
– Meu Deus, Yang... – o mais novo aproximou-se com rapidez, rodeando a cintura da pequena com um braço e levando-a para o chão.
– Você estava fazendo tanto chichi que...
– Sim, sim, eu ouvi. – Jungkook a interrompeu, devolvendo a cadeira para junto da mesa e pegando os cereais que sabia serem os preferidos da irmã.
Ele ficou de costas para os outros dois, fazendo a taça para a mais nova.
– Amanhã eu tenho de ir ao hospital. Você quer vir? – Yang perguntou a Jimin, já sentada do lado dele.
– Amanhã?
– Pois é. – ela confirmou – E logo de manhãzinha, que é quando Jungkook pode ir.
Jimin olhou o moreno, ainda de costas para si e sorriu de canto.
Quando ele não respondeu, ela continuou:
– Eu fiz um amigo lá que ia gostar muito do seu cabelo.
– Aqui, Yang. – Jungkook finalmente deu os cereais para a mais nova, deslizando-os pela mesa e sentando-se depois em frente dela.
– Você gostou? – ele perguntou, passando a mão pelos fios lilazes.
– A tinta acabou a meio, foi? – de forma inocente questionou, enchendo a boca depois com uma grande colherada dos cereais coloridos.
– Não. – ele deu uma risada breve – Eu só achei que seria legal.
– E é. – concordou por fim – Não é, Jungguk?
– É, sim. Sim, é. – apanhado de surpresa abanou com a cabeça e, assim que o olhar pousou por um milésimo de segundo nos lábios de Jimin, foi invadido.
Agora, nunca mais se perderia na sua imaginação, nunca mais perderia tempo a imaginar como seriam os lábios de Jimin, se eram mesmo macios como pareciam, se o brilho se devia à humidade constante provocada pela sua língua e, com isso, nunca mais perderia tempo a pensar se alguma vez os realmente tocaria. Porque, agora, finalmente, o tinha beijado. Quer dizer... tinha sido beijado por eles... e fugido, depois, a sete pés.
– Eu vou lá em cima buscar o meu tablet e depois podemos ver o filme que Jimin disse que podíamos ver! – Yang disse de repente, ficando de pé e apressando o passo.
– Não! – Jungkook a agarrou por um braço, fazendo com que o corpo da menor richicoteasse para trás – Eu vou, acabe de comer. – ele disse mais baixo, ele mesmo apressando o passo para fora da cozinha.
E se ele ligasse a Yoongi ou Sun-Hee para ter a certeza de que não estava a sonhar? No piso de cima, no quarto da irmã, procurou por coisas estranhas. Como não conhecia o quarto da irmã de cor e salteado, se estivesse a sonhar, de certeza que surgiria à vista algo estranho. Não encontrou nada, apenas o tablet perdido entre os lençóis desfeitos. Cansado da falta de provas para as suas teorias, agarrou no tablet de forma impaciente e virou costas. Então encontrou o seu estranho, não apenas estranho, mas aterrorizador.
O seu peito encheu-se de ar e prendeu-o lá ao ficar de frente para Jimin. Não apenas de frente, mas extremamente colado, pois o antigo loiro estava ali mesmo, coladíssimo.
– Está fugindo de mim? – ele perguntou em um sussurro divertido.
Jungkook explodiu o ar preso para cima dele, esperando que uma resposta surgisse em sua mente. Jimin sorriu de canto, a sua mão correndo automaticamente para a cintura do mais novo quando ele deu um passo em falso para trás. O Jeon quase estremeceu sob o toque, o olhando sem piscar uma única vez.
– O que foi? – perguntou ele de forma inocente – Eu te beijei ou assim?
Jungkook fechou os olhos, tão esperançoso e crente de que logo em seguida seu corpo iria acordar em um salto, de volta à sua cama, no começo de uma segunda-feira bem mais normal do que a que acabara de sonhar.
Mas não.
– É agora que você diz: Não sei, faz outra vez. – Jimin brincou.
O mais novo, como se tivesse prestes a sair, rodeou o bíceps do mais velho com a palma e os dedos da mão, como se tivesse levado um susto e aquele fosse um movimento refletivo.
– Por favor, diz alguma coisa. – ele pediu, já envergonhado e perdendo a pose anterior.
Jungkook sabia muito bem o que ele queria dizer, se fosse sucumbir aos próprios desejos. No entanto, sem saber como, apenas disse de forma desengonçada.
– Pode... outra vez.
– O quê? – Jimin voltou com o sorriso presunçoso, a sua mão ganhando vontade de novo no canto da cintura do mais novo.
Queria ter coragem, para ser honesto. Queria ter coragem para mover o queixo para baixo e beijar o menor. Beijá-lo a sério, para que fique registado.
– Pede para eu te beijar e eu irei, Jun.
Mas porquê? Porque faria isso? Agora...?
Embora Jungkook tivesse acenado, esperando que fosse suficiente, Jimin não o fez. Ao invés, a outra mão, do braço que Jungkook ainda segurava, subiu para o seu rosto, onde se acomodou e deslizou o polegar pela pele com cuidado e calma. Sua testa caiu de forma lenta contra a do maior, suspirando baixinho.
– Isso te assusta? – perguntou o mais velho em um sussurro – Ou te deixa em êxtase?
Jungkook pousou a mão sobre a dele e, corajoso, disse de forma retórica:
– Não está vendo com seus olhos como me deixa?
Jimin quase pôde soltar uma pequena gargalhada. Arrojado, pensou.
– Não estou com os meus óculos agora... – disfarçou o de cabelos pretos e lilases.
Ao lembrar-se do mais velho com os óculos de grau, acabou mordendo o interior do lábio. Em seguida, sem que ele mesmo ou Jimin esperassem, levou a boca em frente, empurrando-a contra a do mais velho e segurando o seu ombro enquanto o beijava mais uma vez. Jimin o puxou mais depois, não deixando que fosse embora quando a coragem se esgotou, segundos depois.
– Eh, Ji, Jungk!
Na velocidade do vento, Jungkook empurrou o outro para longe, segurando no tablet na frente do rosto e passando as costas da mão pela boca húmida. De forma desconfiada, a mais nova parou na porta do quarto, olhando os dois. Felizmente tinha o hábito de anunciar a sua chegada pelos corredores.
– Porque estão demorando tanto?
– Bom... – Jimin resmungou, passando os dedos pelo cotovelo que tinha doído com o choque de ser jogado contra a parede – Brincando de luta...
Jungkook então arregalou o olhar ao perceber o que tinha feito e da forma que tinha feito.
– Jungkook te machucou? – ela perguntou, suspeitando.
Jimin negou com a cabeça, apertando o lábio entre os dedos para disfarçar e sorrindo depois.
– Escolheu o filme? – perguntou ele.
– Você está doido ou quê? – ela barafustou pelo quarto, arrancando o tablet da mão do irmão e batendo o pé para fora do quarto.
Em pânico, ao olhar Jimin ali no quarto e perceber que iam ficam sozinhos novamente, Jungkook apressou o passo para fora do quarto também, seguindo a irmã até o piso debaixo.
No fundo da sua cabeça, enquanto passeava pela sala para arrumar tudo o que precisavam, Jungkook ainda duvidava de tudo. Aquilo seria um daqueles sonhos em que as coisas parecem mesmo mesmo reais? Por mais que Jungkook tenha imaginado tudo, ainda era surreal.
Depois de baixar os estores e ligar o filme, Jungkook se sentou ao lado da irmã num dos dois sofás maiores e, embora a mesma tenha reclamado porque queria esticar as pernas, minutos depois já estava encostada no irmão, rapidamente sonolenta, como era costume. Jimin estava sentado no outro sofá e, por mais que tentasse ou quisesse, Jungkook nem sequer o olhava.
Jungkook nem queria insistir muito consigo mesmo. Já tinha entendido, não era um sonho. Os beliscões doíam, prender o ar só levou à falta dele e a sua perna já estava quase dormente pelo peso da irmã nela. E Jimin estava ali, real como nunca, o olhando de esguelha às vezes, porque ele via, mas não tinha coragem de o olhar. Não sabia bem porquê, para ser honesto. Queria olhá-lo, mas sempre que tentava lembrava-se logo... daquilo.
Pelo fim da tarde, já lá ia o filme quase no fim, a senhora Jeon chegou. Ao entrar em casa e ver Jimin, rapidamente ficou feliz, mas conteve o barulho ao ver a filha adormecida no colo do filho. Rapidamente os dois rapazes a seguiram para o cozinha, pouco interessado no filme animado e Yang ficou no sofá.
– Já que aqui está, fica para jantar, não é? – disse a mãe num tom mais baixo, enquanto pousava dois sacos de compras na mesa.
Jungkook foi espreitá-los, fingindo falsa ajuda e ignorando a pergunta dirigida ao melhor amigo.
– Posso ficar se Jungkook quiser. – ele disse, ficando do lado do mais novo.
A mãe olhou Jungkook, esperando alguma coisa, mas desentendido o mesmo acabou levantando o olhar apenas depois de algum tempo.
– O que foi? – ele perguntou, inerte.
Jimin riu do seu lado e a mulher disse:
– Ele quer, claro.
– Vou ligar à minha mãe, está bem? – Jimin avisou, já com o telemóvel nas mãos.
A Jeon esperou que Jimin saísse da cozinha para o jardim para dar um pataleco no braço do filho.
– Porque está agindo que nem um doido? – a mãe sussurrou enquanto o outro resmungava de dor – Jimin veio para te ver!
– Au! – ele grunhiu, esfregando o braço – O que foi?
– O que foi, Jungkook? – ela repetiu, mas como uma pergunta genuína – Aconteceu alguma coisa?
– Não aconteceu nada... – respondeu baixinho, tirando as coisas de dentro da sacola com lentidão – Jimin pode jantar com a gente?
A mãe negou em descrença, sem acreditar que Jungkook estava assim tão distraído e, depois, como ele não estava entendendo, ela confirmou com outro aceno.
– Amanhã você não precisa de levar Yang. – Jungkook disse à mais velha – Eu e Jimin a levamos.
– Hum... está bem.
‐ Jungguk? – todos ouviram a pequena chamar.
– Eu vou. – a mãe disse, se mexendo rápido.
Assim que a mulher saiu do cómodo, Jimin abraçou o moreno por trás, o fazendo prender o ar e dizendo de imediato:
– Respire.
E Jungkook respirou, porque era assim. Os braços de Jimin em volta da sua cintura, do seu corpo, sempre se assemelharam a paz.
– Você quer que eu vá embora?
A pergunta despertou Jungkook para as suas próprias atitudes. Tinha de fazer algo de imediato, porque Jimin estava se sentindo indesejado, inusitadamente.
O mais novo se virou, seus braços eram agora os que estavam na cintura do outro. Sua coragem se foi quando Jimin o olhou, de primeira surpreso e depois o desespero total de quem não quer ir embora. Jungkook também não queria que ele fosse.
– Não. – disse com calma, erguendo uma das mãos para lhe afastar os cabelos da testa – Não quero mesmo.
A pose segura de Jimin se foi. Eles se abraçaram novamente e o mais velho finalmente confessou:
– Eu também estou assustado. Não parece, mas eu estou. Não quero estragar nada.
Jungkook engoliu em seco. Quis dizer "me beije de novo", quis mesmo. Tinha vontade de confessar que quis aquilo por tanto tempo que era impossível que Jimin fosse estragar o que quer que fosse, mas não disse nada.
A sua mãe voltou com Yang no encalço e Jimin se afastou do abraço, embora lentamente, ao ouvi-las.
– Jimin ainda não foi embora, pois não?
– Estou aqui. – o antigo loiro disse com um sorriso à mais nova, se abaixando um pouco para a receber contra as pernas.
– Depois de jantar podemos brincar até tarde?
– Até tarde?
– Mamãe disse que você ficaria para dormir.
Jungkook arregalou o olhar para a mulher que, apanhada em flagrante, sorriu desengonçada.
– Eu só disse que seria uma boa ideia porque... amanhã vão cedo ao hospital. Não é uma boa ideia?
Jimin nem se virou. Não queria pressionar Jungkook. Se ele quisesse um tempo sozinho, dormir sobre o assunto sozinho, ele entenderia.
– É uma boa ideia. – o mais novo disse atrás de si.
Não pôde evitar, surgiu um sorriso e tentou escondê-lo.
– Perfeito! – Yang exclamou – Você não vem cá faz um tempão! Se calhar nem sentiu tanto assim a falta de Jungkook... – ela provocou, mas o irmão apenas riu baixinho.
– Eu só vim porque senti a sua falta, Yang. – disse Jimin, brincalhão.
Se fosse verdade, Jungkook estava ok. Porque mesmo que fosse por Yang, o moreno ainda o veria pela casa de qualquer das formas. Que se dane, às vezes só queria mesmo era ficar quieto e olhá-lo.
Pelas horas seguintes, Jungkook conseguiu agir como um adolescente normal. Eles jantaram com a mãe, riram sobre histórias engraçadas que Jimin contava acerca de ele e Taehyung que, pelo ano seguinte estavam pensando em viver juntos. E foi natural, Jungkook não estava nadinha perdido e nem por um minuto fora capaz de parar para pensar nos lábios do melhor amigo.
No entanto, tudo foi por água abaixo quando Yang começou a bocejar no sofá da sala por volta das dez da noite. Já devia estar na cama, claro, mas tinha auto-entitulado aquele dia como especial, afinal Jimin não ficava – infelizmente – ali para sempre.
Jungkook estava funcionando como uma máquina prestes a ser desligada ou a perder a energia. Estivera distraído até ali, nada de invasões de cenários imaginários nem nada parecido na sua cabeça.
– Quando a novela acabar você vai dormir, Yang. – avisou a mãe, atenta na televisão.
– Vai dormir comigo? – perguntou a mais nova para o de cabelos pintados, encostada de lado contra ele.
– O quê? Não. – atento, Jungkook respondeu rápido – Jimin-hyung é pequeno, mas ele nem cabe na sua cama.
– A minha cama é igual a sua, palhaço.
– Yang. – a mãe lançou um olhar sério.
– Mas na minha ele cabe. – Jungkook retrucou.
– Então porquê?
– Porque dormimos agarrados! – exclamou sem pensar.
– Jimin e eu também podemos dormir agarrados! – a irmã barafustou e, para mostrar o seu ponto, agarrou-se ao mais velho, que riu baixinho.
– Podemos dormir juntos um outro dia, Yang? – Jimin perguntou baixinho, olhando o Jeon e depois a irmã dele.
– Porque não hoje?
Jimin sorriu de canto, encolhendo-se para aproximar a boca do ouvido dela. Com uma mão cobriu metade do rosto e sussurrou-lhe algo ao ouvido pelo qual os outros dois ficaram curiosos de saber.
– Bom, está na hora. – disse a mulher, desligando a TV e ficando de pé. Estendeu a mão para a filha que, contragosto, lhe deu a sua – Vocês ficam? – perguntou ao filho.
Jungkook acenou, sem saber muito bem se queria subir já. As duas subiram de forma rápida, já habituadas àquela rotina e, logo de seguida, Jungkook saltitou para o lado do mais velho no sofá.
– O que disse a Yang? – curioso nem esperou para perguntar. Jimin sacudiu os ombros, fingindo-se desentendido – Ela vai contar à minha mãe. O que foi?
– Jun. – Jimin disse, segurando as mãos do mais novo e ficando mais perto dele no sofá. Estava meio de lado e Jungkook estava de frente para si, um joelho dobrado e o outro levantado – Quer me bater? – perguntou e, sem entender, Jungkook apenas negou com a cabeça – Boa.
Jimin se aproximou mais, uma mão segurando o maxilar do mais novo e o beijando de seguida. Jungkook foi para trás, sem fugir, mas deixando o corpo ceder até ficar deitado. O Park foi com ele, misturando as suas pernas e suspirando contra os seus lábios depois.
– Então dormimos agarradinhos? – ele brincou, deixando o corpo cair para o lado e deixando-os de frente um para o outro.
– Não dormimos? – de forma natural Jungkook envolveu o braço em volta da cintura do menor, o puxando mais contra si com receio que o mesmo caísse contra o chão.
E de repente parou. Seu olhar desceu de forma lenta para o próprio braço que segurava Jimin contra si. Tinha feito aquilo de forma natural, mas ainda assim era tão...
– Jungkook. – Jimin o segurou pelo queixo, cruzando seus olhares. Conhecia Jungkook, sabia que estava a perdê-lo numa batalha contra ele mesmo.
– Isso não é surreal?
Seu olhar se focou no do melhor amigo. A íris escura podia derrotá-lo ali mesmo, embora ele estivesse tentando que não. Queria ficar ali, porque ali é que era verdade.
Jimin acenou.
– Tenciono te beijar mais vezes.
Jungkook concordou, voltando a puxá-lo para si.
– Estou tentando...
– Fique aqui. Estou aqui. – Jimin assegurou, subindo a mão para a bochecha e acariciando-a.
– Porque está me beijando?
– Porque gosto de você.
O olhar de Jungkook foi rápido para o próprio braço, assistindo os pelos do mesmo subirem em um arrepio. Jimin notou, contendo uma risada.
– Vem cá. – dessa vez o mais velho o puxou, fazendo os seus pescoços se encontrarem em um abraço.
– Me ensine a respirar. – Jungkook brincou, tentando aliviar o que quer que aquilo fosse. Abraçou o menor e depois se moveu, querendo olhá-lo de novo e engolindo em seco.
– Te ensino tudo o que eu souber.
Jungkook sorriu desengonçado e, antes que notasse, seu olhar já estava pousado nos lábios do mais velho. Notando, Jimin sorriu antes de se aproximar e beijar o mais novo mais uma vez.
– Caramba... – eles ouviram.
Jungkook subiu o corpo num ápice.
– Yang! – exclamou surpreso, vendo a menor se levantar dos degraus da escada com visão para ali.
– Mãe! – ela chamou, correndo escada acima.
– Porra, não! – Jungkook gritou, empurrando o Park para saltar do sofá e correr tão rápido que nem ficou para ouvir as costas do mais velho estalarem contra o chão.
– Jungkook está beijando no sofá, mãe! – a pequena gritou no cimo das escadas.
– Yang! – gritava ele ao subir atrás dela, saltando degraus e quase caindo num deles.
– O que se passa? – a mãe apareceu no corredor, assustada com a gritaria dos filhos.
– Nada! – Jungkook gritou, agarrando a irmã e tapando a boca dela com a mão – Yang está bisbilhotando na sala, mas a coitada não sabe que quem bisbilhota na sala vai sozinha ao hospital. Completamente sozinha. – ele ameaçou, apertando-o contra si e impedindo-a de falar.
– Mãe, ele e Jimin - – ela disse após morder o mais velho.
– Sozinha! Oh, que triste! Completamente sozinha! – ele repetiu mais alto, a feição séria.
Ela o olhou, realmente acreditando naquilo e ficando calada por um segundo. Depois, mais esperta do que ele, disse na mesma.
– Jungkook e Jimin estavam beijando no sofá.
Jungkook bufou, virando as costas às duas e começando a descer as escadas. Derrotado. Derrotado por uma criança.
– Nada de beijos no sofá! – a mãe gritou para ele que, em negação, abanou com a cabeça.
Do fim das escadas conseguiu ver Jimin, no centro da sala, em pé e o esperando. Baixinho, o mais velho disse:
– Ela não disse nada sobre o quarto...
Jungkook suspirou, mas deixou escapar um risinho. Caminharia para Jimin, encontraria o seu corpo no centro da sala e o beijaria de novo. A mão que ele tinha estendida para si? A seguraria com confiança, o puxaria para si e não deixaria aquilo abalá-lo.
Assim que deu o primeiro passo, pisou um brinquedo pontiagudo.
– Oh, porra! – gritou, equilibrando-se em um pé e segurando o outro em dor – Porcaria de brinquedo! – se abaixou, apanhando o mesmo e atirando-o para mais longe.
– Ei, Jun... – Jimin se aproximou com calma, segurando as mãos dele e lhe sorrindo – Porque você fica tão nervoso?
– Estou... estou com sono. – ele murmurou, baixando o rosto e o pé de volta ao chão. Que vergonha, estava capaz de chorar.
– Certo, então vamos dormir. – Jimin, ainda segurando uma das suas mãos, o puxou pela escada.
Ignorando a dor na base do pé, Jungkook foi atrás dele.
Claro que não dormiram nada. Embora não entendesse nada do que acontecia, Jungkook deixou que Jimin o beijasse mais. Se deixou ser abraçado e mal parava para pensar, Jimin estava lá para o parar. Naquela noite não queriam pensar, queriam aproveitar o que tanto esperaram por ter.
Jungkook não podia parar para pensar quando fora que Jimin tomara aquela decisão, quando ganhara aquele sentimento, porque se parasse se daria conta da grande tragédia. Jimin estava pouco ciente do quão abalador isso poderia ser para o Jeon, mas pelas suas atitudes até parecia que ele desconfiava.
A manhã seguinte só serviu para provar a Jungkook que nada daquilo era um sonho. Estava acordado. Jimin estava dormindo do seu lado, os cabelos pretos cobrindo quase todos os lilases e metade do seu rosto. Seus dedos se aproximaram do rosto dele, trémulos só de pensar. O joelho do mais velho tocava a sua coxa, de frente um para o outro e a respiração dele ainda estava pesada e lenta. Depois, Jungkook apenas deixou os seus dedos enrolados nos do outro, ciente que dali a alguns minutos teria de se levantar.
O tempo não chegou. Antes de tudo, o de cabelos divididos estava sendo acordado pelo som estridente do seu celular tocando e ecoando pelo quarto. Atordoado, Jimin levantou metade do corpo, apanhando o celular da mesa de cabeceira e atendendo a ligação da mãe.
Jungkook assistiu a feição preocupada do mais velho por quase um minuto antes de desligar.
– O que foi? – perguntou logo, sentando-se na cama.
Jimin parecia não saber muito bem.
– A minha mãe... me quer em casa.
– Agora?
– Me desculpe... – ele pediu, ficando de pé e coçando os cabelos – Ela parecia preocupada. Acho que aconteceu alguma coisa. Podemos nos ver depois?
– Sim, claro. Sim. – Jungkook se levantou também, abrindo o armário e puxando um casaco de um conjunto de moletom – Está frio. – ele falou ao estender o casaco ao mais velho.
Jimin se vestiu rápido e apenas alguns segundos depois os dois estavam descendo as escadas. Na saída, Jungkook abriu a porta enquanto Jimin apertava os atacadores dos ténis. Quando o mesmo passou para o lado de fora, Jungkook sorriu curto, a mão prestes a se erguer para lhe acenar.
– Vamos conversar depois sobre... nós. Certo? – ele disse, ainda com a expressão sonolenta.
Jungkook acenou. A cabeça saiu para fora, espreitando para a rua e, quando não viu ninguém, subiu ambas as mãos para puxar o capuz para os cabelos do menor, aproveitando o gesto para o beijar enquanto segurava o tecido.
Jimin pareceu gostar, sorrindo-lhe grande e selando os seus lábios mais uma vez antes de ir. Jungkook se encostou na ombreira, negando para si mesmo o quanto aquilo não parecia de verdade. E se não fosse?
Seu olhar se arregalou quando se focou no outro lado da rua.
Taehyung estava o imitando do outro lado da rua, também negando com a cabeça e erguendo a mão quando o mais novo finalmente o notara. Jungkook encostou a porta de casa e rapidamente correu para atravessar a rua, deixando o seu corpo embater contra o do amigo e o abraçando.
– Que bobo, está descalço! – declarou Taehyung entre uma risada.
– Porque não me disse que estava cá?
– Porque só vim fazer papel de motorista. – ele brincou, sacudindo os ombros e enfiando a mão nos bolsos – Ou acha que Jimin chegou numa nave espacial?
Honestamente, ele era mesmo do espaço.
– Oh... mas é muito bom te ver!
– Eu bisbilhotei o suficiente para saber que valeu a pena. – ele comentou, sorridente – Finalmente.
– Você... você viu? – ele murmurou desengonçado, coçando os cabelos e tudo. Primeiro a irmã, agora Taehyung...
O mais velho acenou.
– E então? Não é melhor do que todas as vezes que imaginou isso acontecendo?
Jungkook o empurrou pelo ombro, mas sem ceder apenas disse:
– É bom.
– Você quer desmaiar?
– Eu não estou desmaiado agora?
– De verdade, Jun. – o seu tom se tornou mais sério – Eu estou muito feliz por vocês. Finalmente. Finalmente, porra. Eu esperei tanto.
– Você... você contou? – ele quis saber, pela primeira vez seu subconsciente procurando por uma justificação.
– Claro que não. – Taehyung abanou com a cabeça – Acho que ele só... caiu em si.
– E Ravi?
– Ravi foi um erro. Nunca devia de ter acontecido. – Taehyung resmungou, pouco crédulo naquilo – Mas Jimin te explicará melhor do que eu.
– Certo... – pareceu aceitar – Então... isso aconteceu mesmo?
– Não é um sonho, Jungkook. – ele gargalhou, sem se conter – Ou você sonha comigo muitas vezes?
– Algumas. – admitiu ele, sacudindo os ombros.
– Jimin foi embora porquê?
– Oh... eu não sei bem. – coçou os cabelos mais uma vez – A mãe ligou.
– Não se preocupe. Após esperar tanto tempo, ele volta rápido.
Sem entender, Jungkook perguntou:
– A viagem foi tão longa assim?
– Caramba, tipo anos.
Taehyung não estava sendo irónico e, talvez, se Jungkook tivesse deixado aquela passar ele e Jimin poderiam ter resultado.
– Anos?
– Já lá vão o quê? Seis ou sete? Mais?
Aqueles não eram números específicos demais?
– Seis ou sete? – Jungkook repetiu, a matemática funcionando na sua cabeça de forma automática.
– É uma história de amor horrível, para ser honesto. Não é? – Taehyung riu baixinho, provocando o menor com um encontrão – Quem demora anos para se declarar? Só vocês.
– Ainda não me declarei.
Talvez se Taehyung tivesse apenas concordado... rido... ficasse calado.
– Mas Jimin já, não é?
– Ele te contou antes?
– Oh, Jun! Isso é o peso de ser um ótimo amigo a guardar segredos. – ele murmurou, como se fosse uma bênção e um castigo ao mesmo tempo – Anos e anos. Vocês podiam estar juntos há tanto tempo.
Jungkook se sentiu atropelado por um camião e ele realmente poderia ter sido. Ficou calado tempo o suficiente para Taehyung notar o silêncio.
– O que está pensando?
– Preciso de ir. – ele disse, avançando em frente.
– O quê? Jungkook! – Taehyung chamou, mas Jungkook nem se virou, correndo para o outro lado da rua e entrando em casa.
Se encostou na porta, respirando fundo e fechando os olhos por um segundo. Os seus pés doíam de ter corrido contra o asfalto descalço. Previa lágrimas a chegar, mas não queria deixar. Antes que sua irmã falasse, já Jungkook sabia que ela estava ali.
– Vá se vestir. – ele mandou, sem abrir os olhos e ainda na mesma posição.
– Jimin-hyung? – ela perguntou.
– Foi embora. – ele disse, tentando se manter calmo – Vamos os dois.
– Está bem.
Ouviu os passos dela pela escada acima e, assim que pararam, seu corpo foi de forma rápida na direção da cozinha.
Não era sonho nenhum. Se muito, era um pesadelo disfarçado e, se não fosse, era um pesadelo que estava destinado desde o início e, feito burro, Jungkook havia caído.
Se Jimin sentia aquilo por ele assim há tanto tempo porquê que nunca tinha dito nada? Porquê agora? Porquê que nunca o tinha beijado como estava fazendo agora? Porquê? Se Jimin sentia aquilo há tanto tempo, porquê que nunca o tinha escolhido? Porquê que escolhera Ravi?
Jungkook nunca tinha admitido o que sentia por ele, mas ele sabia que isso era uma constante. Nunca se confessaria, nunca arriscaria perder a amizade com o melhor amigo. Mas qual era o fator para Jimin? Porquê que, agora, Jungkook já era uma opção viável? Porquê que, agora, Jungkook já podia ser beijado por ele? Porquê que, de repente, já podiam ficar juntos? Porquê que, agora, Jungkook já era suficiente?
– Estou pronta.
Jungkook não sabia ao certo quantos minutos tinha passado apoiado na mesa da cozinha.
– Você... Você não se vestiu. – a irmã apontou, confusa.
Jungkook se mexeu sem olhá-la, com medo que ela pudesse ver o quão confuso e miserável ele se sentia e estava. Deixou o pacote de leite em cima da mesa e depois pegou os cereais.
– Coma um pouco, ok?
– Ok. – ela murmurou, arrastando a cadeira para se sentar.
Uma linha de tempo estava circundando Jungkook, se enlaçando em nós que eram irreversíveis.
Ele se vestiu, calçou os all-star pretos e pôs um boné ao contrário na cabeça para evitar ter de se pentear. Levou a irmã até o hospital e, enquanto esperavam, tentou se distrair com ela. No entanto, quando entraram para a sala, não pôde mais fazer isso.
Yang estava conversando com o amigo que fizera e a Jungkook só sobravam questões.
Agora? Porquê agora? Jungkook estava mais bonito agora? Jungkook era mesmo infantil agora? Menos azarento? Jungkook era mais digno agora? Ou era porque o perfeito Ravi finalmente tinha cometido um erro? Mas... e antes de Ravi? Qual era o problema?
– Jungkook, seu celular. – Yang disse de forma distraída, entregando o mesmo ao mais velho e voltando a conversar.
Jungkook agarrou o aparelho, tentando se lembrar de quando tinha guardado o número de Eunwoo.
– Viu a minha mensagem? – perguntou logo o filho da namorada do seu pai.
– Espere.
Jungkook baixou o celular, procurando a mensagem e encontrando rapidamente uma fotografia de dois bilhetes para um concerto.
– Quer vir comigo?
Jungkook não queria ir, para ser honesto. Era como confraternizar com o inimigo.
– É hoje?
– Sim! E é super perto! Podemos levar o carro da minha mãe!
Jungkook não gostava de como se estava a sentir. Não gostava nada.
– Ok, até depois.
– Sim, eu te mando-
Jungkook baixou o celular, suspirando fundo.
– Vou ao banheiro. – avisou a irmã, levantando-se em seguida e caminhando para fora da sala pequena.
Enviou duas mensagens naquele momento e, cada uma delas, teve um grande peso nos capítulos seguintes daquela "história de amor horrível".
Para Wonwoo...Vou te assistir hoje.
A outra é segredo.
] n/a [
Oi... sei que passou um tempinho, mas espero que ainda tenha alguém aí!
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