where do babies come from? -Melanie Martínez
Nota da autora:
Essa música é da cantora Melanie Martinez, porém eu também usei uma releitura dessa música feita pela cantora Charlotte Greyson como inspiração.
Baseado em histórias reais, contem gatilhos( estupro, Dúvida religiosa, agressão)
Contem também muitas das minhas lágrimas.
-sunny
4077 palavras.
A desilusão do fim da infância veio relativamente tarde para mim, porém da pior maneira possível.
Desde muito jovem mamãe mentia para mim, reinos encantados, príncipes que salvam princesas, cegonhas que trazem bebês e fadas que te protegem de todo mal.
Mais agora eu estava mais velha, minha inocência foi tirada de mim, precisava de todas as respostas, para que eu possa ter certeza do que está acontecendo comigo, para que eu possa ficar aliviada, para essa sensação de nojo e vergonha sair de mim.
O que diabos eu acabei de fazer?
O que diabos ele fez comigo?
18 anos, agora eu tenho 18 anos ... Eu acabei de fazer 18 anos, mais na época faziam 3 meses que tinha abandonado os 16 e completado 17.
Agora estou sozinha, e meu "príncipe encantado" fugindo das sirenes que o perseguem.
Agora estou aqui, perdida nessa loja, sem nem imaginar o que eu vou precisar, sem saber como Proseguir daqui pra frente, desespero, nojo, angustia era tudo que eu sentia.
Abandono tudo e corro, não paro até chegar em casa
O que esta acontecendo dentro da minha mente?
Porque estou tão perdida? Porque tem tanto ódio em mim, porque sinto tanto ao mesmo tempo que não sinto ?
Minha mãe disse que está tudo bem, e vem repetindo isso, dês do fatídico dia que me pegou no hospital, dês de que minha barriga começou a crescer e não parou mais, ela esfrega meus pés a nove meses enquanto eu choro, eu não aguento mais nada disso.
O médico sugeriu tirar, disse que seria muito traumático pra mim, disse que já bastava tudo que eu tinha passado, mamãe disse que era uma vida humana, que deus me deu com um propósito, que era minha culpa e que eu nunca iria aceitar tal atrocidade, que iria lidar com os meus erros.
Mas não era verdade.
Ela nunca me deixa responder, mas nessa situação eu queria ter respondido, eu não tenho condições, minha vida inteira eu fui mimada, tive aulas em casa, só estudei a Bíblia, não sabia nada do mundo, não estava pronta para um bebê.
Principalmente por que eu não sabia o por que ele estava em mim.
Se era uma punição ou benção
— Mamãe? -chamo já em meio as lágrimas.
— Oh querida - ela me olha com complacência - seus peitos estão vazando!
Ela encaixa em meu seio direito a bombinha e eu continuo a chorar, ela acaricia meu cabelo, já está acostumada, quanto mais a barriga cresce mais eu tinha crises de choro sem motivo aparentemente.
— Mamãe - respiro fundo, tomando coragem para perguntar o que eu queria perguntar há mais de 9 meses - de onde vem os bebês?
Ela me encara, incrédula, ela sabe que não pode mais me proteger do mundo, eu já vi o pior que tinha para ver.
— Eu... Eu vou pegar seus comprimidos - ela foge do assunto e se distância de mim
— Você disse... - digo alto em meio as lágrimas e continuo - que eles vem de arco-íris e amor, mas não é verdade! Não teve arco-íris muito menos amor !
Soluço alto, lágrimas caem como cachoeiras, nada as fazia parar, chorava pois tudo doía, meu corpo, minha alma, da ponta dos dedos ao último fio de cabelo, eu não tinha mais forças, nunca me senti tão perdida e devastada, não acredito que tenha sentimento pior no mundo
— Mamãe, mamãe, me diga, por favor
De onde vem os bebês, realmente ?
— Ele veio...ele... daquele dia filha, ele veio por causa daquele dia.
Sei exatamente do dia que ela está falando, o dia em que ele me machucou, ela odiava falar sobre aquele dia, e eu também, mais nunca conseguirei esquecer, não era burra, sabia que tinha sido por causa daquilo, só não sabia o que exatamente, qual ato em si.
O convite para ir ver um filme na casa do menino que eu observava durante as aulas da catequese.
Nós não tínhamos celulares nem internet, éramos puritanos, os únicos filmes que assistimos na televisão eram religiosos, mas queria conhecer coisas diferentes por isso o convite me alegrou.
O cheiro estranho e forte de álcool na casa quando entramos.
O impacto das minhas costas com a parede sem mais nem menos.
Seus lábios contra os meus a força.
Como eu o empurrei e corri.
O modo como ele me segurou.
Como eu tentei correr e não consegui
Seu hálito em meu pescoço, que fez meu estômago se revirar a ponto de colocar o almoço pra fora.
Como ele me bateu.
Como ele tirou minha roupa.
E quando terminou, me deixou sangrando no chão sujo da sala de estar, deitada em cima do meu próprio vômito, sangue, suor e vergonha.
E mesmo assim eu não entendia qual desses atos tinha me deixado na situação que eu estava.
— Eles vêm de meninos que querem se escorar em você?
— Eles vêm de meninas que gostam de crescer muito rápido! Eu avisei que a sua roupa era indecente! - ela rebate, o que me faz sentir 10 vezes pior, ela odeia esse assunto por isso está na defensiva, mas não posso mais adiar essa duvida
— Eu só cresci um pouco... Eram dois dedos acima do meu joelho - Justifico.
— E foi o suficiente!
— Então ... eles vem dos gritos, das brigas,meninas que são inseguras sem mais nada ? - digo em um tom mais alto que o habitual, quase um desafio, não aguentava mais, não sabia o que fazer, ela me estressava e me fazia sentir ainda mais nojo de mim mesma.
— Olha como fala comigo garota! Você se meteu nessa por que quis! Eu já faço muito mais do que divia cuidando de você! Você só está aqui por que eu não queria que seu pai me deixasse! E mesmo assim eu te amo! Cuidei, alimentei e vesti! Não seja ingrata!
— Então é isso, eles vem de garotos que não querem ficar sozinhos, ou
garotas que infelizmente estavam correndo muito devagar, vem de gritar e gritar "Não, NÃO, NÃO" ?
Eu só tenho uma certeza ,vem de mim e o resto eu realmente não sei.
Ela sai do comodo batendo a porta, e eu seco as lágrimas na camiseta e troco a bombinha de peito.
Afastando os pensamentos que agora me invadem, tento afasta-lo pra longe
assim como ele me puxou tudo volta rápido e sem dó
Bloqueando aquela imagem que eu poderia viver sem, o sangue entre as minhas pernas e a dor para levantar do chão.
Memórias que nunca me abandonam.
Acontece que eles não vêm de arco-íris e amor, eles vêm de garotinhos que põe e estocam para dentro de você, eles não vêm de fadas à noite, eles vêm de garotinhas assustadas que não puderam lutar,eles vêm de garotos que querem viver fazendo nada, eles vêm de garotas que gostam de crescer muito rápido, eles vêm de gritos, brigas,
Eles vêm de todo mundo, incluindo você.
Papai entrar no quarto, ele não se incomoda por eu estar sem camisa, nós últimos meses eu não tomo banho muito menos me visto sozinha, ele e mamãe se revezam, me ajudam, hoje como me senti melhor pensei em comprar algo para o bebê, mais não consegui, não consigo nem me imaginar com essa criança.
— Filha... Você magoou sua mãe. O que houve? Você não é disso
Como explicar para ele? Como dizer que estou quebrada em caquinhos tão pequenos que eu não consigo colar, e mesmo se conseguir eu sou como um vaso de vidro, sempre haverão marcas da cola, e se um dia cair de novo se estilhaça.
Como dizer que eu não consigo lidar com tudo isso, que as cicatrizes estão não só em meu corpo mais em minha mente, que eu vou sempre ter uma lembrança constante correndo em meu sangue, literalmente, e outra lembrança constante correndo pela casa.
Oh Deus, sei que é uma criança, que não tem culpa de nada, mais me conceda seu perdão, pois eu a odeio, odeio como nunca odiei nada antes, odeio assim como odeio cada centímetro do meu corpo que ele encostou, odeio essa criança como odeio ele.
— eu não sei como agir, não sei mais o que é certo ou não, não consigo e não quero essa criança!
— filha querida, isso são os hormônios, esse bebê será sua luzinha!
-— Então me ajude papai, como eu ponho essa luzinha para fora? Como apago ela ?
— Pode não parecer mais Deus escreve certo com linhas tortas, ele tem um plano.
— E por que ele é tão cruel comigo papai? Por que não estava comigo?
— Nunca diga isso, deus está em todos os lugares o tempo todo, ele é bom o tempo todo
Meu sangue ferve, já ouvi essas frases antes, sempre as repeti, acreditava nelas fielmente, e agora não faziam mais sentindo.
—Como isto é certo ?! Eu não sei nada da vida, vocês me protegem dês de sempre, não quero e nem estou pronta para uma criança! E se ele está em todos os lugares como ele não impediu ! Eu sempre fui uma fiel, segui todas as malditas regras, pra que ?! Onde Deus estava enquanto ele me batia ? Onde Deus estava enquanto ele tirava minha roupa? onde ele estava quando ele entrou em mim? - solto uma risada sem graça em meio as lágrimas, meus olhos estão quase fechados de tão inchados mais o choro veio para ficar e demostrar toda minha angustia - eu pensei em duas possibilidades, ou ele não existe e o mundo é um lugar cruel que está sempre tramando nosso mal ou ele existe e viu o que houve, e decidiu não ajudar, assistiu todo aquele horror sem levantar um dedo, o que significa que ele é cruel, então pai, me diga ele é cruel ou não existe? Não sou mais criança, toda minha inocência foi tirada de mim, então me conte a verdade!
Jogo na direção da parede a bomba de leite lotada
Que bagunça adorável eu fiz, o leite quase transparente desce em gotas grossas pela parede, meu pai me observa amedrontado, nunca fui de reagir assim.
Oh, a quem estou tentando enganar, essa não sou eu, eu não respondo, não me rebelo, não contrário, estou tentando esquecer a dor, apenas isso, preciso de alguem para culpar, que seja Deus, o bebê, ele, ou meus pais, qualquer um pra me distrair da verdade cruel.
Eu me culpo.
As vezes acho que mamãe tem razão, minha saia era curta, eu não divia sair com um menino, pelo menos deveria ter visto que ele não era boa pessoa, não sei como, mais de alguma forma a culpa era minha.
Sinto algo acertar meu rosto, um tapa ardido e forte, bem em cima das lesões já existentes, meu rosto doeu, e junto as lágrimas sinto algo a mais escorrer.
— Não blasfêmie criança tola! É por causa de atitudes como essa que você esta em tal situação!
Papai me olha furioso, vejo um pingo de arrependimento em seu rosto ao notar que o tapa tinha reaberto um dos cortes em meu rosto e agora o sangue descia pelo meu pescoço pegando carona nas lágrimas, enquanto eu mal conseguia me mexer,não conseguia limpar, não sentia mais nada, nem sabia se ainda respirava.
Ele trava uma batalha interna, mais como sempre o fanatismo religioso e o orgulho o impedem de se desculpar, vejo ele abrir a porta e segurar firme a maçaneta, ele se vira em minha direção como se quisesse falar algo, ele pensa, abre e fecha a boca, como se as reais palavras não saíssem.
Eu sei que estava em uma condição deplorável, suja, cansada, com os olhos inchados pelo choro, o corpo coberto de hematomas, sentia meu olhar perdido, clamando por ajuda, eu, com certeza, não era a mesma menina contente de 9 meses atrás, as feridas eram profundas, iam até a minha alma, nada nem ninguém me faria esquecer ou relevar o que aconteceu comigo, nunca voltaria a ser a mesma menininha inocente, ela morreu naquela casa, no chão daquela sala suja, ela não iria mais voltar.
E meu pai pareceu perceber isso.
Por fim ele disse
— Limpe isso - ele apontou para meu rosto - seja lá o que use lembre-se de botar fogo, não precisamos de mais pessoas doentes.
O nojo era claro em sua voz, repulsa pelo que estava vendo, pelo o que eu me tornei.
Levanto obediente, caindo em meus próprios pés, passo a mão no rosto na intenção de limpar minha visão e conseguir ver meu objetivo, porém foi inútil, quanto mais eu tentava, mais lágrimas apareciam.
Tento me apoiar na parede e sinto a mão deslisar pelo leite que tinha jogado ali minutos antes, vejo a poça de leite perolado no chão e não consigo desviar, piso nela e sigo em direção ao banheiro.
Ao chegar na porta viro para trás e observo a marca de sangue que sujou a parede, foi uma péssima ideia passar a mão no rosto e depois tentar me apoiar, vou ter que limpar muito bem tudo isso.
Abro a porta do banheiro e me observando no espelho, vejo a bagunça atrás de mim.
Que bagunça adorável ele fez comigo.
Limpo meu rosto com papel higiênico, observando os cortes superficiais que decoram meu rosto, 5 cortes, um pra cada dedo, começando na altura da minha bochecha, logo abaixo do olho e descendo até meu queixo, cortes que meu agressor fez com as próprias unhas enquanto tentava virar meu rosto para que eu olhasse pra ele enquanto ele fazia as atrocidades com meu corpo.
Cada lembrança revira mais meu estômago.
estou coberto de band-aids, tiro a camisa em um ato impulsivo e me olho, alguns hematomas amarelados decoram meu corpo até a grande e evidente barriga.
Observo os papéis que usei em cima da pia, cobertos com meu sangue, preciso achar o isqueiro, assim como o bebê que estou gerando não faço ideia de como peguei essa maldita doença, assim como sobre esse bebê eu só tenho uma certeza, ele me passou.
Lembro o que aconteceu pós o acidente,do tempo que passei deitada no chão, lembro dele me jogando já vestida pra fora da casa, lembro de ir chorando até um hospital próximo, lembro da dor em todo meu corpo mais principalmente abaixo do meu ventre, cheguei e pedi ajuda, me deitaram na maca e pediram pra contar o que tinha acontecido, eu não sabia como falar, então viram o sangue na minhas pernas, tentaram encostar, hoje sei que só queriam ver onde estava sangrando, porém na hora era tudo muito recente, ainda sentia que eram as mãos dele, ainda achava que estava lá, e o desespero assumia o controle, me debati e gritei, até sentir uma picada e depois disso eu apaguei.
Quando eu acordei meus pais estavam conversando com o médico, Lembro de cada palavra
— Quem seria tão cruel a fazer isso com o meu bebê ? - minha mãe chorava e murmurava
— Senhora se acalme, a polícia está a caminho para fazer o boletim de ocorrência, o kit estrupo foi coletado assim que vimos indícios de abuso sexual, mais preciso perguntar de novo, não podemos administrar nenhum anti concepcional? Como uma pílula do dia seguinte?
— Não senhor.
— Sei que não é 100% certo a gravidez mas ela é jovem e pelo que disseram era virgem, então as chances são altas ...
— nós temos fé - mamãe afirmou- o que tiver que acontecer acontecerá!
Lembro do suspiro educado do médico e abro mais os olhos, ele não viram que eu acordei ainda, e a voz não sai de forma alguma.
— eu insisto que pelo menos façam o teste de gravidez daqui um mês, se for confirmada podem entrar na justiça atrás de um aborto já que está na cara que ela foi estuprada.
— Um médico que defende o assassinato de uma criança?! De um inocente! Que tipo de pessoa cruel você é? Eu quero outro médico! Agora me tragam outro médico!
Ela começou a gritar alto por outro médico e minha cabeça doeu, o médico sai da sala acenando pra eles e afirma que vai chamar outro doutor.
Então meu pai me olha e percebe meus olhos abertos
— Oh querida - ele acaricia meus cabelos- uma coisa horrível aconteceu com você mas papai e mamãe estão aqui
Tento falar e novamente não sai nenhum som
— Respire meu bem, você vai ficar bem, vamos cuidar do seu guarda roupa e dos seus grupos de amigos, isso nunca mais vai acontecer.
—Senhores? - observo a mulher com entra com um uniforme cirúrgico cor de rosa.
— Você é a nova doutora? Só me diga que é favor da vida e cumpre o juramento que fez ao ganhar seu diploma.
— Com toda certeza senhora, mas eu sou só a enfermeira, vim trazer os resultados dos exames.
— Mais médica que aquele outro que estava aqui!
Ela sorri sem graça e minha mãe mantém a pose de superior, a enfermeira me olha com pena e complacência.
— Agora me diga menina tem algo sério acontecendo com a minha filha ?
— Deveríamos esperar o médico.
— Pode nos falar - minha mãe questiona nervosa- qual o problema ?
— Os testes deram positivo, ela tem AIDS.
Depois disso eu só voltei lá para o pré natal, e todo médico que sugeria aborto era posto pra correr pela minha mãe
Voltando ao presente onde essas memórias me apavoram soco o espelho com um grito e vou ao chão, caio na porta, na divisa entre o quarto e o banheiro, observo o meu redor, no chão os cacos de vidros sujos de sangue se espalham o quarto todo sujo de leite eu, ali no chão, sem conseguir me mexer, em posição fetal, volto a chorar, por que tudo isso tinha que acontecer?! Por que logo comigo?!
Eu só queria saber, De onde vem os bebês, realmente?
Queria saber se eles vêm de meninos que querem se escorar em você, assim como aquele monstro se escorou em mim e me fez acreditar em suas mentiras?
Eles vêm de meninas que gostam de crescer muito rápido, como eu que estava com uma saia curta de mais quando fui visitá-lo?
Eles vem dos gritos por socorro, das brigas no chão daquela sala suja em quanto eu tentava desesperadamente fugir?
Meninas que são inseguras e não tem mais nada, como eu agora, deitada no chão cercada pelas minhas lágrimas, sangue e cacos de vidros.
Sinto um desconforto entre as pernas, vejo que minhas calça estão molhadas, ótimo não controlo mais minha bexiga.
Mas não parecia urina.
Uma dor forte na região do ventre me traz a certeza, não é urina.
Novamente a dor, como se estivessem me batendo com um taco, grito, tem algo errado, tem algo muito errado, nunca senti tanta dor.
O corpo dói e a dor vem em intervalos cada vez grito mais.
— menina pra que tanto grito! Tá querendo chamar a atenção de quem ? - minha mãe entra no quarto e me procura com os olhos
Quando ela me vê ,deitada ali enquanto gritava de dor, a ficha parece cair e ela arregala os olhos
— Ai meu deus O bebê está chegando!
Ela se aproxima mas evita encostar, ela recua quando vê o sangue, parece desesperada, como se eu fosse tóxica, enquanto eu rolo a procura de uma posição confortável que alivie a dor latente.
— Eu preciso de ajuda! - vejo ela com o telefone no ouvido - minha filha, ela está parindo! Mais está sangrando muito, ela está no chão! Venham rápido!
Tem uma pausa curta em sua voz aguda. Porem logo volta com um grito
—Eu não posso encostar, ela é contagiosa! AIDS ela tem AIDS!
Ela desliga o telefone e corre pela casa voltando com meu pai, ele me encara e sinto a dor novamente, não tenho mais nenhuma gota de água para chorar, e no momento só penso na dor, como dói, ninguém me disse que iria doer assim.
Logo estou na ambulância, como só tinha lugar para um meus pais preferiram não vir junto e me encontrar no hospital
— respira mãezinha, seu bebê já vai chegar - disse a médica acariciando minha barriga, ouvi-la me chamar de "mãezinha" era nauseante, mais algo não saia da minha cabeça, eu precisava saber.
— Doutora - solto um resmungo de dor - da onde vem os bebês ?
— Como? A senhora está perguntando por onde ele vai sair? Olha na situação atual pela posição do bebê eu indicaria uma cesária.
— Não é isso - resmungo novamente- isso eu também não sei, mais quero saber o que eu fiz pra ele chegar aí dentro.
— Aí meu deus, o que fizeram com você ? - o doutor que estava no banco do passageiro questiona.
— me conta por favor ! Ninguém me fala nada, eu não tô pronta pra isso, não sem saber...
— Sexo querida, ele vem do sexo.
— E o que é isso ? - percebo que minha pergunta constrange a todos, a ambulância faz uma curva e entra em uma estrada esburacada, sei pois sinto cada solavanco.
— É... Em termos médicos, a penetração, quando um menino coloca as partes nas suas, essa ação.
— Mais eu não queria! Eu não deixei, ele me forçou! eu pensei que era só mais um jeito de me machucar, pensei que ele gostava de me machucar - soluço e me contrário com a dor- se ele queria um bebê por que não ficou para pegá-lo ? então por que, por que Deus me deu um bebê ?
— Liga pra polícia - a doutora avisa ao motorista e ao carona- fique calma, eu sei, não é justo, o mundo é um lugar cruel, mais vamos pensar na sua vida e na do seu bebê, okay ? Preciso que respire e se acalme, pra não fazer mal nem pra você e nem para o bebê.
Eu não entendia nada, ninguém tinha um motivo ou explicações plausíveis para tudo isso e era horrível, eu estava nervosa, queria paz queria que tudo acabasse.
— Vamos te dar algo pra te acalmar tudo bem, seus batimentos estão muito rápidos e isso vai fazer mal para o bebê - ela coloca a máscara em mim e sinto a fumaça branca me atingir, e ao aspirar as ideias vão ficando cada vez mais confusas- pobrezinha, agora vai dormir e quando acordar já vai estar com seu lindo bebê nós braços.
Foi dito e feito, cai em um sono gostoso, a tempos eu não dormia assim, foi relaxante, e eu queria que durasse para sempre.
Porém volto a sentir minas pálpebras, a dor na barriga agora parece a dor de um corte, e mesmo ela ainda estando bem inchada parece menor, minha mãe está ao meu lado vejo ela acariciar meu cabelo que está molhado por algum motivo, sinto a cabeça pesar, e ela sussurra um "bom dia" me esforço o máximo que consigo e a encaro sussurrado de volta
— Eu sei agora, eu sei de tudo, sei da onde vem os bebês.
Ela me olha apavorada e não responde, está imóvel, papai aparece magicamente e entrar no quarto com um embrulho azul em mãos
— Vamos conhecer a mamãe ?- Ele questiona ao embrulho e se estica na intenção de me entregar, mais quando eu olho para dentro eu me apavoro.
É ele, é a cara dele, o cabelo escuro, o nariz pontudo, queixo quadrado e a pele morena clara como se estivesse bronzeado, é ele, não tem como negar.
— Tira de perto de mim, tira ele de perto de mim! - berro e tento me afastar da criança, os médicos entram no quarto rápido enquanto eu repito pra tirarem ele de perto de mim e os aparelhos a mim ligados apitam alto e frenéticos mostrando minha agitação.
Um dos médicos me abraça na intenção de me acalmar e me deitar na maca novamente, observo por trás dele o meu pai segurando o embrulho que tanto me assustava e me olhando surpreso, o embrulho chorava e meu pai o balançava.
Já a minha mãe agora estava duas vezes paralisada
Acho que é uma reação normal para ela esses sempre foram os maiores medos da minha mãe, que eu descobrisse a verdade sobre o mundo que estava
Ela nunca quis que eu visse ou descobrisse a parte ruim do mundo, mais o mundo é cruel e me mostrou da pior maneira possível.
Agora eu sou a prova viva de toda maldade do mundo
Eu sou a prova de que os bebês vêm de
Meninos que querem se escorar em você
Eles vêm de meninas que gostam de crescer muito rápido
Eles vem dos gritos, das brigas, do sexo
Mas principalmente de meninas que são inseguras sem mais nada.
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