[Epílogo] Baile de Outono


3 semanas depois...

"Você precisa de um gloss!" Foi o que Mia disse, desaparecendo do meu quarto e voltando segundos depois, com um tubinho. "Aqui. Vamos, se incline pra eu passar em você."

Inclinei meu rosto para frente e ela passou o gloss nos meus lábios.

"Pronto. Agora olhe para mim, quero ver se falta mais alguma coisa." Encarei minha irmã, que estava com a maquiagem impecável. Com seu vestido tubinho pink e o cabelo amarrado em um rabo de cavalo sofisticado, ela parecia uma boneca. "Hmm, bom. Você está tão linda! Tão parecida com a mamãe."

"Obrigada. Você também está linda." Elogiei de volta. Me olhei para o espelho uma última vez antes de me levantar. Era engraçado me encarar de cabelo preso. Mia havia feito uma trança camponesa em mim, o que me deixava com o rosto mais exposto. Eu conseguia enxergar em mim alguns traços muitos semelhantes à da minha mãe. Com a maquiagem delicada e meu vestido amarelo, eu me sentia uma princesa de um reino muito, muito encantador e distante.

"Obrigada, mas acho que precisamos descer agora. Acho que os meninos já chegaram."

"Qual é a do mistério, Mia? Até agora você não falou nada sobre seu par. Essas semanas de suspense estão me deixando louca."

"Você está prestes a descobrir." Ela sorriu de modo tímido. "Vamos descer. Papai deve estar surtando lá embaixo com dois caras. Ou no melhor dos casos, ele está prestes a pegar a guitarra e começar a falar de música como se todo mundo fosse fissurado por isso."

"Mark gosta bastante quando papai fala sobre música." Eu disse. Mia revirou os olhos. "Ele gosta também quando ele pega a guitarra e começa a tocar."

"Seu namorado é um grande puxa saco." Ela revirou os olhos e pegou sua bolsa. Peguei a minha também e saímos do quarto.

Do topo da escada eu conseguia ter a visão de Mark. Ele estava distraído, conversando com meu pai sentado no sofá e com um cara que a princípio eu não estava reconhecendo. Minha irmã e eu descemos os degraus com delicadeza e só quando estávamos nos últimos degraus, os três nos notaram. Mark se levantou num pulo.

"Uau." Ele estava com a expressão chocada, como se tivesse acabado de presenciar um evento centenário. "Uau, uau, uau. Você está linda. Não que já não fosse, mas hoje você extrapolou os limites, garota."

"Você também está lindo." Elogiei de volta, me aproximando dele e lhe dando um selinho. Meu pai que havia acabado de se levantar, se encolheu de uma maneira caricata com o gesto.

Mark estava lindo mesmo. Ele usava a roupa mais comum para os garotos em bailes - um smoking -, mas eu nunca o tinha visto se smoking. Ele ficava ainda mais gato usando roupas formais.

"Boa noite meninas." Olhei para o garoto que estava do lado do meu pai. Ele não usava smoking como Mark. Seus trajes estavam mais parecidos com roupas que um cavalheiro na idade média usaria para um baile de gala, o que era hilário. Ele usava uma sobrecasaca e botas. A camisa que ele usava por baixo estava com a gola levantada. "Tudo bem?"

"Espera aí... Você é o Gutto?" Estreitei os olhos. "O cara da feira, que escreveu aquele bilhete pomposo para Mia?"

"É ele sim." Mia enlaçou seu braço no dele, parecendo estar agitada. "Depois daquele dia, nos encontramos por acaso em uma situação bem aleatória. É uma looonga história."

"Eu não diria tão aleatória assim. Você precisava fingir que tinha um namorado para seu ex, que está na faculdade." Ele abriu um sorriso de deleite, olhando para minha irmã. "E olhe onde estamos agora. Estou te levando a um baile escolar."

"Espere aí." Meu pai interveio. "Você está saindo com este rapaz para fingir ao seu ex namorado que está namorando?"

"No começo foi isso sim, mas agora não. Gutto e eu começamos a sair. De verdade." Os dois trocaram olhares cúmplices. Meu pai assentiu.

"Ah que bom. Eu ficaria preocupado se você continuasse com esse tipo de coisa."

"Pai, o senhor tem certeza de que vai ficar bem aqui, sozinho?" Repeti a mesma pergunta que fiz durante todo o dia. Estava me sentindo um pouco culpada por deixar ele ali em casa, assistindo TV, apesar de saber que ele amava passar um tempo só.

"E quem disse que vou ficar aqui? Vou com uns amigos para um happy hour. Estou cansado de assistir documentários de animais e essas reformas de casas. Eles são fantásticos, mas se eu assistir mais um, acho que vou enlouquecer de vez." Ele pescou sua jaqueta no sofá e começou a vesti-la. "Quero as minhas meninas de volta aqui até as 11 e meia, viu? Nenhum minuto a mais, nenhum minuto a menos. Estou falando especificamente com vocês rapazes, caso não tenha deixado claro."

"Sim senhor!" Mark e Gutto responderam em uníssono. Segurei uma risada.

Dei um beijo no meu pai e saímos para a rua. O ar fresco da noite e o céu limpo me embriagavam. Cada par foi para um carro diferente. Mark fez questão de abrir a porta para mim.

"Não precisava disso." Eu ri com o gesto.

"Mas eu quero fazer isso. É nosso primeiro baile juntos, tudo tem que sair da maneida mais especial possível. Ah! Quase me esqueci." Ele pegou algo do seu bolso. Era uma corsage, de girassóis. "Não é um baile de formatura para um corsage, eu sei. Mas eu queria que você usasse. Acho que tem tudo a ver com você."

Estiquei o braço e ele botou com delicadeza o corsage no meu pulso.

"Que lindo." Girei o pulso para observar os detalhes. Era um arranjo de algumas folhas e girassóis. Combinava muito com meu vestido. "Girassóis! Você foi perspicaz. Eu amei."

"Que bom que gostou." Ele mordeu os lábios. Estava com vontade de pular em cima dele e não me soltar nunca mais.

Entramos no carro e dentro de poucos minutos, estávamos no estacionamento do Foutman, que naquela noite estava lotado de automóveis de todos os tipos e tamanhos. Mia chegou quase no mesmo tempo e eu observei-a sair do carro esportivo de Gutto. Era muito engraçado observar os dois juntos. Os dois estavam vestidos de formas opostas, mas eles interagiam de um modo tão único que você nem prestava muita atenção nisso.

"Esse cara está a coisa mais engraçada." Mark também olhou para eles, enquanto abria a porta para mim. "Chegamos ao grande local, no grande dia. É nossa última chance de darmos meia volta e irmos assistir o show ao ar livre que está acontecendo agora no Castle Park."

"Nem pensar!" Fiz uma careta e ele começou a rir. "Não me arrumei toda para assistir um show meia boca no Castle Park. Vamos entrar logo."

"Ok, tudo bem." Ele trancou o carro, guardou as chaves e enlaçou sua mão na minha.

Eu nem podia acreditar que tudo aquilo estava acontecendo. O vestido, o baile, Mark Elliot segurando minha mão... Era tudo verdade. Eu não estava sonhando acordada como sempre. Dessa vez cada coisinha era absurdamente real.

O salão de cerimônias do Foutman estava a coisa mais linda naquela noite. Todo ambiente continha algum elemento que lembrava o outono, como as pequenas árvores de plástico com folhas amareladas na entrada, a iluminação mais amarelada e  intimista - por conta das lamparinas de papel espalhadas por todos os cantos -  e o painel instalado para fotos na entrada, que ostentava uma cortina de folhas em tons de castanho, vermelho, amarelo e roxo. Garotos e garotas super produzidos andavam para lá e para cá, dançando, bebendo algo, rindo ou tirando fotos na entrada. Puxei Mark para tirarmos algumas fotos, o que foi incrível. O engraçado é que Astrid Berg era a fotógrafa em questão e ela claramente não estava gostando da posição creditada à sua pessoa naquela noite.

"Ah pronto, já chega, saiam daí." Ela fez sinal com as mãos."Se vocês fizerem mais uma pose típica, juro que vou vomitar."

Após as fotos, mergulhamos no mar de jovens em clima de festa. A princípio fiquei um pouco ansiosa por estar no meio de tanta gente, mas quando todo o salão foi tomado por um remix de September, me senti mais a vontade. Eu amava aquela música! Mark pegou minhas mãos e começamos pular como duas crianças dentro de uma cama elástica. Meu penteado se desprendeu em algumas partes e eu fiquei com vontade de gargalhar. Era tão estranho, estávamos em um lugar tão lotado, mas parecia que só nos dois estávamos ali. Eu estava me divertindo como nunca.

"Isso foi incrível!" Eu disse a Mark quando a música acabou. Ele assentiu com um sorriso, mas aposto que não havia entendido nada pelo barulho. Senti uma cutucada nos ombros e me virei. Era Gillian, acompanhada de Cameron Brown, que usava smoking como noventa por cento dos garotos dali, mas se destacava pela cabeleira loira e seus seus olhos, que eram muito azuis. Minha amiga estava linda, com seu vestido cor de oliva e um sorriso confiante no rosto.

"Amiga!" Ela me fitou de baixo a cima e tampou a boca com as mãos. "Você está uma gata!"

"Olha quem só fala." Repliquei e ela balançou a cabeça em um não, como se eu estivesse bajulando demais. Olhei para Cameron. "Ah oi Cameron, tudo bem?"

"Perfeitamente bem e vocês?" Ele dividiu o olhar entre Mark e eu. Me lembrei da história do Gogo Boy e virei o rosto para que ele não notasse que eu estava rindo.

"Perfeitamente ótimos." Mark me puxou para seu lado. "Como vai a vida? Sua mãe já se casou?"

"A cerimônia foi semana passada, por que?" O garoto estava claramente confuso pela pergunta.

"Não ligue para as perguntas idiotas dele." Disse Gillian, encaixando seu braço com o de seu par. "Vamos dar uma volta no salão Ashe. Daqui a pouco a gente se vê."

"Ok. Aproveitem a noite!" Eu disse. Mark segurou minha cintura e me encarou.

"Você está com sede? Quer beber alguma coisa? Aposto que não tem nada muito animador, eles só oferecem aquela merda de groselha e refrigerante em todos os bailes."

"Você quer beber alguma coisa?"

"Eu quero se você quiser."

"Então vamos funcionar assim? Você só vai fazer algo se eu quiser? E se eu não quiser beber algo? Você vai morrer de sede?"

"Não, quando você não estiver olhando eu vou fazer questão de beber alguma coisa pra não morrer de sede." Ele disse e eu ri.

"Você é um idiota."

"Sim eu sou. Mas você adora esse idiota."

Passamos mais algum tempo dançando antes decidirmos nos sentar em uma mesa semi lotada (a única que tinha duas cadeiras vazias). Alguns calouros estavam lá e todos nós começamos a bater papo. Eles pareciam tão deslumbrados com tudo, assim como eu. Conversamos sobre a decoração, sobre eventos escolares e outras coisas relacionadas ao colégio. Mark fez amizade com um calouro que também gostava de música e tocava bateria. Conversamos tanto que mal notei o tempo passar.

"Acho que eles vão anunciar o rei e a rainha daqui a pouco." Disse uma garota sentada na mesa. No mesmo segundo, a música parou e a Srta. Ramírez surgiu no palco. O burburinho diminuiu consideravelmente.

"Boa noite prezados alunos e alunas. Como muitos devem saber, este é o momento onde realizamos a coroação do rei e da rainha do nosso primeiro baile do ano letivo." Ela balançou dois envelopes cor creme que tinha nas mãos. "Sem muitas cerimônias... O título de rainha do nosso primeiro baile vai para..." Ela abriu um envelope. "Pearl Adams!"

Eu não tinha visto Pearl até então, mas a multidão se dividiu como as águas do mar vermelho, para dar passagem a garota que caminhava em direção ao palco. Ela parecia uma celebridade no met gala, com seu vestido comprido e estonteante. Um integrante do grêmio se aproximou com uma coroa e botou na cabeça dela.

"Quero agradecer a todos que votaram em mim." Sua voz resssou por todo o salão quando ela se aproximou do microfone. "Nem sei como retribuir o carinho e consideração que muitos de vocês tiveram por fazerem seus votos. Essa coroa também é de vocês! Fico muito honrada de ser a rainha do primeiro baile do ano. Mais uma vez obrigada. Obrigada, obrigada, obrigada!"

Houve uma salva de palmas enquanto ela descia do palco, segurando a barra do vestido para não tropeçar. Observei que Theo estava no meio da multidão e assobiava, animado. Ele era a única pessoa que usava uma jaqueta de couro ali.

"Ah, tudo isso era meio óbvio." Eu disse. Mark olhou para mim.

"Ela ter ganhado a coroa? Eu não acho."

"Mas eu acho. Ela pode não ser a pessoa mais calorosa do planeta, mas é uma garota sociável. E linda. Todos querem ter uma rainha que saiba falar e que seja elegante." Eu o encarei. "Aposto que você vai ser coroado rei nesta noite."

"Ah é? Como você pode ter tanta certeza disso?"

"Você é lindo, é sociável e mesmo saíndo do time, ainda é um cara muito popular." Arqueei as sombrancelhas. "Precisa de mais argumentos?"

"Adoro quando você fica me elogiando, mas não estou dando a mínima pra esse título ridículo." Ele inclinou a cabeça para frente e olhou para meus lábios. "Quer saber o que eu estou com vontade de fazer agora?"

"Pode me dar uma pista?" Perguntei, muito curiosa. Ele voltou a olhar para meus olhos. Senti um formigamento bom dentro de mim. Ele abriu a boca para falar, mas foi interrompido por Mia e Gutto, que apareceram na nossa frente, do nada.

"Eles estão anunciando o rei e a rainha?" Perguntou ela, meio eufórica. Assenti. "Já anunciaram os dois? Meu Deus, perdi tudo!"

"Não, até agora anunciaram apenas a rainha." Mark disse e seu olhar sedutor tinha desaparecido em uma fração de segundo. Droga. "Onde vocês estavam?"

"Por aí." Foi sua única explicação. "Será que a Pearl notou que eu não estava na plateia? Ela vai me matar."

"Ela está ali." Gutto apontou em uma direção e minha irmã suspirou em alívio, o puxando para longe. A Srta. Ramírez se aproximou do microfone mais uma vez, abrindo mais um envelope.

"O título de rei do nosso primeiro baile vai para... Mark Elliot!" Quando ela terminou de falar, me joguei em Mark, que não estava esperando meu abraço desejeitado e quase caiu da cadeira. Todos começaram a bater palmas. Ele se levantou e as pessoas começaram a dar tapinhas nas suas costas. Ele subiu ao palco e colocaram uma coroa de plástico na sua cabeça. Me levantei da minha cadeira e comecei a bater palmas como uma louca. A Srta. Ramírez apertou a mão de Mark e liberou o microfone para ele.

"Ah... Boa noite a todos." Ele disse em meio aos flashs de fotos e assobios. "Obrigado por votarem em mim. Mas acho que vocês vão se arrepender disso em poucos segundos. Ou talvez não." Ele olhou para os lados, parecendo procurar algo. Um garoto surgiu no palco e lhe entregou um violão. Ele passou a correia do instrumento pelas suas costas e começou passar dedos por alguns acordes. O que ele estava fazendo? Eu não estava entendendo nada. "Bom, essa música que vou cantar, é dedicada a uma garota que gosta muito da cor amarela." Ele olhou para mim por uma fração de um segundo. Meu coração se apertou.

Pelos primeiros acordes que ele tocou, notei que era Yellow do Coldplay. O silêncio do ambiente foi quase total. As pessoas provavelmente estavam tentando advinhar o que ele estava tocando.

Eu não estava acreditando na visão que estava vendo. Mark Elliot estava cantando uma música para mim.

"Look at the stars, look how they shine for you." Sua voz era alta, suave e apaixonante. "And everything you do... yeah, they were all yellow."

Cobri a minha mão com a boca. Aquilo era tão lindo! Não dava para acreditar que ele estava fazendo isso. Não dava para acreditar que um cara lindo estava cantando uma música para mim. Ele varreu todo o salão, observando a reação das pessoas, até chegar a mim. Seus lábios se curvaram para cima, em um sorriso.

"I came along, I wrote a song for you... And all the things you do, And it was called Yellow."

Ele continuou cantando os versos de um modo tão lindo e sonhador. Quando ele chegou ao refrão, fechou os olhos e inclinou a cabeça um pouco para frente, o que fez sua coroa cair no chão.

"Your skin, oh yeah, your skin and bones." Sua voz ficou um pouco mais aguda. "Turn in to something beautiful, do you know..." Ele abriu os olhos e olhou diretamente para mim. "You know I love you so... you know I love you so."

Ele passou por alguns acordes e finalizou a música. Todo o salão ainda estava mergulhado em um silêncio estranho. Segundos depois ouvi o barulho de algumas palmas.

"Obrigado." Foi a última coisa que ele disse antes de sair do palco. O DJ voltou com um remix de uma música da Dua Lipa segundos depois.

"Ele cantou aquela música para você né?" Indagou a mesma menina que previu a coroação. "Ele estava olhando para você."

"Óbvio que era para ela, Cinthia." O garoto da bateria disse. "Ela está usando um vestido amarelo. É fácil associar."

Eu me sentei de volta e ajeitei a barra do meu vestido. Mark voltou para nossa mesa com o violão ainda agarrado ao seu corpo. Ele me deu um olhar cheio de expectativa.

"Gostou da surpresa?"

"Você é louco!" Me agarrei ao seu pescoço, sem me importar com quem estava vendo ou não."Eu não gostei. Eu amei."

"Quer saber o que quero fazer agora?" O brilho no seu olhar era hipnotizante."Quero sair desse lugar. Ir para fora e cantar mais uma música para você. Só para você."

"Eu achei essa ideia ótima!" Exclamei e ele agarrou minha mão no mesmo instante, nos levando para a saída. Eu estava tão eufórica que mal notei que estava começando a chover. Pingos caiam de vez em quando na minha cabeça. Quando chegamos ao estacionamento, olhei para o céu. As estrelas tinham desaparecido e o céu parecia mais espesso, como se estivesse abrigando muitas nuvens de chuva.

"Vai chover! Como isso é possível? A noite estava linda quando chegamos aqui!"

"O clima é a coisa mais imprevisível nos dias de hoje, Ashe." Nós caminhamos até o seu carro. O estacionamento estava cheio de veículos, mas com exceção de nos dois, nenhuma alma viva se encontrava ali. Eu conseguia ouvir som da música do salão, mesmo estando longe. Mark abriu o carro e jogou o violão na parte de trás. "O violão está fora da jogada. Ele vai estragar se eu usá-lo na chuva. Eu posso te fazer uma serenata se quiser. Posso cantar qualquer música. É só pedir."

"Hmm... Tenho uma ideia melhor." Dei a volta correndo até a parte frontal do seu carro. Tirei os saltos com pressa e subi até o teto do carro, me deitando nele como se fosse uma cama. Mark me seguiu e me fitou de modo confuso. "Vem, se deite aqui também!"

Ele obedeceu, tirando seus sapatos e se  deitando do meu lado. Os pingos aumentaram, muitos caindo no meu rosto.

"Que ideia é essa?" Ele perguntou, em meio a risos. Ele não estava entendendo nada. Eu pesquei o celular na minha bolsinha e cliquei em uma música.

"I'm singin' in the rain." Eu cantarolei com Gene Kelly, torcendo para que ele me acompanhasse nessa empreitada. "Just singin' in the rain,
what a glorious feeling... I'm happy again."

Ele virou sua cabeça para mim e me olhou com surpresa. E admiração.

"I'm laughing at clouds." Ele completou. Alguns pingos caiam no seu rosto."So dark up above, the sun's in my heart...
And I'm ready for love."

"Let the stormy clouds chase, everyone from the place." Cantamos juntos. Os pingos aumentavam e já molhavam meu cabelo e algumas partes do meu vestido.
"Come on with the rain, I have a smile on my face... I walk down the lane, with a happy refrain, just singin', singin' in the rain... dancing in the rain..."

Mark pegou minha mão e me levantou, junto com ele. Estávamos de pé no teto do seu carro. Os pingos se transformaram em chuva de verdade, daquelas que ensopam suas roupas em questão de segundos se  você não correr para um abrigo. Nós dois estávamos ensopados e o cabelo de Mark estava todo grudado no seu rosto.

"Meu celular provavelmente pifou." Eu ri, balançando o celular que ainda estava na minha mão. "Ele não é a prova d' água. Mas isso não importa. Nós estamos aqui em cima e-"

Não consegui completar a frase, porque Mark se inclinou e pressionou seus lábios nos meus.

Nossa, um beijo no meio da chuva. O quão clichê é isso? Acho que extrapolamos algum limite imposto aos clichês. Mas isso não era ruim, não é? Porque eu gostava de como Mark me beijava e de como eu envolvia meus braços ao redor do seu pescoço. Eu estava gostando das borboletas que se formavam no meu estômago. Eu gostava do quanto estávamos próximos, gostava do seu calor, gostava da textura da sua língua e de como ele me fazia esquecer de qualquer problema. Se ser clichê envolvesse Mark Elliot, bom, eu estava dentro. Totalmente dentro.

"Eu acho que te amo, Mark Elliot." Eu disse, quando nos afastamos o mínimo, apenas para respirar. "Continue me beijando e cantando músicas para mim em palcos. Você está me ganhando um pouquinho mais a cada dia."

"Que bom."  Ele abriu aquele sorriso lindo e brilhante. "Você já me ganhou por completo, Ashe Reed. Você vem me ganhando desde o ensino fundamental, quando tivemos aquele momento constrangedor. Você me ganhou quando ouviu minha história com as faixas três. Você me ganhou quando me aceitou do jeito que sou."

"Como um idiota você quis dizer." Eu ri, tremendo um pouco pelo friozinho da chuva.

"Sim, exatamente isso." Ele disse antes de voltar a me beijar.

FIM DO PRIMEIRO LIVRO

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