[17] A teoria de um jantar [parte um]
"Chegamos ao nosso ponto final" Gillian estacionou o carro da sua mãe na entrada da garagem e olhou para mim. "Preparada?"
"Com essa torta estou um pouco mais confiante. Me diga, meu cabelo está bagunçado?"
"Nada fora do lugar. E o que diz de mim?"
Analisei o seu vestido. Era preto com um corte bem simples, mas ela estava usando um batom vermelho no qual chamava muita atenção. Seu cabelo estava solto, modelado nas pontas. Ela estava linda.
"Você está perfeita. Esse batom caiu muito bem em você."
"Minha mãe me obrigou a usa-lo. O vestido também. Disse que eu tenho que parar de me esconder nos meus moletons. Mas gosto é gosto, não é?" Ela revirou os olhos e bufou. "E eu só aceitei me vestir desse jeito porque sabia que você viria mais ou menos na mesma linha. Eu não sei... não gosto de vestidos. Eles me dão a sensação de desastre."
"Gosto é gosto mesmo. Se você não curtiu a roupa, porque não disse para sua mãe? Aposto que ela não te obrigou com todo o sentido da palavra, a usar o vestido."
"Ok, obrigar ela não obrigou, mas eu sinto que devo agradá-la, sabe? Tipo, a vida dela se resume a família Elliot. E eu estou aqui! Ela é uma mãe maravilhosa, mas estou notando que ela está parando de me encher o saco como fazia toda hora. De perguntar como foi o colégio, se estou gostando de alguém." Ela balançou a cabeça. "Acho que é isso o que o amor faz, não é? Você esquece de tudo exceto a pessoa que pela qual está apaixonada."
"Você está querendo dizer que ela não te ama? Porque se for isso, me desculpa, mas acho que você está enlouquecendo", ela estreitou os olhos na minha direção. "Ei, é verdade. Se sua mãe é tudo o que você acabou de me descrever, ela não seria capaz de deixar de te amar nunca. Talvez você devesse conversar com ela e dizer tudo o que sente. Tenho certeza que ela vai te entender."
"Vou fazer isso." Ela abriu um sorriso tímido. "Droga, porque fiquei emburrada com você? Ashlyn Reed, você com certeza é uma alma amiga. Eu sempre estou me lamuriando e você me conforta." Ela levantou o dedo mindinho. "Melhores amigas?"
"Melhores amigas!", encaixamos nossos mindinhos um pouco sem jeito e eu me segurei para não chorar de emoção. Eu nunca tive uma amiga, quem dirá melhor amiga! Passei todos os anos escolares vivendo como uma loba solitária e por muito tempo convenci que estaria melhor sem pessoas ao meu redor. Naquele momento enxerguei que nada na vida é uma sentença.
"Agora, vamos encher o saco dos Elliot! Por favor me apoie quando eu abrir a boca. Quero intimidar um pouco o patriarca e o filhinho dele."
"Combinado!"
Saímos do carro e eu segui Gillian com a torta em mãos. A primeira coisa que senti ao entrar na casa, foi o cheirinho de frango assado. Fazia um bom tempo que eu não comia frango, apesar de gostar muito. A segunda coisa na qual me chamou a atenção foram as plantas. Logo na entrada me deparei com dois vasos de plantas e quando entramos na sala, notei outros três vasos de espécies distintas, mas muito bonitas. As paredes eram brancas e tudo ali me remetia a aconchego e vitalidade.
"Olá! Boa noite", uma mulher alta que parecia ter saído de um catálogo de roupas, surgiu com um vestido azul claro e os lábios pintados como os de Gillian. "Você deve ser a Ashlyn, certo? Eu sou a Diana, mãe da Gillian. Seja muito bem vinda!"
"Obrigada, senhora! Ah, eu trouxe uma sobremesa para o nosso jantar", entreguei a torta para ela. "É uma tortinha de limão. Não fui eu quem fiz, mas espero que esteja gostosa."
"Que gentileza a sua! Pela cara, está uma delícia. Bom, sinta-se a vontade. Os meninos estão ali, assistindo um jogo de basquete ao vivo. Gillian, você poderia me dar uma mão na cozinha?"
"Hmm, claro." Gillian olhou para mim. "Quer me acompanhar? Pode ser uma experiência constrangedora ficar ao lado deles."
"Vou ficar aqui, não esquenta a cabeça, ok?" Abri um sorriso e ela assentiu antes de seguir a sua mãe a cozinha. Ajeitei a barra do vestido e desci os três degraus que davam para o espaço enorme que era a sala. Aquela sala com certeza dava duas da minha. O senhor Elliot e Mark estavam sentados lado a lado vidrados na tela gigante da televisão.
"Boa noite." Eu disse, fazendo os dois virarem a sua cabeça na minha direção. Eu meio que já estava acostumada com o olhar do Mark, mas encarar o seu pai era algo totalmente novo e constrangedor. Seu cabelo era totalmente grisalho e ele estava usando uma jaqueta de couro marrom, o que lhe deixava com um ar descolado. Parecia um pouco mais velho que meu pai pelas suas rugas de expressão. Não tinha nada a ver com Mark, a não ser pelo porte. Os dois eram bem grandes.
"Boa noite mocinha. Você é a amiga de Mark e Gillian?" Sua voz era grave, mas tinha um tom simpático. "Muito prazer, me chamo Calum Elliot, mas pode me chamar apenas de Calum."
"Tudo bem, Calum!" Fiz questão de apertar sua mão estendida. "Pode me chamar de Ashe e sim, sou amiga da Gillian e do Mark. Muito prazer em conhecê-lo também."
"Ashe?" Mark arqueou as sombrancelhas.
"Está querendo dizer que meu pai pode te chamar por apelido e eu que sou seu amigo não?"
"Boa noite para você também Mark. E não fique com ciúmes. Está autorizado a me chamar de Ashe também."
"Ah, finalmente as exclusividades!" Ele bateu no lugar vazio do sofá. "Senta aí! Estamos assistindo a uma partida de basquete, que já está acabando. Sei que garotas podem não gostar muito disso, mas você pode mudar no que quiser depois de eu esfregar a vitória do meu time no ego de torcedor do meu pai.
"Ele acha que isso" Calum apontou para tela e um cara muito alto vestindo uniforme azul. "Pode ganhar um jogo contra meus Lakers! É incrível a capacidade dos jovens de não enxergarem o óbvio!"
Me sentei ao lado de Mark e tentei entender aquele jogo. Poucos minutos depois, Gillian apareceu na sala, pegou meu pulso e me puxou em direção a um corredor.
"Ei, para onde está me levando? É a segunda vez na semana que alguém me puxa assim, do nada."
"Você estava perto dos Elliot! E eu não quero que fique perto deles essa noite!" Nós entramos em um quarto e ela abriu com pressa a primeira gaveta de uma penteadeira. "Aqui, toma! São alfinetes."
"Alfinetes?"
"Vamos botar os alfinetes nas cadeiras que os Elliot vão se sentar!" Os olhos dela estavam brilhando de excitação. "Ah e eu vou arrumar um jeito de despejar um pouco de pó de mico na jaqueta do tal Calum Elliot."
"Gillian, você não acha que está sendo um pouco infantil? Se eles descobrirem, vai ficar óbvio que foi você."
"Nós, Ashe. Nós seremos as culpadas. Mas pensa em tudo como uma brincadeira, tá? Eu quero me divertir a qualquer custo hoje. Não vou ficar tensa como o último jantar que tive com eles. Estou pouco me lixando se me parecer com uma criancinha do primário. Você também quer se divertir, certo"
"Sim, mas pensei que a ideia de diversão fosse beber ou fumar aos montes e depois disfarçar o fedor dos nossos delitos com um pouco de perfume. Ou balas. Balas são muito boas para disfarçar o bafo."
"Podemos fazer isso em algum dia desses. Mas hoje vamos fazer os Elliot pularem um pouco. Confia em mim, vai ser bem divertido."
Assenti, apesar de não entender completamente qual era o objetivo de Gillian com tudo aquilo. Alguma coisa me dizia que o plano dela não implicava em apenas atazanar os Elliot, mas talvez atazanar sua própria mente que tentava boicoitá-la. Teorias, claro. Ela não havia me dito nada além das instruções para botar os alfinetes nas cadeiras. Droga, nem sei porque ela havia confiado a mim os malditos alfinetes. Eu era uma pessoa demasiadamente distraída e o desastre era potencializado por dois quando a situação exigia de mim facas ou coisas que pudessem espetar.
O desastre aconteceu mesmo. E foi mais louco do que eu podia imaginar.
Para um jantar ser considerado um jantar de sucesso, a comida deve ser totalmente produzida por um ou mais integrantes que estarão na reunião. Todos deverão estar dispostos a permanecer por mais ou menos uma hora em uma cadeira. E falando em cadeiras, elas devem ser confortáveis e livres de qualquer incoveniente, como alfinetes. Todos devem ter algo para beber, mesmo que o líquido em questão seja apenas água. Garanta que ninguém esteja passando mal para sair da mesa de repente. Ah e música! Música é uma coisa muito legal de incluir em um jantar. Escolha ou monte uma playlist com covers de músicas famosas. Uma versão mais despojada de uma canção popular com certeza deixa ela muito mais elegante e consequentemente o clima do seu jantar vai ter um toque de elegância. Seguindo todas essas dicas é bem provável que você tenha um jantar agradável e memorável.
**Texto pensado e redigido por: Ashlyn (Ashe) Reed.
Nenhuma parte deste material poderá ser copiada sem autorização da mesma, correndo o risco de sofrer terríveis consequências.
Atenção: algumas pessoas, lugares e eventos mencionados no decorrer dos capítulos, poderão ter seus nomes modificados a fim de preservar respectivas privacidades.
Ps: isso não é um diário. Te mato se eu souber que você acha que meus registros e experiências altamente profissionais não passam de puro clichê adolescente.
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