[1] A teoria de um atraso

Uma vez li num livro do Nicholas Sparks uma coisa bem curiosa a respeito dos começos: Que é difícil para a maioria das pessoas pensar em uma história e saber exatamente quando ela começou. Sabe quando você vai se pesar e vê que está com uns quilinhos a mais desde a última vez que checou seus números na balança? Será que você se lembra exatamente o dia, local e hora em que você começou a engordar? Sabe dizer pra mim com total certeza que sim! foi naquele dia em que tudo começou?

Bom, tenho quase certeza que não – até porque guardar uma informação dessas no  cérebro não vai ajudar a melhorar muito seus dias. Mas estou apenas mencionando isso aqui porque tem a ver com a minha história. Não, nada sobre o dia em que eu comecei a virar uma bolinha de gordura ou algo assim. É sobre o fato de que eu não me  lembro exatamente do dia em que as coisas começaram a rolar com as faixas três. Não me lembro exatamente quando ouvi qualquer faixa três, fui abençoada com os efeitos colaterais da letra e tive o dia resumido por essa música. Claro, eu me lembro de um monte de dias seguindo este exato roteiro, mas o primeiro me fugiu totalmente da memória.

Um fato bem delicioso de mencionar quando alguém me vem com aquela velha frase clichê – da primeira vez a gente nunca se esquece. Não que eu mencione a coisa das faixas para alguém, porque eu não sou tão idiota. Mas menciono mentalmente, só para me reconfortar, sabe. É igual quando seus pais acham que você é super estudiosa, porque fica o tempo todo no computador, mas mal sabem que você passa o dia inteiro fuçando o Twitter.

Não que eu entre no Twitter pelo computador (acho horrível e estressante), mas só foi um exemplo pra vocês terem noção.

Voltando ao assunto, é real essa minha amnésia sobre o lance de começo. Então já que eu não tenho ideia de como me encontrei envolvida com as faixas três, resolvi começar este caderno contando sobre um dos vários dias (que estarão registrados nas próximas páginas) que contribuíram para A Teoria da Faixa Três.

Um deles começou mais ou menos quando eu acordei com os fones de ouvido coladinhos nas minhas orelhas. E tipo, aquilo foi um erro que infelizmente até hoje cometo. Conhece aquela outra frase clichê que diz que nós devemos aprender com os nossos erros? Ou aquela que fala que erramos apenas uma vez? Pois então, descarte-as quando se deparar comigo. Nunca aprendi com meus erros, aliás, às vezes tenho a sensação que nunca aprendi nada. O que é uma grande calúnia, claro, já que decorei toda aquela tabela periódica de elementos químicos em dois dias para uma prova. Hoje em dia ela não me serve de nada, mas rá! eu sei toda ela de cor, cara.

Mas sobre os fones: eu meio que não consigo adormecer sem eles. Tem gente que não consegue dormir sem o barulho do ar condicionado ou da TV. É aquela coisa de ter um ruído de fundo, sabe? Esse é meu problema com os fones.

Bom, e o receio de que ele toque no aleatório uma faixa três no momento em que eu esteja acordadinha, toda consciente da minha existência, infelizmente é real. É óbvio que eu sou cuidadosa na maior parte do tempo, mas às vezes dou uma deslizada e esse tipo de desgraça me acontece.

Essa foi uma das vezes. Acordei com uma música explodindo nos fones. Congelei na hora. Era uma canção dos Beatles, me lembro disso. Uma música do álbum Abbey Road, um dos meus favoritos da vida por sinal.

Minha espinha gelou com a possibilidade da música ser uma faixa três. Mas eu conheço a ordem das faixas do Abbey Road até se ele estivesse codificado em morse.

Confesso que meu coração se acalmou um pouquinho quando processei que a música que tocava nos fones não era Maxwell's Silver Hammer, a faixa três daquele álbum. Aquele fora um fato muito bom de se apreciar já que eu conhecia bem a letra daquela música e acredite, meu dia não seria nada bom se ele seguisse a letra de Maxwell's Silver Hammer. É serio. Se você acha que eu tô blefando, dá um google aí e veja ou melhor, leia a coisa por si só.

Uma pena que o fato foi apreciado em pouquíssimos segundos, visto que eu havia acordado atrasadíssima pra minha primeira aula naquele dia – que inclusive era um teste de biologia. Então já sabe né? Me levantei daquele jeito: embolando o edredom nos pés, pegando qualquer roupa no closet e partindo para uma ducha histórica de apenas um minuto. A questão era: por que ninguém havia me acordado? Por que tanta falta de consideração? Sabe, eu tinha uma família. Tá, tabóm, não era uma família completa e super funcional mas não deixava de ser uma família. Caramba, a Mia frequentava o mesmo colégio que o meu, o que custava dar umas batidas na porta me avisando?

Tá, eu estava com os fones no último volume. Talvez meu pai ou minha irmã tenham tentado de fato me acordar, mas eu não respondi e eles ignoraram minha existência. Bem, me arrumei num curto espaço de tempo, peguei minha mochila e desci pra cozinha. Meu celular marcava oito e vinte, eu estava meia hora atrasada pra aula e ela acabava em exatos quinze minutos.

Pois é, eu estava bem ferrada.

Roubei uma embalagem fechada de cereal do armário e comecei a comer o conteúdo seco enquanto me dirigia ao transporte mais veloz que eu encontraria naquele momento: minha velha bike amarela. Meu pai devia ter saído há uma hora atrás para o trabalho, minha querida irmã Mia (só que não) com certeza havia saído no seu carrinho recém comprado uma meia hora depois dele e o ônibus escolar tinha passado há quinhentos anos antes de Cristo.

Aquele fora um dos raros dias da minha vida em que eu não havia escolhido meu look do dia com calma, cuidado e muita dedicação. Na verdade minha escolha do dia fora aquelas essas três palavras totalmente em seus opostos.

Aliás, falando em oposto, eu só percebi que estava com minha meia calça do avesso quando cheguei no colégio, dei três batidas na sala da minha primeira aula e aguardei alguma resposta vinda do outro lado. Mas eu simplesmente fingi que não vi aquele deslize, principalmente quando a professora botou sua cabeça pra fora da porta e me olhou com cara de poucos amigos.

"Você está atrasada."

Dãã, como se eu não soubesse.

"É, eu sei. Inclusive, me desculpa por isso. Mas tipo, hoje é prova né? A senhora não poderia me fazer a gentileza de..."

"Atrasada por mais de trinta minutos", fez questão de deixar claro. "Eu até que poderia te deixar entrar, mas meu humor hoje não é um dos melhores. Azar pra você, Reed."

E então ela fechou a porta bem na minha cara.

E aqui vai minha teoria a respeito do atraso: ela está totalmente baseada no humor do professor ou se ele vai com a sua cara. Eu particularmente nunca tive problemas com aquela professora em questão, então ela devia estar mesmo de TPM.

Bom, ela até havia sugerido isso então está tudo certo.

Em um dia normal, eu provavelmente choraria enquanto dava um soco num armário qualquer do corredor por ter perdido uma prova. Mas por favor, aquele não era exatamente um dia normal, então eu apenas dei de ombros e me sentei num banco qualquer enquanto esperava minha próxima aula começar.

Eu ainda estava com o pacote de cereal nas mãos e uma playlist bem legal dos anos 60 no celular, então nem foi tão ruim assim esperar.

É, mal sabia a garota o que o resto do dia lhe reservava.

Se meu atraso tivesse sido apenas o pico de ação daquele dia...

Coisas bem piores estavam prestes a acontecerem e aquele atraso ganharia uma conotação insignificante no total geral das minhas próximas 24 horas.

Quer ver só? Próximo capítulo teórico!

Texto pensado e redigido por: Ashlyn (Ashe) Reed.

Nenhuma parte deste material poderá ser copiada sem autorização da mesma, correndo o risco de sofrer terríveis consequências.

Atenção: algumas pessoas, lugares e eventos mencionados no decorrer dos capítulos, poderão ter seus nomes modificados a fim de preservar respectivas privacidades.

Ps: isso não é um diário. Te mato se eu souber que você acha que meus registros e experiências altamente profissionais não passam de puro clichê adolescente.

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