Capítulo 1 - O Marinheiro
O MAR REBENTAVA NA COSTA ROCHOSA enquanto Daeron saboreava as ostras.
A estalagem rangia com o vento, as tábuas velhas tremendo. Em uma das mesinhas nos cantos, três homens confabulavam qualquer coisa desinteressante entre si, erguendo as canecas de cerveja para o alto. O cantor, todo vestido de roxo, rouquejava como um ganso tentando chamar a atenção dos fregueses, mas nem Daeron nem os homens pareciam se importar. Ele então segurou a cítara firmemente nas mãos e começou uma bateria de músicas, iniciando com "O Dia em Que as Sombras Dançaram" e depois "A Donzela Chamada Mirré". Nem sua voz — que poderia ser um tanto estridente demais — conseguia abafar os sons das ondas lá fora.
Elas estão me chamando, pensava Dae. É amanhã, e então todos os meus sonhos terão se tornado realidade. Desde criança, quando assistia os barcos cortarem as águas do Dormente, desejava manejar remos, ter os pés sobre um convés verdadeiro, navegar na linha do horizonte e na direção do último raio solar ou sob as estrelas atentas que brilhavam na água. Eu tenho um capitão agora, orgulhou-se o menino, inflando o peito. Um capitão verdadeiro! Fitou a moeda de prata na mesa, a moeda de prata que o seu capitão lhe dera.
— Guarde-a bem, Nanico — dissera Olho de Peixe — Se desistir de ir comigo, dê ela a outra pessoa, ou jogue no mar, tanto faz. Eu voltarei em alguns meses para te buscar.
Queria poder escutar o que seus pais falariam quando Dae contasse que estava finalmente convocado a uma viagem marítima. Certamente ririam de sua cara como fizeram quando ele saiu de casa. Nunca encontrou apoio neles, na verdade. Seu pai nem era seu pai verdadeiro — ou pelo menos era isso que ele afirmava quando bebia todas —, e sua mãe insistia que o futuro estava nas espadas, não nos remos. Daeron não quis saber. Colocou uma trouxa de roupa nas costas e viajou por milhas até Profunda Tormenta, o lugar onde todos os navios do mundo ora ou outra aportavam. Nenhum dos dois chorou uma lágrima sequer.
Não ficou mais fácil em Profunda Tormenta, mas mesmo assim persistiu. No começo era raro as vezes que quebrava o desjejum. Vendeu as botas no primeiro mês para ganhar algum trocado, depois de passar três dias com apenas água do canal no estômago. Arranjou trabalho com um mago que cuidava de feridos, e aprendeu a enfaixar ferimentos por alguns cobres. Depois trabalhou como ajudante de peixeiro, indo e vindo do Templo da Água à Profunda Tormenta. Antes que seu patrão morresse de febre pela varíola, ele deu a Daeron um saco de moedas douradas e o bote para a pescaria.
Assim foi que o garoto viveu os últimos meses de sua vida, até que viesse o capitão de um veleiro renomado e o convocasse a uma aventura. "Uma aventura para além de Aurora, Nanico, você verá", prometeu Olho de Peixe. "Muitas ilhas e gente para conhecer, oh sim. Gostaria disso, não gostaria?"
O cheiro de sal invadiu a estalagem quando a porta principal do recinto foi aberta. O estalajadeiro saiu detrás de sua bancada com um porrete apoiado nos ombros, protestando com o estranho por ele ter entrado com a capa toda molhada e as botas enlameadas, sujando o carpete. O homem retirou as botas com um pedido de desculpas, e, quando pendurou a capa num prego da parede, Daeron conseguiu reconhecê-lo. Fadiga.
O amigo era definitivamente uma figura enigmática. Magro e seco como uma árvore e com olhos escuros de quem estava eternamente cansado, Fadiga demonstrava uma robustez impressionante para um garoto de quinze, dezesseis anos. Ele não falava de seus pais, de onde morava ou o que fazia para sobreviver, apenas estava ali, de vez em quando, acompanhando Daeron em uma xícara de café ou no chá da tarde, sempre fazendo perguntas. E era alto. Para a tristeza de Dae, o menino era alto. Poderá haver alguém no mundo que seja mais baixo que eu?
O amigo notou-o nas sombras da estalagem e se esgueirou na sua direção.
— Está ouvindo todo esse barulho? — perguntou ele, sentando-se na mesa sem pedir licença — Nunca vi o mar desse jeito.
Daeron brincou com as ostras no prato.
— Os mares no verão são assim mesmo, Fadiga — assegurou ele — Absolutamente imprevisíveis. Por acaso está com medo da partida?
O amigo olhou-o de sobrancelhas franzidas, mas não respondeu à pergunta.
— Não tem medo das tempestades marinhas?
Daeron bateu com a colher no prato.
— Não seja bobo, Fadiga. O mundo está repleto de tempestades. Não devemos temer suas ondas, ou morreremos.
O mar rebentou novamente no rochedo.
— O Profeta, de Ederach? — questionou Fadiga, declinando-se na cadeira. Uma luz purpúrea pareceu refletir em seu olhar escuro — Andou lendo mais livros?
— Só sobre política — frisou Dae. Ele adorava os volumes de A Política: estratégias das moedas, de Mestre Lys — Sobre política e magia.
— Magia? — perguntou Fadiga — Não sabia que gostava de magia.
— Gosto — afirmou — Se não fosse minha paixão pelo mar, eu certamente seria um mago, um escriba ou coisa assim.
Daeron soltou um risinho, mas Fadiga estava sério, tenso como a corda de uma harpa.
— Você sabe que ainda pode fazer isso, né? — falou ele, apoiando em seguida os braços sobre a mesa — Desistir da viagem, digo, se ainda quiser.
Dae bufou e jogou-se para trás.
— Às vezes parece que você quer por tudo neste mundo que eu não embarque na aventura.
O garoto reagiu como se fosse apunhalado.
— Quero garantir que você não desistirá no meio do caminho, é só isso — respondeu Fadiga — Mas, bem... Você falou sobre os magos... ainda acredita que magos existem? Que a magia funciona?
— Porque não acreditaria? — Daeron apontou para o lugar ao seu redor — Estamos em Profunda Tormenta, Fadiga. A sede das Torres, onde todo o conhecimento do mundo é guardado e os sábios estudam sobre as estrelas. Foi aqui que o Grande Deus ordenou a criação dos medalhões dos cinco filhos, não foi? Foi aqui que se descobriu a cura da Peste. Posso nunca ter visto um mago, mas acredito que eles ainda existem. Acredito no fundo dos meus ossos. E onde há magos, há magia.
Fadiga tiritou seus dedos compridos na madeira, passeando o polegar pela moeda de prata sobre a mesa.
— É teimoso como uma mula, Daeron! — ralhou Fadiga — Todos os magos que importavam estão mortos, não estão?
Daeron fez beicinho. Ele realmente acha que sabe das coisas, mas não sabe nada! Lembrou-se da vez que roubou a armadura de um soldado para tentar enxergar o que tinha dentro das Torres, mas o guarda era tão grande e ele tão pequeno que Dae parecia uma criança vestindo roupa de adulto. Não foi difícil para os homens reconhecer que ele era um impostor. Podia jurar de pés juntos que vira uma sombra estranha, algo realmente parecido com um mago, mas estava muito concentrado na bota do soldado que lhe acertou no traseiro. Daeron correu desesperadamente naquele dia.
— Magos não morrem — proferiu o garoto em tom baixo — Eles são eternos. Como os deuses.
Alguma coisa no que ele disse fez Fadiga sorrir.
— Eternos, é? Eu desconfio muitíssimo disso, pra falar a verdade. O Grande Deus se suicidou, esqueceu-se? Por que é que um de seus filhos não pode morrer também?
Daeron olhou, apreensivo, para toda a estalagem. O cantor ainda permanecia na cítara, concentrado agora em agradar os três homens na mesa oposta a dele, e o estalajadeiro polia um bule de chá. A criada da estalagem varria as teias de aranha do teto com uma vassoura, aplicando um ódio palpável em cada golpe, mas estava tão concentrada nos amigos quanto estava em manter um sorriso no rosto — a criada tinha uma amarga face de quem mataria alguém que se pusesse na frente de sua vassoura. Mesmo assim, Daeron baixou a voz.
— Isso é pecado dizer, Fadiga — murmurou ele — Você não tem medo de...
— ...de ser morto? Antes eu seria atingido por um raio a ser morto por falar a verdade, Daeron. — O amigo encobriu a boca para esconder uma risadinha — Sua família era de fé?
Dae terminou a última ostra do prato e passou a brincar com a colher distraidamente.
— Minha mãe não gostava de Mera — revelou ele — E meu pai odiava a todos, principalmente Ignis.
— Ignis? — Fadiga levantou uma sobrancelha — Por que Ignis?
— E eu lá sei? Pergunte pra ele, oras. Nunca rezei, mas nem por isso deixei de acreditar. Você sabe... Ponta do Céu tem olhos muito atentos em Aedificatio, e qualquer palavra errada poderia incitar o ódio da Senhora Caeli. Aqui não é diferente, Fadiga — Dae apontou para a mesa onde os homens bebiam serenamente — Eles podem ser espiões de Aqua, sabia? O Templo da Água tem muitos súditos fiéis.
Tudo isso parecia divertir muito o seu amigo.
— Aqua? — falou ele, rindo — Aqua está doente, Daeron. Dizem que é um demônio que visitou ela noutra noite e agora Sua Graça não consegue mais dormir sem ter pesadelos. Duvido muito que qualquer olheiro dela estaria por aqui, e duvido mais ainda que seríamos presos por falar de um assunto tão comum e normal. Qual é, a morte de um deus é tão séria assim?
Dae continuou austero e fez um meneio com a mão, como quem diz que não está mais com paciência para aquilo. Fadiga levantou os braços, pedindo perdão.
— Tá bem, tá bem, vou parar de fazer perguntas. — Ele lambeu a ponta dos dedos e levantou-se — Inclusive acho que já vou indo. Temos que acordar cedo amanhã se quisermos pegar esse barco, não temos? Olho de Peixe descasca o marinheiro como uma batata se ele chegar atrasado, dizem. Você sabe como é difícil pra mim...
— Sim, Fadiga — concordou Daeron — Cansado em demasia, sim, sim. Boa noite, então.
Daeron ainda ficou alguns momentos sentado na mesa da estalagem, observando o vazio, enquanto Fadiga calçava novamente as botas e vestia sua capa de chuva. Quando a noite caiu, o cantor guardou a cítara numa bolsa de couro e, desanimado, saiu sem dizer mais nada. O último olhar que deu foi ao estalajadeiro, que fez uma cara emburrada como de quem comeu e não gostou.
Quando o saguão se esvaziou por completo, as lamparinas já mortas pelas paredes, Dae limpou a mãos nas roupas e levantou-se. Em seguida, tirou um saquinho de moedas do bolso — não restava muito mais, infelizmente — e contou-as sobre a mesa. Procurando a moeda de prata talhada com a foice e a lança, aquela que seu capitão lhe dera, percebeu que ela tinha sido levada embora. Fez um escarro com a garganta, depois um praguejo, e olhou para os lados se certificando de que não havia nenhum ladrão invisível por ali. Fora Fadiga, ele tinha certeza. Maldito desgraçado!, pensou Daeron, mas não conseguiu evitar um sorriso. Já não é a primeira vez! Não é a primeira vez! O cobraria amanhã. Isso podia ter certeza que faria.
Aproximou-se do estalajadeiro detrás dos balcões, que agora polia minuciosamente garrafas de vidro com cidra. O homem era muito alto, negro e de barba comprida. Sob o corpo vestia um linho azul bem trabalhado, com cara de quem cuidava do que tinha. O estalajadeiro não fez nenhum esforço para vê-lo, exceto um leve virar de cabeça. Daeron estendeu as três moedas douradas e uma dúzia de prateadas sobre a mesa. Aquilo valia quatrocentos e vinte cobres.
— Isso é pelos... pelos três meses aqui, senhor. E a comida, e os incômodos, e tudo mais. Vou embora amanhã.
O homem analisou as moedas sobre a mesa, mas não fez questão de mover-se para agarrá-las.
— Vai servir — disse ele simplesmente, frio como a lâmina de uma faca — Tomará o desjejum pela manhã?
— Sairei muito cedo, senhor. Antes do sol se levantar. Acho que ficará para uma próxima visita.
— Bom, bom. Se é assim, então. — Ele voltou desinteressadamente a polir as garrafas de vidro. Dae virou-se e subiu as escadas.
A cama de Daeron era um monte de palha amaçada e desfigurada, largada no canto de um quartinho que nunca juntava poeira. A criada fazia questão de varrê-lo e tirar o pó dos móveis, mesmo com seu ódio imparável. Pelo menos o catre não tinha pulgas, o quarto não cheirava a bolor e Dae não precisava ficar atiçando ratazanas porta afora, o que não poderia ser falado de todas as estalagens da cidade.
Não acendeu nenhuma luz, convicto de que estava muito cansado e bastaria se acomodar entre seu travesseiro e o cobertor para que o sono viesse. Um volume espesso do Inventário das Estrelas, disponível na biblioteca da estalagem, estava no bidê de sua cama, mas Dae prontamente o ignorou. A janela permitia assistir o crescente da lua, e um vento fresco e salgado soprava do mar por ela. Deitando-se, fechou os olhos.
E não dormiu.
Parecia literalmente uma criança ansiosa para receber seu presente de aniversário. Rodopiou pela cama, levantou-se, espreguiçou os braços e fingiu um bocejo, como que tentando enganar a própria mente. O frio na barriga, o tremor na mão e a sensação incerta do amanhã confirmaram o óbvio. Não adiantava tentar dormir. Seu coração não voltaria a bater normalmente, sua respiração não seria mais normal e nem seus olhos se cansariam. Estava imerso em uma adrenalina sem igual, e nadar contra a correnteza tornaria as coisas ainda mais difíceis.
As horas sombrias da noite passaram lentamente. Dae ficou pendurado na janela olhando as vielas vazias e o mar espumando nos rochedos. Névoas trazidas pelo ar corriam pelos becos e avenidas de Profunda Tormenta. As cinco grandes Torres — monumentos cilíndricos de pedra que se levantavam aglomerados em um canto da cidade — esparramavam sombras pelo chão, a lua escondendo-se atrás delas. Quando o horizonte avermelhou da cor de cereja madura, um sino soou no limiar da audição. Era o templo dos deuses que chamava para as orações da manhã.
Dae juntou suas coisas em uma trouxa. Algumas camisetas, calças e botas, além do saquinho miúdo de moedas, agora quase vazio. Agarrou o Inventário das Estrelas e desceu pé ante pé as escadas da estalagem. Ninguém estava acordado. Abriu a porta da biblioteca, devolveu o livro em uma das mesas e olhou, meio atordoado, para as prateleiras. Imaginar não ter mais a biblioteca para entretê-lo deixou-o evidentemente triste. A saudade pode ficar, pensou ele consigo mesmo, mas a casa de um marinheiro sempre vai ser no mar.
O sopro de uma neblina salgada acertou-lhe o rosto quando saiu da estalagem. O guardião que cuidava da porta estava dormindo, a espada longa caída no chão. Dae passou por ele em silêncio, tentando não acordá-lo. A última coisa que precisava era ter que ficar se justificando para o homem.
Depois de alguns tropeços pelo meio da estrada Daeron chegou ao cais.
O local ocupava um bom espaço de praia da ilha, e poderia facilmente abrigar cinquenta embarcações em tempos bons. Grandes navios estavam ancorados na margem oeste, dormindo, enquanto outras barcaças e pesqueiros lançavam seus remos ao mar. Barcos apontavam também do horizonte, delineados pelo sol da manhã. Uma pequena aglomeração tomava conta do cais à medida que os marinheiros iniciavam suas tarefas diárias. Carroças encheram as vielas, desesperadas ou por esvaziar seus caixotes ou por enchê-los. Pontes, lastros, cordas, barris, redes, sacas, caixas e tudo mais foram arremessados pelos ares, indo e vindo das embarcações.
Numa das carroças chegou Olho de Peixe, acompanhado com uma comitiva de peso. Quando viu Daeron e outros aprendizes esperando-o, alargou um sorriso.
— Oho! Todos muito bem despertos e com a coluna jovem e inteira! — Ele apontou para os montes de caixas atrás da carroça — Vamos lá, vamos lá! Não temos todo o tempo do mundo, seus marinheiros de meia tigela! Se querem uma comida quente na barriga, precisam carregar tudo isso lá pra cima.
Daeron ajudou como pôde, embora mais atrapalhasse do que qualquer outra coisa. Derrubou duas ou três vezes os caixotes no chão, uma delas no pé de um velho que rogou uma praga e desejou-lhe sua morte. Que ótima maneira de iniciar a aventura... Supunha que a ameaça era apenas passageira, mas o modo como o senhor olhou-o deu-lhe calafrios na espinha.
O sol já se erguia bastante sobre o mar quando terminaram o trabalho.
Olho de Peixe aproximou-se lentamente na direção de Daeron, como se fosse empregar-lhe um susto.
— Fico feliz em te ver aqui, Nanico — disse ele, pousando uma das mãos em seu ombro — Achei que desistiria.
Dae tentou evitar que enrubescesse.
— Isso nunca, senh... capitão. Nós já... Já vamos partir?
O modo como o capitão lhe fitou fazia parecer que Olho de Peixe já sabia tudo que Dae pensava.
— Oh, mas é claro! Não podemos desperdiçar os ventos da manhã. Um sopro destes nos leva de pirueta até o continente antes do dia terminar, Nanico. Feche os olhos e escute as ondas. Veja como o mar nos quer. — Daeron entortou as sobrancelhas, confuso. Olho de Peixe tinha as pálpebras fechadas e balançava-se para a frente e para trás — Vê? Vê?
Não via.
— Ergh... sim. Vejo — mentiu ele. O capitão continuou hipnotizado pelo som trovejante das ondas quebrando no cais — Mas... capitão... há um amigo meu... Fadiga... ele deveria... — Olho de Peixe não deu trela. Daeron tocou levemente no braço dele, com um medo significativo — Capitão... Fadiga... Capitão!
A última palavra saiu como um grito, e Olho de Peixe saltou para trás.
— Pelos pepinos-do-mar, Nanico! Com um grito destes eu entregava todos os meus pertences a você e saía correndo achando que tinha sido atacado por um ladrão maroto! Que é que dizia você, hein?
— Fadiga, meu amigo — Daeron disse então — Ele ainda não está aqui. Talvez tenha dormido demais.
O capitão fez um aceno desinteressado e riu.
— Vai chorar por isso, rapaz? Sabe onde ele mora? — Dae olhou para o chão, envergonhado, e negou com a cabeça. Olho de Peixe riu novamente — E qual é seu plano pra acordá-lo, hãn? Bater na porta de todas as casas daqui gritando pelo nome dele? Tira isso da cabeça, Nanico. Ele foi avisado que era pra tá aqui na hora do pôr do sol. Talvez o espertão achou que era no pôr do sol da próxima primavera. Não posso esperar ninguém — ele instou Daeron com a mão para subir a rampa de madeira até o veleiro — Vem. Você e Ott vão me ajudar com as cordas.
Daeron hesitou, parado na ponta do píer. Olho de Peixe entortou a boca e soprou os bigodes.
— Ah, pois bem. Então quer ficar aqui com ele?
O garoto olhou para trás, procurando pelo amigo. Além da multidão compacta que escorria pelo cais, nada viu.
— Vou com você, capitão. Vou com você.
Um sorriso de satisfação surgiu de orelha a orelha em Olho de Peixe, um daqueles sorrisos que diz "Eu já sabia".
Quando desataram todos os nós do veleiro e deslizaram mar adentro, Daeron sentiu um estrangulo na garganta. Eu ainda posso saltar daqui. De toda forma Fadiga era um amigo, talvez o único amigo verdadeiro que algum dia teve, e não gostaria de perdê-lo. Aquela viagem era seu sonho e também o sonho de Fadiga. Poderia ter feito alguma coisa.
Segurou firme a balaustrada, os dedos molhados de suor, olhando o mar azul correr debaixo de seus pés, espumando. As velas brancas estavam infladas, cheias de ar, e marinheiros corriam pelo convés, alegres, cantando. Daeron olhou uma última vez na direção do píer. Virou as costas. Meu sonho, disse para si mesmo, abraçando-se, é o meu sonho, maldito sejam todos.
Ou decidia agora, ou nunca mais.
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