Capítulo 8
O cheiro de perfume era grandioso e impestiava todo o cômodo, que tinha alguns acentos e tapetes veludos, além de almofadas. Sob a luz do abajur em cima da penteadeira, onde havia uma caixinha de música e está aberta se encontrava, uma bailarina de cor branca rodava ao som da música, que apesar de ser apenas um instrumental, era uma bela canção, encontrava-se uma moça de cabelos castanhos, que penteava os seus brilhosos e sedosos cabelos. Moça essa que era a filha do Conde Welland. Lucy. A jovem com um sorriso encantador observava-se no bem mais limpo espelho daquela casa, onde através dele, uma moça delicada e bem educada se encontrava preparando-se para o mais honrado evento de nobres famílias de Bridgetown. Sozinha naquele imenso cômodo, o silêncio rondava por ali, mas ele foi quebrado por um estranho barulho que veio da varanda na janela. O barulho era como se algo pontudo arranhasse as grades da varanda. Curiosa e assustada, Lucy olhou confusa para a janela, ainda receosa com o que tinha lá e depois, andou por alguns metros em direção a varanda, cuidadosamente sem fazer barulho, abriu as portas da varanda e com o brilho da glamorosa lua cheia no alto do céu, ela pôde ver uma ave olhando para ela. Esta havia pousado na grade de proteção da varanda e por fim, ficou por ali observando a jovem. De cor branca, com a face em formato de coração e de estatura mediana, aquela era *Tytonidae, ou conhecida mais como coruja-das-torres, estava lá, a observando como se estivesse a protegendo de algo.
- Olá, corujinha! - ela disse animada, mas em voz baixa. - O que fazes aqui?
Lucy deu um passo a frente, mas com receio, pois estava esperançosa de que a ave logo iria levantar vôo e ir para longe, mas dessa vez foi bem diferente. A coruja ficou lá e dessa vez a observando.
- Estás perdida? - ela deu mais um passo a frente e a coruja não fez nada. - Você é bem calma, ainda mais pra uma espécie de coruja rara como você...
Ela deu mais um passo e este o último, a coruja estava do seu lado e a mesma não temia de que a humana pudesse fazer algo. Era como se ela a conhecesse desde muito tempo. Ainda com medo e receio, Lucy, calmamente, levou a sua mão direita para acariciar a ave e quando tocou em suas penas, sentiu que havia ganhado a confiança da coruja.
- Nossa, você é realmente bem calminha! - Lucy sorriu e a coruja continuou ali parada. - Que tal você ser minha amiga?
A coruja não fez e nem respondera nada, apenas a olhou e depois voltou a olhar para a janela.
- Se você for macho, vou lhe chamar de Kemal e se você for fêmea, vai se chamar Oriana! - Lucy sorriu e continuou acariciando a ave, mas percebeu algo em sua asa direita, algo que aparentava um corte. - O que é isso em sua asa? Alguém ou você se cortou?
Ela continuou analisando e por fim, viu que o corte assemelhava-se igual a de um ferimento causado por uma faca. Porém, lembrou-se que um certo criado havia cortado a sua mão com uma faca. Criado esse cujo ele era natural de Bridgetown, sim, o jovem Ferguson. Mas, será que ele havia se transformado em uma coruja? Isso não tinha lógica.
- Eu estou realmente ficando louca... - ela comentou logo após retornar ao seu afazer. - Enfim, eu preciso ir, Srta. Corujinha!
Em seguida, ela afastou-se da coruja, que a olhou nos olhos e depois voou como uma mãe pássaro levando alimentos para a sua ninhada. Após o ocorrido, Lucy ficou pensativa. Aquilo nunca havia acontecido antes e de repente, uma coruja pousa na sua varanda e passa a ter a "amizade" dela assim sem mais e nem menos. Ainda com aqueles questionários, a jovem terminou de pentear os seus cabelos castanhos e por fim desceu para a portaria da mansão, onde Edith e Anthony já se encontravam impacientes com a tal demora.
- Eu pensei que você fosse virar o século naquele quarto... - Edith comentou quando Lucy parou na porta da mansão. - Efeitou-se inteira para chamar a atenção do jovem, Williams... Coitada!
Lucy abriu um sorriso forçado.
- Boa noite para você também, Edith. - Lucy respondeu ainda esboçando o sorriso forçado. - Sabe, melhor se efeitar, do que ir igual a um porão imundo, não é mesmo?
Edith torceu o nariz ao olhar para a moça.
- Ora Lucy, não precisava me acertar com um dos seus sapatos. - A mulher mais velha respondeu com um pouco de raiva. - Estava apenas elogiando a sua demora e persistência em manter-se bonita.
A jovem semicerrou os olhos e deu um passo a frente.
- Não tente me enganar, Edith... - ela disse em um tom de indignação. - Eu sei muito bem quem é você!
Edith torceu o nariz mais uma vez e agora abrira um sorriso maldoso.
- Alguém muito melhor do que você, eu presumo. - a mulher sorriu maldosamente. - Oh, pequenina e frágil, Lucy.
- Vou lhe mostrar quem de fato é frágil aqui! - a moça deu mais dois passos a frente. - E vou lhe mostrar quem é a pequenina...
Anthony agora deu um passo a frente.
- Ouse tocar um dedo em minha mãe e eu lhe mostro do que sou capaz!
Anthony fumava um charuto, mas após o que ele pronunciou, o seu charuto foi parar debaixo da sola do sapato de Lucy.
- Tente fazer algo, insignificante Anton! - a moça se mostrou valente. - Você não faz nada, apenas ameaça, é pior que tempestade de verão, anuncia e não auge!
Anthony torceu o seu nariz ao olhar para a jovem e esboçou uma face de raiva.
- Oh não? Vamos ver se não!
Ele aproximou-se rapidamente dela, mas parou após o Conde Welland aparecer repentinamente na porta da mansão, quebrando ali o conflito.
- Está tudo bem, por aqui? - disse o Conde em um tom radiante. - Vocês estão prontos para partir?
Edith abriu um sorriso falso. Mais falso do que a sua empatia por alguém dentro daquela mansão.
- Sim, querido, estamos! - ela disse aproximando-se dele. - E estávamos aqui discutindo sobre as famílias mais nobres que sempre ficam atrás dos Welland!
Lucy a olhou desconfiada.
- Esse é o espírito! - afirmou Hugh ainda com um sorriso radiante. - Com certeza, levaremos o melhor troféu de família mais nobre e educada de Bridgetown.
Lucy não disse nada e seu pai percebeu a inquietação da mesma.
- O que houve, Lucy? - ele disse em um tom preocupado. - Sente-se bem, querida?
- Não aconteceu nada, papai e sim estou bem.
Hugh sorriu e afirmou, depois retirou o seu relógio de bolso do bolso do smoking e o olhou receoso.
- Muito bem, se não nos apressarmos iremos nos atrasar. Todos estão aqui? - ele disse olhando para uma fila de funcionários se formando atrás de Lucy e Anthony. - Sr. Bloodvessel?
O chefe dos criados brotou de repente ali.
- Senhor?
- Diga-me os funcionários que irão e os que ficarão para vigiar a casa!
Bloodvessel assentiu e depois levantou o braço e fez um sinal com a mão, como se estivesse emitindo uma ordem e rapidamente, como o ligar de uma lâmpada, uma fila, ombro a ombro, de funcionários se formou a frente da portaria. Lacaios, criados, serviçais, camareiras e ajudantes ali se encontravam. Até mesmo Colin, que logo fora alcançado pelos olhos de Lucy.
- A lista foi dividida assim... - Henry abriu uma folha de papel. - Dos lacaios, quem ficará somente na casa é o Sr. Furlani, dos serviçais, o Sr. Latimore, das camareiras, as Srtas. Annella e Campbell e dos criados, por sua suposta má conduta, o Sr. Ferguson!
Lucy olhou para o jovem estranho criado e percebeu nele, um semblante de tristeza, que logo se desfez com o pronunciamento do Conde.
- Aos que ficarão para vigiar a casa, serão recompensados com dois dias de folga. - Hugh anunciou e por fim, olhando para o chefe dos criados. - Muito bem, aos funcionários que representam a família Welland, vamos indo que o caminho é longo!
Todos os funcionários se desfizeram da fila e por fim, separarão-se, depois, três grandes carros adentrou pela estrada e seguiu até a portaria da casa, onde neste carro, embarcou: Hugh, Edith, Lucy, Anthony, Francine e Mabel, no segundo: Jim, alguns criados, lacaios e camareiras, no terceiro: o restante dos criados, lacaios e camareiras, além dos chefes de cada função da casa. Todos esses automóveis transportando todas essas pessoas seguiam enfileirados rumo a festa da cidade, onde estariam as mais importantes pessoas. Enquanto eles iam embora, o jovem Colin observava os carros descendo a colina e depois de passar pelo portão principal da mansão, seguiram viagem. Com uma expressão séria, ele continuava olhando para os automóveis, até que o jovem Latimore aproximou-se.
- Não fique triste, Colin! - disse o jovem de cabelos loiros. - Um dia você irá nesse evento, pode ter certeza que sim!
O criado não olhou para o serviçal.
- Eu não estou triste, Allan. - a voz dele suave e embargada saiu de sua boca como uma fumaça de um cigarro. - E sim, eu irei sim neste evento... Pode ter a certeza que sim!
Latimore sorriu.
- Esse é o espírito! - disse Allan imitando a postura do Conde. - Venha para dentro, Ferguson, está começando a esfriar!
O criado assentiu, enquanto o serviçal retirou-se dali. Mas algo estranho aconteceu, pois segundos depois, ele sentira um certo formigamento nas mãos e acabou tendo uma visão do futuro, onde algo ruim iria acontecer. Muitas das vezes, ele já falhou por conta deste instinto e já não confiava mais nele. Porém, depois de Latimore adentrar a mansão, ele não fora mais visto por mais ninguém.
Era uma verdadeira euforia. Havia muitas pessoas na praça pública da cidade, onde recentemente fora inaugurado a estátua do fundador de Bridgetown, o Honorável Cameron Bridgestone. Além disso, crianças corriam de um lado para o outro, outras quietas perto de seus responsáveis observava tudo e algumas, sentadas, comiam algodão doce ou pipocas doce. Era uma verdadeira magia estar naquela festa, pois um carrossel havia sido feito para crianças brincarem. Uma verdadeira festa de luzes coloridas e brilhantes. Com os olhos brilhantes, Lucy descera do carro acompanhada por Jimmy, que rapidamente a ajudou a descer do carro. Observando o clima da festa, que era bastante animado, eles esperaram por Hugh, que conversava com o chofer Barrow sobre a hora de retornar para casa.
- O seu pai é bastante cuidadoso, não é mesmo? - Jim comentou enquanto olhava o Conde a conversar com o funcionário. - Está até instruindo o chofer, Barrow, a hora de voltar e em qual velocidade ele deve estar no momento da volta!
Lucy gargalhou.
- Papai, sempre fora muito cuidadoso! - disse a moça agora avistando o seu pai retornando. - Você devia ver ele na praia, a todo momento, ele pensa que haverá algum tubarão que possa devorar todos nós a cada segundo!
Jim sorriu.
- Muito bem, o horário de retornar para casa é às dez e meia. Estejam aqui e sem falta! - instruiu o Conde logo após chegar no grupo. - E desde já eu peço, se caso forem beber, bebam com moderação e tomem muito cuidado com o que vocês dizem. Agora, vamos nos divertir!
Todos assentiram e o grupo logo se desfez. Lucy e Jim foram para um lado, Hugh e a raivosa Edith para o outro e Anthony permaneceu por ali, fumando um cigarro e vez ou outra analisava o movimento, como se esperasse por alguém. Não demorou muito para que um homem de chapéu, sobretudo, calça e sapatos - todos esses de cores pretas - surgisse ali e sempre mantendo a sua identidade preservada, como se estivesse fugindo de alguém.
- E então? - disse o homem quase sussurrando. - Como você irá tomar a fortuna de Hugh?
- A única maneira, é invadindo a casa às onze e rendendo todos dentro dela. - Anthony disse. - Pois, os criados não tem posse de nenhuma arma de fogo e muito menos de um estilingue!
O estranho ficou receoso.
- Não sei se sou capaz de fazer isso, Anthony!
- Você deve invadir a casa neste horário ou se não, perderemos essa chance. - Anton o avisou.- Dessa vez, se não falharmos, conseguiremos tomar a fortuna do velho Welland!
O homem assentiu.
- Mas e Edith? Está trabalhando bem?
- Não se preocupe com mamãe, ela sabe o que faz! - Anthony sorriu maliciosamente. - Muito bem, hoje à onze e meia eu encontro o Stassen próximo ao portão principal.
- Entendido!
O homem rapidamente virou-se de costas para Anthony e desapareceu como fumaça, enquanto isso, o jovem Anton permaneceu por ali disfarçando e depois, desapareceu entre uma multidão de pessoas. Não muito longe dali, Lucy se divertia na companhia de Jim, onde ambos brincavam e comiam diversas comidas, como pipocas, caramelos e algodões-doce. Porém, a jovem sentia como se estivesse sendo observada e vez ou outra, tinha a impressão de estar sendo seguida, além disso, sentia que algo ruim iria acontecer mais tarde, mas será mesmo? Agora sabemos que, de fato, o instinto de Colin não estava errado.
1 · Tytonidae: é uma das duas famílias de aves que inclui diversas espécies de corujas, a outra sendo a Strigidae. Elas são de tamanho médio para grande, com grandes cabeças no formato característico de "coração". Conhecidas como Suindara e Rasga-Mortalha, as suindaras incluem duas sub-famílias: Tytoninae e Phodilinae.
Música: The Poisoned Princess
Compositor: Reginald Terron
Link: &list=PLRULlEp4jlhRXel2LKWDj2UZtoHPwrBzF&index=15
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top