Capítulo 7

Inquieto e agoniado. Essas eram as palavras que definia o jovem Colin Ferguson, que precisava agradecer a jovem Lucy pelo o que ela fez mais cedo ao conversar com o seu pai. Além disso, ele ainda estava inseguro enquanto a sua estadia naquela casa, pois, segundo a conversa que ele ouviu, Hugh - aconselhado por Bloodvessel - o demitiria por conta da sua suposta conduta no jantar da noite anterior, que segundo o criado chefe, iria trazer muita dor de cabeça e vergonha ao Conde. Mas, como o Sr. Welland o demitiria sem ter provas de quem fez aquilo foi de fato o criado. Enquanto isso, ele deixou os corredores da sala e seguiu andando calmamente para a sala de jantar dos funcionários, passou por alguns corredores que tinham alguns lacaios, criados, camareiras e até mesmo os motoristas particulares da família, que conversavam sobre alguma coisa, mas quando o jovem passava, o silêncio era mantido. O jovem seguiu andando para a sala no final de um corredor meio estreito, onde o Sr. Bloodvessel estava tomando uma xícara de chá e acompanhado da camareira chefe, a Srta. Ophelia Winters e da cozinheira, a Sra. Brooke, além disso, conversavam sobre algo e de repente, quando Colin entrou, eles se calaram. Todos observaram o jovem ir até a cozinha, onde lavou as mãos e retornou rapidamente de lá. A Sra. Brooke o olhou desconfiada e por fim, teve a coragem de dizer alguma coisa.

- Sr. Ferguson... O que você fez lá na cozinha?

O rapaz não expressou nenhum sentimento.

- Fui apenas lavar as mãos... - ele franziu o cenho e mantendo a sua postura séria. - Estás desconfiando de mim, Sra. Brooke?

- Não... Jamais desconfiei! - ela disse com um sorriso cínico no rosto. - Mas o problema é que um inseto foi parar na boca do Sr. Davis e jogaram a culpa em mim, como se eu, que tenho medo desses insetos, colocasse um em uma das minhas comidas!

Colin olhou para todos os outros funcionários, que bebiam o chá e o observavam de maneira duvidosa.

- Não que nós estamos dizendo que foi você, mas... - disse a Srta. Winters. - Quem somos nós para julgarmos, não é mesmo?

Todos ali na mesa assentiram. Colin franziu o cenho.

- Quero fazer uma pergunta e peço que sejam sinceros... - ele disse e todos assentiram. - Vocês desconfiam de que fui eu que coloquei aquele inseto na comida do Sr. Davis?

Bloodvessel abriu a boca para falar alguma coisa, mas logo foi interrompido novamente.

- Se tiveram a certeza de que fui eu, fiquem calados!

O silêncio foi mantido por um minuto e Colin assentiu esboçando a sua expressão de raiva.

- Eu já me arrependo de vir a este lugar... - ele esboçou ódio. - Onde só vivem pessoas ridículas...

Sem dizer mais nada, Colin saiu rapidamente dali, deixando a porta da sala bater violentamente e todos ali sentiram um pouco de culpa. Tanto que Bloodvessel soltou um forte suspiro ao colocar as mãos atrás da cabeça e olhar para o relógio na parede.

- Viram só o que vocês dois fizeram? - Ophelia reclamou. - Deixaram o rapaz confuso e agora sente ódio de nós... Com isso, ele pode até mesmo pedir a sua demissão e então? Como ficaremos sem um criado?

A Sra. Brooke franziu o cenho ao olhar para a mulher.

- Ora Ophelia, você também ficou calada e agora quem vir apresentar a sua personalidade de boa samaritana.

- Eu fiquei calada simplesmente por não tinha nada a dizer à ele! - ela defendeu-se. - Imagina se eu abro a boca e digo algo que o ofende? E então? Seria pior ou não?

- Sim, mas pense no que ele fará agora!

- Sra. Brooke, ele não fará nada e...

- Quer saber, eu desisto de ficar ouvindo as besteiras que vocês falam... - Bloodvessel interrompeu, levantou-se de sua cadeira e ainda com a xícara na mão. - E ao invés de ficarem conversando, porque não vão fazer o serviço de vocês?

- Como é que eu vou fazer o almoço em plena sete horas da manhã? - questionou a cozinheira. - Sendo que só podemos servir o almoço a partir de meio-dia em ponto!

- Isso não é problema meu e Srta. Winters... - ele foi grosseiro. - Porque não vá ver se as camareiras estão fazendo tudo direitinho?

Ophelia olhou para o chefe dos criado de maneira raivosa.

- Eu irei! - ela levantou-se. - Mas não porque o senhor mandou...

Em seguida, ela saiu rapidamente dali e deixando a porta bater, logo depois, o chefe também saiu e deixaram a cozinheira sozinha na mesa.

- Essa casa só pode ser um hospício...

Ela levantou-se e decidiu fazer alguma coisa para o almoço. Porém, ainda estava decidida em qual o melhor prato para aquele dia.

O sol estava raiando no alto do céu, onde algumas nuvens passavam por ele e depois o deixavam brilhar. Mas, isso não era problema a jovem Lucy, que sentada na espreguiçadeira do píer, observava os cisnes nadando ao horizonte do lago e meio pensativa, não percebera que deixara o seu livro cair no chão. A jovem pensava sobre o criado Ferguson, porque ele sempre fora quieto e estranho. Ele é mais quieto do que o lacaio Latimore, que sempre dizia alguma palavra que podia alegrar o dia de alguém. Ela começava a imaginar coisas, como algum trauma que o deixou assim, porém, achava que aquele era o seu jeito, ou melhor, a sua personalidade. Mas, ela começou a sentir-se estranha, pois quando falava dele sentia um estranho formigamento nas mãos, um aperto no peito e sua pernas ficavam bambas, além disso, ela sentia algumas borboletas no estômago. Seria amor? Talvez. Aquilo era algo que ela nunca sentiu por outro homem, era algo extremamente exclusivo para ela sobre Colin, tanto que sabia que ele também sentia algo por ela.

- Olá... O que fazes por aqui?

Ela despertou-se da sua linha de raciocínio e decidiu ver quem era a pessoa, mas ao vê-la alegrou-se.

- Olá Jim... - Lucy sorriu.- Estou apenas descansando a mente e você?

- Eu estou entediado... - ele disse olhando para o lago. - O que você costuma fazer por aqui?

- Bom, eu costumo ler livros e talvez o jornal da cidade por aqui...

- E além de ler? - ele olhou para ela. - O que você faz?

- Bom, antes de reformarem essa casa, eu costumava a ir numa pequena fonte que tinha perto daquela floresta... - ela olhou em direção a floresta. - Lá era maravilhoso, mas agora papai proibiu de irmos até lá!

Jimmy franziu o cenho.

- Por que?

- Segundo ele, aquele lugar é perigoso e foram relatados sérios casos de avistamento de animais selvagens naquela fonte... - Lucy respondeu olhando para a floresta. - E para a nossa segurança, ele decidiu isolar aquele local!

- Entendo! - ele assentiu e olhou para a mansão, de onde avistou um criado andando pelo segundo andar da casa. - Uma pergunta?

- Sim?

- Quem é ele?

Lucy olhou para trás e avistou o criado andando pelo segundo andar, como se estivesse fazendo alguma coisa.

- Bom, se não me falha a memória, ele é o chefe dos lacaios e manobrista, Townsend. - Lucy respondeu o olhando. - Ele é bem entediante. Se você conversar com ele, verá que observar uma formiga subindo pela parede será mais incrível do que falar com ele...

Jim sorriu.

- Por que?

- Ele vive falando da sua terra natal, a Escócia! - ela disse e ele sorriu mais uma vez. - Já cansei de ouvir sobre as tortas escocesas...

Jim gargalhou. Eles continuaram conversando por mais e mais tempo, tanto que nem se importaram com as horas, que se passaram igual um pássaro de uma árvore para a outra.

- Desculpe-me interromper, Srta. Welland e Sr. Davis, mas o Conde Welland me pediu para lhe avisar sobre o almoço! - disse criado Newland. - Que já está sendo servido, porém, todos estão lhes esperando na mesa de jantar!

Lucy assentiu e levantou-se juntamente com Jimmy.

- Muito obrigada, Sr. Newland! - ela sorriu. - Pode avisá-los de que estamos a caminho!

O criado assentiu e em seguida, deixou o local rapidamente sem dizer mais nada. Catherine e Jimmy seguiram até uma torneira que ficava junto a uma das paredes do lado de fora da casa, onde lá, lavaram as suas mãos e depois adentraram a mansão, passaram por alguns cômodos e por fim, chegaram ao salão de jantar. A mesa estava repleta de comida e algumas garrafas com bebidas, sentados em volta da mesa encontrava-se: Hugh, Edith, Anthony, Mabel e Francine, que esperavam por eles dois.

- Desculpe o atraso, papai! - Lucy abriu um sorriso fraco e dirigiu-se calmamente a uma cadeira ao lado de Mabel. - Acabamos perdendo a hora...

- Seria melhor se vocês dois ficassem perdidos na floresta... - Anthony provocou. - E não nas horas!

Lucy o olhou séria e não lhe disse.

- Muito bem, vamos parar de besteira e vamos comer! - Hugh disse a todos ali. - E logo após, falarei algo com vocês!

Todos assentiram. Depois do almoço, a sobremesa foi servida, era um bolo de chocolate com uma cereja no topo, uma das especialidades da Sra. Brooke. Enquanto isso, a sala estava bem ventilada e alguns criados estavam ali, menos o Sr. Ferguson, que por algum motivo fora substituído pelo Sr. Townsend, que colocou algumas bandejas sobre a mesa. Com isso, Lucy sentiu-se triste e por algum motivo, pensou que fosse decisão de seu pai. Talvez ela estivesse errada.

- Bom, como eu lhes avisei, eu tenho um aviso a lhes dar... - ele levantou-se de sua cadeira e sorriu. - Com muita honra, eu lhes anuncio de que nós, da família Welland, fomos convidados a participar do maior festival de verão da cidade, onde nobres famílias estarão lá, como por exemplo, os Duff-Gordon!

Todos na mesa bateram palmas e sorriram.

- Bom, imagino que isso deve ser muito gratificante a vocês! - Jimmy comentou. - E desde já lhes dou os meus parabéns!

Hugh sorriu.

- Muito obrigado, Jim! - o Conde sorriu mais ainda. - Muito bem, o evento ocorrerá nesta noite e nós os membros da família contamos com os nossos funcionários, os chefes dos criados, lacaios, serviçais, camareira e entre outros poderam levar os seus convidados, e você pode levar os seus homens, Sr. Bloodvessel?

O chefe dos criados deu um passo a frente.

- Com toda a honra, senhor Conde!

- E desde já advirto os chefes, de que pode levar os seus funcionários, contando que devem ficar pelo menos cinco homens para vigiar a casa! - Hugh avisou aos chefes, que assentiram. - Sr. Townsend e Bloodvessel, escolham cinco funcionários desta casa para ficar na vigília e depois me entregue uma lista com o nome deles!

- Sim senhor. - o chefe dos criados respondeu. - Lhe entregarei a lista ao final do dia!

- Está bem. O evento está programado para ocorrer às oito horas desta noite e sem atraso. - Hugh continuou a anunciar. - Portanto, quero todos prontos ao anoitecer, não podemos passar vergonha ao chegarmos atrasados!

Todos assentiram.

- Muito bem, tenham um ótimo dia e não se esqueçam... Estejam prontos ao anoitecer!

Em seguida, todos começaram a se retirar, Lucy levantou-se de sua cadeira e prosseguiu calmamente em direção a porta, estava muito pensativa enquanto a falta de Colin naquele horário e por ser substituído pelo chefe dos lacaios, algo bem anormal de se acontecer.

- Lucy, pode esperar um pouquinho aqui? - Hugh a chamou. - Preciso conversar com você sobre um assunto!

A moça olhou para trás e assentiu, depois retornou ao seu lugar na mesa, ainda pensativa. Depois que o último criado retirou a última bandeja e deixou o Conde e sua filha sozinhos, o silêncio foi mantido por alguns minutos. Tanto, que o barulho do isqueiro de Hugh quando estava acendendo um charuto ecoou pelo salão.

- Muito bem, eu estive pensando sobre o criado Ferguson e cheguei a uma conclusão! - ele soltou a fumaça do seu charuto. - Eu andei analisando a condulta de Colin e percebi que ele é um ótimo funcionário, nunca me trouxe nenhum problema antes, a não ser este. Sempre muito educado e prestativo, um exemplo de empregado.

Lucy assentiu.

- E decidi que não é uma boa escolha demiti-lo e muito menos suspender ou afastá-lo de sua função. - Hugh deu uma tragada no charuto e depois soltou a fumaça do mesmo. - O Sr. Ferguson tem um grande potencial e um ótimo sentido, tanto que nem se quer reclamou de tal acusações e presumo que tenha sido apenas um acidente.

Lucy sorriu de orelha a orelha, como se estivesse esperando por aquele momento e, de fato, ela estava.

- Estás falando sério, papai? - Lucy animou-se, mas logo a sua animação se desfez e trouxe um semblante de preocupação. - Se não o demitiu, então porque ele não estava aqui hoje?

Hugh franziu o cenho e ficou pensativo por alguns segundos.

- De fato, porquê ele não estava aqui hoje? - ele rapidamente levantou-se de sua cadeira e foi até uma escrivaninha onde tinha um telefone. - Espere só um minuto que eu vou resolver este mistério...

Na casa dos Welland, havia um sistema de telefones instalados por toda a casa. Sistema esse muito semelhantes a serviços de quartos de transatlânticos, onde a pessoa que estava num cômodo podia ligar para a outra poderia estar no porão da casa. Esse sistema estava começando a aparecer entre as nobres famílias da alta sociedade.

- Sr. Bloodvessel? - ele telefonou ao chefe dos criados no último andar da casa. - Pode comparecer ao salão de jantar imediatamente?... Sim... Está bem!

Ele desligou e retornou ao seu lugar e deu uma tragada em seu charuto, enquanto esperava pelo criado, que não demorou nem três minutos para se mostrar presente naquela sala.

- Senhor... Aqui estou! - ele se pôs em posição de sentido. - Em que lhe posso servir, Conde Welland?

- Bom, pode me explicar por qual motivo o Sr. Ferguson não estava trabalhando hoje por aqui?

Henry abriu um sorriso sem graça e olhou para todos os lados procurando por respostas.

- Ele havia machucado o joelho e estava... Estava descansando! - Bloodvessel disse entre pausas sem motivos. - E por isso, colocamos o Sr. Townsend em seu lugar, mas segundo ele, logo, logo voltará ao seu cargo!

Hugh sorriu.

- Está bem...- ele deu mais uma tragada e soltou a fumaça do seu charuto. - Espero que ele melhore logo!

O chefe dos criados abriu um sorriso meio sem jeito.

- Eu também espero, senhor.

O criado logo pediu permissão para sair e em menos de dez segundos, ele já não estava mais lá e preocupado com alguma coisa, ele saiu de lá seguindo para o jardim, onde ficou por alguns minutos olhando para o portão principal da mansão, como se esperasse por algo. Mas, mal ele sabia que Lucy havia desconfiado de tudo aquilo, pois Colin não poderia machucar o joelho, sendo que ela nem mesmo o viu no jardim durante toda a manhã e além disso, percebeu que o Sr. Bloodvessel mentia. Ele havia feito alguma coisa com Colin e por isso, inventou tudo aquilo. A moça observou tudo e decidiu guardar tudo aquilo para si mesma, mas sabia que a verdade uma hora viria à tona.

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