Capítulo 6

As horas se passaram, onde a janta foi terminada e a sobremesa - que era um delicioso pudim de chocolate - foi servido e enquanto saboreavam o doce, Jim comia com um certo receio e depois disso, algumas conversas foram jogadas fora e por fim, a hora de conversas sobre negócios e recordações chegou e todos os hospedes da casa foram para a sala de fumantes, onde lá cigarros e charutos foram acessos, enquanto tomavam conhaques e uísques. Lucy, que não gostava nenhum pouco do cheiro do charuto e muito menos do cigarro, pois prejudicava a sua asma, resolveu ir dar uma volta pela imensa casa. Ela andava calmamente pelos imensos corredores luxuosos da casas, onde a luz da lua iluminava o seu caminho através dos vitrais das paredes e do próprio telhado. Ela aproximava-se da sala de jantar dos funcionários, quando percebeu que a porta estava entreaberta e que uma voz masculina e em tom alto saía da sala. Além disso, a sombra do dono da voz aparecia com bastante frequência à porta e aparentava que estava dando uma bela bronca em outra pessoa, que não dizia nada e muito menos tentava.

Lucy - como sempre fora curiosa -, decidiu ir ver o que estava acontecendo e ver quem era. Sob passos calmos e silenciosos, ela andou até a porta e espiou pela abertura da porta, onde conseguiu ver um homem de costas apontando para uma pessoa. Ela não conseguiu ver quem era o rapaz que ouvia tais coisas, mas depois de alguns minutos, conseguiu avistar alguma coisa do rosto do jovem e sentiu um aperto no coração. Aquele que dava a bronca era Henry Bloodvessel, o chefe dos criados e infelizmente aquele que estava ouvindo toda aquela humilhação, era o pobre Ferguson, que não teve culpa de nada do que aconteceu naquela noite. A jovem ficava cada vez mais com um aperto no coração ao ouvir palavras como aquela que o chefe dizia, mas tudo passou quando ela percebeu que ele estava se afastando dele e aproximando-se cada mais vez da porta, em um ato de desespero, Lucy correu em direção a esquina de um corredor e outro, e escondeu-se lá. Bloodvessel saiu da sala e andou para o lado direito da casa, onde ficava uma escada e por fim, subiu os degraus e sumindo da área. A jovem percebeu que era o sinal de ir atrás de Ferguson e assim fez. Ela andou em passos rápidos e por fim chegou na porta da sala, bateu na mesma e entrou. Colin permanecia olhando fixamente para as suas mãos juntas na mesa onde estava sentado.

- Sr. Ferguson? Está tudo bem? - ela perguntou adentrando pela sala. - Saibas que você não teve culpa do que aconteceu hoje mais cedo...

O jovem a olhou com um semblante sério e com um esboço de tristeza. Ela sentia que ele se culpava a todo momento, mas nada podia fazer por ele.

- Eu sei que você não colocou aquilo lá, pois sei que nunca faria isso... - ela olhou nos olhos dele. - Anime-se, Colin, foi apenas um único erro e tudo ficará bem no final!

Um estranho silêncio foi mantido e alguns segundos depois, ele levantou-se de sua cadeira e andou até a janela, onde observou a lua que brilhava imponente no céu e sem dizer nada, permaneceu a olhando.

- Colin... Está tudo bem?

Ele soltou um suspiro e abaixou a cabeça.

- Está sim, Srta. Welland! - ele levantou a cabeça e continuou a observar a lua. - Está tudo bem...

Lucy sorriu, levantou-se de seu assento, andou em direção oposta a ele e abaixou a cabeça pensativa.

- Eu entendo, mas acontece é que você pode até ser... - ela virou-se para ele e não o encontrou. - Sr. Ferguson? Onde você está?

Ela franziu o cenho desconfiada e andou até a porta, olhou para todos os lados dos corredores e não encontrou ninguém, depois olhou atrás da porta e por fim percebeu que a janela de onde o mesmo olhava a lua estava completamente aberta. Então, rapidamente ela correu até lá e sob a luz do luar, tentou ver se ele estava no jardim. Mas não havia ninguém e então, ela percebeu que uma sombra em formato de ave rodeava a casa, pois passava sobre o brilho da lua e dava outra volta ao redor da casa. Com curiosidade, ela pulou a janela e saiu pelo jardim e logo parando no meio dele, onde olhou para o céu e avistou uma ave voando em círculos ao redor da lua. A ave começou a abaixar lentamente e por fim, ela deu um vôo rasante próximo a Lucy e voou em direção a Floresta do Esquecimento, onde entre os estranhos galhos da árvore mais alta da floresta, ela pousou e de lá estava observando a casa.

Logo a moça percebeu que era uma coruja por conta do canto da mesma. De cor branca e de comprimento mediano, ela emitia o seu canto e vez ou outra voava e voltava para a árvore. O canto era semelhante aos barulhos que certos tecidos de linhos emitem ao serem rasgados e aquilo começou a assustar a jovem, que sem fazer mais nada, recolheu-se dentro de sua casa e de lá observou a coruja no alto da árvore. A jovem ficou confusa, pois perguntava-se constantemente sobre onde andava o criado, que estava ali sentado, mas de repente já não estava mais e uma coruja apareceu depois que o mesmo sumiu. Ela decidiu ir para o seu quarto, onde chegando lá, olhou para o despertador que marcava exatamente: meia-noite e trinta minutos. Nessa exata hora ela já devia estar dormindo, porém, deitou-se na cama e pensando altas coisas como se Ferguson fosse a coruja que passou próximo à ela alguns minutos antes. Mas não havia lógica para isso, pois nenhum ser-humano consegue se transformar em um animal e muito menos em uma coruja. Então, sob pensamentos distantes, Lucy adormeceu lentamente em sua cama e teve altos sonhos e alguns deles bizarros.

O sol já raiava no alto do céu e agora adentrava pelas cortinas de seda do quarto da Srta. Lucy Welland, que fora acordada às 07h40min daquela manhã pelo despertador de cor vermelha no criado-mudo ao lado de sua cama. Objeto esse que ela o chamava de "acordante" e vez ou outra, batia no mesmo por conta do sono. Mas dessa vez tudo foi diferente, pois daquela vez, ela acordara estranha e confusa. Sentou-se a beira da cama e olhou para todos os lados do quarto, questionando-se constantemente onde estava e o que havia acontecido. Ainda com os olhos semicerrados por conta do sono, olhou para a sua mão e decidiu levantar-se. A jovem andou até a janela, abriu as cortinas e olhou através dela. A janela dava uma ampla visão da maior árvore da Floresta do Esquecimento e foi então que ela recordou-se da noite anterior. Com o cenho franzido, ela abaixou a cabeça e avistou o criado Ferguson. Ele estava carregando uma cesta cheia de algumas frutas. Frutas essas de cores alaranjadas. Provavelmente seriam do carregamento de frutas da cidade, pois o Conde Welland sempre comprava um grande carregamento de frutas para as suas férias. Enquanto isso, Lucy percebera algo de estranho naquele homem. Ele aparentava ter um ferimento na mão e que fora recentemente feita, poderia ser do que ele havia feito, mas não há como se machucar carregando uma cesta de frutas e além disso, a cicatriz fora feita com algo pontudo. Mais provável ter sido com uma faca. Enquanto isso, a jovem Lucy balançava suavemente a cabeça tentando afastar os pensamentos tolos e bobos de sua cabeça e sem pensar em mais nada, recuou-se da janela, decidiu se vestir e depois de se arrumar, ela saiu do quarto.

A jovem caminhava calmamente pelos imenso corredor de seu aposento, vestida com um vestido azul com decote e com detalhes pretos nas mangas, com sapatos brancos e com um colar de pérolas, a belíssima moça andava calma e serena pelo corredor, onde nesse mesmo ficava os quartos de: Francine, Anthony, Mabel e do recém chegado, Jim. Mas Lucy não avistara nenhum deles durante a sua passagem pelo corredor. Portanto, ela poderia seguir a sua passagem tranquila, até que ela avistou uma das camareiras ao seu horizonte. Era a funcionária que tinha mais cuidado com a Srta. Welland. Ela era a Srta. Rita Patmore. Natural de Cleveland, nos Estados Unidos, de vinte e nove anos de idade e solteira, ela aos seus três anos de idade mudou-se para a Inglaterra e viveu até os seus vinte anos de idade com os seus pais, onde saiu para um casamento arranjado, que não foi nada maravilhoso e o divórcio ocorreu em 1908. Lucy sempre teve muito carinho com Rita, tanto que fazia questão de ter a mesma arrumando o seu aposento. E naquela manhã, sorrisos foram trocados entre elas.

- Srta. Welland, acordou bastante cedo hoje, não é? - Rita comentou enquanto aproximava-se dela. - E pelo visto, você está bem radiante hoje!

Lucy sorriu.

- Então, o acordante me despertou bastante cedo hoje. - Lucy respondeu. - E sim, já fazia bastante tempo que eu não vestia este traje e o encontrei no fundo do meu baú!

Rita a olhou dos pés a cabeça.

- Você está divina, Srta. Welland! - Rita a elogiou com um imenso sorriso no rosto. - Aposto que o jogador de tênis, o Sr. Williams, iria se encantar pela senhorita...

Lucy sorriu e deu uma volta, fazendo o vestido se movimentar e depois parar.

- Enfim, você viu meu pai por algum lugar?

- Sim, a última vez que eu o vi, ele estava no salão dos fumantes conversando com o Sr. Bloodvessel. - ela franziu o cenho. - O estranho é que eles estavam conversando sobre a condulta do Sr. Ferguson a noite passada e que por sinal é bem estranha.

Lucy ficou pensativa, ao ouvir sobre o que o seu pai e Bloodvessel estavam conversando.

- E você lembra sobre o que eles disseram sobre o Sr. Ferguson?

Rita franziu o cenho mais uma vez, onde tentava lembrar de alguma coisa.

- Durante a minha passagem por lá, eles diziam alguma coisa sobre demissão! - ela respondeu quase em sussurro. - Não sei se você concorda comigo, mas aquilo que fizeram a noite passada foi armação...

Lucy ficou confusa.

- Como assim, Rita?

A camareira olhou de um lado para o outro, certificando-se de que não havia ninguém por perto.

- Alguém fez aquilo para envergonhar o seu pai ou para estragar com a confiança do seu próprio pai com os seus funcionários. - ela respondeu quase sussurrando para a jovem. - Ou seja, fizeram tudo aquilo por maldade.

Lucy ficou pensativa.

- Entendi! - ela levou a mão ao queixo e ficou mais pensativa ainda. - Mas, quem poderia ter feito tal ato como esse?

- Agora eu não sei como lhe responder, mas cedo ou tarde o malfeitor aparecerá! - Rita respondeu passando pela jovem. - Eu irei arrumar o seu quarto, se caso, quiser que eu o arrume por agora!

- Você está muito ocupada?

- Oh... Não! - ela respondeu olhando com um sorriso amigável no rosto. - O único trabalho que tenho é de arrumar todos quartos e dessa vez terei a ajuda de outras funcionárias!

- Está bem, então pode arrumar o meu quarto! - Lucy sorriu e Rita assentiu. - Até a vista, Rita!

- Até!

As duas amigas seguiram em direções opostas e Lucy por fim chegou ao final do corredor, onde dava o acesso a escadaria que levava ao andar de baixo. Glamorosa e bela, ela desceu calmamente por aqueles degraus e por fim chegou ao andar inferior. Ela decidiu ir até o seu pai, mas quando chegou a porta do salão de fumantes, ela parou e decidiu escutar a conversa.

- Sr. Bloodvessel, você tem certeza que quer retirar o Sr. Ferguson? - questionou Hugh acendendo um charuto e abrindo o seu jornal. - Não vejo problema em demitir ele...

- Senhor Conde, já não lhe basta a vergonha que ele lhe causou no jantar a noite passada? - Bloodvessel respondeu. - E com isso, a sua reputação e a dessa família irá por água abaixo!

Hugh permaneceu pensativo.

- Bom, para demitir um funcionário tem que haver o consetimento do chefe e do dono da casa! - disse o Conde soltando a fumaça do seu charuto. - E sobre isso, eu não tenho certeza e irei pensar melhor sobre este caso, está bem?

- Como preferir, senhor Conde! - disse o criado chefe assentindo. - Irei me retirar, com a sua licença?

O Conde assentiu sem olhar para o chefe dos criados. Bloodvessel caminhou em direção a porta e Lucy acabou se apavorando, pois ele vinha em sua direção e podia flagrar ela ali. Então, mais uma vez, ela correu para a outra sala e lá escondeu-se, esperou o homem sair e por fim, adentrou a sala onde o seu pai estava.

- Bom dia, papai! - ela o cumprimentou adentrando calmamente pela sala. - Como estás?

- Bom dia, querida. - ele sorriu sem olhar para ela e ainda concentrado em seu jornal. - Estou perfeitamente bem e você?

- Estou ótima e pelo visto, o jornal está lhe prendendo, não é mesmo?

O Conde sorriu.

- Sim, de fato está! - ele deu uma tragada em seu charuto. - Lembra do caso do homem que fora encontrado morto em frente a Capela da cidade?

Lucy assentiu.

- Mais outros dois homens foram encontrados mortos a margem da rodovia Albert Hamlet. - comentou Hugh analisando o jornal. - E o estranho é que eles tem a letra K no pulso feita por algo pontiagudo!

Lucy ficou pensativa.

- Que estranho... - disse a moça em um tom de voz calmo e suave. - Papai, me responda uma coisa?

Hugh franziu o cenho desconfiado, mas sem tirar os olhos das letras do jornal.

- Sim... Pode perguntar!

- Bom, não teve como não ouvir a sua conversa com o Sr. Bloodvessel... - Ela disse e o homem tirou os olhos do jornal e passou a olhar para ela.- Me diga que é verdade se vai realmente ou não, demitir o criado Ferguson?

Hugh pensou por alguns segundos.

- Eu não sei ainda, Lucy! - em seguida, ele levantou-se, dobrou o jornal e andou até a janela.- O que aconteceu ontem a noite pode estragar com a nossa reputação... Mas também não demito nenhum dos meus funcionários, se claro, este não fizer nenhuma coisa ruim e o Sr. Ferguson fez algo vergonhoso!

- Mas papai, você nem ouviu o que ele tem a dizer... - Lucy levantou-se de seu lugar. - O senhor sabe que tudo isso pôde ter sido uma armação para incrimina-lo e para depois você o demitir!

Hugh permaneceu em silêncio e observando o jardim.

- Papai, você sabe que o Sr. Ferguson é um rapaz bom e inteligente, além de ser bastante prestativo. - Lucy aproximou-se calmamente dele. - Procure saber mais sobre o ocorrido a noite passada e veja se demitir ele ou não é de fato uma boa ideia!

Hugh ainda continuou em silêncio.

- Com sua licença!

Lucy rapidamente se recolheu dali, deixando o Conde pensativo e ainda observando alguns lacaios trabalhando no jardim. A moça saiu tão brava do salão, que as portas da sala se bateram forte e foi possível ouvir os seus pés marchando com força ao chão. Ela saiu rapidamente da casa e foi para o píer, onde tentaria ficar tranquila e relaxada. Mas, mal sabia a moça, que quando ela saiu da sala e estava indo em direção a porta que dava o acesso ao jardim, uma pessoa vestida de preto saiu de trás de algumas cortinas e por fim a observou. Com um semblante de sério e aos mesmo tempo de preocupação, o jovem Colin Ferguson, tinha ouvido toda a conversa e desde então, ficara agradecido pelo ato da moça. Segundos depois que a mesma saiu, ele andou até a janela que ficava próximo a porta e de lá a observou sentar na espreguiçadeira. Ele precisava agradecer ela de alguma forma, mas como? Ainda não se tinha nenhuma ideia em sua cabeça, porém, ele precisava agradecer ela.

Música: Separated by the Storm
Compositor: Gareth Coker
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