Capítulo 4

A festa passou-se como um trem sem freios pela estação. Já passava das uma hora da madrugada quando o último convidado - que era o Sr. Hill - deixou a mansão dos Welland. Muitos parentes e convidados da casa de verão já estavam presentes em seus aposentos, menos Lucy e Hugh, que permaneceram junto com os funcionários, onde ajudavam a arrumar tudo. Enquanto Hugh andava pelo local juntamente com criado chefe Bloodvessel, onde conversavam e fiscalizavam todo o trabalho. A jovem Catherine estava andando pelo corredor dos funcionários carregando uma bandeja com taças de vidro, onde nisso procurava alguns dos funcionários para entregá-los aquelas taças, quando tropeçou e deixou a bandeja cair no chão. Uma das valiosas taças desequilibrou da bandeja e caiu sobre o chão, quebrando-se logo em seguida. Lucy então olhou para todos os lados certificando-se de que Edith não estivesse por perto - pois como a própria jovem dizia, ela surgia em qualquer lugar como um fantasma e em apenas um estalo de dedos - e abaixou-se para pegar os cacos de vidros, mas ouviu passos vindo do final do corredor e de repente uma silhueta meio alta e magra apareceu por ali, ela assustou-se e começou a temer de que fosse Edith. Mas quando a pessoa saiu da escuridão, ela se acalmou. Era ele. Ele que estava sendo iluminado pelo brilho da lua cheia, que atravessava pela janela do corredor.

- Sr. Ferguson? O que fazes por aqui e há uma hora dessas? - ela abriu um sorriso fraco. - Você não devia estar ajudando eles lá embaixo?

O jovem não disse nada e apenas abaixou-se para ajuda-la. Lucy estranhou por ele não responder, mas ele pegou em sua mão e observou a mesma.

- Você se cortou. Veja... - ele disse e ela olhou para o sangue que saía de sua mão. - Aparentas que é um corte profundo!

Lucy ficou confusa. Como ela havia se machucado sem ao menos sentir?

- Venha comigo, eu vou limpar todo esse sangue.

Ele levantou-se e ela também.

- Mas e esses cacos de vidros?

Ele olhou para os cacos e então rapidamente abaixou-se, juntando todos eles e colocando de volta na bandeja e posicionando a bandeja no pé da parede, para que ninguém se machucasse novamente. Toda essa ação não demorou um minuto.

- Agora venha comigo!

De repente, o jovem virou-se para a direção da escuridão do corredor e sob passos calmos, ele passou pelo brilho da lua, mas virou-se para trás, percebendo que a moça permanecia no mesmo lugar. Ela estava parada o observando, como se estivesse com receio.

- Não tenhas medo. Não vou lhe machucar! - ele disse com a voz calma. - Venhas, você não irá se arrepender!

Então, sob passos pequenos e com receio, Lucy andou em direção a ele. Eles sumiram junto com a escuridão e a moça andou calmamente atrás do criado - ainda com receio - ela nunca havia passado por aquela parte da mansão e, por fim, eles chegaram a uma porta que dava ao acesso de um corredor cheio de portas. Colin abriu a porta e após a moça passar, ele a fechou, depois passou a frente dela e andaram até a última porta de número 25. Ele a abriu e ambos entraram.

- É aqui que você descansa?

- Sim. Agora sente-se e abra a mão!

Ela sentou-se na cama macia do jovem e abriu a mão no ar, ele pegou um frasco com um líquido dentro e depois posicionou o mesmo sobre uma cadeira. Após isso, puxou uma parte da camisa branca social de dentro da calça e rasgou uma ponta dela, tirando uma faixa dali. Em seguida, ele abriu o frasco e molhou a faixa, abaixou-se em frente a ela e a olhou.

- Irá doer um pouco, mas logo passará. - ele disse posicionando a faixa próximo ao ferimento.- Está preparada?

Ela assentiu e em seguida, ele posicionou mais uma vez o curativo improvisado e agora acima do ferimento. Lucy soltou alguns gemidos de dor, mas aos pouco foi a dor amenizando. Ela estava de olhos fechados e quando ela abriu, deparou-se com o jovem a observando. Apesar do quarto estar meio escuro, ainda era possível avistar os olhos do mesmo que aparentava estar brilhando.

- Sente-se melhor?

- Sim. Muito obrigada, Sr. Ferguson!

Ele sorriu. Ela levantou-se e ele fez a mesma coisa, mas os olhos deles se encontraram e um estranho formigamento surgiu nas mãos de Lucy, eles se entreolharam de uma maneira estranha, como se estivessem encantados. Mas o encanto desapareceu quando Colin se afastou e abriu a porta. A jovem ajeitou uma madeixa do seu cabelo e abaixou o olhar, mas voltou a olhar para o jovem.

- Mais uma vez, muito obrigada, Sr. Ferguson!

O jovem assentiu e ela passou pela porta, depois disso, ele fechou a porta e Lucy voltou a caminhar pelo corredor escuro e por fim, chegou até a porta principal, onde fez todo o percurso que eles fizeram. Mas enquanto ela caminhava, a sua mente mostrava vários e vários flashbacks de Colin e do seu jeito diferente de tratar as pessoas, sempre muito silencioso e observador, é como se ele estivesse procurando por algo ou em busca de algo. Porém naquela noite foi diferente, pois Lucy conseguiu presenciar um dos lados pessoais do criado, e com certo pensamentos e paranóias, ela deitou-se na sua cama, observando o teto e não demorou muito para que adormecesse igual uma criança.

- Bom dia, Srta. Francine. Teve uma boa noite de sono?

A mulher sorriu ao avistar o Conde sentado em uma poltrona na biblioteca e decidiu aproximar-se com passos leves e calmos.

- Bom dia, Sr. Hugh! - ela respondeu com um ar de felicidade. - Tive sim, as camas são bem confortáveis e os quartos tem ótimas decorações, você simplesmente reformulou tudo que seus pais fez aqui!

Hugh sorriu.

- Muitas das vezes, as reformas valem a pena, pois sempre nos traz algo novo e bonito! - ele respondeu com um sorriso orgulhoso no rosto. - E como sempre elas nos encantam!

Francine assentiu. Em seguida, o Sr. Bloodvessel adentrou pela porta da biblioteca, onde o Conde e a sua irmã de sua ex-esposa se encontravam conversando.

- Bom dia, Sr. Conde e Srta. Francine! - o criado parou ao lado de Francine. - Vim lhes avisar de que o café da manhã já se encontra na mesa do salão de jantar, onde a sua esposa, a Condessa, já se encontra!

Hugh assentiu.

- Muito obrigado por nos avisar, Sr. Bloodvessel! - o Conde levantou-se de sua poltrona. - E por acaso, você tem visto minha filha nesta manhã?

O criado franziu o cenho tentando recordar-se e depois assentiu.

- Se não me falha a memória, eu a avistei no jardim há uma hora atrás. Mas presumo que ela já fora chamada para o café!

Hugh assentiu.

- Oh, está bem. Muito obrigado. - ele abriu um sorriso fraco. - Me acompanha, Srta.Thayer?

- Sim, Conde Welland!

Eles sorriram e por fim deixaram o local, passaram pela sala dos fumantes, depois pela sala de jogos, sala do chá da tarde e por fim chegaram ao salão de jantar. Aquele era a mais requintada e luxuosa sala daquela mansão, as decorações eram impecáveis. As paredes eram revestidas de carvalho e mognos japoneses, seus tetos eram de lona pintada de branco com um desenho floral com bordas douradas, além de um belo lustre de vidro pendurado bem no centro do salão, que além de espaçoso, era muito bem ventilado e limpo. Quando o Conde e sua ex-cunhada adentraram no salão, avistaram Edith sentada no lado esquerdo da mesma e ao seu lado estava Anthony, que fumava um charuto e - aparentava não se importar se aquilo incomodava ou não os que estavam ao redor - do lado direito da mesa, Lucy se encontrava quieta e olhando para as suas mãos juntas embaixo da mesa e ao seu lado, sua prima, a Srta. Mabel Swire, se encontrava também quieta.

- Bom dia à todos! - disse o Conde sentando-se na ponta da mesa e próximo a Edith. - E então, tiveram uma boa noite de descanso?

Edith sorriu, Lucy, Francine e Mabel não responderam nada e Anthony soltou a fumaça do seu charuto.

- Do que adianta respondermos a sua pergunta? - questionou Anthony sendo antipático. - Afinal, não lhe interessa os nossos afazeres pessoais!

Hugh revirou os olhos.

- Estou sendo gentil, Sr. Anthony Mason! - ele ironizou. - Caso não esteja percebendo!

Anthony abriu um sorriso provocante.

- E você, meu amor? - ele sorriu ao olhar para Edith, que como sempre, estava de mal-humor. - Dormiu bem?

Ela forçou um sorriso ao olhar para o seu marido.

- Até que não foi ruim, tirando as outras noites em que dormimos na casa de sua ex-mulher! - ela olhou para Lucy provocando a mesma. - Pois, as camas daqui são bem mais confortáveis do que as tábuas da casa de Laura, que ela as chama de cama.

Lucy conteve-se, pois a qualquer momento iria explodir de raiva, e se fizesse isso, tudo iria ser bem pior e com toda a certeza, Edith iria adorar.

- Sra. Edith Welland, lembre-se que minha irmã vive sozinha em uma casa. - Francine disse e Edith olhou com um sorriso forçado no rosto. - E não em um hotel!

A mulher do Conde não disse mais nada e calou-se bebericando o café da xícara. O silêncio prevaleceu por alguns minutos, até que o Conde lê-se em voz alta a notícia do jornal local de Bridgetown, onde na primeira página tinha uma interesse manchete.

- "Homem é encontrado morto próximo à Capela de São Francisco". Puxa vida, nunca imaginei de que tivesse assassinatos por aqui! - ele comentou e ajeitou as folhas do jornal. - Bom, pelo o que diz aqui, o homem foi encontrado estripado em frente a Capela e aparentas que possuí a letra K no pulso!

Lucy franziu o cenho após bebericar o seu café.

- Papai? Isso é hora de ler esses tipos de notícias e a uma hora dessas da manhã? - ela disse ainda franzindo o cenho. - E ainda no momento do café da manhã?

- Oh! Desculpe. - ele dobrou o jornal e o deixou sobre a mesa. - Mas é muito estranho esse homem amanhecer morto por ali e ainda em frente a uma igreja.

O silêncio prevaleceu mais uma vez, até que Anthony levantou-se de seu lugar e saiu sem dizer nada. Edith o seguiu. Francine e Mabel se despediram e ambas deixaram o local.

- Enfim, sobrou apenas eu e você, querida! - Hugh comentou com um belo sorriso. - E então? Está gostando das férias aqui?

Lucy sorriu.

- Bom, até agora não tenho motivos concretos para gostar destas férias. - ela respondeu e o seu pai franziu o cenho. - Até porque estamos no início e com certeza vai ter mais coisas para agradar!

Hugh assentiu.

- Tens razão. - ele bebericou um pouco do café e deixou a xícara sob a mesa.- Mas enfim, vai ter coisas que você irá gostar!

- Assim eu espero!

Ela sorriu e um silêncio prevaleceu por ali. Até que passos vindo da porta ecoou pelo salão.

- Sr. Conde, lhe mandaram um telegrama! - disse o criado Colin, trazendo o papel numa bandeja. - Este veio de Lancashire, senhor.

Hugh abriu o papel e leu a mensagem, depois sorriu, deixando Lucy curiosa.

- O que ela diz, papai?

- Bom, esse telegrama é do seu amigo de infância, Jimmy Davis! - ele respondeu lendo o telegrama. - E disse que irá vir passar uns dias aqui conosco!

A jovem sorriu.

- Puxa, a tanto tempo que não o vejo! - Lucy comentou. - Espero que ele não mude de ideia!

- Igualmente, querida! - Hugh dobrou o papel ao meio e entregou de volta a Colin. - Muito obrigado, Sr. Ferguson!

O jovem olhou para Lucy, que sorriu, e ele apenas assentiu.

- Disponha, Sr.!

Em seguida, o criado deixou o local sem dizer mais nada, porém, ao virar para o lado direito da casa, olhou para Lucy pela última vez e por fim, sumiu sem dizer mais nada. Será que ele estava apaixonado por ela? Eis a questão.

- Bom, o café estava maravilhoso, mas precisamos organizar tudo para a chegada de Jim! - disse o Conde levantando-se do seu assento. - Muito bem, eu vou a cidade resolver alguns compromissos e voltarei mais tarde, querida!

Lucy também levantou-se e abraçou o seu pai, depois beijou o rosto do mesmo.

- Tenha um ótimo dia, papai! - ela sorriu e depois depositou outro beijo no rosto do homem.- E não demore muito para voltar!

Hugh sorriu.

- Muito obrigado, querida. Tenha um ótimo dia também e eu esqueci de lhe avisar, quando Jim chegar, se caso ele chegar antes do escurecer! - disse o Conde pegando a sua cartola que ficou em cima de um criado-mudo que tinha por ali. - Leve-o para cavalgar na trilha da floresta ou leve-o para passear de barco no lago!

- Está bem. - Lucy disse e o acompanhou até a porta do salão. - Tenha uma boa viagem e tome cuidado, papai!

Hugh sorriu colocando a cartola na cabeça.

- Eu já tenho idade o suficiente para me cuidar, Lucy!

Ele acenou, depois saiu pelos corredores e por fim, virou a esquerda no final do corredor, onde ficava a saída. Lucy ficou por ali por alguns minutos e depois, dirigiu-se a biblioteca, onde lá, naquela imensa sala cheia de prateleiras com livros atualizados e lançados recentemente, ela pegou um livro, sentou-se numa poltrona e começou a ler. A fim de que o tempo passasse mais rápido até a chegada de Jim, isso é, se caso ele viria até Bridgetown.

Música: Spring
Compositor: Beethoven
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