Capítulo 26

Um verdadeiro caos estava ocorrendo na mansão dos Welland, que estava coberta por chamas e labaredas de fogo. O sonho, a conquista e todo o esforço do Conde em restaurar o sonho de seu pai, estava sendo destruído por um horroroso incêndio, que devorava tudo. Todos os convidados estavam sendo evacuados rapidamente, onde os criados e lacaios tentavam apagar uma parte do fogo com baldes de água, mas falhavam. O corpo de bombeiros da cidade havia sido acionado, no entanto, eles ainda não haviam chegado, mas estavam estavam caminho, porém, quanto mais demorava, mas o fogo ia demorando tudo. Não havia mais ninguém no interior da casa, a não ser Anthony, Lucy e Colin. Onde o casal lutava para escapar de Anthony, que chegou logo na sala de jantar dos criados, na qual bateu violentamente contra a porta, na tentativa de entrar. Mas, alguns segundos depois, os gritos e as batidas dele pararam, acalmando a jovem Lucy, que estava em completo pânico.

— Ele parou... — Lucy comentou ofegante. — Deve ter desistido!

Colin – que também encontrava-se ofegante – tinha a total certeza e naquele momento travava um plano de fuga.

— Não. Ele não parou porque quis! — Ele disse olhando para a porta. — Ele achou outra ideia para chegar até nós!

Segundos depois, ouviu-se mais pancadas contra a porta. Aqueles eram barulhos de machado. Anthony estava tentando quebrar a porta com um machado e fazia isso ofegantemente e sem cessar, onde as ameaças de pegá-los eram constante.

— Ele irá nos pegar, Colin. — disse Lucy em completo desespero. — O que iremos fazer?

Rapidamente o rapaz correu até a janela, abrindo a mesma e percebendo que estavam no terceiro andar da casa, numa altura de quase três metros. Eles estavam perdidos. Então, Colin procurou por diversas saídas e encontrou uma, na qual poderia – provavelmente – suportar apenas uma pessoa por vez.

— Só há uma maneira de sair, e é pelo cano da calha d'água! — ele disse e depois retornando até ela. — Você vai primeiro e depois eu irei...

Lucy estava assustada. Nunca havia enfrentado algo tão forte assim.

— E porque não vamos juntos?

— O cano não irá aguentar nós dois e poderemos até morrer na queda! — ele a respondeu e depois rasgou uma parte da sua camisa branca, depois pegou no pulso da mesma e a levou até a janela. — Amarre isso nas suas mãos e não solte o cano por nada, está bem?

Ela assentiu e pendurou-se na janela, onde segurava firmemente no cano. Ele a olhou profundamente em seus olhos, depois passou a sua mão direita nos cabelos dela e acariciou-a e ela pôde ver a letra K em seu pulso. Lucy franziu o cenho confusa.

— Eu sempre lhe amei desde quando você me protegeu e então, eu passei a lhe proteger, e quando você me nomeou como Kemal. Eu já lhe protegia a muito tempo... — Ele sorriu com os olhos marejados. — Eu sempre te amei e sempre vou amá-la!

Em seguida, ela o beijou pela última vez antes de descer pela calha. Mas, quando eles se separaram, Anthony conseguiu invadir a sala e ela foi obrigada a descer rapidamente. Aquela foi a última vez que ela viu o jovem, ele aparentava estar atordoado por deixá-la ir embora daquele jeito.

— Finalmente encontrei vocês... — Ele disse furioso chegando ao local e soltando o machado. — Onde está ela?

Ele correu até a janela e viu descer igual a um foguete pela calha. Porém, ele não percebeu que Colin estava lá e quando fora perceber, era tarde demais. Quando foi sacar a sua arma, o rapaz já havia avançado contra ele.

— Te vejo no inferno, seu desgraçado!

Um golpe de faca foi desferido contra o abdômen de Anton, que rapidamente berrou e em seguida, foi jogado violentamente contra a janela. Naquele exato momento, a mansão foi incendiada de vez. O fogo tomou conta de todos os quatro andares da luxuosa mansão; uma das mais importantes e bonitas mansões da Inglaterra. Segundos depois, houve uma explosão – esta veio da cozinha – e tudo foi pelos ares. No momento, todos haviam sido evacuados com segurança da mansão. Não havia mais ninguém dentro da casa, a não ser Colin. O jovem infelizmente foi ceifado pelo fogo, onde salvou a pessoa que amava das piores pessoas que poderia existir na face da terra, Anthony e Edith. Estes pagaram um preço muito alto por assassinarem pessoas inocentes, que se amavam profundamente. Enquanto isso, as chamas estavam altas e os bombeiros logo chegaram, onde deram um trabalho duro para apagar o fogo. O Conde Welland observava o incêndio com os olhos marejados e já encontrava-se joelhado contra o chão, onde chorava igual uma criança. Todo o sonho e trabalho estava sendo jogado contra o ralo em apenas meia hora.

— Minha mansão... — ele exclamava enquanto chorava. — Minha grandiosa mansão...

Naquele momento, a tristeza invadiu a todos ali. Pois, eles sentiam que todo o esforço de Hugh havia sido destruído. O legado da família Welland estava naquele enorme casarão, que encontrava-se coberto pelo fogo. Pobre Conde Welland, estava contemplando o seu sonho sendo destruído. Pobre homem.

Lucy havia caído no chão e quando a mansão explodiu de vez, ela foi jogada ao chão violentamente – pois o cilindro de gás estava próximo dela – e acabou ferindo-se gravemente. Tanto, que não teve forças para sentar-se no chão e observou a casa em incêndio, no entanto, algo que balançava no ar descia calmamente em direção a ela, que apenas abriu a mão e um pedaço de pano caiu sobre ela. Este estava quente e ela quase não conseguia mantê-lo em sua mão, porém, conseguiu ver que algo estava escrito e nele dizia:

Ferguson, Colin

E foi naquele exato momento, que ela pôde perceber que ele havia morrido e que havia lhe salvado do terrível Anton e do fogo. Ali, sentada na grama e esperando por ajuda, ela chorou igual a uma criança, pois ele havia ido embora. Próximo das quatro horas da madrugada, o fogo havia sido extinguido e todos os sobreviventes do incêndio estavam em completo estado de choque. Segundos antes das últimas chamas serem apagadas, Lucy foi achada e resgatada por alguns membros do corpo de bombeiros e pelos lacaios: Pamuk e Furlani. Esta estava em completo estado de choque e chorava incessantemente. Logo depois, o dia começou amanhecer e o cenário foi completamente arrasador, a bela casa que tinha, havia sido destruída e agora tudo que restava dela era apenas fumaça, cinzas e entulhos. Próximo dali, foi montada uma grande tenda, onde os sobreviventes estavam abrigados e recebendo os devidos atendimentos médicos. Lucy encontrou com o Conde, Mabel, Jimmy e a sua tia Francine, ambos haviam saído com segurança do incêndio e não haviam obtido um arranhão, apenas estavam abalados por verem tudo ser consumido pelo fogo. Alguns haviam saído ileso do acidente, outros estavam com queimaduras e o restante, estavam com braços ou pernas quebradas. Entre esses estavam o Sr. Townsend, que havia quebrado o braço ao descer a escada, o Sr. Newland, havia quebrado a perna esquerda e estava andando de muletas agora e por último, o Sr. Barrow que havia quebrado o nariz ao bater violentamente contra um dos pilares da mansão. No entanto, Lucy havia apenas deslocado o tornozelo e logo estava andando novamente.

— Srta. Welland, espere, por favor... — Chamava o Sr. Bloodvessel enquanto corria na direção dela e acompanhados dos funcionários. — Srta. Welland, graças a Deus encontramos você!

Ela esboçou um sorriso, que era tão fraco, que era impossível de vê-lo.

— Creio que a senhorita foi a última a ver o Sr. Ferguson... — disse o chefe. — E então, pode me dizer se este sobreviveu?

Lucy o olhou com os olhos marejados e segurou o choro ao máximo, em seguida, balançou a cabeça negando e todos ali entenderam que ele havia morrido no incêndio. Bloodvessel ficou assustado e em choque. Alguns abaixaram a cabeça, outros choraram em silêncio e enquanto os demais, colocaram a mão no peito e lamentaram a morte de um dos melhores criados que se tinha naquela casa.

— Pobre, Ferguson... — comentou Bloodvessel saindo dali ainda em estado de choque. — Que Deus o tenha!

Lucy permaneceu em silêncio e quando olhou para frente, deu-se de cara com a antiga portaria da mansão e ali, recordou-se de tudo. A sua memória a levou no dia em que chegou naquele local, depois chegou até quando conheceu Colin e por fim, passou pela floresta do esquecimento e foi até a última noite da vida do jovem Ferguson, na qual eles tiveram a melhor noite de suas vidas. Ela ainda estava vestida com o sobretudo do rapaz, e tanto, que apesar do cheiro de fumaça está impregnado no tecido, o aroma do rapaz ainda encontrava-se lá. Enquanto todos eram atendidos, os jornalistas da cidade e fotógrafos acompanhavam tudo e horas depois do sol surgir, diversos jornais já anunciavam a tragédia e comovendo a todos os curiosos, que não demoraram muito para chegar na mansão. Enquanto isso, o silêncio ainda dominava por ali, Lucy estava quieta e recordando-se de seu amado, até que passos foram ouvidos próximo de si.

— Tudo se foi, querida... — comentou Hugh parando ao lado dela. — O sonho acabou. Está tudo acabado!

Lucy assentiu em silêncio.

— Sinto muito pela perda, papai e sinto muito por Edith. — ela comentou triste. — Deve ter sido arrasador para você!

Hugh abriu um sorriso fraco.

— Tudo bem. Eu não gostava dela e já prendida me divorciar! — Hugh respondeu olhando para frente. — Eu sempre soube soube ela queria tomar a minha fortuna!

— Mesmo?

— Sim, tanto que eu sabia que ela e Anthony estavam tramando tudo durante a noite e foram eles que causaram todo o incêndio. — Ele respondeu, vendo Lucy ficar chocada. — Mas agora eles se foram e espero não os vê-lo nunca mais!

Lucy assentiu.

— Nossa, que moribundos! — Lucy comentou e depois houve um curto silêncio. — Mas, e agora, o que iremos fazer? Já que o senhor perdeu quase toda a sua fortuna?

— Sabe, eu não me importo mais com dinheiro algum, o que mais vale nesse mundo é as nossas vidas e apesar das perdas financeiras, eu ainda tenho você! — ele disse abraçando-a de lado. — Venha, vamos voltar!

Em seguida, eles viraram-se para trás e calmamente seguiram andando rumo ao portão principal da mansão.

— Para onde iremos, papai?

Hugh sorriu.

— Iremos voltar para o nosso verdadeiro lar! — Ele comentou enquanto olhava orgulhoso para o horizonte. — De onde nós nunca devíamos ter saído!

Lucy sorriu.

— E enquanto aos restos da mansão?

— Que a natureza fique livre para consumi-lo, pois isso não me importa mais! — ele respondeu confiante e sorridente. — Pois como eu lhe disse, tudo o que me importa agora, é apenas você!

Eles sorriram e confiantes, seguiram em direção ao horizonte, onde tinham a certeza de que o passado ficaria para trás. Apesar das feridas que ainda estavam abertas, elas se cicatrizariam em breve, com muita dose de amor e carinho.


— E o que aconteceu com eles?

— Bom, pelo o que eu sei, o Conde Welland morreu nos anos vinte, vítima de pneumonia, mas é claro, ele obteve novamente a sua fortuna e não se casou mais depois disso. Enquanto Lucy, casou-se no final da Primeira Guerra Mundial e viveu por todos esses anos em Londres, no entanto, morreu durante a Segunda Guerra Mundial, vítima de um infarto. Jimmy morreu em um naufrágio no ano de 1916. — Respondia a Sra. Williams. — Mabel, dois anos depois, sobreviveu ao naufrágio do Titanic, igualmente com o tenista Charles Williams, mas Mabel morreu em 1920, vítima de tuberculose!

Bernard assentiu.

— E enquanto aos funcionários, Sra. Williams? — Ele perguntou enquanto anotava algo em seu caderno. — Eles continuaram a trabalhar nas mesmas funções?

A idosa ficou em silêncio por alguns minutos, onde tentava lembrar-se de algo, até que lembrou.

— Alguns desistiram e voltaram para as terras natais, mas outros continuaram! — Respondeu a idosa. — Mas, sabe-se que um deles ainda trabalha nesse ramo, creio que ele irá se aposentar em breve.

O escritor assentiu e franziu o cenho.

— Quem é este?

Carrie sorriu.

— Este é o criado, Newland, ele tem atualmente quase oitenta anos e ainda trabalha como se tivesse vinte anos! — Ela o respondeu o vendo assentir. — Creio que ele crie juízo e aposente-se logo!

Bernard sorriu e um breve silêncio pairou por ali. A idosa levantou-se, em seguida, pegou os pratos e copos sujos, juntou-os e levou até a pia, onde começou a lavá-los, enquanto o rapaz anotava algumas coisas. Depois que ela terminou, ele resolveu quebrar o silêncio.

— Que história incrível, Sra. Williams! — comentou o rapaz guardando as suas coisas. — Eu nunca havia ouvido tal coisa!

A idosa sorriu carinhosamente.

— Tem razão. — Ela respondeu. — Saibas que você é a única pessoa que sabe disso, pois ninguém, além de meu sobrinho, Buster, havia ouvido essa história!

Bernard assentiu sorridente e em seguida, o rapaz adentrou na cozinha.

— Bom, Sr. Bennett, o seu carro está consertado!

O escritor sorriu.

— Oh, muito obrigado, Sr. Williams! — Respondeu ele levantando-se do seu lugar. — Quanto custou o conserto?

O homem sorriu.

— Oh, nada, não custou nada!

Bernard assentiu. Em seguida, ele olhou para o relógio e viu que eram exatas nove horas da noite.

— Bom, Sra. Williams, pode me abrigar por aqui? — Ele a pediu. — Porque está muito tarde para voltar para casa e ainda mais nessa neve!

A mulher sorriu bondosa.

— Mas, é claro que sim, Sr. Bennett!

O rapaz sorriu. Assim se fez, ele ficou abrigado na casa da mulher durante toda a noite, onde manteve-se quentinho e confortável na cama de visitas, na qual anotava algumas coisas e depois, dormiu profundamente. Quando amanheceu, o rapaz levantou-se cedo, arrumou as suas coisas e preparou o carro, porém, foi impedido de sair da casa antes de tomar o café da manhã, onde a Sra. Williams implorou para que ele tomasse o café. Depois das sete horas da manhã, quando a neve parou de cair, Bernard partiu para a sua casa e – quando olhava o retrovisor do carro – via constantemente a idosa e o seu sobrinho acenando para ele.

— A senhora contou aquela história para ele?

— Sim!

— E contou a ele de que você é a Lucy da história?

A idosa sorriu de lado.

— Não.

— Ora, porque não?

A senhora sorriu.

— Primeiro que ele iria mencionar isso em qualquer conferência sobre o livro e, após isso, iríamos ter dezenas de repórteres nos entrevistando diretamente. — ela respondeu calmamente e voltando para dentro de casa. — Fora isso, ele deve ter percebido de um jeito ou de outro sobre mim!

Buster sorriu.

— Amo a senhora por causa disso!

Ele adentrou na casa sorrindo.

— Eu sei disso, afinal, você diz isso todos os dias!

Ela parou na porta, ao sentir uma estranha sensação e olhou para a floresta do outro lado da estrada, onde avistou uma sombra escura parada do outro lado e a observando. A idosa franziu o cenho e a criatura de um passo a frente, mostrando-se para a claridade, no entanto, os seus olhos se encheram de lágrimas ao ver que era Kemal. O verdadeiro espírito da floresta. Ele estava muito bonito e ainda mantinha a mesma aparência da última vez em que ela o viu. O espírito sorriu e acenou para ela, e esta o respondeu do mesmo jeito. Em seguida, ele a olhou pela última vez e virou-se para trás, onde sumiu adentrando na floresta. Lucy sabia que aquele era o seu verdadeiro lugar, então, nunca o visitou pois estava velha demais e ele não iria lhe reconhecer, porém, ela sabia que, apesar de todos os problemas que teve, ele estava seguro lá, que nunca a deixou de amar e sempre estaria lá, no coração das matas, vivendo para todo o sempre e esperando que, um dia, a sua amada voltasse para os seus braços.

Fim

Música: Ori, Embracing the Light
Compositor: Gareth Coker
Link: https://youtu.be/mwrIvHe6Yvo

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